sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Para tomar nota e não esquecer

Vital Moreira na Universidade de Verão do PS, em Évora. Foto Jorge Amaral/Global Imagens

ACTUAL CRISE É "DURADOURA" E NÃO HÁ "ATALHOS"OU "MILAGRES" PARA A RESOLVER

Numa intervenção na Universidade de Verão do PS, a decorrer em Évora, o deputado europeu Vítal Moreira, professor universitário, constitucionalista e ex-quadro influente do PCP, avisou hoje que a actual crise é duradoura, não havendo  atalhos ou milagres para a resolver mais depressa. Acrescentou que "Esta será a primeira vez em que os nossos filhos não têm a garantia de viver melhor do que nós. E isto é uma mudança terrível."
Perante a plateia de alunos, Vital Moreira reconheceu ser "um dos seniores" presentes, uma vez que nasceu em 1944, numa altura e que, recordou, "ainda havia racionamento". Apesar disso, constatou, nunca até agora tinha existido este sentimento de maiores dificuldades para as gerações futuras.
"A nossa ideia positiva, progressista, de que cada geração vive melhor que a anterior, vai ser contrariada, porque esta crise já vai em quatro anos e não tenhamos dúvidas: não há atalhos para o seu fim." 

Ricardo Simões Ferreira/Lusa/DN.pt

Que me desculpem os optimistas crónicos, facultar-lhes uma notícia destas no início de mais um fim de semana, que se pretende de relax. Acontece que me pareceu importante a sua difusão em Tomar a dianteira, tendo em conta o actual contexto nabantino.
Numa comunidade outrora próspera e orgulhosa, mas agora a degradar-se a olhos vistos, enquanto uns procuram remediar a tragédia recorrendo a artifícios do século passado, tipo congresso, outros vão adiantando os seus peões, pondo desde já a circular as ideias que mais convêm à manutenção do presente estado de coisas. Uma delas é a necessidade de constituir uma lista de unidade e salvação local, prelúdio à habitual cantilena da desejável unidade de esquerda.
Não me parece que semelhante recurso pudesse vir a resolver a situação, mesmo que fosse possível chegar a tal coligação e depois ganhar as autárquicas. É meu entendimento, por muito desagradável que seja para os arautos da esquerda do costume, que as medidas necessárias e indispensáveis para sanear a autarquia são quase todas "de direita": redução de pessoal, redução de despesas, redução do preço das taxas e licenças, redução do peso da autarquia na economia local, redução da burocracia...
Tudo reaccionário, não é assim? Então tratem de arranjar medidas equivalentes que possam conduzir ao mesmo resultado. Mas tenham em conta que enquanto os empresários pagam ao Estado mais do que recebem, com os funcionários acontece exactamente o oposto. Foi por isso que os regimes comunistas implodiram. E os que ainda não acabaram, ou mudaram radicalmente (China), ou estão a mudar (Cuba), ou não vão nada bem (Coreia do Norte). 
Quando chega a altura em que a cadela deixa de poder amamentar tanto cachorro, algo tem de ser feito quanto antes. Estão à espera de quê?

INCAPAZES

 Foto 1 - Vista geral do ex- Quartel General 

 Foto 2 - Património do Estado? Ou do Município?

Foto 3 - Antiga Casa da Guarda e arquivo do Quartel General. Fachada da Rua dos Arcos.


Fotos 4 e 5 - Inscrições no portão da antiga garagem do Q.G.: Arquivo das Finanças de Tomar

Foto 6 - Outro aspecto actual da antiga Casa da Guarda do Q.G.

Oxalá os artigos de J. A. Godinho Granada, no Templário, e de António Freitas, no Cidade de Tomar, ambos de hoje, consigam a proeza de despertar o brio dos autarcas e dos funcionários da autarquia. Levando uns e outros a admitir enfim que os contribuintes lhes pagam para, no mínimo, zelarem pelo património de todos. Tanto no que concerne ao terreiro da ex-messe como ao ex-Quartel General, a situação só pode preocupar aqueles tomarenses realmente amantes da sua terra. Pretender comprar uma coisa que já nos pertence, revela pelo menos uma santa ignorância. E que dizer quando se deixam de receber milhares de euros mensais de rendas, só para evitar a maçada de gerir com eficácia o património confiado à nossa guarda? Culpa dos eleitos? Ou dos funcionários que os não informam cabalmente, como é sua obrigação profissional? 
Em qualquer caso, desmazelo, deixa andar, bandalheira, que é exactamente o que se passa. De acordo com a documentação indicada por Godinho Granada, tudo aponta para que a antiga propriedade de Dª Aurora de Macedo, por ela doada para sede do quartel general da 7ª divisão, com uma cláusula de reversão para a autarquia, quando deixasse de ter essa afectação, seja propriedade do Município de Tomar. A ser assim, os serviços públicos agora instalados no edifício teriam de pagar uma renda mensal à autarquia, pois apesar de ter sido o Estado a custear as obras, é dos costumes multi-seculares que "quem faz filhos em mulher alheia, perde-lhes o feitio". Por outras palavras, é óbvio que quem faça obras em propriedade de outrem, perde-lhes o direito.
Além disso, é vergonhoso o estado em que se encontra o antigo logradouro do palácio, mais tarde transformado em caserna para a guarda e garagem para a viatura de função do comandante da região militar. (Fotos 4, 5 e 6). Seja quem for o seu proprietário.
É mais um triste e lamentável exemplo nabantino de que nem só os eleitos são geralmente incompetentes. Os senhores funcionários, sobretudo os quadros médios e superiores, também primam pela falta de empenhamento no seu trabalho. Geralmente bem pagos e pouco martirizados pelas  tarefas do quotidiano, são afinal apenas incapazes. Por isso ficam tão irritados quando alguém diz ou escreve aquilo que todos pensam, menos os próprios. É a vida...



quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Análise da imprensa regional


Vários temas de interesse nesta edição d'O TEMPLÁRIO. Destacam-se dois. O mais inesperado será a aposta do vereador IpT Pedro Marques no imobiliário e na "gestão de frotas, pessoas e bens". Vem na página 6 e merece leitura cuidada, não só devido à actual conjuntura, nada propícia a aventuras empresariais, como também à circunstância de num desses negócios o outro sócio ser o marido da vereadora Graça Costa, parceira  de bancada do ex-presidente. Recorde-se que em tempos -quando era presidente da edilidade- Pedro Marques deu que falar no caso do posto de abastecimento da Estrada da Serra.
O tomarense J. A. Godinho Granada subscreve o outro assunto importante, que exige solução quanto antes. Trata-se da questão da propriedade do terreiro da Messe de Oficiais e do ex-Quartel General. Graças aos elementos que fornece e à clareza da sua exposição, a tarefa de encontrar os documentos que permitam à autarquia reivindicar ambos os bens encontra-se agora bastante facilitada. Oxalá haja vontade. E coragem! Este tópico será abordado de forma mais detalhada no próximo post, amanhã de manhã.


António Freitas assina no CIDADE DE TOMAR uma documentada peça igualmente sobre a propriedade do terreiro da ex-Messe de Oficiais e do ex-Quartel General, mas o prato forte da semana é o áspero texto do ex-vereador socialista António Alexandre. Que me recorde, é a primeira vez que um ex-autarca com muita experiência tem a coragem de apresentar as coisas tal como elas são e de chamar a um gato um gato. Destaco pela sua pertinência a parte final: "Podemos ser amigos e podemos discordar politicamente; podemos inclusivamente ser até compreensivos, mas não esperem que eu que servi na política e sempre assumi a política, possa desculpar os que levaram Tomar à actual situação. Nem que deixe de ter "amigos", isso não posso fazer nunca.
Ser autarca é estar na política; apoiar ou criticar, é política. Tudo é político, mesmo que o queiram negar. Quem não quer estar nem discutir política, não deve estar nesses lugares, e muito menos cometer erros caros, que fizeram de Tomar um concelho menor, que perdeu várias oportunidades nestes anos, devido aos erros dos seus políticos.
Não fui eu que cometi os erros; eu só dou nota dos factos, meus caros amigos. Até porque existia outro caminho." Em resumo, o melhor é relembrar a frase que encima a portada de Tomar a dianteira: "Quando o dedo aponta a Lua, os idiotas olham para o dedo." Pelos vistos, António Alexandre já chegou à mesma triste conclusão. Discutam os textos! Deixem em paz os respectivos autores, que são cidadãos como vós!


Fortemente causticado, tal como todos os outros, pela crise interminável que nos assola, O MIRANTE viu-se forçado a reunir numa só as duas anteriores edições - Lezíria do Tejo e Médio Tejo. O resultado negativo não se fez esperar: esta semana, sobre Tomar há apenas uma pequena local, na página 7. Noticia uma recolha de sangue. Quanto ao resto = zero. Nem as habituais secções satíricas "Mirante Cor-de-rosa" e "Cavaleiro Andante" se dignaram aproveitar as várias situações ridículas da nossa urbe. Podiam ao menos focar o caso do José Carlos, ex-hóspede das retretes de S. Gregório, agora impedido de vender os seus ovos autenticamente caseiros, pois a galinhas vivem no quintal, mas comem dentro de casa, com o pretexto de que não estão carimbados. É assim que o governo e a autarquia pretendem incrementar a iniciativa privada e os alimentos biológicos? As 15 galinhas pensionistas do Zé Carlos só comem frutas e legumes provenientes das sobras do Continente e do Intermarché. Esforça-se um homem e vai-se a ver...

Fim de reinado


O um dos grandes inconvenientes das monarquias absolutas eram os sempre difíceis finais de reinado. Quando o rei já estava "xéxé". Protegido pelo seu estatuto hereditário, podia mesmo assim continuar a decidir a seu bel prazer, mesmo que visivelmente incapacitado para o fazer. O mesmo parece estar a acontecer com o actual executivo camarário. Apesar de não ser de tipo dinástico, a verdade é que não só o presidente Carrão herdou o cargo que ocupa, como visivelmente não consegue atinar com as prioridades concelhias. Tudo perante a aquiescência e eventual colaboração dos seus acólitos e opositores.
Numa mesma reunião, em vez de se debaterem e solucionarem problemas graves que a todos afectam, como os acampamentos ciganos, o Bairro 1º de Maio, o da Sra. dos Anjos ou o Mercado Municipal, por exemplo, os senhores autarcas debruçaram-se sobre dois dossiers palpitantes -o ex-Convento de Santa Iria e a Estalagem de Santa Iria. Em relação ao primeiro, já aqui se escreveu o essencial: a câmara tem vindo e "encrencar" o assunto por intermédio dos seus serviços técnicos, queixando-se depois que não aparecem interessados na adjudicação. Parece anedota, mas é a realidade (ver post anterior).
Quanto à Estalagem de Santa Iria, o imbróglio começa a adquirir contornos de comédia burlesca. Segundo a Rádio Hertz, "O presidente Carlos Carrão foi mandatado [por todos os vereadores, incluindo os opositores] para falar com a gerência do espaço, no sentido de se chegar a um acordo para que a autarquia AINDA SEJA COMPENSADA pelo facto de não ter recebido qualquer renda nos dois últimos anos.
Trata-se uma iniciativa de tal modo ridícula e deslocada que até li a notícia em questão várias vezes. Temos assim que, se um desgraçado não paga o consumo de água ou qualquer outra taxa camarária, carregam-lhe logo com juros de mora e, no caso da água, cortam imediatamente o fornecimento, apesar de se tratar de um bem essencial. Em contrapartida, uma empresa concessionada pela autarquia, que usa instalações autárquicas como bens de produção, não paga aquilo a que se comprometeu há vários anos, atingindo o calote mais de 100 mil euros = 20 mil contos. Pois em vez de intimar a gerência da referida sociedade a liquidar o que deve e abandonar as instalações municipais que ocupa ilegalmente, o presidente do executivo foi mandatado para lhe ir pedir batatinhas. Ao que isto já chegou!
Mas compreende-se! Vem aí mais uma edição da triste Feira de Santa Iria, com a tradicional jantarada da respectiva Comissão Organizadora...na Estalagem de Santa Iria. Há portanto que agir com cautela e diplomacia. Tanto mais que, ainda de acordo com a mesma notícia da Hertz, "Tendo em conta que a estalagem foi considerada como importante factor estratégico no turismo do concelho, deverá fechar o mínimo tempo possível na transição de gerência." 
Está tudo explicado! A Estalagem de Santa Iria, "Importante factor estratégico no turismo do concelho"? Com apenas uma dúzia de quartos? Coitado do dono da empresa que gere o Hotel dos Templários! E todos os outros empresários concelhios da área turística. Além de ocuparem  instalações que são suas e de pagarem pontualmente todos os seus encargos, incluindo o IVA turístico, não têm direito a que o presidente da edilidade lhes venha pedir batatinhas, concedendo uma redução mais ou menos importante das dívdas.. Nem ao estatuto de "importante factor estratégico no turismo do concelho". Deve ser da crise...que está a dar a volta à cabeça de muitos cidadãos.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Não será, mas parece...


Não será decerto uma brincadeira de mau gosto; mas lá que parece, parece! Segundo a Rádio Hertz, o executivo camarário nabantino decidiu, na reunião da passada segunda-feira, "baralhar e voltar a dar" em relação ao antigo Convento de Santa Iria. Por unanimidade, ainda por cima. Infelizmente, a notícia citada não indica qualquer motivo para a nova atitude camarária face a um processo francamente anedótico. Tanto quanto foi possível apurar anteriormente, e já aqui avançado, houve a dada altura investidores estrangeiros interessados na cedência em regime de direito de superfície, com posterior retribuição percentual. Contudo, as conversações não passaram da fase inicial, devido à usual intransigência do sector urbanístico do município. Mais precisamente, exigindo a regulamentação hoteleira internacional que, nos estabelecimentos de quatro estrelas, hóspedes e empregados não circulem pelos mesmos corredores, haverá sempre necessidade imperiosa de duplicar o Arco de Santa Iria. Para cima, para o lado ou em subsolo, de modo a conseguir dois corredores de ligação. Um para os clientes, outro para o pessoal de serviço, caso se insista na unidade hoteleira citada. Acontece que, segundo a informação obtida em tempo útil, os competentes serviços camarários recusaram liminarmente qualquer uma das hipóteses apresentadas. Apenas no quadro já conhecido, em que primeiro se criam dificuldades para depois se venderem facilidades? É o que a seu tempo se acabará por saber. Como sempre tem acontecido.
Em qualquer caso, tendo em conta a conjuntura actual, voltar a avançar nesta altura com a  ideia de um hotel de charme de quatro estrelas e 60 quartos, com o  ex-Convento de Santa Iria no estado em que se encontra, mais parece uma brincadeira de mau gosto. Com efeito, a crise hoteleira, a crise turística, a crise imobiliária, a crise de liquidez, a falta de crédito e a englobante crise económica, convergem no sentido de transformar esta deliberação unânime da autarquia em apenas mais uma peça de poesia lírica. Valha-nos Nossa Senhora da Agrela, que não há santa como ela!

Casmurrices camarárias...

 Foto 1 - A vermelho a abertura feita.

Foto 2 - A vermelho a solução aqui proposta.

 Foto 3 - A obra feita pela autarquia.

 Foto 4 - Uma "viatura de emergência" a virar para o Intermarché
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 Foto 5 - Outra "viatura de emergência" a virar para o Intermarché.


Atribuem-se por aí muitas "qualidades" aos autarcas e técnicos superiores que temos, umas mais, outras menos justas. Uma delas é porém incontestável: são casmurros até mais não. O mês passado critiquei aqui a abertura que estava a ser praticada no divisória central da Av. Melo e Castro, junto ao hospital, (Foto 1), destinada às ambulâncias e outros veículos de emergência, visando evitar a ida à rotunda situada a pouco mais de cem metros. Denunciei o perigo evidente de tal ideia e dei-me até à pachorra de indicar, numa ilustração, (foto 2) uma solução mais segura. Tudo em vão. Voltaram a chamar-me parvo, segundo soube de fonte geralmente bem informada.
Concluída a obra, colocaram uma sinalização a proibir virar à esquerda "excepto viaturas de emergência". Como se os estrangeiros soubessem ler português, ou os nossos compatriotas estivessem para aturar evidentes palermices. Resultado: Ontem, cerca das 17 horas, em menos de 10 minutos "apanhei" estes dois (fotos 4 e 5). Agora imagine-se durante um dia inteiro...
Para concluir, seja-me permitida mais uma dúvida idiota e por isso completamente descabida: Quando ali ocorrer um acidente grave, de quem será a responsabilidade? Só dos condutores envolvidos?

"O declínio do Ocidente?" - 2

N.O. - Mas sendo assim, não será solução investir na massa cinzenta, inovar?
J.M. - É verdade. Mas os países emergentes já não se contentam, com acontecia até aqui, em ser as oficinas do mundo, fabricando coisas novas a baixo preço. Vão subindo na cadeia de valor, investindo os seus excedentes comerciais em educação, em investigação científica e em alta tecnologia. A China, por exemplo, investe agora quase metade do seu PIB, contra apenas 20% nos países ocidentais. Os países emergentes estão até a ir mais longe: além de recuperarem o atraso, inovam. As patentes concedidas à China, passaram de quase nada em 1995 para quase 10% actualmente.
N.O. - Apesar disso, a classificação de Shangai continua a mostrar a supremacia das universidades ocidentais...
J.M. - Por enquanto; mas até quando? Aliás, os próprios países emergentes também beneficiam da nossa transitória supremacia universitária, enviando as suas élites frequentar os nossos estabelecimentos de topo. Em Inglaterra, 60% dos diplomados em ciências, tecnologia, engenharia e medicina, são estrangeiros. E depois há outro problema: a qualidade do nosso ensino está em constante degradação. Na Europa, em média, mais de 20% dos alunos abandonam a escola sem ter adquirido o nível de leitura que lhe permitiria contribuir positivamente para a sociedade, contra apenas 4% em Shangai.
N.O.- Critica também o modo como os nossos governos reagiram à crise que nos assola. Mas olhe que conseguiram evitar até agora a implosão do sistema.
J.M. - Em vez de procurarem as verdadeiras causas dos problemas, os nossos dirigentes apenas se preocuparam em encontrar a melhor maneira de estimular a actividade económica, de forma a recuperar o anterior nível de crescimento. Como se tal fosse a ordem natural das coisas... E a resposta que encontraram, inaugurada por Alan Greenspan em 1987, na Reserva Federal Americana, foi inundar o planeta com liquidez. Esta política de dinheiro barato -com taxas de juro nulas ou até negativas- permitiu aos governos, às empresas e às famílias endividar-se massivamente para manter o seu nível de vida. Mas esta dependência de um sobre-consumo a crédito conduz-nos à catástrofe!
N.O. - Porquê?
J.M. - Porque em vez de, como preconizou Keynes, facilitar o relançamento económico graças ao investimento público em período de recessão, para depois gerar excedentes em período de retoma, os nossos "neo-keynesianos" transformaram o postulado da despesa pública permanente numa espécie de quase-religião. Veio depois a crise dos "subprimes" que agravou ainda mais os défices, financiados por mais dívida. Quando se acumula o endividamento das famílias, das empresas e dos Estados, chega-se a 650% do PIB na Irlanda e quase 300% na Alemanha. Trata-se de um verdadeiro círculo vicioso. Porque não só, como demonstraram os economistas Reinhart e Rogoff, acima de 90% do PIB o endividamento público trava o crescimento, mas também e sobretudo porque quando o excesso de liquidez acabar por fatalmente gerar inflação, será forçoso aumentar as taxas de juro, tornando as dívidas insuportáveis. Como já está a acontecer na Grécia, em Espanha, na  Itália...
N.O. - Mas então, como procurar evitar o declínio? Políticas de austeridade em plena crise, só podem agravar ainda mais a recessão.
J.M. - Tem razão. Os nossos governos devem continuar a investir. Mas não de modo a agravar os desequilíbrios. A prioridade absoluta é a reorientação das despesas públicas para os dois tipos de investimentos mais geradores de crescimento económico: a educação e as infra-estruturas. (1) Deixou-se desvalorizar a função docente e foi um erro grave. Em 1930, nos Estados Unidos, 90% dos estudantes que escolhiam a carreira docente faziam parte do grupo dos 33% melhores dos seus cursos. Nos nossos dias, apenas 20% estão nesse caso.
Na mesma linha de pensamento, segundo a OCDE, os países com as melhores percentagens de êxito em leitura são aqueles em que os professores auferem melhores remunerações... ...
N.O. - Para concluir, defende também que, para evitar as deslocalizações de empresas, tem de se começar por reduzir o nosso nível de vida entre 10 e 15%
J.M. - É verdade. Há que reformar o nosso modelo social, repartindo os sacrifícios o mais equitativamente possível. A idade da reforma tem de ser aumentada, as pensões têm de ser reduzidas e os salários têm de baixar. É urgente! Porque se o não fizermos agora voluntariamente, vai-nos ser imposto dentro de alguns anos pela aceleração do nosso declínio. Quanto mais esperarmos, mais dolorosa vai ser a factura social, económica e política!

Entrevista conduzida por Dominique Nora, Nouvel Observateur, 23/08/2012, páginas 48/51. Tradução e adaptação de António Rebelo.

(1) - Em Tomar, não confundir com "Tomar 2015 - Uma nova Agenda Urbana - Documento de trabalho", uma fantasia que já nos custou milhões em obras sem nexo evidente. Nota do tradutor.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

"O declínio do Ocidente?"

"Crescimento zero, sobre-endividamento, desemprego endémico, sofrimento social. E se o grande problema das economias desenvolvidas anunciar afinal o fim da sua supremacia? E se os empregos perdidos para os países emergentes nunca mais regressarem? Tal é a tese provocadora do consultor britânico Jon Moynihan, 64 anos, presidente executivo do gabinete de consultores londrino PA Group, fundado em 1943.
Moynihan é diplomado de Oxford e do MIT, tendo feito uma conferência sobre o declínio do Ocidente na London School of Economics.
Para os anglófonos: www.paconsulting.com/declineofthewest.

N.O. - O que o leva a pensar que o Ocidente corre para a catástrofe?
J.M. - A principal explicação reside em dois números: 135 dólares é o salário diário médio de um trabalhador na zona OCDE; 12 dólares é o salário diário médio de um trabalhador das zonas urbanizadas chinesas ou indianas. Esta enorme disparidade de rendimentos é a chave do perigo que nos espreita. Numa economia mundializada, é impossível preservar os empregos bem remunerados para os trabalhadores ocidentais. Porque razão se deverá continuar a remunerar os 500 milhões de trabalhadores do mundo desenvolvido dez vezes mais caro que os 1,1 mil milhões de trabalhadores das zonas urbanizadas do mundo em desenvolvimento, que estudam e trabalham mais e melhor?
N.O. - Mas não é verdade que os salários dos países emergentes se vão aproximando um pouco dos do Ocidente?
J.M. - Tem razão. Os salários têm vindo a aumentar nas regiões mais industrializadas dos países emergentes. Acontece porém que os empresários desses países começam a transferir as fábricas para as respectivas zonas rurais, ou para países de menores custos, como por exemplo o Vietname. Não esqueça que existe nessas zonas rurais  um outro reservatório de mão de obra barata, da ordem de 1,3 mil milhões de adultos que vivem com menos de dois dólares por dia.
A redução de salário dos trabalhadores ocidentais menos qualificados é inevitável. Nesta altura, um americano sem o 12º ano já ganha menos em termos reais que o avô...
Penso que em 2025 o salário ocidental médio talvez já tenha sido dividido por dois, fixando-se em 60 dólares. Nomeadamente através da inflação e da desvalorização monetária. Em qualquer caso, o paradigma do século XX, que nos assegurava um crescimento anual médio de 2% em termos de emprego e de 3% nos salários, acabou. Desde 2001 que estes dois indicadores são negativos.
N.O. - Quer dizer que os empregos destruídos pela crise nunca mais voltarão?
J.M. - Os empregos deslocáveis vão todos emigrar. Já aconteceu com várias indústrias: a siderurgia ou a electrónica de grande consumo, por exemplo. Agora é a vez da indústria automóvel, depois será a aeronáutica. Veja a economia americana, apesar de bem mais flexível que a europeia: aquando das anteriores recessões, recuperou o anterior nível de emprego ao fim de quatro anos. Desta vez ainda lhe faltam 6 milhões de empregos para recuperar o nível de 2007. É simples: em 1955, a maior capitalização de Wall Street, a General Motors, tinha 500 mil trabalhadores nos Estados Unidos e 80 mil no estrangeiro. Agora, o campeão é a Apple. Mas emprega apenas quatro mil pessoas nos Estados Unidos e 700 mil nos seus fornecedores asiáticos..."

Conclui no próximo post.

Entrevista conduzida por Dominique Nora, Nouvel Observateur, 23/08/2012, páginas 48/50

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Uma realidade cada vez mais estranha


"Entre os 416 euros que me dão como vereador e que não cobrem as minhas despesas; os cerca de 4.200 euros que recebo como deputado e os 290 que ganho como funcionário da Assembleia Regional da Galiza; ao todo ganho cerca de 5.100 euros mensais e vejo-me à rasca."
Guillermo Collarte, deputado PP (conservador), em entrevista a La Voz de Galícia.


Confrontado com a situação financeira do Município de Tomar, (onde viveu alguns anos), cujos autarcas comungam da posição do deputado galego, uma vez que apesar do buraco de quase quarenta milhões, ou exactamente por causa dele, também se estão a ver à rasca, o Infante D. Henrique ficou como se pode ver na foto supra. Petrificado, mudo de espanto e branco como a cal da parede. A indicar que o caminho é para a esquerda, ou ainda mais para a direita, consoante os pontos de vista. Estamos a viver numa realidade cada vez mais estranha. E ainda faltam 14 meses para as autárquicas...

Fátima é no concelho de Ourém...

Informa o vereador socialista Luís Ferreira (o único que lá vai procurando informar os eleitores sobre aquilo que se passa no executivo) que o fundo de maneio do município de Tomar é, desde há pelo menos três meses, negativo, atingido agora um défice de 5,2 milhões de euros = um milhão e 400 mil contos. Coisa pouca, a juntar aos 38 milhões de calotes vários = 7,6 milhões de contos. Somando os dois buracos, chega-se a 43,9 milhões = 8,78 milhões de contos. Para pagar como e quando?
Numa cidade ideal, perante semelhante abismo financeiro, que resulta de aselhices múltiplas ao longo dos anos, os actuais membros do executivo já teriam apresentado a sua renúncia, acto indispensável para a posterior nomeação pela tutela de uma comissão administrativa, encarregada de tomar as medidas impopulares, mas indispensáveis para o saneamento das contas municipais, que os senhores autarcas jamais virão a tomar por isso mesmo. Infelizmente, estamos em Tomar, numa daquelas terras com uma população tão certeiramente descrita, na primeira metade do século passado, por Miguel de Unamuno: um povo de suicidas. Escreveu-o em relação aos portugueses em geral, esclarecendo que não se suicidavam mais do que outros, mas eram teimosos, obstinados, casmurros. Caminhando para o abismo, apesar de várias vezes avisados, continuavam o seu caminho, como se nada fosse... Assim estamos neste ano de 2012. E não só na autarquia. Outras entidades locais se encontram em situação semelhante, ou mesmo pior, com os seus responsáveis a adiar, a protelar, a dilatar, sem que se compreenda para quê. À espera de milagres? Fátima é no concelho de Ourém, que pouco melhor está.

domingo, 26 de agosto de 2012

Viva a fartura, mas...


Após anos e anos de autêntica autocracia, tipo quero, posso e mando, temos agora que em pouco mais de uma semana a autarquia tomarense resolveu avançar com duas consultas públicas. Uma sobre os TUT (ver post UMA IDEIA VENENOSA, de 22 do corrente), outra sobre parqueamentos tarifados junto Convento de Cristo, conforme noticia O TEMPLÁRIO online. Brusca mudança de rumo por parte dos senhores eleitos? Pois não senhor. Trata-se apenas de ir entretendo o pessoal, num caso;  de cumprir com os formalismos legais, no outro. A demonstrar que assim é está a própria redacção do texto oficial. Apelidar um dos parqueamentos de "Terreiro de Dom Gualdim Pais" e o outro de "Ermida de Nª Sª da Conceição", é um claro abuso de poder. Na verdade , há dezenas e dezenas de anos que o primeiro tem por nome "Cerrada dos Cães" e o segundo "Encosta do Castelo". Desafiam-se por isso os senhores autarcas a provarem o contrário, mediante documentos oficiais idóneos, que isto da toponímia, sendo uma tarefa do município, jamais poderá ser tipo meia bola e força. Há sempre regras a cumprir. Já terão sido cumpridas?
Quaisquer que venham a ser os resultados da discussão pública para inglês ver, os dois parqueamentos ainda vão dar água pela barba aos senhores edis. Desde logo pela razões já antes aqui apontadas: custos reais da fiscalização, custos das máquinas, reduzida segurança e poucos clientes, uma vez que é possível estacionar de borla nas proximidades. Depois, porque as obras da "Envolvente ao Convento de Cristo" nunca estiveram, que me recorde, em discussão pública, o que se tem notado e de que maneira no seu atribulado desenrolar. Finalmente e sobretudo porque, se um dia viermos a ter nesta terra autarcas e/ou assessores que saibam mesmo de turismo, de património, de animação e de criação de riqueza, o acesso motorizado ao principal monumento tomarense passará a ser reservado unicamente aos moradores da zona e aos veículos de emergência.
Uma nota final, a ilustrar o clima reinante nalguns serviços da autarquia. Quando aqui há meses estava em consulta pública o projecto do Açude de Pedra, caí na patetice de me dirigir à respectiva repartição.
Tendo dito ao que ia, facultaram-me uma mesa de trabalho e uma cadeira, após o que trouxeram uma pilha de pastas. Azar dos azares, feita a respectiva consulta rápida, constatei que faltava exactamente aquela que eu pretendia escrutinar. Assinalei a estranha coincidência, tendo-me sido dito que essa pasta não estava para consulta. Realcei o contra-senso, pois o projecto estava para escrutínio público, sem qualquer reserva. Perante o manifesto embaraço dos funcionários, ainda avancei a intenção de falar sobre o assunto com o vereador do pelouro, na altura o socialista José Vitorino, tendo-me sido dito que estava doente. Efectuada a confirmação, estava mesmo. 
Entretanto esgotou-se o prazo legal para consultar a tal pasta. Nunca mais voltarei a cair na esparrela, salvo circunstâncias excepcionais. As coisas são o que são. Não aquilo que possam parecer.

Estamos bonitos estamos!!!

Segundo O MIRANTE online,  Santarém, Cartaxo e Tomar (por esta ordem) ocupam os três primeiros lugares do pódio dos caloteiros do distrito. Ocasião para fazer umas pequenas contas de merceeiro:

Santarém 54.325 eleitores,7PSD/2PS, 99,2M€=1826€/eleitor 
Cartaxo   20.797 eleitores,4PS/3OP,  44,6M€ =2144€/eleitor
Tomar    38.070 eleitores,3PSD/4OP,38,7M€ =1016€/eleitor
Ourém     43907 eleitores, 4PS/3OP,  36,1M€ = 819€/eleitor
Abrantes  36.871eleitores 4PS/3OP,  21,5M€ = 585€/eleitor                                                

Perante esta paisagem desoladora, os leitores usualmente distraídos e convencidos, sobretudo se gostarem de laranjas, mesmo de fraca qualidade, vão resmungar uma corriqueira e confortável frase feita, do tipo "Lá vem este gajo com as suas picardias do costume..." Ou estarei enganado?
Qualquer que seja a resposta, estimado leitor, tenha a bondade de raciocinar comigo mais um bocadinho. Vai ver que pode cansar, mas não dói nada. E pode vir a ser muito útil. Basta ter em conta o conhecido provérbio "Aproveita o que não presta, saberás o que é preciso."
Seja franco consigo próprio. Se fosse empresário, investidor ou simples cidadão à procura de um lugar pacato. para passar a última parte da sua vida, entre as cinco cidades acima indicadas, qual escolheria para investir ou viver, tendo em conta as dívidas a pagar, sob a forma de impostos e taxas locais? 
Pois é! E sem empresários, sem investidores e sem novos habitantes, que futuro nos espera?                                                                                          

sábado, 25 de agosto de 2012

O CANCRO NABANTINO

Virgílio Alves apresentou nestas colunas, na passado dia 21, cinco vectores programáticos para o próximo mandato autárquico, que foram já muito saudados por leitores de Tomar a dianteira, entre os quais me incluo. Esses vectores são os seguintes: 1 - Apoio à educação; 2 - Reindustrialização do concelho; 3 - Incremento do vector turístico; 4 - Valorização do centro histórico; 5 - Saneamento das contas públicas.
Após leitura mais atenta, concluí que o conterrâneo Virgílio, quiçá sem disso se dar conta, foi variando a argumentação de item para item. Nuns casos explicita o como, noutros o para quê, noutros ainda o porquê, sem contudo ir ao fundo da questão. Conviria por isso, para melhor estruturar o seu trabalho, de modo a torná-o de leitura mais agradável e assim mais eficaz, que indicasse em relação a cada proposta toda a fundamentação possível: porquê? onde? como? quando? com quem? para quê? com que recursos materiais e humanos?
Feito isso, julgo que seria então altura de reescrever tudo, dando-lhe forma mais atractiva e incluindo já uma descrição sucinta mas completa do actual estado das coisas no pântano tomarense. Na minha opinião, o ponto cinco é a condicionante de todos os outros, pelo que deveria passar a  número 1 e ser objecto de cuidada e minuciosa descrição, englobando causas longínquas e próximas, medidas propostas e sua calendarização, objectivos visados, recursos necessários e respectiva data provável de consecução.
Lançado este repto a Virgílio Alves, há que indicar, parece-me, uma eventual moldura de trabalho, susceptível de caracterizar de forma percutante a triste situação em que agora nos encontramos, a qual tenderá a agravar-se singularmente no próximo ano. Numa frase demasiado brutal e agressiva, mas que tem a virtude de retratar exactamente o passado e o presente, ouso avançar que o problema tomarense é oncológico, sendo o município desde há pelo menos vinte anos um volumoso carcinoma com cada vez mais metástases. Tudo em sentido figurado, já se vê.
Perante tal maleita em tal estado de desenvolvimento e com os sintomas que todos bem conhecemos, temos duas principais linhas de actuação, isoladamente ou em simultâneo -cuidados curativos e cuidados paliativos. Aqueles, tendo em vista tentar erradicar os vários tumores, na totalidade ou em parte, consoante as possibilidades. Estes, com o único fito de tornar menos dolorosos os diversos sintomas da patologia antes indicada, bem como o post-operatório. Caberá agora a cada paciente e em primeiro lugar, se assim o entender, a Virgílio Alves enquanto líder do processo, descrever as acções que propõe, calendarizá-las, fundamentá-las e explicitar os recursos necessários.
Desejo-lhe coragem e boa sorte!

Coprofilias

Transferido do blogue Algures aqui, de Hugo Cristóvão

O seu a seu dono. Foi Hugo Cristóvão, em alguresaqui.blogspot.com quem primeiro apresentou como metáfora daquilo que se passa em Tomar o recente e insólito caso ocorrido em Espanha, lá para os lados de Saragoça, em que uma respeitável senhora de 81 anos se julgou capaz de restaurar um fresco religioso do século X1X, com o resultado agora à vista de todos. Perante o escândalo, declarou candidamente à comunicação social que muita gente a viu a repintar a obra e ninguém lhe fez  qualquer reparo.
Exactamente como na política tomarense, com três notáveis excepções. Por um lado, os protestos escritos e orais contra o estado a que isto já chegou não são tão poucos como isso, embora ainda sem resultados práticos. Por outro lado, enquanto a senhora terá trabalhado apenas por amor a Cristo, os tomarenses artistas do pincel político actualmente a obrar, fazem-se pagar e bem. Terceira e fundamental diferença, enquanto a anciã espanhola parece já estar algo arrependida, reconhecendo que o seu benévolo trabalho não terá tido os melhores resultados, os pintores políticos nabantinos continuam muito seguros do seu nariz e da sua obra, condenado a esmo os malvados críticos, cuja óbvia malvadez os impede de reconhecerem a evidente excelência da obra até agora desenvolvida.
Fazem lembrar, esses pintores políticos oportunistas que temos, aquelas criancinhas sem fraldas dos países do terceiro Mundo. Sem ninguém a vigiá-las e sem outros brinquedos para se entreter, acabam muitas vezes por ir chafurdando com alegria nos próprios excrementos, numa evidente coprofilia resultante da incompreensão devida à idade. Como aqui pelas margens do Nabão. Devido à idade político/mental dos tais pintores, que não querem largar os pincéis senão quando a isso forem forçados. Já faltou mais. O pior é que entretanto o cheiro pestilencial é cada vez mais intenso.
Exagero? Olhe que não! Para tirar dúvidas, basta perguntar a um qualquer cidadão mais atento a sua opinião sobre uma  das obras da longa lista que começa ali junto à Várzea Pequena, passa pelo Mouchão, pela Ponte Marreca, pelo ex-estádio, pela bancada do dito, pelo parque de estacionamento, pelo pavilhão, pelo Elefante branco da Levada, pelo mercado, pelo paredão-mijatório, pelas obras da envolvente ao Convento... A resposta é rápida e sucinta: Ficou uma rica merda! E sendo assim...

Post Scriptum

Afinal parece que a "artista", longe de estar arrependida, apenas se queixa de que não a deixaram acabar. Exactamente como os políticos tomarenses após saídos das cadeiras do poder. Ele há coisas!|

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Análise da imprensa regional de hoje


Desta feita decidi começar pelo MIRANTE, por causa de uma crónica assaz intrigante. Está na última página, que é também o seu cabeçalho genérico, com a habitual assinatura de JAE, uma garantia de boa escrita = prosa suculenta. O título desta semana é de molde a arrastar qualquer tomarense para a leitura da peça: "Os turistas trocaram Santarém por Tomar". Expectante, li e reli todo o conteúdo, cujos primeiros dois parágrafos rezam assim: "São três horas da tarde de um dia de Agosto. Não sei se não era melhor estar de barriga vazia à beira do rio Tejo, debaixo de um salgueiro, se bem almoçado e entre quatro paredes, organizando a minha vida e a dos outros.
Conheço certos tipos da minha idade que trabalham na administração pública, que passaram estes anos todos sem fazerem a ponta de um corno. Trabalharam a maior parte do tempo para eles, com os recursos que tinham à mão e abusando da confiança de quem lhes deu rédea larga. As crises também têm o seu lado bom; ajudam a moralizar a vida em sociedade; obrigam os bem instalados a saírem da toca."
Movido pelo natural entusiasmo de tão saboroso início, até acelerei o ritmo, na ânsia de encontrar a concatenação entre o título e o conteúdo da perlenga. Em vão. Apenas esta indicação final: "Nota: o título da crónica é só para lembrar que a principal promessa de Moita Flores, quando veio para Santarém, não foi comprar aquecedores para as criancinhas das escolas. Nem ligar os esgotos e distribuir água ao domicílio. Essa conversa é a da Raul Solnado nos seus melhores tempos."
Confesso não perceber patavina. Mas de uma coisa tenho a certeza: Se os turistas trocaram Santarém por Tomar, aqui na minha adorada terra gualdina, ainda ninguém deu por nada. Será mais um caso saramaguiano de cegueira colectiva?


No semanário dirigido por José Gaio, o destaque vai -como não podia deixar de ser- para a prosa de Luís Pedrosa Graça. Magnífica com sempre, porém desta vez também meticulosa, rigorosa, justa e maviosa. À altura do tomarense ímpar que visa homenagear -o Arquitecto João Pedro da Mota Lima. Dos últimos vultos de uma geração para quem a dedicação à causa pública e ao bem comum era uma constante e um modelo de vida. Servir e não servir-se. Onde isso já vai!
Além da colaboração antes citada, O TEMPLÁRIO consagra a Mota Lima mais duas páginas, ilustradas com fotos da época. A não perder portanto.
Ainda no semanário de Além da Ponte, para os apreciadores, uma detalhada crónica tauromáquica ilustrada e assinada pelo arquitecto José Inácio da Costa Rosa, bem como uma reportagem ilustrada do Festival Bons Sons.


No decano da imprensa tomarense que ainda se publica, a peça que me pareceu mais apetitosa é da mão de António Freitas e versa sobre o futuro parque para autocarros de turismo, no terreiro da antiga Messe de Oficiais, que afinal pertence à autarquia mas o actual executivo não sabia. Foi o presidente da Junta da Junceira que descobriu a verdade, numa velha escritura dos anos vinte do século passado. Refere António Freitas que não se trata de caso único, com toda a razão. Infelizmente são vários os casos de ignorância do mesmo tipo, tanto no concelho como por esse país fora. Basta referir que aqui há três décadas, quando o Convento de Cristo ainda não havia sido transferido para o então ministério da cultura, dependendo da direcção-geral da fazenda pública, um chefe de finanças da época me veio perguntar se eu sabia de quem era o laranjal do Castelo dos Templários...
É no que dá uma administração pública que nem sempre consegue estar à altura das responsabilidades que lhe incumbem. E depois os políticos é que pagam, por vezes injustamente.
Há também a habitual crónica copiada de Tomar a dianteira, esta semana sem essa indicação, sobre a qual mais nada direi, por detestar ser juiz em causa própria.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

A hora das opções para François Hollande

O meu amigo e conterrâneo Luís Ferreira tem dado mostras de grande entusiasmo em relação aos primeiros meses de mandato do presidente socialista francês François Hollande, conforme se pode conferir no seu blogue vamosporaqui,blogspot.com. Procurando evitar-lhe futuros excessos de euforia, sempre contraproducentes em política, dedico-lhe particularmente a tradução do editorial do LE MONDE de ontem. Como é do conhecimento geral, o conceituado diário é a incontestável bíblia da esquerda francesa.

"Cada coisa a seu tempo, poderia bem ser o lema de François Hollande, nesse aspecto digno émulo de François Mitterrand. Mal regressou a Paris, após quinze dias de férias no Forte de Brégançon, o chefe de Estado não tardou a fazer novamente tal demonstração: "O fim das férias é agora" proclamou ele. Para logo a seguir acrescentar, visando acentuar a referência ao mote da campanha eleitoral: "A mudança prossegue ao seu ritmo."
Mas a piada implícita prova igualmente que as interrogações, as dúvidas e as críticas das últimas semanas, tanto à esquerda como à direita, não deixaram o presidente Hollande indiferente. Pouco importa que a "alfinetada" estival do seu antecessor sobre a Síria tenha sido entendida como demasiado provocatória. Pouco importa que a crítica de Jean-Luc Malenchon, no domingo passado, sobre os cem primeiros dias no Eliseu "para quase nada", seja sobretudo uma imprecação.
Subsiste um refrão, cada vez mais insistente: Não estará o governo a mostrar-se demasiado medroso face aos desafios da crise económica e às expectativas dos franceses? Será que o presidente tem realmente uma ideia clara sobre a melhor maneira de enfrentar as rudes realidades deste fim de férias, iniciando assim o mudança prometida? Em resumo, há já suspeitas de hesitação, ou até de imobilismo.
Cada coisa a seu tempo, pode ainda proclamar François Hollande. Já houve o tempo dos símbolos: um estilo presidencial menos enfático, mais familiar e clássico; promessas cumpridas, como a ligeira remodelação das passagens à reforma, a redução dos salários do patronato, o aumento do subsídio escolar ou a regulamentação das rendas de casa; uma revisão orçamental para acabar com os legados mais mais emblemáticos do sarcozismo; enfim, um pacto europeu de estabilidade, incluindo um modesto plano de retoma.
Houve também o tempo do discurso metodológico: consultas, concertações, reflexões em todas a direcções, sobre as  principais questões sociais, sobre a educação, as instituições ou, futuramente, sobre o ambiente.
Registe-se.
Mas tudo isso não constitui ainda uma política. Ainda menos uma visão do futuro. Eis portanto chegado o tempo das opções e das reformas. Perante a estagnação económica, que mina o país há quase um ano, como reagir? Perante a ameaça de sucessivos encerramentos de empresas, como recuperar a nossa indústria? Perante uma perspectiva de crescimento anémico, com escapar a um orçamento que junta o  peso do aumento de impostos ao choque da redução da despesa pública? Perante a lancinante crise do euro, que destabiliza perigosamente a Europa do Sul, como ultrapassar o impasse? Perante o cepticismo crescente dos franceses, como consolidar uma confiança razoável?
Tudo isto não se resolve em cem dias, como é evidente. Mas tão pouco em cinco anos, de tal modo as respostas são esperadas -e necessárias- já. Chegou portanto a hora das opções, das escolhas. Que, caso fossem adiadas, transformariam o tempo entretanto decorrido em tempo perdido."

Le Monde, editorial, primeira página, 21/08/2012

UMA IDEIA VENENOSA

Desde há muito que suspeito que o inefável Alberto João Jardim deve ter genes tomarenses. Não só por ter adoptado como brasão a cruz  da Ordem de Cristo, tal como Tomar, mas também e sobretudo tendo em conta as obras levadas a cabo naquela ilha. Como é sabido, a utilidade real da maior parte delas não é mesmo nada evidente, pelo que terão tido como fim justificar e sacar, em simultâneo, dinheiro ao "contenente" e benesses várias às empresas adjudicatárias. Tal como em Tomar, com as necessárias adaptações vocabulares.
Agora finalmente a braços com forte contestação e com uma profunda crise que ignora como ultrapassar, o governante insular, pouco inteligente mas extraordinariamente esperto, no pior sentido do termo, resolveu lançar mais uma artimanha, tendente a desviar a atenção dos eleitores madeirenses. Acrescentou à já gasta ameaça dos independentistas, falácia em que ninguém acredita, a patusca ideia de um referendo local para confirmar, aperfeiçoar ou suprimir a autonomia. Simples esperteza saloia, está bom de ver, pois se em qualquer caso serão os "cubános do contenente" a pagar a larguezas de sua excelência, manda o bom-senso que sejam também eles -e só eles- a votar no tal referendo, já que os chupistas madeirenses escolherão sempre a continuação da mama, venha ela de onde vier. O parasitismo e a ganância são vícios incuráveis.
Entranhadamente jardinista, visto que não só apoiou todas as estranhas obras e outras decisões tipo madeirense de António Paiva, como em tempos até convidou o autoproclamado dono da ilha a visitar Tomar, o presidente Carlos Carrão, também a braços com uma muito desconfortável contestação, com cada vez mais descrédito e até com a desconfiança da actual direcção local do seu próprio partido, resolveu sacar um coelho da cartola -pôr em discussão pública os TUT, Transportes Urbanos de Tomar. 
Vê-se à légua que estamos perante um artifício, um mero pretexto, uma ideia venenosa, para tentar desviar as atenções do essencial. Para o confirmar basta uma simples pergunta: Porquê só agora?
Os transportes colectivos da urbe apenas servem uma ínfima minoria, que durante décadas passou muito bem sem eles, de tal forma que havia então bem menos casos de obesidade e/ou pedidos de colocação de banda gástrica. Claro que esta minha posição é muito impopular. Pois que seja! Não posso é calar-me perante uma gente habituada a viver à custa dos outros, nem que seja para seu mal em termos de saúde a médio e longo prazo. Sei do que falo. Percorro regularmente a pé os vários trajectos dos TUT, cuja utilidade efectiva estou por isso em condições de questionar. Se com 70 anos consigo fazer a pé tais percursos, também os conterrâneos mais jovens podem fazer o mesmo, com vantagens para a sua saúde. E não me venham com a ladaínha dos deficientes; serão uma dúzia, se tanto, para os quais há as ambulâncias, as cadeiras de rodas, a canadianas...
Desumano eu? Nem pensar. Apenas racional. Ou alguém achará normal -além dos autarcas que nos têm calhado nas rifas, para os quais tudo serve para comprar votos- que numa pequena comunidade como a nossa os contribuintes paguem 400 mil euros anuais, para que meia dúzia de papalvos comodistas e ignorantes possam andar de cu tremido?!? Há dúvidas?
Pois é esse o custo mínimo anual da brincadeira, além das despesas quando se tratar de susbstituir os veículos. E estamos ante  uma situação sem remédio: se e quando a autarquia resolvesse aumentar o preço dos bilhetes, de forma a equilibrar as contas, deixaria de haver clientes, como agora está a acontecer com as portagens. A crise não perdoa e os chupistas de todos os calibres bem podem ir-se preparando para mudar de vida.
Uma nota, para terminar. As habituais línguas viperinas vão argumentar que escrevo assim porque não preciso. É verdade. Não preciso porque nunca criei essa necessidade. Não herdei nada. A minha mulher também não. O que temos agora saiu-nos do corpo. Por isso não me parece nada razoável que, além do IMI, do IVA e das abusivas taxas agregadas aos recibos da água e da luz, tenha de pagar uma média mensal de 1.751 euros de IRS, quando recebo com pensão de aposentação, para a qual descontei 38 anos, pouco mais de dois mil euros mensais. E depois há quem ainda se ponha a murmurar que pretendo candidatar-me à câmara para governar a vida e fazer carreira política. Só agora?!
Ele há cada palonço!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Renasce a esperança

 Foto 1

 Foto 2

Foto 3

Quando já começava a habituar-me a esta apagada e vil tristeza, como escreveu o zarolho há mais de 500 anos, eis que há a registar duas agradáveis surpresas. No seu blogue alguresaqui.blogspot.com o socialista Hugo Cristóvão, ex-presidente da secção local e deputado municipal, aborda de modo quanto a mim assaz ponderado o problema da Estalagem de Santa Iria. As três fotos supra permitem visualizar o local que por vezes, como sucedeu hoje ao almoço, mais parece um stand de venda de automóveis usados, em vez de um estabelecimento hoteleiro de quatro estrelas, que devia ser de turismo de qualidade. Mas que qualidade, com o Mouchão repleto de chassos? -É o progresso, argumentarão alguns. Será mesmo?
Para além da estética, da ecologia e do bom-senso, a questão da estalagem constitui um tal emaranhado de problemas que enumerá-los e apontar-lhes hipóteses de solução seria de tal modo fastidioso que poucos leitores resistiriam. Motivo porque me limito para já a enunciar apenas alguns pontos de vista: 1 - Não faz qualquer sentido que uma autarquia de província enterrada em dívidas mantenha a propriedade plena de um estabelecimento hoteleiro, em princípio de qualidade, mas de reduzida capacidade; 2 - A actual "renda" mensal que devia ser paga pela concessionária (3 mil euros) é ao mesmo tempo demasiado elevada tendo em conta o volume anual de negócios e demasiado reduzida de acordo com aquilo que lhe é posto à disposição (instalações, móveis, roupas, outro recheio, incluindo decoração); 3 - No âmbito de uma eventual futura gestão adequada do turismo local e regional, a estalagem deverá passar a ter uma secção de cafetaria com esplanada, dotada de uma pequena biblioteca à disposição dos clientes, barcos e gaivotas de recreio, bem como um passadiço para peões, ligando-a ao jardim e à piscina do Hotel dos Templários, no local da foto 2, conforme já existiu aquando do congresso da ANP, imediatamente antes do 25 de Abril; 4 - Naturalmente que essa hipótese apenas fará sentido mediante acordo prévio com a sociedade proprietária do hotel. 
Fica esta curta enumeração para memória futura, sendo certo que falar de unidades hoteleiras à beira-rio, leva a pensar no Nabão, no campismo, na Levada, no Convento de Santa Iria, no Mercado, no Mouchão, no ex-estádio, no Açude de Pedra... O costume!
Também hoje e num excelente alarde de competência, o jovem tomarense Virgílio Alves, que sei estar a estagiar num banco, resolveu honrar este blogue com um contributo escrito de assinalável valor, tanto em termos de qualidade da escrita, quanto no que concerne às ideias expostas. Está nos comentários ao post anterior e aconselho vivamente a sua leitura atenta. Não se trata, claro está, da redescoberta da pólvora, nem sequer de obra acabada, mas constitui um óptimo contributo para o debate da problemática local, deixando antever que há fortes hipóteses de a próxima campanha eleitoral vir a ser -finalmente!- digna desse nome. Já não era sem tempo.

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Finalmente a hora da verdade

Tal como antes de 74, quando o presidente da câmara era nomeado pelo governo e a política local se fazia sobretudo no Café Paraíso, desde o 25 de Abril  as chamadas "boas famílias" sempre têm conseguido controlar o município nabantino. Directamente (Antunes da Silva, Luís Bonet, Amândio Murta, Jerónimo Graça e Corvêlo de Sousa) ou por eleitos ao seu serviço (Pedro Marques, António Paiva e Carlos Carrão). Manda a verdade confirmar aquilo que agora está escancarado à vista de todos: Os resultados foram em geral medíocres, depois passaram a maus, fixando-se ultimamente no péssimo. De forma que a malvada crise tem para os tomarenses pelo menos duas vantagens: 1 - Permitiu perceber enfim em que triste estado estamos, ao tornar gritantes as asneiras e as carências de quem se candidatou para nos governar; 2 - Acelerou a hora da verdade. Aquela em que os elementos das antes citadas "boas famílias" vão ser forçados a enfrentar um terrível dilema: Ou renunciam às costumeiras manobras de bastidores, (nomeadamente pela via feminina e nos salões de penteados), deixando funcionar a democracia em pleno, de forma a que os eleitores possam realmente escolher entre propostas realistas e simples listagens de intenções; ou optam pelo continuismo, o que os levará mais tarde a dolorosos arrependimentos. Como agora está a suceder em relação aos caricatos e onerosos erros passados.
Isto porque, devido à conjuntura europeia e nacional, a gravérrima crise municipal nabantina já não se compadece com pensos em pernas de pau carunchosas, que é como quem diz com planos do século vinte elaborados a partir de ideias do século dezanove. Agora, ou nos viramos corajosamente para o futuro, que é o único sítio para onde vamos, por decisão própria ou arrastados, ou tentamos continuar a viver com a cabeça no passado, suplicando e aguardando as esmolas de Lisboa e de Bruxelas.
Quando no final do ano passado, na sequência da corajosa denúncia da coligação por parte do PS, apareceu a primeira grande oportunidade para construir futuro, a partir de eleições intercalares que nos teriam dado algum avanço temporal em relação aos outros municípios da zona, ganharam os instalados, a inércia, o imobilismo e a incompetência. Por isso estamos como estamos e a situação continua a agravar-se de dia para dia.
A próxima oportunidade serão as autárquicas previstas para 2013, qualquer que venha a ser a Lei Eleitoral então em vigor. Haverá finalmente coragem para cortar amarras e fazer-se ao mar alto? Ou vamos continuar a contemplar as mansas águas nabantinas e a pretender prolongar o passado?
A inexorável marcha do tempo nunca espera por ninguém. Barco parado não faz viagem.

Facilitismo, a raíz do problema

Agora que amainou nos media a "tempestade Relvas", intencionalmente projectada por mera canalhice interesseira, começa a ser tempo de recolocar as coisas no seu sítio. Enquanto que o agora influente ministro se limitou a procurar, numa altura em que apenas era presidente da AM tomarense e cidadão com muita bagagem, certificação para o seu vasto savoir-faire político, que todos concordam, incluindo os seus piores inimigos, ser sólido, útil e de muito valor, há cada vez mais honrados cidadãos sem mácula deste país em busca do inverso -um "canudo" que em teoria certifique, sem margem para dúvidas, porque emitido por uma fonte mais ou menos prestigiada, aquilo que na realidade o seu titular não sabe. É esta, no meu humilde etendimento, a raíz do nosso problema -o facilitismo.
A coisa começa logo no básico, ao longo do qual, como todos os docentes bem sabem, o mais difícil sempre foi e continua a ser cada vez mais "chumbar" um aluno, por muito incapaz que seja. As razões são múltiplas. Enumerá-las aqui tornaria o texto demasiado indigesto. Por isso, bastará uma única, quiçá a principal: No básico não convém chumbar alunos, porque isso iria complicar singularmente a posterior formação de turmas, uma vez que as salas de aula estão previstas para 28/30 alunos, no máximo. Logo, seria impossível incluir dois ou três repetentes numa turma em que todos os alunos "transitaram". Segue-se que os menos dotados e os menos adaptados depressa interiorizam a vantagem do sistema: não vale a pena esforçar-se porque se passa na mesma.
Com professores fortemente desmotivados e em muitos casos já "produtos" de tal sistema, nada indica que no secundário e no superior as coisas sejam muito diferentes. Nas grandes urbes, por não ser tarefa fácil avaliar com algum rigor tanta gente; por essa província fora porque aluno chumbado é aluno perdido, com tudo o que isso implica...
E assim chegamos ao mundo profissional, à vida tal como ela é. Sem nunca terem sido rigorosamente seleccionados, os candidatos a empregos encontram na função pública nacional, regional e local a avenida rumo ao emprego vitalício e às promoções por antiguidade. Exames selectivos nunca há, com algumas raras excepções, como na magistratura, e os tão apregoados concursos não passam afinal de simulacros com fotografia. Antes das provas já se sabe em geral quem vai ser admitido.
Desaparecidos ao longo dos anos os antigos funcionários que eram realmente servidores do Estado e detentores de enorme saber de experiência feito, temos agora o panorama que está à vista de quem não seja deliberadamente miope, ou mesmo invisual. No topo da estrutura governamental ou autárquica estão os eleitos, na maioria dos casos gente que nunca soube fazer outra coisa como deve ser; seguem-se os técnicos superiores e intermédios, para alí projectados amiúde pelo facilitismo, o amiguismo e o clubismo político. O que não os impede, antes os incentiva -uma vez percebida a evidente fragilidade e incompetência dos políticos- a tomarem as rédeas da carripana onde operam, assustando os eleitos com regulamentos, portarias, despachos e outras minudências, contraditórios entre si e que por isso dão para quase tudo. E mais alguma coisa...
São já abundantes em Tomar, e decerto por esse país fora, os tristes resultados de tal conúbio políticos incapazes/funcionários incompetentes. Projectos particulares que aguardam despacho durante meses e anos; processos sensíveis que são deliberadamente escamoteados; obras públicas mal idealizadas, mal projectadas e mal calculadas; ausência de qualquer planeamento digno desse nome, com um quadro fundamentado de prioridades; adjudicação prematura de empreitadas por mera ganância e oportunismo.
Exemplos tomarenses: a ridícula barraquinha do Mouchão; o paredão-mijatório; as três edições da rotunda; o marginal "muro de Berlim"; a deliberada destruição do estádio; a mal calculada requalificação do pavilhão municipal; a ponte do Flecheiro, inutilmente "torcida" em relação ao eixo da Av. dos Combatentes e sem rotunda no cruzamento desta com as avenidas Nun'Álvares e Torres Pinheiro; aquela desgraça da Estrada do Convento, que fica pior depois das obras. E o cúmulo da pouca vergonha: o Elefante Branco da Levada. Posto a concurso, adjudicado e iniciado sem projecto, chegou-se agora à conclusão que não só havia necessidade de detalhadas escavações arqueológicas prévias, como ainda por cima pelo menos os previstos museus da electricidade e da moagem correm o risco de nunca passarem de intenções, devido à manifesta impossíbilidade de os agenciar, respeitando todas as normas europeias, designadamente corredores de visita, plataformas para grupos, vias e outros meios de evacuação rápida, portas corta/fogos, etc.
Como é que vamos conseguir descalçar todos estes pares de botas? Os senhores políticos no activo é que devem saber. Ou não?! Afinal, desde que há eleições, têm sido eles os sapateiros. Bem acompanhados, de resto...

domingo, 19 de agosto de 2012

Desorientados e desamparados

A recente, inesperada e estrambótica carta aberta de Alexandre Lopes pode bem ter sido um dos primeiros sinais do novo clima político tomarense. E talvez até a primeira de uma série que poderá prolongar-se até à próximas autárquicas, daqui a 14 meses. Digo isto por me parecer que o citado conterrâneo procurou debalde duas coisas -justificar o estranho comportamento dos IpT, que apesar de sucessivas afirmações de que não seriam bengala de ninguém, no fim de contas, com a sua passividade não têm feito outra coisa, bem como arranjar um bode expiatório, que neste tipo de conjuntura dá sempre jeito.
É claro que os ipetistas, na senda do seu chefe, garantem a pés juntos que eu os persigo e que ainda temos a maioria relativa PSD sentada nas cadeiras do poder por culpa do PS. Que outra coisa haviam de dizer? Sucede que os socialistas tomarenses deram nesse caso o bom exemplo: renunciaram de motu próprio a confortáveis mordomias, da ordem dos 5 mil euros mensais (tudo incluído) e declararam estar prontos para provocar eleições intercalares. O resto é música, ao som da qual há cada vez menos gente a dançar.
Para além deste diz que disse que ia dizer, o essencial parece ser uma atmosfera de algum desespero, comparável nos seus contornos ao sucedido no final dos idos anos 80 com os comunistas e os esquerdistas. Se bem se recordam, a queda do Muro de Berlim e as sucessivas implosões dos países do Pacto de Varsóvia deixaram então os dirigentes e militantes do PCP e do BE por assim dizer órfãos, desorientados e desamparados. Referências fundamentais esvaíram-se num ápice e ao arrepio de qualquer previsibilidade.
Uma dúzia de anos mais tarde, temos uma situação comparável, com o vasto eleitorado do arco governativo: a receita tradicional mostra-se cada vez mais inadequada para fazer face a uma conjuntura dramática e cuja evolução assusta, mas por outro lado ninguém parece dispor de ideias novas ou de projectos alternativos. Que fazer então? Insistir na aplicação de soluções velhas para problemas novos? Ou ter a coragem de aproveitar o ensejo para com humildade e bom senso tentar inovar, indo ao fundo dos problemas e cortando-os pela raíz? Não dá votos? Depende da habilidade, da qualidade, da coragem e da credibilidade dos artistas. Como a seu tempo se verá, caso os tomarenses assim o entendam. Afinal já só faltam 14 meses...e as férias deste ano estão quase defuntas.

PIOR AINDA...





De acordo com os últimos dados que foi possível recolher, o caso dos sinais de trânsito na interminável obra da Envolvente ao Convento de Cristo é ainda mais grave do que parecia à primeira vista (ver post Apelo urgente!!!). Todas as fontes contactadas foram unânimes em três pontos: 1 - As obras estão suspensas por sessenta dias, até meados de Outubro; 2 - Assim sendo, a maior parte da sinalização entretanto colocada não tem qualquer justificação; 3 - Todas as indicações escritas deviam estar pelo menos em português, espanhol e inglês.
Já quanto ao motivo, ou aos motivos, da citada suspensão, há interpretações divergentes. A mais comum aponta as alterações ao projecto do parque para autocarros, junto à fachada norte do monumento, exigidas pelo novo empreiteiro, nomeadamente no que concerne à contenção do talude. Outra fonte garante que a dita interrupção resulta apenas e só da falta de disponibilidade financeira da autarquia, não passando a referida questão do projecto de um pretexto para camuflar a triste realidade. Uma terceira fonte, concordando embora parcialmente com as duas anteriores, avança uma explicação diferente: A suspensão das obras tem por fim dar tempo aos projectistas para encontrarem uma solução para o berbicacho do alambor. Qualquer que seja a hipótese correcta, uma das três ou uma mistura de todas elas, uma coisa parece certa: Não se justifica a colocação da maior parte dos sinais, sobretudo daqueles que interditam o trânsito por motivo de obras.
Se Tomar fosse uma terra normal, com uma maioria normal e uma oposição normal, já teríamos decerto uma reacção/explicação escrita de todo este imbróglio. Como não é, impera a usual inacção e o pesado silêncio do costume. Por parte da relativa maioria, dado que continua a agir como se os seus membros fossem donos da cidade e do concelho, não tendo por isso satisfações a dar a quem quer que seja. Da parte da oposição porque procedem sempre como se fossem membros de uma casta superior, sem tempo, nem paciência, nem obrigação de esclarecer o povoléu, que o mesmo é dizer quem os elegeu. Lindo!
Por isso estamos cada vez melhor e somos cada vez mais! Digo eu, que não sou gago.

sábado, 18 de agosto de 2012

PORTUGAL DEIXOU DE SONHAR

Depois da Grécia, vista pelo escritor de policiais Petros Markaris (cf. Grécia mafiosa, de ontem), o jornalista Yann Plougastel, do Le Monde, conversou com o escritor de policiais Francisco José Viegas, igualmente Secretário de Estado da Cultura, sobre a situação portuguesa. Seguem-se as principais passagens desse encontro.

Francisco José Viegas, visto por Giulia D'Anna Lupo, Le Monde

"Francisco José Viegas recebe no Palácio Nacional da Ajuda, um velho edifício um pouco decrépito, numa colina junto ao Tejo, onde existe igualmente um museu. Percorre-se um imenso corredor vazio, com portas misteriosas, numa atmosfera digna de um filme de Hitchcock. Por uma delas entra-se no seu gabinete. Tão grande como um campo de ténis e com um pé-direito vertiginoso, conta também com belas janelas em ogiva. Indica-nos um sofá de cabedal, acende uma cigarrilha e começa a rir-se: "Não vamos falar de política, pois não?", interroga com ar divertido, num francês melodioso. É claro que não. Ou antes: sim, mas de outra maneira...
Pela madrugada, quando a capital começa a pensar em ir para a cama, Francisco José Viegas escreve policiais. Um deles, Longe de Manaus, obteve recentemente um prémio literário português, equivalente do Goncourt francês. Durante o dia é, desde há um ano, Secretário de Estado da Cultura, na dependência directa do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, chefe de um governo de centro-direita, que por meio de uma drástica cura de austeridade tenta recolocar a economia nos carris.
... Na sua juventude, logo após a revolução dos cravos de  25 de Abril de 1974, que acabou com a ditadura de Salazar, Viegas militou durante algum tempo na tendência trotskista do PS português."Falava-se sobretudo de sexo e de cannabis", diz-nos com um sorriso.
Mas depois não voltou a filiar-se. Era mesmo algo muito afastado das preocupações deste cinquentão bon vivant, cujos livros falam tanto do corpo das mulheres como da alegria de cozinhar, e que até viveu três anos no Brasil, só para tentar perceber a respectiva atmosfera. "Pertenço a uma geração que a dada altura tem de responder "Sim". E aceitar compromissos. Quando o país atravessa uma crise terrível, escrever nos jornais ou nos blogues o que deve ser a cultura ou a sociedade, como conseguir que o cinema saia do marasmo ou como salvar bibliotecas, já não basta. Por isso eu, editor feliz, escritor sem preocupações de maior, cometi o erro de aceitar esta ocupação política. Mas não vamos falar mais nisso, pois não?"... ... ...
... ... ...Fatalistas, as personagens dos livros de Viegas, diriam decerto, com a saudade em bandoleira, "Vivemos numa sociedade que perdeu os seus sonhos. Os portugueses têm medo do futuro, de falar. Após trezentos e cinquenta anos de Inquisição e cinquenta anos de salazarismo. Agora com a crise estamos na mesma. É terrível."
No seu livro "As duas águas do mar", o primeiro traduzido em francês, Viegas escreve: "Este mundo pertence aos vencedores, aos actores de cinema, aos accionistas de todas as empresas, aos manequins, aos ministros recém-nomeados, aos arquitectos que enriquecem, vendendo apartamentos ou vivendas ainda em projecto, nos quais ninguém se sente bem. Não gostaria de ser arquitecto. Nem actor de cinema."
No seu impressionante gabinete, o secretário de Estado da cultura Francisco José Viegas vai explicando que, na época do seu esplendor, Portugal ia procurar riquezas bem longe, em África e no Brasil, transportando-as para as capitais europeias. O dinheiro proveniente desse comércio serviu apenas para despesas de luxo e nunca alimentou o investimento nacional, o que teria permitido o verdadeiro desenvolvimento do país. Os portugueses instalaram-se no Brasil para procurar enriquecer e nunca para, como os franceses, estabelecer um regime, um sistema, um modelo de sociedade...
Posteriormente, durante muito tempo, foram os pobres da Europa. Os emigrantes de Paris, Genebra, Zurique. "Julgo que a nossa relação com a Europa não é feliz, porque uma parte das nossas raízes continua em África e  no Brasil. Agora com a crise, muita gente emigra para lá. Em dez anos realizámos todas as reformas impostas pela Europa (interrupção voluntária da gravidez, casamentos homossexuais). Foi sem dúvida demasiado rápido porque, paralelamente, a nossa economia não beneficiou de bases sólidas. Dependemos bastante da conjuntura espanhola, irlandeza e grega. Perdemos a agricultura, enquanto a pesca e a indústria são praticamente insignificantes. Só nos restam a cultura e o mar, como oferta turística."...

Yann Plougastel, Le Monde, 17/08/2012, página 12

A selecção e o negrito são da responsabilidade de Tomar a dianteira.
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Adeus amigo e senhor arquitecto

Venho agora do Cemitério Velho. Fui acompanhar os restos mortais do arquitecto João Pedro da Mota Lima à sua última morada, cobertos com a bandeira da cidade, que muito honrou. Tinha 83anos e faleceu ontem em Lisboa, onde estabelecera residência logo a seguir ao 25 de Abril. Nas décadas de 60 e 70 do século passado foi das figuras mais notáveis da comunidade nabantina, que soube servir com humildade, denodadamente  e como poucos. Exerceu gratuitamente -como era usual na época- as funções de vereador, vice-presidente e presidente da então Comissão Municipal de Turismo, cujo edifício-sede dotou pela primeira vez de razoáveis condições de trabalho. Elaborou também os projectos de requalificação e adaptação da Casa Diogo de Torralva, para biblioteca municipal (actualmente sede da Assembleia Municipal, no primeiro piso, e gabinete de trabalho dos IpT, no r/c) e do Palácio Alvim, para esquadra da PSP. Além disso, desenhou o então Parque de Turismo, actual Parque de Campismo, bem como projectos de recuperação da Envolvente ao Convento de Cristo e da Rua dos Arcos, assim como várias edificações modernas na zona de Além da Ponte.
Várias vezes organizador da Festa dos Tabuleiros -quando ainda se não falava de mordomos- a sua última grande tarefa tomarense foi a preparação e decoração da cidade e de vários espaços de trabalho para o congresso da ANP, o partido único da época, pouco tempo antes do 25 de Abril.
Ainda em 1974, foi nomeado arquitecto da Caixa Geral de Depósitos, tendo então encerrado o seu atelier de Tomar e passando a residir na zona de Lisboa.
Que descanse em paz, que bem mereceu. Amen!

"Disse-lhe que não era rapariga para ele"

Os recentes incidentes nos bairros situados a norte de Amiens (143 mil habitantes), França, que causaram ferimentos em 19 polícias e a destruição por fogo posto de dois edifícios públicos, foram noticiados em Portugal de forma muito resumida. Os leitores terão por isso ficado com ideias bastante vagas sobre o sucedido. Procurando sanar essa lacuna, segue-se uma pequena reportagem de um enviado especial, publicada no LIBÉRATION ON LINE (esquerda radical), ontem, 17/08/2012, às 21H45.

Stéphane Diboundje, advogado de defesa, prestando declarações à comunicação social esta tarde. (Foto Thomas Samson, AFP).

Na sequência da revolta urbana nos bairros a norte da cidade, esta tarde havia julgamento no tribunal de primeira instância de Amiens. Eram três os réus.

"Esta tarde no Palácio da Justiça de Amiens, quem esperava ver chegar cabecilhas de bairro, jovens excitados, prontos a ajustar contas com o resto do mundo, terá ficado desiludido. Surgiram Shrek e dois jovens visivelmente ultrapassados pelos acontecimentos.
Shrek é o cidadão Cédric, acusado de incitação à violência no passado domingo. É julgado por "provocação directa de ajuntamento armado". Com 27 anos, tem já um registo criminal tão comprido como um dia de Verão: nove condenações. A alcunha Schrek, foram os amigos dos bairros do norte de Amiens que lha puzeram, mesmo se as parecenças não são assim muitas. Assemelha-se mais a uma daquelas personagens magras e descentradas dos filmes dos irmãos Cohen.
Entrou na sala às 14H30 e saiu dez minutos mais tarde. Vai ficar em preventiva até novo julgamento, previsto para 12 de Setembro próximo. Logo a seguir entraram na sala de audiências os jovens Wilfrid e Christopher, devidamente algemados. São acusados de "deterioração ou degradação de bens alheios por meios perigosos perigosos para as pessoas". Em resumo, incendiaram alguns contentores de lixo na noite de 13 de Agosto, acabando por ser presos dois dias depois, em flagrante delito de reincidência. O olhar febril de Christopher perde-se na atmosfera circundante. Apesar do calor, continua de casaco vestido. À sua direita, a tee-shirt vermelha de Wilfrid parece já ensopada de suor e de stress.
Christopher, agora com 20 anos, não andou muito tempo nos estabelecimentos de ensino. Não sabe ler nem escrever. Perante a juíza, começa logo a chorar. "Eu nem sequer sabia que havia motins nos bairros do norte de Amiens naquela noite. Andávamos a passear e veio-nos a ideia de incendiar os contentores." Logo a seguir procura emendar: "Para dizer a verdade, eu só fiquei à espreita. Foi o Wilfrid é que lançou fogo. Andava muito triste porque a namorada o tinha abandonado. Eu disse-lhe logo que também não era rapariga para ele." Wilfrid começa também a chorar. "Ando sempre enervado, mas o que eu fiz sei que não foi nada bom." A juiz pergunta-lhe então a que horas ateou o incêndio. Wilfrid responde baixinho: "Não sei, porque não sou capaz de ver as horas nos relógios de ponteiros, mas depois olhei para o meu telemóvel e eram 22 horas. Que eu até conheço os algarismos. E também sei contar até 30."
Antes da leitura da sentença, Christopher avança uma última frase: "Olhe que eu não quero ir para a prisão!" O procurador tinha requerido 12 meses de prisão, com pelo menos 6 a cumprir, mas o tribunal foi mais benevolente. Condenou os réus a 8 e 10 meses de prisão, respectivamente, mas com pena suspensa. Os advogados declararam-se "satisfeitos". Christopher abandonou o tribunal aliviado: "Eu não fiz nada, foi o Wilfrid que ateou o fogo. Agora vou para minha casa e não volto a sair. Passei toda a noite a rezar. Tinha muito medo de ir preso." Olheiras profundas, pálpebras a tremer, Chistopher conclui: "Não sei ler nem escrever, mas acabo de levar uma boa lição." E lá foi para os bairros do norte de Amiens. Sozinho."

Rachid Laïreche, enviado especial a Amiens, LIBÉRATION ON LINE, 17/08/2012