sábado, 24 de janeiro de 2009

O IMPÉRIO DA IRRESPONSABILIDADE

NINGUÉM LIGA AO QUE VOCÊS ESCREVEM...
António Rebelo
O anonimato, felizmente facultado pelos blogues, favoreceu o aparecimento de alguns arautos nabantinos assaz curiosos. Um deles, ou vários, (vá-se lá saber!), afirma porfiadamente, tanto aqui como no blogue d'O Templário, que "ninguém liga nenhuma ao que tu/vocês escreves/em em Tomar a Dianteira." Num rasgo de acentuado tomarensismo mal assimilado, segue-se um clássico "porque sim, porque eu disse!" como única justificação. Implícita, pois claro.
Trata-se, com se pode ver, de uma atitude meramente destrutiva, com o único intuito de deitar a baixo, de apoucar, de dizer mal, pois ainda que o afirmado fosse verdadeiro, não se vislumbra onde estaria o mal, ou quem seria prejudicado com isso, para além dos responsáveis pelo blogue acusado. Acontece, todavia, que se trata de mera falsidade, provavelmente ditada por sentimentos de baixo quilate, como se passa a demonstrar com factos.
Em 13 do corrente, criticámos fortemente a inércia autárquica no caso das obras do Bairro das Flores, da Rua Sacadura Cabral ao Largo do Pelourinho, em "Mazelas tomarenses -Trapalhadas"
"Favela do Bairro da Flores?" Pois segundo os moradores e outras fontes geralmente fidedignas, a autarquia decidiu que as obras de pavimentação e acabamentos vão ter início. Simples coincidência? É possível...
Outro caso: Em 18 do corrente, sob o título "Nós tomarenses e as crises actuais - Vamos bem guiados vamos!" Foi abordada a questão da anunciada venda do Antigo Convento de Santa Iria e do ex-Colégio Feminino, prevista para o passado dia 21. Escrevi então "Trata-se, obviamente, de um erro monumental... ...Parece-me que ainda vem longe o tempo em que o Antigo Convento e o ex-Colégio hão-de ser vendidos por um milhão e meio de euros." De acordo com uma local do Cidade de Tomar de 23 do corrente, a Câmara decidiu adiar sine die a programada venda em hasta pública daqueles bens. Mais uma simples coincidência? Os leitores julgarão. Em todo o caso, para um blogue ao qual "ninguém liga nenhuma", começa a ser evidente pelo menos a pontaria.
Na minha opinião, este problema da permanente maledicência sem qualquer fundamento é o resultado de traumas, frustrações e outros recalcamentos de uma camada populacional que, arrastada por uma evolução indesejada, lá vai indo contrariada rumo ao futuro, sempre a olhar para o passado, de modo acentuadamente doentio. Há que dizê-lo, a manha, a inércia, o atentismo, a esperteza saloia, a megalomania, o saudosismo, a farronca, as afigurações, a arrogância, o egocentrismo, a autosuficiência, o orgulho desmedido, o armar ao pingarelho, a mania do penacho, a sobranceria, a cegueira partidária e ideológica, etc, etc, etc, são outras tantas características de largas camadas de habitantes da cidade e do concelho. O grande problema para todos nós é que aqui são consideradas qualidades. Nos outros concelhos são consideradas defeitos graves. Lá como cá, os resultados estão à vista de todos. Querem os tomarenses de boa vontade, que também os há, que continue a ser assim? Ou vamos finalmente assumir que temos de encarar a realidade como ela é e enfrentar com coragem todos os desafios da modernidade?
PAUSA PARA REABASTECIMENTO
O que fez o favor de acabar de ler é, por agora, o derradeiro texto da redacção de Tomar a Dianteira. Resolvemos fazer uma pausa para reabastecimento de ideias. Vai durar até 13 de Fevereiro. Fica por cá o Cão Tinhoso para ir lendo e farejando o que se passar entretanto. Boa saúde para todos, e sejam felizes!!!
Tomar a Dianteira

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

RESPOSTA A UM OUTRO BLOGUEIRO


António Rebelo


Os blogueiros tomarenses, entre os quais me incluo, são bastas vezes assediados por um cidadão aparentemente com um feitio dificil e com hábitos muito peculiares. Conquanto ultimamente tenha mudado para bastante melhor, continua a causticar os menos pachorrentos. Assina com os mais variados e desvairados nomes supostos, do tipo O BURRO, Mega Massa Pro, Pato Bravo Tomarense, etc. Sendo o estilo sempre o mesmo e os temas idem idem, já não consegue ludibriar senão aqueles que querem ser enganados.
Quando as respostas que obtém para os seus escritos não lhe agradam de todo em todo, ou quando os contraditores usam uma argumentação mais elaborada e difícil de rebater, resolve o problema sempre da mesma forma -chuta para fora, dando conselhos e avançando elementos quantitativos e outros, geralmente fora de contexto. Até já cheguei a supor tratar-se de simples provocador de serviço, agindo no sentido de "tirar nabos da púcara", pois vêm aí as autárquicas e as ideias portadoras de futuro e mobilizadoras tardam em aparecer.
Assim ou assado, já não é a primeira vez que me intima a provar o que escrevo e a apresentar dados estatísticos e outros para apoiar os meus axiomas. É bizarro, mas é assim. Não tendo ainda perdido a esperança de o convencer a deixar-nos a todos em paz, portando-se com normalidade, resolvi escolher, no discurso de posse de Obama, um excerto que lhe sirva como uma luva. Oxalá ele possa contribuir também para nos tornar mais conscientes, de modo a deixarmo-nos de brincadeiras serôdias com coisas demasiado sérias. Afinal, é o nosso futuro como comunidade urbana que está em causa.
"Sabemos agora muito bem que estamos em crise. ... ... A nossa economia encontra-se muito enfraquecida, como consequência da ganância e da irresponsabilidade de alguns, mas também por causa da nossa incapacidade colectiva para efectuar escolhas difíceis e para preparar a nação para uma nova era. Famílias ficaram sem casa; empregos foram destruídos; muitas empresas faliram. O nosso sistema de saúde é demasiado caro; a nossas escolas toleram demasiados abandonos; e cada dia que passa constatamos que o modo como gastamos energia fortalece os nossos adversários e ameaça o nosso planeta.
Tais são os indicadores da crise que podemos ilustrar com dados estatísticos. Porém, o que é menos quantificável, mas igualmente grave é a maneira como perdemos a confiança em nós próprios. Um medo lancinante de que o declínio da América é inevitavel e que por isso a geração seguinte deverá fixar-se objectivos mais modestos.
Hoje quero dizer-vos que estamos perante tremendos desafios. Que são graves e que são numerosos. Não os venceremos nem com facilidade nem rapidamente. Quero, porém, dizer à América categoricamente -tais desafios serão vencidos!
Hoje estamos aqui reunidos porque preferimos a esperança em vez do medo e a união em vez dos conflitos."
Os Estados Unidos são um grande país e nós somos uma pequena cidade. Os americanos olham para o futuro e nós olhamos para o passado. Eles são realistas e nós somos fantasistas. Obama apelou aos cidadãos livres e isso aqui em Tomar é coisa muito rara. E depois, mas não finalmente, nós acreditamos em milagres e eles não. Nunca ouviram sequer falar de sebastianismo. Apesar de todas estas e muitas outras diferenças, recuso-me a perder a esperança, recuso-me a abandonar a acção em prol de uma sociedade mais livre, mais justa e mais fraterna.

ANÁLISE DA IMPRENSA LOCAL E REGIONAL

Redacção de Tomar a Dianteira
Colaboração PAPELARIA CLIPNETO
RECADO COM DESTINATÁRIOS
Hoje começamos com um "Recado com destinatários". Foi-nos encomendado por diversas fontes e por isso o vamos dar. Como não é nada agradável, conquanto o intenção seja boa, estava-se mesmo a ver que teríamos de ser nós a fazer o "biscate", por causa do nosso lema "Os meios saber e a coragem para o dizer." Então aqui vai, e seja o que Deus quiser!
Estranham muitos leitores e assinantes que os jornais locais sejam originais em dois aspectos -Os directores raramente escrevem e nunca há editoriais. Com um director que nunca ou quase nunca escreve, um periódico é quase como um coxo; anda muito devagar e não consegue ir longe. Sem publicar editoriais, um semanário quererá fazer-se passar por objectivo, neutro, imparcial, que é a pior forma de tomar posição pela negativa. Vale mais admitir que se defendem determinadas opções, do que tentar defendê-las encapotadamente, pela calada. Nem todos os leitores são assim tão "tapados".
Está dito e fazem-se votos para que seja lido onde e por quem deve ser. Como é óbvio, se optássemos pelo confortável silêncio, nunca mais era domingo. E nos agora alvejados então nem se fala. O pequeno mundo local, o chamado microcosmo, é assim...
O TEMPLÁRIO
A principal notícia da edição de 23 de Janeiro tem por título "Ferreira do Zêzere - Presidente da Câmara no banco dos réus". Abstraindo os eventuais leitores e assinantes que o semanário tomarense possa ter por aquelas bandas, salta à vista que, para os tomarenses, a referida ocorrência é de um interesse extraordinário. O mesmo acontece, aliás, com aqueloutra da página 7 "Câmara de Ourém tem novo presidente". Mais dois títulos na primeira página: "Nova esquadra custou 1,15 milhões" e "Desacatos na noite tomarense".
Em páginas interiores, aparecem "Câmara de Tomar debate plano de recuperação do centro histórico", "Combate à crise ainda não passou de debate" e "PSD confirma candidatos dia 12". Há também artigos de opinião de Becerra Victorino, João Simões e José Soares.
A fechar, na última página, sob o título www.otemplário.pt -Novo site elogiado pelos leitores e anunciantes, podem ler-se seis comentários bastante favoráveis. Se pretendêssemos ser "mauzitos", terminaríamos com um conhecido dito popular: "Gaba-te cesto que vais para a vindima!"
CIDADE DE TOMAR
"PSP agora com instalações condignas" e "Nenhuma instituição em Tomar possui equipamento de leitura para o novo cartão do cidadão", são os temas da primeira página do semanário da Praça da República. No interior há duas páginas com "Assembleia Municipal debate a crise" e as crónicas de António Freitas, Jorge Franco e Pedro Vasconcelos. Esta última faz parte do já longo e fastidioso jogo de ping-pong Luís Ferreira/Pedro Marques, sendo que, pelo tipo de escrita, dificilmente será fruto da árvore identificada. Mas enfim...
Ainda no interior, a informação de que foi adiada, sem data, a prevista venda em hasta pública do antigo Convento de Santa Iria, ou do que dele resta, bem como uma notícia assaz curiosa. Graças a Cidade de Tomar, os tomarenses -sobretudo as tomarenses- ficaram a saber que "Português melhor cabeleireiro de França é natural de Ourém". Calcule-se a utilidade de tal informação, sobretudo quando se acrescenta que o referido profissional doravante virá uma semana por mês a Lisboa, para exercer em determinado Salão de Beleza, cuja morada se indica. Consultada, a nossa colega Odete das Farturas, referiu logo que, com o dinheiro que por aí há, até vai haver fila à porta do citado estabelecimento. Ele há coisas! (Sem esquecer o Código da Publicidade, que impõe certas obrigações, não cumpridas no caso em apreço.) Para que conste: Nada temos contra o referido profissional, que por acaso até é familiar de alguém aqui da redacção. Apenas defendemos a transparência de processos, mais nada.
O RIBATEJO
O RIBATEJO ocupa a sua primeira página com dois grandes temas: "Autarquias com programas de combate à crise" e "Desemprego cresceu no distrito". No interior refere-se a inauguração das instalações da PSP, e na última página "Tomar quer reabilitar zona histórica do Flecheiro". Para quem não viva cá, até parece que há alguma zona histórica para aqueles lados...
A título de mera curiosidade "Deputada PS Fernanda Asseiceira estudou 10 anos na Escola de Gestão do Instituto Politécnico de Santarém." Será que obteve aprovação nalgumas disciplinas por antiguidade?
O MIRANTE
A presente edição d'O Mirante tem na realidade duas primeiras páginas. Na A, que faz parte de um encarte exterior, lê-se que "Jornalistas de O MIRANTE elegem Personalidades do Ano de 2008". Na outra, com interesse para o nosso concelho, "Novo mestrado em Turismo Cultural no IPT"e "Inauguração das instalações da PSP". Em "Primeiro plano", uma página inteira para Henrique Marques, de Santa Cita, e as suas miniaturas. Ficámos igualmente a saber que o presidente da Câmara da Golegã vai também leccionar no novo mestrado em Turismo Cultural, no IPT, embora não se refira que matéria ou matérias.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

OBAMA E O PAÍS DA MAMA


Salvador Sem Sorte


Meus irmãos:
Tereis visto certamente, se não estáveis nos respectivos empregos, a transmissão televisiva da tomada de posse do nosso irmão Obama como primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Eu também vi e gostei muito do programa elaborado pela SIC. Pegando numa ideia já anteriormente usada aqui no blogue (Ver post Carta a Obama), resolveram mandar um jornalista à Casa Branca portuguesa, uma freguesia do concelho de Sousel, no Alto Alentejo, para ir partilhando as suas notas de reportagem com as imagens provenientes dos EUA.
Na minha modesta opinião, tal ideia foi de uma extraordinária eficácia (e sabeis bem como sou severo a apreciar), conquanto não totalmente aproveitada. Dois factos me chamaram particularmente a atenção, razão porque aqui os trago, para vossa profunda meditação. Apesar de ocorridos lá longe, pensar nunca fez mal a ninguém, antes pelo contrário. E a actual situação de profunda crise carece mais de ideias portadoras de futuro, do que de qualqer outra coisa.
O primeiro desses factos, insólito mas tremendamente significativo no país que somos, apareceu quando o jornalista SIC resolveu perguntar a elementos da população se sabiam o que estava a acontecer na outra Casa Branca, nos Estados Unidos. Quatro respeitáveis cidadãos, de mais de 40 anos, separados no espaço e no tempo, responderam sem qualquer hesitação -É a tomada de posse do "Barraca Abana". Tal e qual, sem tirar nem pôr! Quer isto dizer, meus irmãos em Cristo, que no nosso país, como um pouco por todo o lado, aquilo que os políticos e/ou a comunicação social procuram transmitir, quase nunca é exactamente aquilo que as pessoas ouvem ou compreendem. Aqui fica o aviso para os políticos e a comunicação social locais, blogues incluídos.
O outro facto, igualmente característico do nosso país, que adoramos apesar de tudo, foi a tradicional "mendicância" ou "pedinchice", aproveitando a presença da televisão. As pensões deviam ser aumentadas. O posto médico fecha cedo e aos fins de semana. O hospital mais próximo fica a 40 quilómetros. Etc. Etc. Após o que se passou ao salão de festas da Junta de Freguesia, onde dançava a rapaziada do Rancho Folclórico, naturalmente subsidiado pela autarquia, como dinheiro dos contribuintes.
Triste, quanto a mim, foi o facto de o jornalista não ter logo aproveitado para esclarecer aquela gente, informando-os de que nos Estados Unidos, apesar de serem a nação mais rica e poderosa do mundo, não há pensões de reforma pagas pelo estado (excepto para as forças armadas), não há assistência médica gratuita ou tendencialmente gratuita, não há ensino de qualidade gratuito, não há subsídios para ranchos folclóricos e outras associações, não há garantia de emprego para ninguém, não há subsídio de desemprego nem férias obrigatórias pagas. Até as Associações de Veteranos Antigos Combatentes, se querem ter monumentos, na capital do país ou em qualquer outro local, têm de os pagar e cuidar da respectiva manutenção, sem qualquer auxílio dos governos estaduais, ou do federal.
Talvez por ser assim, têm o equivalente do IVA a menos de 13%. E já nos anos 60 do século passado o presidente Kennedy recomendava aos americanos: "Não perguntem o que o país pode fazer por vós, mas antes o que vós podeis fazer pelo país!". Quase cinquenta anos volvidos, Obama apoiou na mesma tecla, frisando que não vai ser fácil mas que juntos vão conseguir, com o trabalho de todos.
Entretanto, aqui em Portugal, este estranho país que só é europeu por estar geograficamente implantado no extremo da Europa, as coisas continuam a ser bem diferentes. Só no concelho de Tomar há cerca de 140 associações culturais e/ou desportivas, uma para cada 271 habitantes. Todas com direito a subsídio da autarquia. Algumas igualmente com direito a subsídios do governo central. Podemos portanto dizer-vos, sem qualquer ponta de exagero, que enquanto os Estados Unidos elegeram agora o primeiro presidente negro, em Portugal já há muito que os contribuintes se vêem negros para conseguir fornecer leite para tanta mama. Ainda por cima, a "cadela" é sempre a mesma -impostos/taxas > governo/autarquias > subsídios > cachorros. É por isso que o povo, com um saber proveniente de milenar experiência, lá vai dizendo, no recato do lar, (porque nunca se sabe!), que "cada vez há mais cães a pedir mama e um dia destes a cadela não vai poder com tanto cão!". A não ser que a nova atitude do Barraca Abana faça escola entre nós e a nossa barraca abane mesmo. Oxalá!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

MAZELAS TOMARENSES - Ruas e caminhos




O TRISTE ESTADO DA RUA LOPES GRAÇA
Sempre gostei muito da cidade, realmente magnífica. Dos tomarenses não gostava muito antes de os conhecer melhor. Têm sempre um semblante severo, altivo, sobretudo os políticos e os funcionários. Depois uma pessoa começa a ter mais contactos e descobre, geralmente, que aqueles rostos de carcereiros são afinal e apenas um produto da timidez. Os nabantinos, tudo visto e pesado são até extremamente simpáticos, fraternos e abertos. Têm, porém, um defeito -são em geral muito invejosos, por vezes sem sequer se darem conta. Quem nunca pecou que lhes atire a primeira pedra, que eu não o farei...
Tudo isto para deixar perceber que nem sou tomarense nem por cá moro ou trabalho. Mesmo assim, o meu amigo Cão Tinhoso falou-me das suas fotos, e não resisti. Fui amigo de Lopes Graça, na fase derradeira da sua vida, sentido-me por isso incomodado quando tentam, ainda que sem querer, apoucar-lhe a memória, como é o caso.
Baptizar uma rua com o nome de alguém, constitui uma enorme responsabilidade. Impõe deveres de respeito e consideração, entre outros. Chamar oficialmente Fernando Lopes Graça a uma via e depois deixá-la ao abandono, conforme mostram as fotografias, constitui um disfarçado ultraje à memória daquele ilustre tomarense. E é também um exemplo de flagrante falta de respeito por quem por ali transita, de carro ou a pé. Os conformistas do costume, vítimas incautas dos óculos partidários, que usam sem se darem conta, arguirão que passa por ali muito pouca gente. Pois passa. Mas além das fotos documentarem que passam lá tanto peões como veículos (ver as marcas de pneus na lama), no estado em que aquilo se encontra, até surpreende como ainda alguém por ali passa.
O Cão Tinhoso já tinha avisado, aqui há tempos. Nada fizeram, como habitualmente. Este texto procura alertar novamente para o problema. Pelo menos, mandem lá pôr uma carrada de saibro, da saibreira que está logo ao lado (ou que dela resta). No estilo bem alentejano -Trabalhem porra! É para isso que vos pagam!

Jerónimo Foice

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

PIOR A EMENDA QUE O SONETO

António Rebelo
PRÓLOGO
Para evitar eventuais equívocos, que são sempre aborrecidos, parece-me útil começar hoje com um Aviso à Navegação.
Aqui fica escrito, para os efeitos tidos por convenientes, que nunca suspeitei o anterior presidente da Câmara, nem suspeito os actuais membros do executivo de agirem deliberadamente em proveito próprio. Erram, como eu e como todos, mas estou persuadido que agem com recta intenção, dentro dos limites impostos pelos compromissos políticos anteriormente assumidos. Julgo conhecê-los o bastante, e há tempo suficiente, para poder garantir que se esforçam por fazer o melhor que sabem e podem. As minhas discordâncias com eles são, portanto, exclusivamente questões de diferentes opções políticas à partida. Que fique claro!
Da mesma forma, reafirmo que não ajo guiado pela cobiça, nem pela inveja, nem na mira de obter benesses, quaisquer que elas sejam. Apenas persigo aquilo que julgo ser o bem comum e a melhor maneira de o alcançar em cada caso. Por isso, peço aos leitores um acto de humildade. Têm todo o direito de me criticar, mas façam-no, por favor, nos limites daquilo que eu escrevo ou faço. Não de acordo com o que julgam que eu penso ou tenciono fazer. Até porque me habituei a dizer o que faço e a fazer o que digo. Oxalá todos agissem de igual modo. E vamos à crise e às propostas crismadas de anti-crise.
AS TRÊS CRISES
Já tive ocasião de escrever (Ver neste blogue "Tentar compreender a crise") que grassa actualmente no mundo aquela que é já a mais grave crise desde 1929, podendo até vir a ser a mais grave de sempre, mas que antes dela já o nosso país e a nossa cidade estavam em crise.
Temos, por conseguinte, três crises distintas, as quais, no meu entendimento, apenas têm em comum a principal causa: o comportamento económico moderno.
Como é sabido, o sistema capitalista no qual vivemos, é pragmático e não científico ou simplesmente planeado. Acrescente-se que, até ao presente, ninguém conseguiu modelá-lo de forma importante ou durável, nem tão pouco evitar as suas crises. Aceite este axioma fundamental, olhando para o século passado, designadamente para antes de 1974, os que então já estavam na vida activa lembram-se concerteza do comportamento económico clássico. Pode resumir-se na frase fascista "Produzir e poupar, manda Salazar." Por outras palavras e em "economês", primeiro produzir e depois consumir, ou primeiro ganhar e depois gastar. E assim foi durante muito tempo. O crédito era raro e caro, as mentalidades diferentes, pelo que cada qual só comprava aquilo para que tinha dinheiro, salvo raras excepções.
Como a segurança social ainda nem existia e as seguradoras eram raras, caras e com um leque muito reduzido de opções, os cidadãos nem sequer gastavam tudo o que ganhavam, a não ser por exiguidade de recursos. Caso contrário procuravam poupar, para uma doença, para um acidente, para o desemprego, para a velhice. E tudo o que de durável compravam, era usado até à última, sem preocupação de moda, em termos de vestuário, calçado ou acessórios.
No seu inexorável desenvolvimento não controlado, o capitalismo acabou por tornar necessária a cada vez maior expansão do mercado. Na Europa sobretudo após a 2ª Guerra Mundial, em Portugal sobretudo após o 25 de Abril. Em ambos os casos, as matérias-primas baratas e a superioridade tecnológica europeia, tornaram possíveis margens de valor acrescentado bastante confortáveis, as quais permitiram sucessivos aumentos de salário, assistência na doença, subsídio de desemprego e férias pagas, base do actual "modelo social europeu", o qual resultou da resposta pragmática do patronato ao perigo comunista (nalguns países os PCs chegaram a conseguir, nos anos 70 do século passado, resultados eleitorais acima dos 20%). Não foi por mero acaso que o princípio das férias pagas foi adoptado, pela primeira vez, pelo governo francês da Frente Popular, em 1936, que incluia dois ministros do PC.
Como que correspondendo a todas essas regalias, a banca expandiu-se e facilitou cada vez mais o crédito, no que foi seguida por todas as grandes empresas. Chegou-se assim ao axioma inverso do comportamento económico clássico. Em vez de ganhe primeiro, consuma depois, passou a ser consuma agora, pague depois. É o chamado comportamento económico moderno, o qual veio a provocar as actuais crises. Com efeito, deslumbrados com tanta facilidade, nem as empresas, nem os governos, nem os consumidores se lembraram que "as árvores nunca chegaram nem chegam ao céu." Noutros termos, sempre foi óbvio que a espiral salários/preços, ou as bolsas em crescimento contínuo, não iam durar para sempre.
Desaparecidas as matérias-primas baratas, perdida a superioridade tecnológica e até a liderança política; invadidos pelos produtos baratos dos países emergentes, os ocidentais (Europa, USA) não resistiram. A prática aberrante dos subprimes, que obrigava quem menos podia a pagar os juros mais altos, foi a primeira peça a cair. Seguiu-se um gigantesco efeito dominó, que ninguém sabe neste momento quando e se vai parar.
A CRISE TOMARENSE
Posto que os tomarenses não têm qualquer influência, política ou outra, na crise mundial, europeia ou nacional, interessará mais tentar esmiuçar a crise tomarense. Embora com uma causa comum, a crise nabantina tem aspectos particulares. É mais antiga, mais grave e menos conhecida nos seus detalhes. Para além de resultar, como acabámos de ler, do comportamento económico moderno, engloba uma variante que nos é própria, embora não exclusiva. Além do já referido "consuma agora, pague depois", há em Tomar, desde há anos, uma variante específica do sector público. Pode ser resumida na frase "consuma à vontade que alguém há-de pagar." Para desgraça nossa, também neste caso a evolução natural não fora prevista. Face aos encargos obrigatórios cada vez mais altos, empresários e cidadãos começaram e continuam a debandar, numa espécie de "voto com os pés". Restam, essencialmente, aposentados e reformados, funcionários públicos e as grandes superfícies. Ainda por cima, estas cedo aproveitaram a euforia reinante para implantar pela calada um sistema moderno ligeiramente diferente de tudo o resto. Aos fornecedores, acenam com grandes encomendas todas as semanas e todos os meses, assim obtendo preços mais baixos e prazos de pagamento a 90 dias. Praticam o "compre agora, pague depois." Aos clientes exigem exactamente o contrário: "pague primeiro, consuma depois."
Graças a tais práticas, conseguem não só trabalhar exclusivamente com o dinheiro dos consumidores, mas igualmente colocar a bom recato o valor acrescentado, entretanto conseguido. Um parte considerável do rendimento dos tomarenses viaja assim para paragens mais rentáveis, em vez de contribuir para o desenvolvimento local. Porém, como as referidas empresas são bons empregadores e contribuintes, a autarquia nada pode fazer para modificar tal estado de coisas. Resta-lhe, portanto, como já referi anteriormente, arranjar maneira de aumentar as receitas e diminuir as despesas correntes. Por isso estou tão pessimista face ao futuro. Até agora, as propostas dadas a conhecer, vão todas no sentido inverso -diminuem as receitas e aumentam as despesas. Estamos, assim, perante um caso típico de "Pior a emenda que o soneto". Cabe, por isso, perguntar -Quem vai pagar?
Paulatinamente, vai-se aproximando o dia em que a autarquia nem sequer terá fundos próprios ou do Estado para pagar atempadamente os vencimentos e subsídios diversos. De momento ainda vão jogando com a retenção temporária de verbas para pagamento a fornecedores e com alguns empréstimos. Mas são práticas condenadas, designadamente pelo aumento dos encargos bancários. E o facto de procurarem vender o antigo Convento de Santa Iria no pior momento do mercado, mostra involuntariamente que o aperto é grande. Mais uma razão para mudar de rumo e começar a pensar em políticas adequadas à época, em vez de projectos prontos a montar.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

NÓS TOMARENSES E AS CRISES ACTUAIS

Morrer da cura?
António Rebelo
Na sequência da minha análise anterior, um dos amáveis leitores e posteriores comentadores, mostrou-se agastado. Segundo escreveu, limito-me a apresentar opiniões alheias e a falar de sentimentos, sem nunca apresentar dados de natureza técnica, pelo que não passo de um generalista.
Devo dizer que aceito tais opiniões críticas de boa vontade, pois elas apresentam uma das vertentes da minha actividade neste blogue. Cuido realmente de apresentar variadas opiniões, além da minha, de modo a que os leitores possam optar. Foi assim que me ensinaram. É assim que se procede nas sociedades realmente abertas e tolerantes, desde há pelo menos dois séculos. Naturalmente, outra é a educação nos países profundamente intolerantes, que professam ou professaram princípios contrários aos direitos humanos. Nomeadamente aquele que proclama que todos os homens nascem iguais...
Sou, também, um generalista, pois sempre me inclinei, no quadro da minha formação, para a vertente macro, embora nunca tenha gostado das curvas de Kondratief. Dito isto, que não é pouco, alegra-me que um ex-autarca procure informar-se sobre o mundo exterior e os seus cidadãos. Pode ser que assim consiga um dia ser menos egocêntrico e autocrático, marcas profundas deixadas pela sua formação académica e prática posterior. Adiante.
Decidi voltar ao tema da crise, que sei não ser nada popular, por estar seriamente preocupado, não só com o futuro próximo, mas também com o mais afastado. Como sabemos, a nível local, tanto a maioria PSD como a oposição PS apresentaram propostas ditas "contra a crise". Só os IpT mantiveram até agora um prudente silêncio. Ora acontece que estes são, também, a única força política que dispõe de adequado suporte na área da economia, o que pode muito bem estar na origem da sua atitude, que antes julguei revelar apenas algum embaraço.
Na verdade, tanto o PSD/Tomar como o PS/Tomar se limitaram, ao apresentarem as referidas medidas, a seguir a tendência governamental, em Portugal e na União Europeia. Agiram assim nos termos do chamado "desejo homólogo", ou "desejo mimético", segundo os quais tendemos sempre a desejar aquilo que os outros já desejaram e conseguiram. No caso em apreço, as medidas governamentais. Procedendo assim, é óbvio que não estão minimamente preocupados com a crise a nível local, mas apenas com os futuros resultados eleitorais. Trata-se portanto, no meu entendimento, de mera politiquice, que nem sequer denunciaria, caso não me parecesse tão perigosa.
A questão é a seguinte: Face a uma crise de contornos ainda não totalmente definidos, e com uma origem ainda algo obscura, os diversos governos, na esteira do estado-unidense, decidiram agir no sentido minimizar tanto quanto possível os danos previsíveis. No quadro da União Europeia aprovou-se a necessidade de assegurar a solvabilidade bancária e de fazer o possível para evitar o aumento do desemprego. As medidas tomadas pelo governo de Sócrates obedecem a essas normas, tendo obrigado o primeiro-ministro a um volte-face completo. Ainda recentemente, a prioridade era a austeridade, tendo em vista a redução do défice orçamental. Bruscamente, passou a ser exactamente a oposta. Gastar o mais possível, para manter a actividade económica. Quanto ao défice máximo de 3%, imposto pela UE, depois logo veremos, uma vez ultrapassada a violenta crise.
Neste consenso comunitário europeu de combate aos efeitos da crise, há três grupos de países para outras tantas situações diferentes. Até ao momento, os mais atingidos e com maiores problemas são os que não fazem parte do Euro. Incluem até a orgulhosa Inglaterra, cujo banco central se viu forçado a baixar a taxa de juro de referência para o nível mais baixo dos últimos trezentos anos. A Islândia, que desvalorizou a sua moeda em 45%, os países bálticos, que baixaram vencimentos e pensões, bem como a Polónia, estão igualmente entre os casos mais complicados.
Temos depois o chamado conjunto do Euro, que convém dividir em dois grupos, consoante a situação anterior de cada um. Antes, porém, vale a pena lembrar que, aquando do aparecimento da moeda única europeia, no final do século passado, o insigne economista americano Milton Friedmann, Prémio Nobel de Economia e papa da denominada "Escola de Chicago", prognosticou que, aquando da primeira crise grave, o euro não resistiria. Afinal, passa-se exactamente o contrário. Os países da zona euro são os que melhor têm resistido à crise, de tal forma que até a Inglaterra, tradicionalmente contra, começa agora a encarar a hipótese de aderir. Bem dizia o outro jogador que "prognósticos só no fim do jogo". Sobretudo na política e na economia, acrescento eu. Tudo bem, portanto? Antes pelo contrário.
Embora usando o euro como moeda, imediatamente antes da crise havia países com uma economia saudável e outros que nem tanto. No primeiro grupo figuravam a Alemanha, a França, a Holanda, Espanha, a Finlândia, todos com crescimento aceitável, défice baixo ou mesmo inexistemte e dívida pública inferior a 60% do PIB. O outro grupo integrava Portugal, Itália, Grécia e Irlanda, caracterizando-se por défices elevados e assustadoras dívidas públicas, todas superiores a 80% do PIB.
Volvidos uns meses, o horizonte económico é negro por todo o lado, particularmente naqueles países que, como Portugal, são forçados a aumentar muito a dívida pública para assegurar os fundos necessários às tais medidas de apoio. Há até já três casos exemplares. A Irlanda, que de melhor aluno da UE está agora na contingência de ter de solicitar a ajuda do FMI, tal como nos aconteceu nos anos 80 do século passo. A Grécia, que acaba de ser castigada por uma conceituada empresa de rating, o que vai encarecer os empréstimos a solicitar. A Espanha, enfim, que tinha, no início da crise, um excedente orçamental de 2,8% e agora já admite abertamente que o défice poderá vir a atingir os 6% e o desemprego uns astronómicos 16% (em Portugal a previsão é de menos de 10%). Tudo isto com um PIB a cair 1,6%."Caminhamos para algo de muito excepcional", disse o ministro espanhol da economia.
Os mais apressados, os menos atentos, bem como os que gostam mais de ler jornais desportivos, perguntarão com ar de desprezo -E que temos nós a ver com isso? Nada, evidentemente! A culpa é sempre dos outros! Todavia, se me permitem, gostaria de lembrar que, já antes da crise internacional, havia uma grave crise local, a qual continua a piorar. Provas daquilo que afirmo? As dezenas de casas para arrendar, as dezenas de apartamentos para vender, as dezenas de estabelecimentos para trespassar, as empresas que encerram, os eleitores que vão morar para outros concelhos mais acolhedores e dinâmicos. Afinal, basta andar nas ruas, olhar, saber ver e interpretar.
Tal como a nível nacional, os contornos da crise local são conhecidos. Elevadas despesas correntes custeadas pelos impostos, elevadas dívidas públicas, a liquidar com os impostos, diminuição das receitas e aumento dos diversos encargos. Sendo assim, como poderá a autarquia aumentar as despesas ou reduzir as receitas para acudir à crise, sem aumentar a sua dívida para com os bancos? E assim sendo, se já antes da crise era urgente, mas muito difícil, reduzir as despesas e aumentar as receitas, a que propósito vêm as medidas anunciadas? Para fazer como o governo? Mas o governo a isso foi constrangido pelos seus parceiros europeus. O executivo tomarense foi constrangido por quem ou por quê? Pela necessidade de propaganda eleitoral?
Continuo a olhar o horizonte tomarense e o que vejo deixa-me muito apreensivo.

domingo, 18 de janeiro de 2009

NÓS TOMARENSES E AS CRISES ACTUAIS


VAMOS BEM GUIADOS VAMOS!!!
António Rebelo
Desde Março do ano passado que venho tentando, essencialmente através da comunicação social, alertar os tomarenses para a gravidade da crise local. Fi-lo igualmente a convite e perante a Confraria do Barbo. Em Junho de 2008 publiquei até uma tentativa de análise sob o título "Paira sobre Tomar algum desnorte". Tudo isto após cerca de 20 anos de voluntário silêncio, em termos de escrita e/ou de análise política, exactamente por causa da cada vez mais grave crise local.
Como era de esperar, alguns adeptos da actual maioria, os senhores autarcas e alguns especialistas locais autoproclamados, apressaram-se a garantir, naturalmente em surdina e perante audiências adequadas, que eu era um exagerado, que não sabia do que falava, que estava tudo controlado, etc. etc. etc. Apareceu então, a partir de Novembro, cada vez mais assustadora, a crise global e logo houve quem garantisse que não teria qualquer incidência na cidade e no concelho. Está-se agora a ver que tinham razão, não tinham?!
Perante a cada vez mais evidente tragédia, tanto a nível local como nacional, os mesmos que garantiram estar tudo sob controlo, perderam a fingida calma e tentam agora, com algum óbvio desespero, fazer alguma coisa para contentar as vítimas, naturalmente porque são também eleitores. Temos assim ocasião de assistir a cenas que seriam para rir, caso não fossem tão mórbidas.
A maioria PSD, manifestamente sem adequada preparação prévia, resolveu anunciar algumas medidas apelidadas de anti-crise, mas na realidade apenas paliativas. Seguiu-se o silêncio dos Independentes por Tomar, se calhar "apanhados com as calças na mão". Perante tão boa ocasião, o PS avançou, de modo triunfal, com 17 medidas, também anunciadas como contra a crise, mas na sua maioria apenas paliativas. Deu-se até ao luxo de quantificar algumas, para vincar que as do PSD eram apenas intenções algo indefinidas.
Continuando a procurar com afinco soluções para os cada vez mais graves problemas locais, a actual maioria decidiu também convocar uma sessão extraordinária da Assembleia Municipal, exclusivamente para debater a crise e apresentar propostas. Foi tal o enpenhamento do PSD que até houve tentativas (sem qualquer resultado), para aliciar alguns vogais, auto-excluídos a partir da altura em que alterações regimentais os impediram de falar em termos adequados.
A sessão da Assembleia foi um completo fiasco. Por várias razões, a saber. Desde logo porque, se acaso houvesse um teste do balão à entrada da sala, os resultados seriam surpreendentes, pois muitos vogais usam e abusam do "viagra dos pobres" para ganhar ânimo e afogar inibições. Depois porque, enquanto o PSD esperava "pescar" algumas ideias práticas, compensadoras e baratas, os Independentes aproveitaram para atacar a maioria, enquanto o PS usava a inesperada tribuna assim facultada para propagandear as suas medidas e realçar a sua boa organização, em contraste com o manifesto desnorte social-democrata.
No meio de tal confusão, surgiram situações muito caricatas. Citamos apenas duas. A sra. deputada Graça Costa (PSD) resolveu desferir um cerrado ataque contra as maleitas do sistema capitalista, no melhor estilo "PREC 75", que ela naturalmente não viveu, dada a sua idade e experiência política. Na mesma onda, o sr. deputado Vítor Gil (PSD) avançou destemidamente contra os "offshores", fingindo ignorar que o caso mais repugnante é o da Madeira, liderada pelo seu companheiro Jardim.
O mais trágico, porém, é que nenhum dos actuais políticos locais parece ter ainda entendido que há uma crise local e uma crise nacional, às quais se vieram juntar, agravando-as os efeitos da crise mundial. Significa isto que, mesmo quando e se a crise mundial se resolver, a crise nacional e a crise tomarense persistirão e tenderão a agravar-se, caso não sejam tomadas medidas realmente curativas. Estas serão difíceis, porque roubarão popularidade e farão perder votos, mas sem elas nada feito.
Entretanto Corvelo de Sousa anunciou, num belo texto, a venda do Convento de Santa Iria (fotos) para a próxima quarta-feira, dia 21. Respondendo a perguntas, garantiu que já há interessados. A base de licitação é de milhão e meio de euros, bastante menos que os previstos seis milhões incluídos no Orçamento 2009. Sabe-se ainda que a autarquia pretende no local um "Hotel de charme de 4 0u 5 estrelas, com 60 quartos." "C'est charmant", digo eu, mas não chega e trata-se de um erro monumental. Mais um.
Não chega, porque a população ignora tudo do eventual projecto, designadamente a sensível questão das cérceas. Afinal os edifícios, se acaso vierem a ser vendidos e depois reconstruídos, ficarão com quantos pisos acima da cota de soleira? Sabendo-se que, em construções hoteleiras, o piso térreo é, em geral, apenas para serviços técnicos e o primeiro andar para salas multiusos, há a certeza de que cabem 6o quartos, sem elevar demasiado a cércea?
Trata-se, obviamente, de um erro monumental, dado que no estado em que se encontra actualmente o mercado imobiliário, dificilmente aparecerá algum interessado em pagar 1,5 milhões por aquele conjunto, cheio de complicadas servidões, inultrapassáveis qualquer que seja a disponibilidade da autarquia.
A título comparativo, a autarquia de Cascais, igualmente PSD, mas de outro gabarito físico e humano, encontra-se a negociar, desde há algum tempo, com o Grupo Pestana (hotelaria e turismo) e com o Ministério da Defesa a recuperação do Forte de Cascais, uma fortaleza costeira do século XVII, assaz bem conservada. Segundo as últimas notícias, o citado grupo hoteleiro oferece 2,8 milhões de euros + uma modesta renda mensal + uma pequena percentagem sobre as receitas de exploração, por futuros espaços culturais, futuros espaços comerciais, bem como um hotel de luxo de 127 quartos. Dado tratar-se de um monumento de interesse nacional, por isso insusceptível de alienação definitiva, a prevista exploração será por um período de 70 anos.
Agora só resta a autarcas e outros leitores fazerem as adequadas comparações e chegarem às conclusões que considerarem mais adequadas.
Quanto a mim, parece-me que ainda vem longe o tempo em que o Convento de Santa Iria e o Antigo Colégio hão-de ser vendidos por um milhão e meio de euros. Mas oxalá esteja enganado! Era bom para todos, menos para os compradores. A menos que se tratasse de branquear capitais...

sábado, 17 de janeiro de 2009

MAZELAS TOMARENSES - Sinais do tempo






Cão Tinhoso
Política esotérica?
Começo com um assunto que me tem apoquentado, e para o qual gostaria de obter esclarecimentos. No blogue de Luis Ferreira, vamosporaqui.blogspot.com, actualizado quase todas as semanas, aparecem ultimamente duas fotografias estranhas. Uma mostra uma nora árabe, também conhecida por engenho aqui na nossa zona. A outra mostra um candelabro judaico, com os clássicos sete braços terminados em castiçais, para colocar as sete velas alusivas às sete tribos de Israel. Tudo claro, portanto? Pois não senhor. Antes pelo contrário.
Porquê a nora? Quem é que anda ou devia andar à nora? Haverá alguma relação entre o candelabro e a cabala? Pretende-se o apoio dos judeus? A foto foi tirada onde? Mistério, mistério, mistério...
A tradição já não é o que era...
Corajosamente, um munícipe com estabelecimento na Rua da Graça continua a usar uma das suas montras para publicitar a sua campanha contra o aumento da água. Já obteve uma primeira vitória: a DECO, Associação de Defesa do Consumidor comunicou-lhe que a recusa do livro de reclamações par parte dos SMAS é ilegal, sejam quais forem os argumentos usados, pelo que deve chamar a PSP quem desejar reclamar e lhe for negado o livro. Tomar a dianteira apoia a acção do citado munícipe e do seu grupo AQUA. Que nunca lhe falte ânimo, para demonstrar que em Tomar, a tradição já não é o que era. Nem lá perto!
Os tempos estão a mudar...
Houve tempo em que neste país, quando um burro falava, os outros baixavam as orelhas e acatavam respeitosamente. Pois foi chão que já deu uvas. Devido às obras na Rua Direita, a Câmara comunicou aos munícipes, num pequeno impresso afixado no local, que os contentores da Rua D.ª Aurora de Macedo passam a estar na Rua da Graça. Podia ter dito que os moradores sem possibilidades, por qualquer motivo, de se deslocarem com os detritos ao novo local, deviam deixar os sacos no sítio antigo, que os serviços viriam recolhê-los. Não o fez, mas nada lucrou com isso, a não ser acusações de desdém, arrogância e deixa andar. Os moradores fazem de conta que não leram nada e escoram-se nas elevadas taxas mensais que pagam, as quais devem dar direito a algumas regalias. Têm toda a razão! Realmente, os tempos estão a mudar, e de que maneira! Até os tomarenses já protestam, tanto de forma activa como passiva.
País de brandos costumes, terra de brandos costumes...
Finalmente a PSP lá conseguiu uma nova casa, com a dignidade, o conforto e o equipamento que constituem o mínimo a conceder a uma corporação de defesa dos cidadãos. Por isso aqui ficam as nossas felicitações aos polícias e o nosso agradecimento ao governo. O seu a seu dono.
Como sempre acontece em termos de obras, os projectos e o planeamento dos trabalhos enfermam de alguns erros, quase sempre reparáveis, desde que haja humildade para reconhecer o que não está bem e proceder à respectiva correcção.
No caso das novas instalações da PSP, acabadinhas de inaugurar, após grandes obras de adaptação às novas funções, há qualquer coisa que não bate certo. Basta olhar com atenção para a fotografia acima. Enquanto à direita se pode ver um pequeno portão para acesso pedonal, que está fechado e é dotado de trinco eléctrico; do lado esquerdo, a entrada para viaturas não tem qualquer portão. Qualquer pessoa, com qualquer intenção, pode entrar de noite ou de dia, tanto baixando-se um pouco, como passando entre o suporte metálico e a parede, à esquerda ou à direita. Teria ficado muito mais caro instalar um portão automático, pelo menos da mesma altura da vedação (que me parece de masiado baixa, mas enfim...)?
Não ignoro que, como afirma João César das Neves, conhecido economista/sociólogo/cronista conservador, em Portugal, felizmente para todos nós, até os extremistas são boas pessoas. Mesmo assim, continuo a pensar que os agentes e responsáveis da PSP de Tomar merecem lá um portão automático. Quanto mais não seja para poderem descansar melhor, designadamente durante a noite.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

CARTA AO FUTURO PRESIDENTE OBAMA


Vai por aí algum orgulho nacional no caso da próxima tomada de posse de Obama, no próximo dia 20. Uns porque o fotógrafo da presidência americana é de origem açoriana, outros porque o futuro presidente dos USA resolveu oferecer um cão às filhas e, segundo a imprensa internacional, está indeciso entre duas raças, uma das quais é o cão d'água português.Informados de tal facto, os responsáveis algarvios, que já aprenderam com os turistas não ser conveniente andar a dormir na forma, foram lestos. Informaram a embaixada americana em Lisboa de que têm uma cadela prestes a parir e que tencionam oferecer um dos cachorrinhos ao futuro presidente Obama. Até já baptizaram o animal que ainda não nasceu. Chamar-se-á Algarve. Podia ser pior. Allgarve, por exemplo, como já fez um organismo governamental de promoção turística.
Tomar a dianteira escolheu outro caminho. Encontrar maneira de poder dirigir-se a Obama de igual para igual. Como os nossos seguidores decerto já repararam, conseguimos o que parecia praticamente impossível. Agora é só escrever da Casa Branca da Silva, Tomar, Portugal, para a Casa Branca de Obama, Washington, USA. Está ou não está bem visto? Como dizem os nossos amigos espanhóis, dignidade ante tudo! Pois então aqui vai a carta:
Meu caro Obama: Antes de mais, aceita as minhas sinceras felicitações e votos de que consigas fazer melhor do que o teu antecessor. Não é assim muito difícil, mas os tempos mudam de forma cada vez mais acelerada e nunca se sabe. Escrevo-te de um país que tem as mais velhas fronteiras da Europa, que agora por acaso até estão permanentemente abertas, e apesar disso os nossos multiseculares inimigos, os espanhóis, não nos invadiram, militarmenbte falando. Economicamente falando, já não estou assim tão seguro.
Tudo isto para te dizer que os portugueses, quando focam qualquer assunto, sabem muito bem o que estão a tratar, pois têm a ampará-los vários séculos de experiência, tanto na Europa como através do mundo. Imagina que até fomos nós que provocámos a primeira globalização.
Na minha opinião, com a tua brilhante vitória eleitoral, provocaste enormes expectativas, que agora são de muito difícil satisfação, dado o ambiente de profunda crise a nível mundial. Por isso te recomendo a máxima cautela em tudo.
Apenas a título de exemplo, passo à questão do presente para as tuas filhas. Soube-se aqui que estás indeciso entre dois tipos de cão, um dos quais português. Aceita um conselho de amigo -escolhe o outro, pois no caso de optares pelo cão d'água português, haverá logo mal intencionados a garantir que tal escolha ocorreu porque tencionas meter muita água nas tuas futuras funções, o que não te ficará nada bem, como deves calcular. Basta pensares no que aconteceu ao Busch.
Se de todo em todo não conseguires convencer as tuas filhas a repudiarem a hipótese do cão português, julgo que só te restará uma hipótese: contactar o senhor Alcaide da minha terra, para te indicar a sua agência de comunicação preferida e recentemente contratada. Podem até não ser o expoente máximo da profissão, mas têm lá um técnico ímpar para calafetar rombos de todos os tamanhos nas diversas barcas do poder. Só o nome já é uma garantia: Rui Calafate. Queres melhor? São séculos de experiência, amigo Obama.
Um grande abraço fraterno desta Casa Branca portuguesa para essa Casa Branca americana. E não te incomodes a agradecer. Se não nos ajudarmos entre iguais, quem irá ajudar-nos?

Sebastião Barros - Tomar a dianteira

ANÁLISE DA IMPRENSA LOCAL E REGIONAL

Redacção de Tomar a Dianteira Colaboração PAPELARIA CLIPNETO
A imprensa da região desta semana espelha muito bem, no nosso entender, alguns dos males de que sofremos. Não vamos dizer quais, para não frustrar as eventuais expectativas dos leitores. Para facilitar a leitura, optou-se desta vez por apresentar primeiro as manchetes (as notícias principais, para quem não fala "jornalês"). Seguem-se os destaques de primeira página. A seguir as outras notícias de interesse para a cidade e/ou o concelho, se entendermos que as há.
Nova iluminação pública no concelho em 2009, titula o semanário Cidade de Tomar. Já numa página interior, ficamos a saber que, durante este ano, de acordo com declarações de um alto responsável da EDP, vão ser substituídos todos os Bips (Braços de iluminação pública) do concelho. Passaremos a ter lâmpadas de vapor de sódio de 75W, nalguns casos de 100/150w, em vez das actuais, de mercúrio e de 50w. Qualquer que seja a opção política de cada um, reconheça-se que é obra! Valha-nos Nª Sª d'Agrela, que não há santa como ela!
O Templário destaca o despiste mortal que vitimou um jovem tomarense, nos seus primeiros dias de trabalho.
O Mirante publica, a toda a largura da primeira página, que "SMAS de Tomar recusam livro de reclamações a quem quer protestar contra o aumento da água." Na página 4, com foto de um dos tomarenses que já protestaram, ficamos a saber que o Eng. Fernando Caetano, daqueles serviços, afirma que o citado livro não serve para tal tipo de protesto, dada a natureza específica da empresa. Infelizmente para ele, bem como para quem lhe encomendou o recado, logo adiante a DECO responde que tal argumentação não anula a obrigação de facultar o livro de reclamações sempre que solicitado. Assim estamos...
"As mudanças da saúde no distrito" é a manchete d'O Ribatejo. Na página oito ficamos a saber que doravante há quatro agrupamentos de saúde, com sede em Santarém, Torres Novas, Almeirim e Constância. Do nosso ponto de vista, a escolha de Almeirim como uma das sedes justifica-se plenamente. É que sempre são 5 quilómetros até Santarém! Só é pena que, no caso de Constância, não tenham optado antes por Santa Cita, que também fica a 5 quilómetros de Tomar. Andam a brincar com os tomarenses, é o que é!
Ainda na primeira página, Cidade de Tomar informa que "Não há nenhum processo para desclassificar o Convento de Cristo", de acordo com o presidente da Comissão Nacional da UNESCO. Ficamos mais descansados, dizemos nós, não resistindo contudo a acrescentar que não há nenhum processo nem é preciso. Aquilo como está, e sobretudo como funciona, desclassifica-se a si próprio aos olhos dos visitantes, sobretudo estrangeiros, mais habituados a outras maneiras de agir e a outra qualidade de serviços de acolhimento. Jovem com 27 anos morreu em acidente de viação, Quinta das Valadas, Areias, Ferreira do Zêzere e Dorme sobre um amontoado de restos de sapatos, completam os destaques de primeira página do semanário dirigido por António Madureira.
Convento de Santa Iria e Colégio Feminino à venda por 1,5 milhões de euros e Em ano de eleições Câmara de Tomar contrata empresa de comunicação, são os destaques d'O Templário, para além da já mencionada manchete.
Quanto à hipotética venda do Convento de Santa Iria, recordamos que, no Orçamento camarário para o corrente ano, aparece consignada a soma de 6 milhões de euros, como produto dessa eventual transacção. Caso para exclamar "Isto é que vai uma crise!"? Já sobre a contratação dos serviços de uma empresa de comunicação, convirá ler uma peça subscrita por Isabel Miliciano, na página 7, sob o título "Relações perigosas". Ela lá sabe!
Segundo os destaques de primeira página d'O Mirante, "Notícias sobre a degradação do Convento de Cristo são alarmistas" e "Jovem tomarense expõe a sua pintura em Berlim". Igualmente na 1ª página, uma grande fotografia de um habitante do Concelho de Tomar, que "Vive no carro mas almoça no restaurante e possui duas casas". Problemas...
Numa outra página, O Mirante publica uma foto do lamaçal Fernando Lopes Graça, alí entre a Rua do mesmo nome e o hospital. Dado que Tomar a dianteira já publicou o mesmo tema em 1ª mão, há já algum tempo, desconfiamos que Elsa Ribeiro Gonçalves é uma das nossas seguidoras,embora não o refira. Até porque, no caso do Convento de Cristo , "alarmistas" "há trinta anos", são os precisos termos usados pelo nosso colaborador AR, no seu comentário ao Expresso, reproduzido n'O Templário.
Como habitualmente, O Ribatejo não inclui qualquer notícia relevante sobre Tomar. Nem na primeira página, nem nas interiores. A confirmar que, por razões ainda não conhecidas, não dispõe de adequada cobertura humana local. Sendo assim, não se compreende o que levará o sr. Presidente da Assembleia Municipal de Tomar a determinar, por escrito, que as convocatórias devem ser publicadas nesse semanário, entre outros. Conveniências pessoais? Ficamos a aguardar uma resposta. Que inclua, se possível o total de leitores do citado jornal, na cidade e no concelho.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

OS ELEITOS SÃO COMO OS ELEITORES






Cão Tinhoso
As três fotos de cima pretendem documentar a nossa presente situação de desmazelo, desdém, desenrasca, desânimo, falta de abertura ao mundo, ausência de civismo e de ética.
Os leitores em geral, incluindo os seguidores deste blogue, apreciam devidamente quando se "dá cacetada", desde que seja nos outros e de preferência de outro partido. Compreende-se. No país em geral e em Tomar em particular, a culpa é sempre dos outros e tem tendência nata para morrer sempre solteira.
Vivendo no mesmo meio, falando a mesma língua, tendo os mesmos contactos e os mesmos costumes, lógico é que todos sejamos muito semelhantes sob o ponto de vista comportamental, particularmente quando nos falta abertura de espírito para comparar com imparcialidade. Não espanta, por isso, que os autarcas não desempenhem os seus cargos como a maioria gostaria, tal como os eleitores, funcionários ou não, se encontram exactamente na mesma situação. Todos padecemos das mesma maleita...
Na primeira fotografia, a contar de cima, pode ver-se o resultado quase final da actuação cívica de determinada família. Tendo mandado podar duas árvores no pequeno quintal, resolveram colocar os ramos à porta e telefonar aos serviços de limpeza, para que os viessem buscar. Afinal, para alguma coisa hão-de servir as taxas de saneamento, de conservação e de resíduos sólidos. (Será que, num futuro próximo, ainda vamos ter de pagar uma taxa de resíduos líquidos e gasosos?).
A funcionária que atendeu foi muito simpática e três dias depois vieram recolher os resíduos. Lamentavelmente deixaram a rua no estado documentado na fotografia, pois apenas recolhem os detritos, não varrem. Quanto ao varredor, há-de passar um dia destes...
Não está certo -dirão os leitores. Pois não, de modo nenhum, confirmo eu. Mas estará certo o que outros cidadãos/eleitores resolveram fazer, ali para as bandas dos Pegões, como mostram as duas outras fotografias? Também não, pois claro. Mas tudo indica que o terão feito por considerarem que era mais rápido, evitando assim telefonemas, dias de espera e uma limpeza mais ou menos.
É por estas e por outras parecidas, que os estrangeiros nos consideram muito hospitaleiros, com um clima excelente e praias magníficas, mas o país mais porco da Europa Ocidental, fazendo parte do tal grupo dos PIGS = Portugal, Italy, Greece, Spain, de acordo com a gíria corrente em Bruxelas, nos meios da União Europeia. Os nórdicos e os protestantes pagam milhões para os fundos que cá chegam. Mas não perdoam. Sempre conseguimos ser os primeiros em qualquer coisa! Valha-nos isso!
Para concluir, um tema tradicional conhecido: Estamos neste estado/Tudo isto existe/Tudo isto é triste/Tudo isto é fado. Infelizmente!

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

INFORMAÇÃO RECEBIDA AQUI NO BLOGUE


SAPEC - SOCIEDADE ANÓNIMA DOS POLIDORES DE ESQUINAS E CALÇADAS - SETÚBAL

Especialistas em investigação da vida alheia e outras calhandrices

Após buscas aturadas e porfiados esforços de escutas e outros meios, somos a informar que o indivíduo que assina O BURRO é alguém ainda no activo, que terá feito o trajecto RAS(apartheid)/IPT/CMT/QREN. Na zona da sua residência é geralmente conhecido pela alcunha "O pívias". Não conseguimos ainda apurar as origens de tal apodo, mas tencionamos lá chegar em breve. Esta informação tem 99% de possibilidades de ser verdadeira. Agradecemos a sua difusão atempada nos meios bem informados da Nabância, para que todos saibam com quem estão a lidar. Com os nossos antecipados agradecimentos, endereçamos cordiais saudações,

A gerência da SAPEC

( Recebida em correio expresso oriundo de Lisboa, às 10H30 de hoje, em Tomar a Dianteira)

Sebastião Barros

MAIS PROPOSTAS ANTI-CRISE DO PS TOMAR

É SÓ FARTURAS!
António Rebelo
Em menos de um mês, é já a terceira vez que autarcas tomarenses vêm a público propor medidas "contra a crise". É bom sinal. Indica que, finalmente, estão a começar a perceber em que mundo vivem na verdade. Ou será simplesmente porque 2009 é ano eleitoral a todos os níveis?
Desta vez, foi o candidato PS que convocou uma conferência de imprensa para o seu "gabinete", na Casa do Turismo. (Mal sabia o ditador Salazar, quando nos anos 30 do século passado municipalizou as Comissões de Iniciativa e Turismo e os respectivos patrimónios, que um dia aquele magnífico edifício serviria para gabinete de um vereador da oposição, que nem sequer tem o pelouro do turismo. Ó tempo! Ó costumes!) Foram anunciadas mais sete propostas, a juntar às 10, apresentadas não há muito tempo, e às do PSD.
Com tanta fartura de medidas, apresentadas como remédio santo contra a crise, fiquei com a ideia de que se o paciente não morrer da doença, corre grandes riscos de morrer da cura, por "overdose" medicamentosa. Posso estar enganado, lá isso posso, mas baseio-me em simples contas de merceeiro. Daquelas com lápis e papel pardo de embrulho, com se fazia antigamente.
Desta vez, o candidato PS até desceu ao pormenor de quantificar quase totalmente as suas propostas, o que torna possível ter uma ideia do mundo local em que vivemos. De acordo com o anunciado, só as 7 propostas agora anunciadas custarão, se forem postas em prática, 2 milhões e cem mil euros em 2009. Se calhar por estar consciente da enormidade da soma, numa autarquia já fortemente endividada, o candidato Victorino afirmou que, no Orçamento da Câmara para 2009, na rubrica orçamental "Outros", há 4 milhões 115 mil euros para "aquisição de bens e serviços", que permitem financiar as medidas agora apresentadas pelo PS. Aparentemente pelo menos, ter-lhe-á escapado que o citado orçamento não passa de mero exercício de realidade virtual, como tudo indica. Pois se até lá figura a venda do antigo Convento de Santa Iria por 6 milhões de euros, e agora vão pô-lo em hasta pública com o valor base de um milhão e meio, será preciso acrescentar mais alguma coisa? Se calhar uma referência à crise no imobiliário, com os especialistas a aconselharem que não é nada boa altura para vender.
Sobre as propostas citadas, tanto as do PS como as do PSD, é tanta a fartura que há de tudo, para todos os gostos. Conforme já referi noutro local, são predominantemente de medicina paliativa, quando deviam ser de medicina curativa, e padecem todas do mesmo mal -partem de pressupostos que não são verdadeiros. Destes, o que mais me preocupa é aquele em que afirmam que o PSD é o responsável pela actual crise a nível local. Acontece que tem certamente alguma culpa, mas não é o principal causador. A crise tomarense, no meu entendimento, e como também já escrevi antes, começou quando, nos seus dois mandatos, Pedro Marques decidiu aumentar consideravelmente o efectivo do funcionalismo autárquico, sobretudo em termos de chefias. Começou então aquilo que António Paiva apenas conseguiu atenuar, que os hábitos têm a vida dura: Os chefes a funcionarem "em roda livre", quase em autogestão, numa espécie de duplo mal entendido. Os funcionários superiores aguardam que os políticos lhes definam as missões, os prazos e os meios. Os políticos aguardam que os funcionários superiores vão cumprindo as suas missões, apesar de não saberem muito bem quais são. Daqui resultam, entre outras, duas consequências nefastas. Um aumento considerável das despesas correntes, por nítida falta de zelo, de empenhamento e de adequado planeamento. Uma nítida deterioração da qualidade dos serviços prestados pela autarquia, pois ninguém quer desagradar a ninguém, dado os funcionários e respectivas famílias constituirem uma boa percentagem do eleitorado local. Daí o regime de "deixa andar que logo se vê."
Face a tudo isto, e ao mais que se cala, quando uma maioria autárquica quiser sinceramente começar a debelar a crise local, com fortes hipóteses de êxito, terá de agir corajosamente em duas direcções: 1 - Reduzir fortemente as despesas correntes, o que implica reduzir o número de funcionários. 2 - Aumentar as receitas, mediante novas fontes de rendimento, dado que o nível actual dos impostos e taxas municipais não permite mais fantasias pessoais. Caso se queira realmente evitar que os eleitores locais continuem a votar com os pés, indo fixar-se nos concelhos vizinhos.
Dirão que se trata de remédio bem amargo. É verdade. Mas ainda a semana passada a Letónia, pressionada pelo FMI, decidiu reduzir os vencimentos e pensões de TODA a função pública em 15%. No nosso querido país, se nada de corajoso for feito entretanto, é para aí que caminhamos.
O guarda chuva do euro não dá para abrigar eternamente das consequências das nossas sucessivas e reiteradas asneiras. Do tipo dos estádios do Euro 2004, que a UE "engoliu muito mal".
Que ninguém pense que, nas pacatas margens do Nabão, a situação não é assim tão grave. O nosso problema não é de "hardware", mas de "software". Património temos, e bom. O factor humano é que ajuda pouco. E então em termos de ideias... Bastará referir que todas as apresentadas até agora foram importadas de outros concelhos, e implicam aumentos consideráveis da despesa e redução das receitas. Para uma terra que manifestamente precisa é do contrário, não está mal.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

MAZELAS TOMARENSES - Trapalhadas





FAVELA DO BAIRRO DAS FLORES?
Cão Tinhoso
As pessoas mais velhas e com menos escolaridade oficial, mas nem por isso menos inteligentes, costumam dizer que para o fim do mundo havemos de assistir a coisas extraordinárias. Olhando para a situação actual do Bairro das Flores, ali à ilharga do Jardim da Várzea Pequena, que até já foi requalificado e tudo, começo a pensar que têm razão. Aquele sector tradicional da cidade velha, agora mais pomposamente designado por núcleo histórico, cada vez se parece mais com uma povoação sul-americana. Uma favela, por exemplo. Por agora, só as ruas e passeios é que são de favela, desde há quase um ano. Mas já houve um empreiteiro que, com as melhores intenções, aproveitou o deixa andar e resolveu ocupar a rua a quase toda a largura com o seu estaleiro. Se a moda pega... teremos mesmo uma favela, pois até já lá moram brasileiros.
Tudo isto a cerca de cem metros dos Paços do Concelho, onde se reúnem solenemente os senhores vereadores e o senhor alcaide. Pois mesmo assim, nem a imprensa aborda o assunto, nem a oposição protesta, nem a maioria explica o que se passa. Deve ser o "Tomar way of life".
Cumprindo ordens da redacção, lá fui indagar. Farejar, para ser mais preciso.
A todos os responsáveis ladrei as mesmas perguntas: Porque é que aquilo está assim, ao Deus dará, desde Março de 2008? Para quando o calcetamento e a conclusão dos trabalhos? A alguns moradores ladrei duas perguntas: O que pensa disto tudo? Porque não protesta?
Da autarquia consegui ser atendido por um elemento da maioria PSD. De forma simpática, embora com um fundo de condescendência, assim como quem diz "Lá vem este tentar moer o juízo ao pessoal", lá foi dizendo que a conclusão das obras está pendente da instalação das condutas de gaz, telefone e electricidade. Não faria grande sentido estar agora a calcetar a rua e consertar os passeios, para depois voltar a abrir tudo.
Pelas bandas da oposição, ouvi que aquilo é mais uma azelhice, provocada pela falta de adequada coordenação com as outras entidades envolvidas.
Das três empresas em questão, foi complicado conseguir contactar alguém autorizado a falar, mas sempre consegui perceber que a autarquia tomarense terá agido à maneira da cavalaria antiga. Terá decidido avançar, mesmo sem ter obtido previamente a garantia de que as três redes, (gaz, telefone, electricidade), seriam colocadas em simultâneo com a da água e dos esgotos. Terá havido, portanto, falta de articulação e, sobretudo, falta de cortesia. Daí a actual posição dominante. "Temos outras prioridades; quando chegar a vez daquele sector tomarense, lá estaremos a trabalhar."
"Estamos fartos, é só lama, ou areia, ou pó por todo o lado. Não se pode ter nada limpo. A Câmara até nos devia dar um subsídio para pagar as escovas e a pomada para os sapatos. Toda a gente se queixa dos buracos e não é com uns carros de mão de areia que as coisas se resolvem. É uma pouca vergonha. Isto está assim desde Março e nem sabemos quando é que vai ser arranjado." Assim falaram alguns moradores. Ao ser-lhes perguntado porque não protestam, foram praticamente unânimes: "Não vale a pena. Somos pequenos. Ninguém nos liga. Eles só querem é encher o bandulho e estão-se nas tintas para o resto. Querem lá saber dos habitantes do Bairro das Flores!"
Tudo devidamente ponderado, até são capazes de ter razão!


segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

RESPOSTA A UM DIRIGENTE PS

António Rebelo
QUE BEM PREGA FREI TOMAZ...
Aviso à navegação: O que segue, embora possa não parecer, é um texto político. Como tal, não deve ser lido por três categorias de honestos cidadãos. A saber -1 - Aqueles cujos limites mentais lhes não permitem entender que não são inteligentes. 2 - Aqueles que já sabem não pertencer à plataforma dos inteligentes, mas persistem na tentativa de enganar os incautos.É o chamado chico-espertismo. 3 - O Mega Massa Pro e o Burro, que desempenham muito bem o papel de "idiotas úteis", com as suas palhaçadas e os seus exibicionismos desenfreados, assim conseguindo ir desviando as atenções do pagode daquilo que é essencial. Falta apenas saber se o fazem conscientemente, ou não. Estes três conjuntos de pessoas devem abster-se de continuar a leitura, pois daí poderá resultar alergia aguda, a qual tem geralmente, como principais sintomas, febre, borbulhagem, comichões nas partes íntimas e diarreia. Nos surtos mais agudos, acontece a diarreia subir à cabeça, e daí alguns textos a que já tivemos direito...
Como já referi bastas vezes, a escrita e a palavra são as montras do pensamento. Mais aquela do que esta, porque permite mais ponderação e posterior correcção, sem que os destinatários disso venham a tomar conhecimento. Sucintamente: mostra-me como falas e/ou escreves, dir-te-ei como pensas.
Baseado no que acabo de escrever, fiquei com uma excelente impressão de Hugo Cristóvão, actual leader oficial do PS local. Das poucas vezes que com ele falei, guardei a ideia de que é uma pessoa sincera, honesta, empenhada, fraterna, e por aí adiante. Igualmente muito idealista, porque não tem idade, nem experiência da vida, nem conhece o mundo, nem sabe de economia. Nunca teve fome, nem frio, nem pânico. Nunca esteve na guerra, nem na tropa, nem no hospital, nem no desemprego, nem na emigração. Nunca viu a vida na China, nem nos USA, nem em Cuba, nem na Suécia, nem no Vietnam, nem na Índia, nem no Butão... Não tem mundo, diria o seu camarada M. M. Carrilho. Mas um dia talvez lá chegue. Basta querer.
No seu blogue Algures Aqui, Hugo Cristóvão acaba de publicar um longo post, cuja leitura urgente recomendo a todos, e que está na origem desta resposta. Tal texto vem confirmar e reforçar a ideia muito favorável que acabo de descrever. Caso não se deixe perder nos meandros menos bonitos da política, estou convencido de que teremos ali, dentro de alguns anos, mais um Manuel Alegre. Aquele de "O vento cala a verdade, o vento nada me diz", de antes de 74, mas igualmente de "A mim ninguém me cala!", nos dias que correm. Oxalá!
No supracitado post, Cristóvão faz uma crítica justa e mordaz dos tomarenses, que parece conhecer bem, pois é nabantino assumido, tal como eu. Infelizmente, ficou-se por aí. Descreveu a doença e os seus sintomas, fez portanto a diagnóstico, mas não prescreveu qualquer terapêutica, adequada ou não. Mais grave ainda, hoje mesmo vai presidir, ou pelo menos participar, numa conferência de imprensa do PS, cujo título é um embuste, quiçá involuntário: Medidas contra a crise. Ora na verdade, contra a crise o PS local ainda nada disse, escreveu ou fez. Tem-se limitado a copiar o PS a nível nacional. Num caso como no outro, as medidas tomadas não são anti-crise, mas antes de mera assistência social, ou caridade, visando minorar alguns efeitos da crise, o que é muito diferente de atacar a crise, de forma a acabar com ela.
O leitor mais advertido e atento contraporá que são úteis, e mesmo indispensáveis nalguns casos. Não nego. Mas não será por aí que a crise será ultrapassada. Voltando à linguagem médica, na qual sou apenas um paciente atento, a Câmara PSD, o governo PS e os partidos em geral, têm tomado ou proposto até agora apenas medidas de medicina paliativa, e tanto a cidade como o país precisam, no meu entendimento, é de uma forte prescrição no quadro da medicina curativa. Ou não? Se pensam que estou enganado, far-me-ão um grande favor demonstrando-me o contrário. Com factos, não com blá-blá-blá de circunstância.
Voltando ao excelente texto de Cristóvão, sem propostas concretas, fundamentadas, articuladas a um projecto sólido e, naturalmente, adequadas e realistas, fica-se com a impressão, após a leitura atenta e meditada, de que tinha razão quem um dia disse "Que bem prega Frei Tomaz. Façam como ele diz. Não olhem para o que ele faz."
Para terminar: O diagnóstico feito pelo Hugo é óptimo. Falta a indicação da necessária terapêutica. É certo que o PS já escolheu um candidato. Provavelmente já tem um grupo de militantes a trabalhar. Mas nem um grupo constitui desde logo uma equipa, nem alguma vez as figueiras deram pêssegos. Mesmo quando enxertadas, como é o caso. Boa sorte para todos, apesar de tudo.

domingo, 11 de janeiro de 2009

MAZELAS TOMARENSES -Ratoeira para turistas


















Cão Tinhoso, com a colaboração de António Rebelo
PRÓLOGO
Às vezes, durante as longas noites que passo aqui na redacção do TAD, ponho-me a pensar se não serei demasiado severo, ou até injusto, nas minhas críticas, que faço sempre com recta intenção: A de que as coisas mudem para melhor, em termos de bem comum. No caso do turismo, que todos proclamam a actividade que salvará Tomar, tenho visto por aí tanta coisa que considero estar mal, e tanta farronca, que as minhas dúvidas eram enormes. Por isso pedi ao nosso companheiro de redacção António Rebelo, que há mais de 40 anos percorre o mundo como turista, depois o ter feito como profissional de turismo, para me dar uma ajuda. Graças à sua leal colaboração, eis o que conseguimos.
A RATOEIRA DE LEIRIA/FÁTIMA
Começou-se por imaginar que éramos turistas estrangeiros. Daqueles que não gostam de andar em grupos organizados, porque estes nunca vão aonde desejam e visitam tudo em ritmo demasiado acelerado. Decidimos então comprar um bom guia, para preparar a nossa viagem.
Já em Portugal, resolvemos fazer a Rota do Património Mundial. Após a visita ao Jerónimos e à Torre de Belém, alugámos um carro sem condutor e saímos rumo a Sintra. No dia seguinte fomos até Alcobaça e Batalha, após o que nos detivemos em Fátima. Seguindo sempre as indicações do guia já referido, metemos pela estrada até Ourém onde, de acordo com o narrador "Muitos turistas param por engano, confundindo o castelo lá no alto comTomar." (Routard/Portugal/2008, página 337). Como o leitor pode ver, a sinalização é boa por todo o lado. Os turistas é que... Pois!
A partir daqui, para um bom entendimento do texto, cada qual fará o favor de ir vendo as fotografias de baixo para cima, com a atenção possível.
Visitado o Castelo de Ourém, com entrada gratuita e visitas guiadas a um euro por pessoa, eis-nos na N113, rumo a Tomar. Logo após Carregueiros, aparece-nos a indicação Tomar Oeste( foto 1, que finalmente permite explicar algumas coboiadas nocturnas ali na Cerrada dos Cães) e Convento de Cristo, com o logótipo "Património da Humanidade". Exactamente aquilo que procuramos. A coisa começa bem!
A seguir apareceu-nos a bifurcação sem nome, mas que nós tomarenses sabemos ser da Venda da Gaita (foto 2). Como nos pareceu, de acordo com a indicação anterior, que o Convento ficava em Tomar Oeste, resolvemos continuar para a direita, pois não queríamos ir para Tomar Centro. Poucos metros mais adiante, (foto 3) nem Convento de Cristo nem Tomar Oeste, nem Coimbra, nem Algarvias. Deduzimos que era melhor continuar em frente, como se faz quando não há sinalização em contrário.
Cerca de 500 metros depois, outra sinalização (foto 4). Algarvias Lisboa para a direita, Painel de limite de Tomar, para a esquerda. Nem Tomar Oeste, nem Convento de Cristo, nem Coimbra. Seguimos em frente, de acordo com a dedução anterior.
Percorrido cerca de quilómetro e meio, mais indicações (foto 5). Que remédio senão virar à esquerda. Mas nada de Convento de Cristo nem de Tomar Oeste. Finalmente naquilo que nos pareceu a cidade de Tomar, as coisas não melhoraram, pois não há qualquer sinalização adequada para quem vem da estrada de Paialvo/Torres Novas (foto 6). Se fôssemos mesmo turistas, teríamos sido forçados a perguntar onde fica o Convento a pessoas de passagem.
Chegados lá acima, há ainda aquele parque de estacionamento, que já é conhecido dos tomarenses, o pessoal pouco acolhedor (salvo raras excepções) do IGESPAR, as entradas a quatro euros e meio (diz o guia), e vão andando por aí adiante, que visitas guiadas não há.
Se teve a paciência de nos ler até aqui, responda agora a uma pergunta singela. Apesar da Janela ser uma das 19 maravilhas do país, que nenhum turista deve perder; depois de tanta peripécia, estaria satisfeito e capaz de voltar, ou de recomendar a vinda a Tomar aos seus amigos?
Somos da mesma opinião. A menos que o leitor seja masoquista. Ou espírito de contradição. Ou vítima dos "óculos partidários".




sábado, 10 de janeiro de 2009

CONVENTO A RUIR? - EXPRESSO REINCIDE



António Rebelo
Pela segunda vez, o Expresso de hoje aborda a alegada degradação do património, dando especial relevo ao Convento de Cristo. O título "UNESCO diz que património é uma vergonha" figura à esquerda de uma foto a 5 colunas, com a Janela do Capítulo, o botaréu do Rosão de Ouro, parte do Claustro de Santa Bárbara e parte do Claustro da Hospedaria.
No corpo da notícia pode ler-se, designadamente, que "As preocupações do presidente da Comissão Nacional da UNESCO centram-se neste momento na tentativa de encontrar uma solução para cada um dos 13 monumentos e sítios classificados -e os que estão em pior estado são o Convento de Cristo, o Mosteiro de Alcobaça e os centros históricos de Évora e Porto." Dado que a notícia não fornece qualquer outro elemento sobre o Convento, fui a www.expresso.pt/expressotv, conforme aconselhado pela jornalista. Terminado o video, de pouco mais de 2 minutos, percebi que Alexandra Carita, a autora da notícia e narradora, parece ter ficado particularmente impressionada com a degradação do Claustro da Hospedaria, com as ruínas dos Paços do Infante e com a falta de limpeza da Janela do Capítulo. Segundo a ouvi afirmar, a limpeza da janela a laser é demasiado cara e a limpeza a jacto de água ou de água com areia pode destruí-la. Nem sequer considerou a hipótese mais sensata -deixar a janela descansada, tal como sempre esteve, limitando-se a arrancar as ervas e os arbustos, ou retirar os ninhos de pombo, ou outros, sempre que necessário, e com muita cautela.
Se não conhecesse bem os tomarenses, sendo eu um deles, faria aqui um apelo, no sentido de evitar que se mexa na janela de forma irremediável; no sentido de a manter tal com está, com a sua patine multicentenária, que lhe dá autenticidade e até agrada aos turistas estrangeiros, mesmo os mais advertidos. No "Guide du Routard" - Portugal -2008" pode ler-se, na página 342: "É a mais fascinante das obras manuelinas em Portugal. Resume e concentra, de um modo perfeito toda essa arte, ponto culminante do delírio vegetal. O musgo e os líquenes contribuem ainda mais para lhe dar espessura e relevo." Se assim é, para quê modificar e arriscar enormes perdas?
À luz da peça desta semana, penso já ser possível conjecturar, com relativa segurança, onde se pretende chegar. No meu modesto entendimento, trata-se de legitimar, junto da opinião pública, o recente decreto-lei do Ministério das Finanças, que torna possível a exploração dos monumentos classificados por entidades privadas. Tenta-se igualmente, segundo julgo, tornar mais atractivo o mecenato por parte das grandes empresas, mediante a promoção daí resultante, além dos benefícios fiscais.
Incluindo na sua peça as propostas de cinco especialistas de diversos quadrantes (um arqueólogo, dois arquitectos, um historiador e o presidente da Comissão Nacional da UNESCO), a jornalista termina destacando a acção mecenática da Cimpor e da EDP. Sobre esta última dá até aos tomarenses uma novidade em primeira mão: Nos termos de um protocolo EDP/IGESPAR, a empresa de electricidade vai proceder à iluminação cenográfica de alguns grandes monumentos, entre os quais o Convento de Cristo. Agora só falta saber quando e se o Castelo está ou não incluído. Os projectores continuam lá (ver foto), mas há longos meses que não acendem. Alguém sabe porquê?
Falta igualmente que as entidades responsáveis arranjem coragem e audácia para encontrar um modelo de gestão turística à altura da categoria do Convento de Cristo. A situação presente, que se arrasta há longos anos, não beneficia ninguém e pode contribuir até para cavar a sepultura dos seus funcionários, caso não se aja atempadamente para acabar com aquilo que configura uma anomalia. No guia há pouco citado a propósito da Janela, com uma tiragem anual de 75.000 exemplares, é dito que no Castelo de Ourém, cuja entrada é gratuita, há visitas guiadas a 1 euro por pessoa. No Convento de Cristo, que fica a menos de 20 quilómetros, paga-se 5 euros, não há visitas guiadas e algumas publicações aí à venda são de fraca qualidade. Ourém e Tomar farão parte do mesmo país?