sexta-feira, 31 de maio de 2013

Tentando endireitar a sombra de uma vara torta...



Ilustração 1

Ilustração 2

A notícia foi largamente difundida: O governo resolveu interditar novas inscrições nos cursos de licenciatura que em anos anteriores registaram menos de 10 alunos. (Ver ilustração 1). O que na prática vai conduzir ao seu desaparecimento a prazo. Era uma decisão há muito aguardada, tendo em conta a crise que o país atravessa. Se o leitor pretende uma ideia mais clara do que custam a saúde e a educação em Portugal, vá ao Google, digite pordata e depois clique em Base de Dados  Portugal. Já conseguiu? Então agora leia o quadro na parte inferior direita do ecrã. Impressionante, não é?
Regressando ao tema inicial, o PÚBLICO honrou os seus pergaminhos de jornal de referência, dedicando ao assunto uma página inteira, assinada por Samuel Silva, assim como o quadro supra (ilustração 2). Tudo bem, por conseguinte? Infelizmente não. Trata-se, no meu entender, de um caso paradigmático de jornalismo à portuguesa, cuja especialidade consiste em enganar os leitores dizendo-lhes a verdade. Repare-se, com mais atenção.
"Encerramento deverá afectar 80 cursos e não 171 como foi avançado inicialmente". Logo: Afinal não é tão grave como parecia, pensa o leitor. Segue-se um gráfico com "Os cursos e instituições mais afectadas", o qual não permite de todo em todo perspectivar as alterações em causa. Menos 7 cursos no Politécnico de Leiria será mais grave que menos 4 no de Beja? Olhe que não, olhe que não! Como se passa a demonstrar.
Conforme devem (ou deviam) saber os profissionais de informação titulares de mestrado ou doutoramento, as ocorrências têm de ser devidamente catadas, até permitirem apresentar aos leitores textos que não os induzam em erro, mesmo que involuntariamente, como é talvez o caso.  Foi para isso que foram treinados em investigação, em síntese, em redacção... Ou não?
Assim, se fora eu o encarregado de redigir a notícia, teria estruturado o "papel" da forma seguinte:

1 - Instituições universitárias que não sofrem qualquer redução da oferta:
     Universidade Clássica de Lisboa, Universidade Técnica de Lisboa, Universidade Nova, Universidade    de Coimbra, Universidade do Porto e Universidade da Madeira.
2 - Instituições universitárias que perdem uma licenciatura (ver nota na ilustração 2).
3 - Instituições com mais reduções: primeira coluna, total actual da oferta; segunda coluna, novo total; terceira coluna, % de redução:

1 - I. P. Guarda ----------19----12----36,8%
2 - I. P. Santarém..........27----19----29,6%
3 - I. P. Portalegre-------24----17----29,1%
4 - I. P. Tomar-----------27-----20----25,9%
5 - I. P. V. Castelo.........28----22----21,4%
6 - I. P. Beja--------------20----16----20,0%
7 - I. P. Bragança--------44----36-----18,1%
8 - I. P. Leiria------------45----38......15,5%
9 - I. P. Setúbal----------30----26-----13,3%
10 - U. Évora--------------40----37-------7,5%


Agora sim, parece-me, o leitor já terá outra perspectiva da racionalização em curso no ensino superior português, que afecta sobremaneira as instituições menos apetrechadas em termos humanos para fazer face à sempre crescente concorrência. Entre estas, as que correm maior perigo são as primeiras cinco, que perdem desde já mais de um quinto da oferta, situação que vai provocar rombos ainda maiores no futuro, devido ao chamado efeito de arrastamento, ou de "bola de neve".
No que concerne ao Politécnico de Tomar, cujos responsáveis muito provavelmente vão avançar com a argumentação costumeira, visando sacudir a água dos capotes respectivos, uma comparação se impõe. A Universidade da Beira Interior, que apenas perde um curso e até já inclui uma licenciatura em medicina, é irmã gémea do politécnico tomarense. Ambos foram criados em simultâneo, nos anos 70 do século passado, pelo então ministro da educação Veiga Simão, que até veio a Tomar na ocasião.
Na altura a UBI era o I. P. da Covilhã. Apesar da localização bem mais ingrata, conseguiu singrar e impor-se. Teve dirigentes capazes. Em Tomar é como se sabe...

quinta-feira, 30 de maio de 2013

E agora?!




Google Maps

No uso das suas competências, o Tribunal Constitucional declarou inconstitucional o diploma legal que criou as Comunidades Intermunicipais. Acontece que Tomar é desde há mais de um ano a sede da C. I. do Médio Tejo, conforme resulta das ilustrações supra. Para a sua instalação, o Município de Tomar, em mais um alarde megalómano de novo-riquismo doentio, disponibilizou o sector assinalado a verde no primeiro andar do ex-Convento de S. Francisco. (Ver foto de satélite) Tratando-se, como todos sabemos, de uma autarquia abastada, ou pelo menos presidida por eleitos com essa pancada, ficou estabelecido que a dita comunidade não pagaria nem renda, nem água, nem energia eléctrica. Situação que se mantém. Melhor ainda: No acordo de cedência, a que Tomar a dianteira teve acesso, consta que o Município de Tomar se obriga a reembolsar os melhoramentos entretanto custeados pelos ocupantes, se e quando os despedir. Uma vez que estes financiaram o mobiliário e outro equipamento, nomeadamente um anfiteatro e material de projecção de última geração, a coisa promete. E não há entre os oposicionistas locais quem denuncie as cláusulas leoninas = anuláveis do dito convénio, subscrito por António Paiva?
Muito estranho, não é? Pois é, mas naquele agrupamento, presidido pelo autarca PS de Torres Novas, que nem sequer cumpre sentenças judiciais quando não lhe convêm, há mais situações anómalas. A começar pela respectiva secretária executiva que, durante largos meses, beneficiou de um vencimento bem superior ao de qualquer presidente da câmara da associação. Gente com sorte, é o que é!
Posto que o Tribunal Constitucional determinou a não conformidade = ilegalidade, resta perguntar: E agora? Vai o município nabantino, praticamente sem dinheiro para mandar cantar os cegos locais, continuar a sustentar pançudos? E as oposições? Vão continuar caladas?

DE MAL A PIOR

Fontes: INE e PORDATA

Entre 1864 e 1950, o concelho de Tomar mais que duplicou a sua população, passando de 21.894 para 46.071. Já nos últimos sessenta anos foi mirrando, ficando-se por enquanto nos 42.277 (dados mais recentes disponíveis). Além deste triste definhamento, a outrora orgulhosa e florescente urbe templária, vai descendo em todos os indicadores, excepto nos negativos.
No quadro acima, em 1960 Tomar ainda estava a meio da tabela, em termos de % da população activa em relação à total, pois beneficiava entre outros factores do carácter itinerante de grande parte dos ferroviários do Entroncamento e da considerável emigração clandestina dos ourienses, sobretudo para França.
Meio século volvido, as coisas mudaram, infelizmente para nós. Com menos de 42 activos em cada 100 residentes e tendo em conta a fraquíssima natalidade, somos cada vez mais um concelho de velhos =inactivos. Se a isso acrescentarmos uma nalguns casos redundante função pública, por definição improdutiva, só não antevê o lindo funeral que nos espera como concelho quem manifestamente ou está de má fé, ou não tem mesmo jeito nenhum para estas coisas.
Os senhores políticos locais, tanto da maioria relativa como da oposição maioritária, o que têm a dizer? Que o Calado foi a Lisboa e veio sem pagar bilhete? Mas olhem que quem cala consente e quem não se sente não é filho de boa gente. Diz o povo, que tem milénios de dura experiência. E direito de voto...

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Isto está cada vez melhor!!!

Segundo a Rádio Hertz, que entrevistou Anabela Freitas durante duas horas, na passada quarta-feira, a candidata socialista garante que irá apurar responsabilidades no caso ParqT. Casa vença as eleições, bem entendido. Manifestou também grande preocupação àcerca da situação financeira do município, cuja contabilidade, segundo referiu -citando o revisor oficial de contas- ainda não inclui as contas da Tomarpolis. E que contas! São mais uns milhõezitos de euros que se ausentaram do orçamento municipal para parte por enquanto incerta. Com que objectivo?
Perante cenas assim, um pobre e tosco cidadão-eleitor-pagador não pode deixar de se interrogar: Só agora é o que a senhora deputada municipal acordou? Que têm estado a fazer no executivo os quatro eleitos da oposição, entre os quais dois do partido da senhora candidata e logo um seu companheiro? Mesmo a quatro contra três não conseguem dominar o jogo? A oposição, com assento maioritário na AM, também não acha oportuno indagar? Estão só para ocupar as cadeiras do poder? E sobre o cavernoso processo da transferência do manancial da Mendacha e da "rede em alta", dos SMAS para a Águas do Centro, uma coisita para mais de cinco milhões de euros? E o posterior contrato de compra à Águas do Centro, durante 20 anos, da mesma água da Mendacha? A senhora deputada-candidata não tem nada a dizer? E os outros senhores da oposição? É que a referida escritura data de 2005, pelo que eventuais prevaricações do tipo gestão danosa, prescrevem em 2015. Os respeitáveis edis oposicionistas estão à espera de quê? Que o tempo aqueça? Ou que o assunto esqueça?
Ao que parece -e em política o que parece é- enquanto houve teta para todos -mais para uns que para outros- foi mamar e calar. Agora que começa a faltar o leite, vai ser bonito vai! Já no tempo dos piratas assim acontecia. Quando o saque era fraco, começava a guerra entre eles. Quanto mais o mundo muda, mais está na mesma...

População, jornalistas e achistas

Fonte: INE

Vivemos numa pobre terra onde está muito na moda confundir jornalismo com achismo. Quando sucede ou se encontra algo de extraordinário, os nossos briosos profissionais de informação, regra geral, acham que basta publicar os factos, sem acrescentar qualquer perspectiva ou comentário, evitando assim emitir opinião. Pois. O facto é, porém, que dá muito menos trabalho apresentar factos em bruto do que interpretá-los e situá-los no seu contexto. Que essa de não emitir opinião só convence quem já está disposto a isso, uma vez que esses mesmos profissionais não se coíbem algumas vezes de adjectivar os eventos que relatam. É certo e sabido, por exemplo, que todas as iniciativas da área cultural são sempre grandes sucessos. Sobretudo se a organização "é da cor" ou amiga da "casa".
Aqui temos um exemplo prático do que se pretende acentuar. Encontrei este resumo dos recenseamentos da população referentes ao concelho de Tomar. Outros limitar-se-iam a publicar sem comentários, achando que os leitores saberão interpretar. Pela minha parte não consegui resistir a pelo menos esta nota: temos hoje menos habitantes do que 1940. E  ainda há quem ache que vai tudo bem. Não há piores cegos que aqueles que não querem ver. Porque assim lhes dá jeito, claro!

terça-feira, 28 de maio de 2013

Recado às esquerdas nabantinas

Os mais recentes dados sobre o Rendimento Mínimo Garantido - RMG e o seu sucessor Rendimento Social de Inserção - RSI, que são uma amostra da pobreza e outras desgraças que vão por esse país em crise, permitem constatar o seguinte:

Percentagem de beneficiários do RMG ou RSI em % da população activa, por concelho e por ordem decrescente:


 1 - Sardoal -------------------10,9%
 2 - Portalegre------------------8,9%
 3 - Abrantes--------------------8,3%
 3 - Santarém------------------- 8,3%
 4 - V. N. Barquinha-----------8,2%
 5 - Constância------------------8,1%
 6 - Tomar------------------------7,9%
 7 - Castelo Branco--------------7,8%
 8 - Vila de Rei-------------------7,4%
 9 - Entroncamento--------------6,8%
 9 - Golegã-------------------------6,8%
10 - F. Zêzere----------------------5,6%
11 - Alcanena----------------------5,3%
12 - Torres Novas------------------5,2%
13 - Leiria---------------------------4,9%
14 - Caldas da Rainha-------------4,2%
15 - Alcobaça------------------------3,7%
16 - Ourém--------------------------2,6%
Fonte: Pordata

Perante esta dramática realidade, que tende a piorar, há apenas duas atitudes possíveis -fazer frente ou acobardar-se. Qual é a vossa escolha? A listagem demonstra que as cidades com trunfos semelhantes aos nossos (Alcobaça = Mosteiro, Fátima = Santuário) estão muitíssimo melhor do que nós. Disputam por assim dizer outro campeonato.
A nível internacional, a esquerda tem sido derrotada por todo o lado: Espanha, Itália, Hungria, Chipre, Eslovénia, Holanda e agora a Islândia. Tudo porque não consegue convencer o eleitorado. Não é credível. Exactamente como nas margens do Nabão. Onde 4 vereadores da oposição nunca conseguiram, ao longo de quatro anos, derrotar ou sequer controlar os outros três da maioria relativa. Querem melhor atestado de inépcia?
Enquanto honrados cidadãos tomarenses, que vos parece? Vão continuar com o blábláblá? Prolongar a triste continuidade envergonhada? Nesse caso, já o disse: não contem comigo nem com o meu voto, nem com o meu silêncio cúmplice. Quem cala consente!
Se, pelo contrário, resolverem adoptar a atitude corajosa e digna de trabalhar em prol de Tomar, única via para não caírem definitivamente no ridículo e no descrédito, então comecem por se sentar à volta de uma mesa, sem pré-condições, tendo por objectivo conseguir uma lista de união, um candidato sólido e um programa robusto. Nesse caso, contem comigo se necessário, para o que for preciso, dentro daquilo que sei. É pouco, mas com toda a boa vontade e gana tomarense.
A bola está nos vossos pés.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

IMAGENS DA FESTA TEMPLÁRIA : Mais um sucesso...

A primeira edição da Festa Templária foi um retumbante sucesso. Nem podia ser de outra maneira. Estamos numa terra abençoada em que, memo para alcançar a Paraíso, não é necessário confessar-se, nem ir à missa, nem comungar. Basta procurar na rua principal. Logo ali, atrás da igreja.
Ciente de tal situação de nítida excepção, procurei retratar o tal sucesso retumbante. Não pelo prazer de criticar, mas apenas visando a esperança de na próxima, caso haja, as coisas já terem melhorado.


Mesmo com dinheiros de Bruxelas, via QREN > ADIRN, não sei se terá sido boa ideia fazer a festa nesta altura, quando o único acesso ao Convento para quem chega de autocarro é este. Em todo o caso, eu nunca ousaria organizar uma festa em minha casa, com o acesso à sala de visitas em obras.

No Mouchão havia muito para cismar. Como por exemplo este ar de improviso. Porque não escolheram antes o jardim da Várzea Pequena? Uma vez que as entradas não eram pagas, não se vê qual tenha sido a vantagem.

Pelo aspecto, esta carrinha, pertencente a quem explora a estalagem, deve estar aqui estacionada desde  primeiro festival da sopa. Para quê?

 Parque Municipal do Mouchão: jardim, espaço verde, ou parque de estacionamento gratuito?

Mobíliário templário de fino gosto, talvez dos finais do século XIII...Pobre terra, pobre gente, pobre relva!
Um aspecto da magnífica arrumação das barracas. Há muito espaço para os visitantes/clientes circularem sem danificar a relva. Que estará recuperada dentro de quantos meses? E quanto vai custar aos mesmos do costume?

 No primeiro plano, magnífica mesa ornamentada com plástico templário. No segundo plano a coitada da relva, cada vez mais careca e sem culpa nenhuma, apesar de tanta tortura.

 Aspecto da entrada, como se vê muito desafogada, no caso de haver necessidade de evacuar o local com urgência
 Outro aspecto da relva, que desta vez até serviu para instalar mesas e cadeiras. Quem vier a seguir que se lixe. Pagam os mesmos do costume...

 Já que insistiram com os comerciantes que deviam vestir-se de templários, não custava nada acrescentar que a cruz templária tomarense é redonda e não quadrada. Valeu?

E cá temos o culpado de tudo isto -o nosso Gualdim Pais, pai de Tomar. Em posição de fogo, como sempre, mas aqui com antenas de televisão, pombo correio e os pés atados. E vá lá, vá lá! Os nossos queridos autarcas não têm só os pés atados. São mesmo uns atados. Digo eu...
Siga o enterro!!!

domingo, 26 de maio de 2013

A esquerda não consegue convencer

Peer Steinbrück, candidato a chanceler pelo SPD, durante o recente congresso em Augsburg. Baviera, agradecendo a ovação após o seu discurso. No púlpito a palavra de ordem SPD: Decidir em conjunto. Foto Hannibal Hanschke/DPA/Le Monde

"Que projecto para a social-democracia?"

"A criação da Aliança progressista poderá significar um novo discurso sobre a Europa e a mundialização."

"Tem-se assistido à vitória da direita devido à incapacidade da esquerda para convencer."

Jean-Michel De Waele, decano da Faculdade de Ciências Políticas da Universidade Livre de Bruxelas

"Os principais interessados procuram minimizar a sua importância, mas ainda assim, a criação à margem da Internacional Socialista de uma "Aliança progressista" é o sinal evidente de que a social-democracia europeia se questiona e tenta elaborar uma doutrina, um projecto, uma iniciativa minimamente federadora.
O SPD alemão está na origem da iniciativa, que terá já conseguido a adesão de 70 outras formações políticas. Pode-se até estranhar que tenha sido necessário tanto tempo aos dirigentes socialistas para se sentirem incomodados pelo facto de a "sua" Internacional ter dado abrigo durante anos ao tunisino Ben Ali ou ao egípcio Hosni Mubarak. Até à "primavera árabe", que a social-democracia europeia também não tinha previsto, nem o SPD nem os outros europeus se sentiram molestados por tão estranha situação. Apesar de a mesma ser "terrível, inimaginável para os progressistas e democratas", refere Jean-Michel De Waele, da Universidade Livre de Bruxelas, que está a escrever, junto com outros autores um Manual para a social-democracia na Europa, a publicar em Setembro, em Londres.
No norte da União Europeia, o projecto político da Aliança progressista é mais claro: trata-se de se distanciar dos partidos do sul, vistos como arcaicos, mas igualmente de questionar a adesão, amiúde sem reservas, ao funcionamento de uma Europa que deixou de ser considerada como um motor da democracia, para se transformar no seu oposto -uma ameaça à democracia. "Nenhum politólogo conseguiu ainda explicar-me que uma democracia agrupando 500 milhões de habitantes num território tão diverso seja imaginável", nota René Cuperus. Historiador holandês, Cuperus colabora com a fundação Wiardi Beckman, o grupo de reflexão do Partido Social-Democrata Holandês-PVDA e com Policy Network, uma instituição britânica que, através de uma iniciativa designada Amsterdam Proces, ambiciona reinventar a mensagem da social-democracia.
"A Europa afirma ser um escudo contra a mundialização, mas no fim de contas não passa de uma correia de transmissão", referiu recentemente Cuperus à revista belga Knack. Daí a sua crítica ao facto de, para a social-democracia europeia, a adesão à Europa se ter transformado  "numa ideologia de substituição". Para eles "quanto mais europa melhor, mas na prática os sociais-democratas apoiam assim um projecto neoliberal, que vai contra a democracia e não encontra apoio nas bases. Uma situação totalmente esquizofrénica", conclui Cuperus.
Em vez de favorecer a esquerda, a crise económica e financeira evidenciou as suas fraquezas, analisa o professor De Waele: "A esquerda não soube capitalizar a sua crítica do neoliberalismo. Na realidade, as crises não são boas para a esquerda. É capaz de partilhar os frutos do crescimento económico, mas não os efeitos da crise. E é igualmente incapaz, salvo raras excepções, de elaborar uma alternativa para os vencidos da mundialização. Por outro lado, deve igualmente admitir que o quadro europeu que defende não é protector". Para este professor belga, as recentes eleições italianas mostraram bem as carências actuais da social-democracia. "Assistiu-se a uma vitória da direita unicamente devido à manifesta incapacidade da esquerda para convencer. E não me venham com a treta de que resultou só do talento comunicacional de Berlusconi!"
Mais genericamente, para De Waele, "a social-democracia tem muita dificuldade para incorporar nas suas análises as transformações do mundo moderno. Não consegue renovar a sua teoria sobre a mundialização, nem sobre os grandes temas contemporâneos: envelhecimento da população, migrações, segurança, solidão, política da cidade..." Reflexão que conduz este social-democrata ao âmago do próximo livro: "Onde mora a indispensável utopia da esquerda? E a "sociedade da felicidade" que nos prometiam? iPad barato e trinta horas semanais de trabalho?"
Por seu lado, René Cuperus insiste: sem questionar um projecto europeu "que já não é maioritário", a social-democracia falhará definitivamente. "Enquanto trouxe bem-estar e progresso, a Europa era tolerada. Logo que se transformou em fonte de problemas e de desemprego, o apoio popular é mais fraco", acrescenta o historiador.
Que aliás até surpreendeu os seus próprios camaradas ao apoiar o recente discurso do primeiro-ministro conservador britânico, David Cameron,  sobre a Europa. Porque este insistiu a necessidade de "retomar o contacto com a população", a propósito do projecto europeu. E também porque questionou "uma fábula eterna", segundo a qual a Europa só pode sobreviver num mundo globalizado mediante a tranferência de "todo o poder para Bruxelas".
Jean-Michel De Waele não vai tão longe. Deplora contudo que a social-democracia dê a impressão de já não ter "nem referências, nem ideias, nem debates". Nem verdadeiros líderes, de resto. "É fora de dúvida que a direita ganhou aquilo a que António Gramsci chamava a "batalha cultural", mas na realidade não está nada melhor que a esquerda. Estamos portanto doravante confrontados com uma crise do sistema democrático." O seu confrade holandês, por sua vez, antevê o mesmo problema até na Alemanha, onde "o choque entre a elite e o povo ainda não ocorreu. Quando e se tal vier a acontecer, o que será da Europa? Uma ideia angustiante, segundo Cuperus".

Jean-Pierre Stroobants, Bruxelas, Le Monde - Géo & Politique, 23/05/2013, página 5

Não será melhor ouvir as pessoas?

Foto Libération

"-Ourém, T. Novas e Leiria vão resistindo à crise, mas aqui em Tomar é uma desgraça. Nota-se o afundanço de dia para dia." Palavras de um vendedor grossista que opera na zona referida. É o segundo em menos de um mês a lastimar-se em termos homólogos. O que parece não comover minimamente nem os politiquilhos em funções nem os candidatos já anunciados, salvo uma ou outra excepção.
Insistem em vender o mesmo peixe podre de há quatro, oito, doze, dezasseis anos, convencidos de que é a melhor via para irem mantendo os assentos à mesa do orçamento local. Será mesmo? Até esta data nenhuma das formações concorrentes com hipóteses de vir a liderar se deu à maçada de ouvir as pessoas, os cidadãos, os eleitores, os pagantes. E sem isso nada feito, se querem realmente que "isto" mude mesmo.
Os actuais detentores das ruínas do poder local insistem no presidente interino, escolhido e imposto exclusivamente por Lisboa, ninguém sabe em virtude de que critérios, uma vez que nem a sondagem encomendada era inequívoca. O PS seguiu-lhes o caminho. Encenou uma mascarada num cenário imponente, que culminou com uma votação à norte-coreana, em que cada eleitor colocou a sua cruz perante os membros da mesa, não fosse dar-se o caso de..., após o que a candidata Anabela foi ungida pelo representante distrital rosa. Posteriormente alardeou disponibilidade para negociações, coligações, inclusões e etc., mas foi só conversa, pelo menos até agora. Segundo representantes das outras formações, nunca houve qualquer contacto formal, nem mesmo tentativa nesse sentido.
Para não variar, os IpT resolveram apresentar pela terceira vez consecutiva o antigo presidente Pedro Marques. Porquê? Não tinham mais ninguém? Acham que o tri-candidato cumpriu dois mandatos de sonho no século passado e que o país e o mundo não mudaram desde então? Que novidades políticas tencionam anunciar ao eleitorado? A mesma "comida" requentada?
Restam as formações marginais, que apenas ambicionam contar votos, no lote sobrante dos 90 e tantos por cento abichados pelos do costume. É pena, mas é assim. Ou será desta vez que vamos ter novidades?
Os eleitores terão percebido finalmente que sem programas claros e realistas não adianta votar?
Não será melhor ouvir previamente as pessoas? Não só para cumprir uma obrigação democrática, mas sobretudo para mudar o que está péssimo e vem transformando Tomar numa espécie de panela com o fundo roto. Há eventos, há algum investimento, há gente bem intencionada que, todavia, sem infraestruturas adequadas e sem qualidade mínima, não passam de trunfos jogados em vão. Até quando?

sábado, 25 de maio de 2013

Páginas escolhidas

Do EXPRESSO, com veneração, que a antiguidade é um posto, dizia-se nas Forças Armadas...


 Expresso - Revista, 25/05/2013, página 70

Expresso - Revista, 25/05/2013, página 71

Leitura muito instrutiva




Seria exagerado e lisonjeiro escrever que estamos perante uma obra literária. Tão pouco se pode falar, parece-me de grande escrita ou de estilo de primeira água. A agravar a situação, o editor abusou da boa- fé do leitor, aumentando um bocadinho o tipo de letra e exagerando no espaçamento dos diálogos (ver ilustração supra). De tal modo que as 278 páginas do livro caberiam facilmente em menos de duzentas, com uma arrumação mais conforme aos tempos de poupança que correm.
Ainda assim, trata-se de leitura muito instrutiva para todos aqueles que, a qualquer título, se interessam pelo palco político português e pela micro-pista eleitoral nabantina, na qual praticamente não há políticos. Apenas figurões e figurantes.
Dois excertos para iniciados:

"O professor e ex-amante dissera-lhe:
-Pense lá numa coisa, minha menina. A democracia é relativa, certo?
-Em que sentido?
-Bom, temos alguns independentes, a maioria é massacrada pelas organizações partidárias. E depois temos cerca de duzentos mil militantes. São eles que governam. São sempre eles. Não muda. E a mudar, como aconteceu com o Ricardo Leal Raposo, vindo da juventude partidária, é como um legado que os mais velhos acompanham, mimam, e fazem crescer. Ninguém tem a oportunidade de furar este esquema. Se se quer mudar o mundo, temos de votar, e votando só temos estes senhores em quem votar. Parece-lhe democrático?" (Página 242)

... ..."Que o ministro-adjunto tivesse mais poder que o primeiro-ministro só podia pasmar o povo. Os jornalistas já se tinham habituado e alguns também pertenciam a uma qualquer loja que devia Obediência à Loja-mãe. Sim, ela sabia disso." (idem)

E depois ainda querem que eu vá votar nas próximas autárquicas? Para quê?

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Mais uma tentativa pedagógica...

A basílica da Sagrada Família em Barcelona, cujas obras duram há mais de 50 anos. A capital catalã "é a única cidade espanhola com uma imagem de marca internacional", segundo o jornal EL PAÍS. Foto Consuelo Bautista/El País.


O turismo urbano em Espanha - Pernoitas hoteleiras em milhões

INE - Espanha/Exceltur/El país

Numa altura em que se desenrola em Tomar a 1ª Festa Templária, uma iniciativa de envergadura pilotada sob a égide da ADIRN, pareceu ser oportuno facultar aos tomarenses a leitura do texto "O turismo urbano é outra saída" que ocupa duas páginas da edição de ontem do EL PAÍS. Não que os ainda residentes precisem de se reciclar. Estão convencidos de que já sabem tudo, além de que todos os eventos realizados em Tomar até esta data têm sido grandes sucessos. Sem qualquer excepção. Por conseguinte, a tradução do citado texto espanhol é sobretudo para quem já foi forçado a ir respirar para outros lados, bem como para a ínfima minoria local que ainda não abandonou o hábito de aprender. Ovelhas ranhosas, em suma.
Quanto à Festa Templária, mais tarde se virá a saber se foi ou não bem calibrada para a muito exigente mas bastante bacoca Capital Templária.
Uma última nota. O escrito seguinte refere-se a grandes cidades de um dos três países que mais turistas estrangeiros recebem a nível mundial -França, Espanha, Itália. O que significa totais anuais superiores a 70 milhões de visitantes. Comparando com os 12 milhões vindos a Portugal, ou com os 180 mil que visitaram o Convento de Cristo em 2012, vê-se bem que estamos a falar de mundos diferentes. Mas é com os grandes sucessos que temos de aprender. Ou não?

"O TURISMO URBANO É OUTRA SAÍDA"

"O sector exige aos diversos poderes que se impliquem para atrair visitantes às cidades, para minorar a queda do consumo interno. Só Barcelona e Palma de Maiorca estão a conseguir evitar a crise"

"O turismo é uma actividade-chave na economia espanhola e na sua recuperação. Os empresários do sector julgam chegado o momento de implementar decididamente uma ideia que sempre esteve presente: procurar a melhor forma de explorar o potencial do turismo urbano, as visitas das cidades. Longe do sol e das praias, há muito para explorar em Espanha. "A recuperação de todas as crises económicas vem do exterior. E é isso que vai suceder uma vez mais. As exportações e o turismo serão os sectores que nos permitirão ultrapassar a crise", afirma Josep Piqué, presidente da companhia aérea Vueling. 
O turismo de sol e praia escapa à crise, graças aos turistas estrangeiros. Já o turismo urbano, que gera 16% do PIB das cidades, tem de arrancar, pois não se deve perder de vista que se trata do subsector mais afectado pela redução do consumo e da confiança dos espanhóis, que constituem a maior parte da procura.
Para salvar o turismo urbano da crise (cujas receitas caíram 4,6% em 2012), os especialistas têm receitas claras. Tanto os empresários como os autarcas. O futuro passa por vender as cidades espanholas no estrangeiro, como destinos e experiências de turismo, sobretudo nos países emergentes ("por mais longínquos que sejam", segundo o presidente da câmara de Málaga, Francisco de la Torre), uma vez que são os que mais crescem economicamente.
Contudo, as cidades espanholas estão ainda muito longe de figurar no topo das preferências dos turistas europeus, os maiores clientes de Espanha, afirma Federico Gonzalez Tejera, conselheiro delegado de NH Hoteles, a principal cadeia de estabelecimentos urbanos. "Só Barcelona tem uma marca no exterior, e talvez Valência e Málaga", acrescenta.
Na sua opinião, os planos estratégicos implementados pelas diversas administrações foram muitos mas os resultados foram poucos. "Há que implementar um programa de acção de curto prazo, com objectivos bem definidos, para o levar à prática com um calendário preciso e obter resultados palpáveis, em vez de lançar mensagens descoordenadas de cada administração. Quantas campanhas de promoção existem em Espanha que não são difundidas pelo que são também desconhecidas no estrangeiro", foi uma pergunta frequente durante a recente conferência "O turismo -motor estratégico para o desenvolvimento local", organizada pelo lóbi Exceltur. Os grandes empresários reclamam ao governo que inclua a primeira indústria nacional entre os seus objectivos estratégicos.
Para isso, realizaram uma acção pioneira no Mundo, indica Óscar Perelli, director de estudos da organização empresarial antes citada, a qual consiste em medir através de 57 indicadores a posição relativa de cada um dos 20 principais destinos de turismo urbano em Espanha. Perante os resultados, Perelli refere que as urbes com melhor governança -aquelas cujas autarquias incluíram o turismo entre as suas prioridades organizativas, orçamentais e de agilidade de gestão, designadamente com portais digitais que permitem aos clientes comprar online, bem como acções promocionais na redes sociais- são as que ocupam os primeiros lugares nos painéis classificativos. É o caso de Barcelona, S. Sebastian e Gijón, cujos autarcas consideram o turismo como um elemento importante do desenvolvimento económico, trabalhando para o potenciar junto da iniciativa privada. Além disso, continua Perelli, estas capitais são também as que conseguem melhores resultados na área do turismo.
Barcelona é o ícone espanhol do turismo urbano. A cidade que melhor tem sabido gerir a sua imagem no estrangeiro e atrair visitantes. Por isso, na opinião dos empresários, é a única cidade que conseguiu passar ao lado da crise que é transversal a todo o sector. A gestão da Câmara de Barcelona (desenvolvendo um plano estratégico ambicioso e com orçamento adequado), está na base desse resultado, que faz da capital da Catalunha um modelo turístico rentável, de grande impacto na sua economia, conforme reconhece o seu presidente Xavier Trias, que considera ser a sua cidade o quarto maior destino de turismo urbano na Europa, o primeiro em cruzeiros, o segundo em compras, e o quinto em qualidade de vida, com 26 milhões de visitantes e 7,5 milhões de turistas estrangeiros.
Resultados que certamente não teriam sido possíveis sem os Jogos Olímpicos de 1992, que colocaram a capital catalã no mapa mundial do turismo, nem sem a promoção da sua marca no estrangeiro, ou a atracção de eventos como a fórmula 1, o campeonato de vela, o festival de jazz, ou a Primavera Sound, que atrai 130 mil pessoas, das quais 40% são estrangeiros, assinala o autarca. "A nossa aposta requer investimento mas cria riqueza", afirma Trias, que dá como exemplo os quatro milhões que a Câmara de Barcelona investiu nas corridas de Fórmula 1, as quais geraram 120 milhões nos negócios da restauração e hotelaria. "Custa dinheiro, mas temos de o fazer porque cria imagem no mundo e isso leva-nos à recuperação económica", acrescenta. A  edilidade aposta agora nas novas tecnologias e na mobilidade para atrair visitantes e vai incrementar a colaboração público-privada.
Nessa colaboração, o modelo será o de Palma de Maiorca. O autarca balear estava convencido de que a única maneira de conseguir a retoma económica da cidade era através do turismo. Por isso, há dois anos apostou em converter Palma num destino de turismo urbano, "cuja marca era inexistente. Vivíamos do turismo de sol e praia", esclareceu. A falta de verbas para essa acção levou a criar uma fundação com 30 patronos (Todos empresários do sector turístico. Em Maiorca estão sediadas as cinco primeira cadeias hoteleiras espanholas). Cada um doa anualmente 100 mil euros à fundação para potenciar o destino. "Agora Palma é uma cidade diferente. E a única além de Barcelona que conseguir passar ao lado da crise do turismo urbano", informa Amâncio Lopez, presidente da cadeia hoteleira Hotusa, que espera para este ano o fim da crise e a retoma geral no próximo.
Para criar o destino Palma, deu-se ênfase ao desenvolvimento de bancos de experiências "porque para o cliente tanto se lhe dá uma cidade com outra; o que quer é navegar, fazer compras, participar em experiências", diz satisfeito o edil malhorquino. A cidade promoveu produtos específicos desportivos, teatrais, gastronómicos, musicais...As esplanadas duplicaram e facilitou-se a abertura dos estabelecimentos aos fins de semana. "Graças às receitas geradas pelos turistas, a câmara de Palma de Maiorca já conseguiu amortizar 70 milhões de euros da sua dívida".
Em Málaga, o presidente da edilidade, António de la Torre, esclarece que desde há sete anos que tem procurado criar novos produtos ad hoc para turistas: "Começámos com cruzeiros, congressos e museus. Nos últimos sete anos multiplicámos por três o número de participantes em congressos e por dois o de cruzeiros". Actualmente Málaga aponta ao desenvolvimento do turismo tecnológico.
Em Sevilha, a aposta consiste em converter-se num destino de cruzeiros fluviais, aproveitando o rio Guadalquivir. O autarca sevilhano Juan Ignácio Zoido assegurou-nos que estão a investir 22 milhões de euros para o conseguirem. "Temos que oferecer produtos concretos", concluiu."

Carmen Sánchez-Silva, El País, 23/05/2013, páginas 32/33

Entretanto aqui em Tomar é como se sabe. Vamos de vento em popa, rumo ao abismo. Mas como diria um espanhol se aqui vivesse: "No pasa nada!"

Para digerir durante o fim de semana...

Jornal i, 24/05/2013, última página

...com água das pedras e sais de frutos, que a comida é bastante forte. Basta pensar que, com uma população de 16,7 milhões, a Holanda têm actualmente apenas 150 mil funcionários, que pretende reduzir em 12% = 18 mil. Apesar de um défice de 4,1% do PIB e uma dívida soberana de 67%. Com pouco mais de dez milhões de habitantes, Portugal emprega 609 mil funcionários = quatro vezes mais que a Holanda, apesar de um défice de 5,5% do PIB e uma dívida soberana de 127%. E mesmo assim, quando o governo anuncia querer rescindir com 30 mil funcionários públicos, menos de 5%, cai o Carmo e a Trindade! Estranho país este, cujos habitantes recusam aceitar a realidade, as coisas como elas são.
E já que falamos de funcionários, o Município de Tomar dá emprego a 571 cidadãos = 14 por mil habitantes. Na mesma proporção, a Holanda deveria ter 234 mil funcionários ao seu serviço. E não tem, nem lá perto! Estão a ver o filme, ou precisam de mais explicações?

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Se gosta de boa leitura...



É a obra mais recente de Carlos Vale Ferraz, o tomarense e coronel comando na reforma Carlos Matos Gomes, antigo aluno do Colégio Nun'Álvares.
Num estilo cativante, o narrador vai-nos conduzindo através das vicissitudes de um legionário forçado pelos seus superiores a casar com uma rapariga a quem antes matara o pai, um opositor ao regime salazarista. Apaixonante. Tanto mais que o dito narrador é uma freira  com dúvidas crescentes 
Os tomarenses oposicionistas de antes do 25 de Abril apreciarão particularmente as referências às conhecidas figuras locais Fernando Lopes Graça e Augusto Alves Henriques. A ler sem falta, para melhor perceber a sociedade em que vivemos e as guerras que houve.

Bons tempos!

Cidade de Tomar, 24/05/2013, página 31

Que bela vida devem ter vivido os tomarenses nos anos 20! Nessa época havia no concelho só 38 cegos totais, uma dúzia de doidos, 27 idiotas e 118 aleijados. Actualmente, 93 anos volvidos, que saudade!  Só na política local já é o que se vê. Na população concelhia em geral, citando o Guterres, " É só fazer as contas!"

quarta-feira, 22 de maio de 2013

Autárquicas: As ilusões do costume


A cidade afunda-se no desemprego crescente, na miséria para alguns, no desespero dos jovens, nos prédios em ruínas, nas falências, nas ruas porcas e na apatia geral. A população vota com os pés quando pode. Perdemos 2400 habitantes em dez anos. Os pseudopolíticos locais continuam a sua obra: a realidade é que tem de mudar, porque nós estamos cheios de razão. 
Salvo muito improvável sobressalto de última hora, nas próximas autárquicas vamos ter seis formações concorrentes; as do costume. Três grandes em votos abarbatados = eleitores ludibriados; três pequenas ou cambutas, com os sufrágios costumeiros. Das três primeiras, já o escrevi antes, nada há a esperar. No mandato que vai terminar, se o PSD nada melhorou, antes pelo contrário, PS e IpT tão pouco foram capazes de dominar o laranjal, apesar de jogarem a 4 contra três. Se nem assim, valerá a pena insistir na asneira?
Pelas bandas dos minorcas, sendo a situação o que é, só a CDU ainda poderia conseguir alterar substancialmente a relação de forças, buscando acordos à esquerda (BE) e à direita (PS, IpT). É porém quase certo que o não conseguirá, conhecida a nula elasticidade dos líderes respectivos. Embora cientes, no que concerne a alguns deles, da sua evidente fraqueza, apostam no antijogo, na obstrução: enquanto eu o ocupar, ninguém me rouba o lugar.
Assim, serão três os grandes grupos de eleitores em Setembro ou Outubro. Em primeiro lugar, destacado, o dos desiludidos, que já perceberam que isto não tem conserto, pelo que nem vale a pena perder tempo a ir votar. Serei um deles. Seguem-se os que, não conseguindo ver mais, votam no mal menor,  no candidato que joga em casa. Finalmente, a malta da pesada, a esquerda pura e dura, que não vota para ganhar, sequer para eleger o seu candidato. Apenas para se contarem. Ficarão todos satisfeitos se conseguirem mais votos que há quatro anos.
A seguir teremos mais quatro anos a partir pedra, a serrar presunto, a deixar correr o marfim e a mastigar marmelada. E assim sucessivamente, até que haja concelho. Como já houve em Paialvo. Como já houve na Asseiceira...

terça-feira, 21 de maio de 2013

Alargando informação...


O nosso colega Tomar na rede -a quem agradecemos a boleia- noticia hoje que "Desemprego aumenta em Tomar", com 2.154 pessoas à procura de emprego. Mais precisamente 1.106 homens e 1048 mulheres, entre os quais 269 têm uma licenciatura. Acrescenta o estimado confrade que há mais 100 inscritos do que há um ano e que os números avançados são relativos, por não incluírem os que estão em formação, com tarefas temporárias, ou já desistiram.
Querendo alargar a informação, pois no mundo moderno sem compararmos não entendemos grande coisa, fui ao Pordata, o tal portal dito do merceeiro, apesar disso muito útil, onde encontrei outros dados, que constam do quadro seguinte. Assim: primeira coluna concelho, segunda coluna total de desempregados em Abril de 2013, terceira coluna população activa em 1960, quarta coluna população activa em 2011; quinta coluna percentagem de desempregados em relação à população activa. A vermelho os concelhos em que a população activa diminuiu entre 1960 e 2011.

Abrantes - 2.847/19.208/16.710/17,0%
Alcanena - 573/5.734/6.453/8,87%
Almeirim - 1.533/7.243/10.949/14%
Alpiarça - 517/3.764/3.444/15,01%
Benavente - 2.230/5.233/14.758/15,11%
Cartaxo - 1.399/9,042/11.638/12,02%
Chamusca - 572/6.548/4.474/12,78%
Constância - 243/1.428/1.848/13,04%
Coruche - 1.250/12.357/8.593/14,54%
Entroncamento - 958/2.530/9.785/9,79%
Ferreira do Zêzere - 309/5.615/3.315/9,32%
Golegã - 255/2.542/2.414/10,56%
Mação - 315/6.478/2.486/12,67%
Ourém - 1.978/15.317/20.830/9,49%
Rio Maior - 1.192/7.464/9.988/11,93%
Salvaterra de Magos - 1.779/6.956/10.095/17.62%
Santarém - 3.737/25.269/28.646/13,04%
Sardoal - 267/2.323/1.612/16,56%
Tomar - 2.154/16.033/16.826/12,80%
Torres Novas - 1.763/13.764/16.600/10,62%
V. N. Barquinha - 300/2.372/3.027/9,91%

O que nos dá o seguinte quadro, ordenado de acordo com a taxa de desemprego, por ordem crescente:

Alcanena - 8,87%
Ferreira do Zêzere - 9,32%
Ourém - 9,49%
Entroncamento - 9,79%
V. N. Barquinha - 9,91%
Golegã -10,56%
Torres Novas - 10,62%
Rio Maior - 11,93%
Cartaxo - 12,02%
Mação - 12,67%
Chamusca - 12,78%
Tomar - 12,80%
Santarém - 13,04%
Constância - 13,14%
Almeirim - 14%
Coruche - 14,54%
Alpiarça - 15,01%
Benavente -15,11%
Sardoal - 16,56%
Abrantes - 17,03%
Salvaterra de Magos - 17,62

Perante isto, tudo bem para Tomar, que está a meio da tabela? Depende dos pontos de vista. O mais corrente será se calhar este: Com tanta aselhice, vá lá que não estamos assim tão mal. Porém, se tomarmos como base de raciocínio os ganhos e perdas em população activa, o caso muda de figura. No meio século entre 1960 e 2011 podemos formar três grupos: Os vencedores, que conseguiram mais de mil novos activos, O Portugal dos pequenitos, com os que se ficaram aquém de mil novos activos, embora tenham crescido, e os Desgraçadinhos, cuja população activa diminuiu, pelo que estarão condenados a longo prazo, caso não consigam entretanto inverter a tendência.

1 - Os vencedores

Benavente + 9.525 novos activos no período 1960/2011
Entroncamento +7.255 novos activos
Ourém + 5.573 novos activos
Almeirim + 3.706 novos activos
Santarém + 3.377 novos activos
Salvaterra de Magos + 3.139 novos activos
Torres Novas + 2.836 novos activos
Cartaxo + 2.596 novos activos
Rio Maior + 2.524 novos activos

2 - Os desgraçadinhos ou condenados

Mação -3.992 acivos entre 1960 e 2011
Coruche -3.764 activos entre 1960 e 2011
Abrantes -2.498 activos
Ferreira do Zêzere -2.295 activos
Chamusca -2.074 activos
Sardoal -711 activos
Alpiarça -320 activos
Golegã -128 activos

3 - Portugal dos pequenitos

Tomar + 793 novos activos entre 1960 e 2011
Alcanena + 719 novos activos
V. N. Barquinha + 655 novos activos
Constância + 420 novos activos

Vistas as coisas sob este ângulo, convenhamos que Tomar (38.070 eleitores) no mesmo grupo de Alcanena (12.148 eleitores), Barquinha (6.592 eleitores) e Constância (3.467 eleitores), está por assim dizer como o União de Tomar na 3ª divisão distrital, a jogar com o Bidoeirence, que nem sei onde fica.
Não se ponham a pau não!  E depois lastimem-se, que vai servir de muito.



segunda-feira, 20 de maio de 2013

Pobre Casa Grande da Ordem - 3

 Excerto do mapa do pessoal do Convento de Cristo, aprovado em 2009 - Técnicos Superiores
 Excerto do mapa do pessoal do Convento de Cristo - Outros efectivos

Excerto da apresentação da Empresa "Parques de Sintra - Monte da Lua" no seu portal internet.

Além dos problemas já assinalados em textos anteriores (acessos, sinalização, entrada ridícula e inadequada), convirá focar ainda o encerramento nalguns feriados, o horário de abertura tipo função pública (9H00 - 17H30), com venda de bilhetes só até meia hora antes do encerramento, a fraca sinalização, uma directora intratável, o atendimento que deixa muito a desejar, sobretudo quando se ousa interromper algum funcionário a jogar "Farmville" no computador e nas horas de serviço, e sobretudo a manifesta falta de qualidade das prestações, apesar do custo das entradas não ser nada modesto.
Face a tudo isto, o leitor menos cauto já estará quiçá a pensar que deverá haver falta de pessoal, ou falta de qualificação dos que lá estão. Falta de pessoal não é certamente. Estão colocados no Convento de Cristo 24 funcionários efectivos, com destaque para cinco quadros superiores. Além dos efectivos, haverá mais alguns eventuais, num total geral de 37, de acordo com os dados que foi possível confirmar.
Antes da transferência do Convento da Direccção-Geral da Fazenda Pública para o então IPPAR, nos anos 80 do século passado, havia apenas cinco guardas e um jardineiro, que dependiam do chefe das Finanças de Tomar. As entradas eram gratuitas, as visitas todas guiadas e os horários alargados, na mira das gratificações. Decorridos todos estes anos, há cinco técnicos superiores com vencimentos ilíquidos superiores a 2.500 euros, excepto num caso, havendo outro que aufere mesmo bastante mais que a directora.
Por insólito que possa parecer, ninguém no exterior consegue vislumbrar o que fazem realmente tais técnicos. O mais bem pago deles todos nem sequer tem funções atribuídas, (ver ilustração supra), o que é bastante estranho, tendo em conta que foi requisitado ao IPT, certamente com algum objectivo preciso. É voz corrente na cidade que a maior parte destes técnicos superiores apenas vão ao Convento de tempos a tempos. Exactamente como acontece com alguns dos seus superiores hierárquicos afectos ao Palácio da Ajuda, sede da sucessora do IGESPAR, a DGPC.
O pitoresco no meio disto tudo reside no facto de, cinco séculos volvidos, se ter praticamente restabelecido na Casa Grande da Ordem a orgânica que foi a sua antes da reforma de 1529, que a transformou em ordem de frades de cógula.
Tal como então, temos cinco comendadores, encabeçados pelo mestre (a directora e os outros quatro quadros superiores), vêm a seguir os 19 cavaleiros (os outros efectivos) e finalmente os escudeiros, os aios, os pajens, os serviçais e outro pessoal menor. Ao que parece haverá até quatro ordenanças ao serviço doméstico da casa da alapada senhora directora, detalhe que obviamente ninguém quer confirmar.
Perante um problema semelhante, o presidente da Câmara Municipal de Sintra, Fernando Seara, que também é do PSD, mas do sector inteligente, foi lesto. Logo que conseguido o estatuto de Património da Humanidade, fundou uma Empresa de capitais públicos para gerir todo o património monumental (ver ilustração supra).
Claro que Tomar não é Sintra. Está mais longe de Lisboa. Mas mesmo assim, a esta distância física e com tanta asneira, segundo dados oficiais da DGPC, o ano passado o Convento de Cristo registou 183 mil entradas, das quais 124.500 a pagar = 748.754€ de receita. Como o pessoal que por lá recebe custa cerca de 500 mil euros anuais, mesmo abatendo outros custos, fica um saldo positivo jeitoso. Os nossos magníficos autarcas do executivo estarão à espera de quê, para seguir o exemplo de Sintra?
Se a tratar mal os turistas, o Convento ainda consegue atrair anualmente perto de 200 mil visitantes, imagine-se o que será quando por lá houver serviços de qualidade...

PS: -Naturalmente que Tomar a dianteira tem em seu poder as listas nominais completas do pessoal colocado no Convento de Cristo. Entendeu-se no entanto omitir os nomes, uma vez que o objectivo é a ultrapassagem dos múltiplos berbicachos e não enxovalhar as pessoas. Mas não abusem demasiado...

Pobre Casa Grande da Ordem - 2

Pobre Casa Grande da Ordem! As trapalhadas são tantas que uma pessoa nem sabe por que ponta começar. Vamos pelos acessos.


Para quem chega de autocarro, desce no pequeno largo a poente do Pátio dos Carrascos. Começa então o calvário. O longo caminho até à Porta de S. Tiago, a nascente faz-se por uma espécie de manga para animais, encostada à fachada norte do monumento. Ao lado, o panorama é este. A foto foi tirada ontem à tarde.


Alcançada a Porta de S. Tiago, ultrapassada a do Sol, percorrido o jardim de entrada e galgadas as escadas monumentais (percurso nada evidente para quem chega pela primeira vez), normalmente a entrada devia ser por este portal manuelino, o Portal da Virgem, por onde se fez durante séculos. Mas não!


Antes de chegar ao referido portal há uma indicação (à esquerda na foto) apontando para norte.


Os visitantes lá vão...


...acabando por percorrer esta via, onde não cabem obesos, nem carrinhos de bébé, nem cadeiras de rodas. Só depois ficarão a saber que a entrada custa seis euros, e permite depois andar ao Deus dará, perdido dentro do monumento, visto que não há visitas guiadas. Só mediante marcação prévia (o que como se calcula é muito prático para turistas individuais, posto que só aceitam grupos) "consoante a disponibilidade do serviço." 
Se não estão mesmo a gozar com as pessoas, imitam muito bem.


Concluída a "visita", após algumas tentativas infrutíferas, lá se consegue alcançar esta porta de saída, na fachada norte do monumento, entre o claustro da Micha e o da Hospedaria. Curiosamente, só então se fica a saber, caso interesse, que esta saída é também a entrada para cadeiras de rodas, conforme indicação do lado direito da foto. Para quem a consiga ver!


Já cá fora vê-se então esta  indicação, tornada necessária pelas obras de Santa Engrácia, que já duram há mais de dois anos e ninguém sabe ainda quando vão acabar.

Se a tudo isto juntarmos uma directora intratável e ditadora, que abancou no próprio monumento, dele fazendo residência e umas dezenas de funcionários cuja principal categoria não decerto o apego ao trabalho, tudo leva a supor que, tal como sucede com os profissionais contactados, todos juram "Convento de Cristo?! Nunca mais!!!"

domingo, 19 de maio de 2013

"Economistas em crise"

"Poucos conseguiram prever a catástrofe que mergulhou uma parte do mundo na recessão desde 2008. Nenhum achou ainda qualquer remédio eficaz. Perdidos nos seus cálculos, estarão os grandes teóricos a ficar cegos?"

"A crise busca um arauto, um gourou, um profeta ou até um mágico. Alguém assaz visionário para desatolar o Velho Continente dos problemas da dívida excessiva, da falta de crescimento económico e do desemprego dramático. Um "doutor" capaz de devolver à economia americana o vigor e a liderança a que nos habituou. Há já mais de cinco anos que dura a crise, uma crise económica que se transformou numa crise dos economistas. Muitos aguardam, com esperança. Mas a maior parte juntou-se ao grupo dos "aterrados", dos consternados, dos catastrofistas ou dos declinistas. Onde está o Keynes do século XXI? O Adam Smith da era Internet?
Durante todos estes anos, muitos "especialistas" denunciaram o que tínhamos feito a mais ou a menos, mas muito poucos conseguiram prever a catástrofe e nenhum conseguiu elaborar uma tese convincente para a ultrapassar. "Os nossos economistas de topo mostram-se muito convictos, mas percebe-se que estão perplexos", observa Jean-Luc Gréau, autor de "La trahison des économistes", Gallimard, Paris, 2008. É um mal-estar compreensível. Os "trinta gloriosos" pertencem ao passado e o desemprego assume proporções de fatalidade. As teorias validadas pelo sucesso nestes últimos decénios parecem agora em vias de ser invalidadas: o liberalismo de um lado, o keynesianismo do outro.
A explosão do capitalismo encostado à finança, em 2008, começou por pôr em causa os ardentes defensores do"mercado", vedeta da política económica nos anos de Reagan e Thatcher, a seguir a 1980. Desde 2010, a bancarrota de alguns estados da zona euro evidenciou as falhas de um modelo apoiado num crescimento a crédito e num estado social ultra-generoso. O suficiente para desacreditar os advogados do relançamento pelo incremento da despesa pública. "Em 2009 disseram-nos "a crise acabou" e afinal, insiste Gréau, não conseguimos sarar as feridas. Estamos a tratar a doença com mais doença. Fala-se da doutrina keynesiana, mas na realidade trata-se apenas de um fóssil." "Desde 2008 que caminhamos no escuro, às apalpadelas", acentua Paul Jorion, antropólogo, sociólogo e economista, no seu livro "Misère de la pensée économique", Fayard, Paris, 2012.
Para boa parte dos universitários, as causas deste mal são conhecidas. Se o remédio é mesmo assim tão difícil de encontrar é porque esta crise é diferente de todas as outras. Não se trata do rebentamento de uma bolha, mas de algo bem mais grave. "Esta crise faz parte das grandes crises cíclicas do capitalismo, tal como a de 1929, constata Philippe Askénazy, investigador no CNRS e membro do movimento "Economistas aterrados". Estamos perante um fenómeno espectacular que em 2008-2009 mergulhou mais de metade dos países do mundo na recessão. Nós, os economistas, julgávamos dispor dos recursos necessários para resolver o problema. Toda a gente estava convencida disso. Mas afinal, nada funcionou como previsto. Estamos por assim dizer numa situação de ausência de gravidade."
A economia mundial ficou parecida com o célebre cubo de Rubik. Dramático? Clássico, pensa Askénazy": "Desde o princípio do século XX, cada uma das grandes crises originou novas teses. A de 1929 originou o keynesianismo pós-guerra, que alimentou os "trinta gloriosos". Mas essa teoria gerou depois o enigma da "estaglafação", um misto de inflação e ausência de crescimento. Por sua vez, esse fenómeno misterioso forçou outros desenvolvimentos teóricos, os quais conduziram, no final dos anos 70, ao aparecimento da escola dos monetaristas e dos neoliberais."
Estes cinco anos de perplexidade económica e de apalpadelas políticas desde 2008, mesmo parecendo uma eternidade, mais não fazem afinal que corresponder ao lapso de tempo necessário para que uma nova escola de pensamento ultrapasse a anterior. É como se nos faltasse um pouco de tempo para que um economista se destaque. À maneira de François Quesnay, o cirurgião-barbeiro de Luis XV que aproveitou algumas "sangrias" para sussurrar a Sua Majestade as novas ideias dos fisiocratas.
Eis quanto, para a teoria. Agora falta só a prática: encontrar a tal ave rara. Para resolver tal equação, o ideal seria que a profissão fizesse o seu exame de consciência. Porque esta crise alimentou muitos rancores. Não só porque apenas os "Dr. Doom", esses profetas da desgraça, previram a crise, mas também porque se acusam os economistas de ter traído a disciplina, dividindo-a em fatias, em domínios estritos (emprego, finança...) produzindo assim micro-especialistas, sem que algum deles tenha uma visão assaz transversal para perceber um mundo cada vez mais complexo e misterioso.
Mais imperdoável ainda é terem transformado as ciências económicas num exercício matemático. A beleza das demonstrações e o rigor dos raciocínios adoptados, nomeadamente pela Escola de Chicago, nos anos 80, seduziram bastante. Demasiado mesmo. Ao ponto de levarem os nossos especialistas a esquecer que a economia é uma ciência social, logo imperfeita. Os dois famosos economistas Kenneth Rogoff e Carmen Reinhart são disso o exemplo perfeito: Persuadidos de terem encontrado o número mágico (90%), além do qual a dívida pública seria desastrosa para a economia, foram afinal forçados a reconhecer que estavam equivocados nesse ponto, no final do último mês de Abril.
Mas o vício da matematização da economia provocou outros estragos. "A ciência adora entrincheirar-se numa torre de marfim, feita de matemática. de grego ou de latim, de história, de axiomas ou outros rituais sagrados, santuários ilegítimos onde os sábios escapam às críticas dos outros campos do saber e do público em geral", escreve Tomas Sedlacek, ex-conselheiro económico de Vaclav Havel, na sua obra "L'économie do bien et du mal" Eyrolles, Paris, 2013, 382 páginas, 25 euros. "A matemática arredou as emoções. Temos edificado prédios teóricos sem arquitecto. Prédios que não são bonitos nem feios. São sem sentido."
Segura de si, arrogante, a economia ter-se-à assim transformado, segundo Sedlacek, numa religião cujos princípios são os seguintes: trabalhar arduamente e optimizar a rentabilidade, tudo baseado numa bíblia de estatísticas à priori infalíveis. Para ele, a economia está agora a pagar o facto de ter perdido os seus matizes "em benefício de um mundo tecnocrático a preto e branco." Outrora ligada à filosofia, a ciência económica teria começado a desdenhar as ciências sociais. Sucede que "nunca será bom economista quem é só economista". Transformados em puros alocadores de riquezas, os nossos teóricos terão resvalado para o cinismo: "Imagino um economista encarregado de optimizar o trabalho de uma orquestra, escreve Vaclav Havel no prefácio da edição original do livro de Sedlasek antes citado, "Julgo que esse economista eliminaria todos os silêncios das sinfonias de Beethoven..."
Esta crise força-nos a repensar a economia. A não ser que todas estas reflexões sejam em vão. Porque os mais fatalistas imaginam já que estamos a assistir ao fim de um mundo -este que conhecemos. O crepúsculo da economia ocidental, outrora florescente, teria chegado. O mundo, mimado por anos de sobre-exploração, terá chegado ao limite daquilo que pode produzir e os nossos cérebros ao limite do que podem inventar. Esquecer a corrida ao crescimento: o planeta terá atingido o seu "ponto estacionário". O economista americano Robert Gordon lembra que "Antes de 1750 não havia crescimento económico. Os progressos destes últimos 250 anos podem não passar afinal de um episódio único na história da humanidade, em vez do tal crescimento sem fim."
As teses sobre o apocalípse económico reaparecem a intervalos regulares, esclarece o historiador Jean-Marc-Daniel. Em cada crise, ou quase,  os que pensam que nenhuma inovação voltará a ter o poder   multiplicador da electricidade ou da máquina a vapor, insistem na sua visão. Uma espécie de maltusianismo revisitado. Com alguns matizes, porém: contrariamente a Thomas Malthus, o pastor anglicano que pensava que o povo devia reduzir os actos sexuais para poder continuar a evitar a fome, uma vez que a terra não produziria o suficiente para tantos novos habitantes -os teóricos de um estado estacionário pensam que é o nosso cérebro que atingiu os limites.
Basta observar com atenção, dizem-nos: as inovações actuais, como o iPad ou o telemóvel têm muito menos impacto sobre a produção, do que o avião ou o tear mecânico. "Ignoram que as inovações revolucionárias do futuro talvez estejam já escondidas algures", assegura Jean-Marc Daniel.
Dado que a economia se transformou numa religião, há que continuar a ter fé..."

Claire Gatinois, Le Monde, Culture & Idées, 18/05/2013, página 6


Pobre terra, pobre gente...


A foto, de ontem, mostra uma cena típica e corriqueira em Tomar: prédios em ruínas, ruas desertas, lixo e entulho por todo o lado. Só falta um cão a aliviar-se. No primeiro plano, um exemplo do abandalhamento a que já chegou a autarquia. Após terem demolido um pequeno imóvel irrecuperável e transportado o respectivo entulho, funcionários camarários levaram três semanas para montar os andaimes, picar a parede, rebocar e pintar. Aceita-se. Era inverno e tem de se deixar secar a massa, para ir sacando outra massa.
Três meses depois, o entulho resultante da renovação da parede ainda ali está, já com ervas e tudo. Certamente que na câmara o trabalho é tanto que nem tem havido tempo para o mandar carregar e levar. Tudo indica porém que em Outubro próximo já estará tudo limpinho. Pudera!
Haja paciência! E não se esqueçam de ir votar, que vale bem a pena. Como está à vista...

sábado, 18 de maio de 2013

Pobre Casa Grande da Ordem!

Para os leitores menos versados nestas coisas, pois nunca se sabe tudo, salvo sendo tomarense de gema e com afigurações, Casa Grande da Ordem = Convento de Cristo, sede da Ordem do mesmo nome e antes, durante quase três séculos, sede da Ordem dos Templários.
Pobre Casa Grande da Ordem porque agora, ao que tudo indica, até já resolveram maquilhar as estatísticas, sabe-se lá com que intenção. Veja-se com atenção o quadro abaixo:

Fonte: Portal do IGESPAR

Clicando sobre a figura, para ampliar, resulta que o Convento de Cristo teve em 2008 171.271 visitantes, 154.288 (-9,92%) em 2009 e 154.438 (+0,1%) em 2010. Nos mesmos anos, Alcobaça recebeu, respectivamente, 208.119, 193.254 e 183.183. Quanto à Batalha, registou sucessivamente 309.483, 300.797 e 285.579.
Temos assim uma tendência geral de diminuição de visitantes, que passam de 171.271 para 154.438 em Tomar; de 208.119 para 183.183 em Alcobaça; de 309.483 para 285.579, na Batalha. Em ambos os casos, nitidamente num patamar acima do Convento de Cristo.
Entretanto, a tomarense Iria Caetano aposentou-se, o que implicou a nomeação de nova directora, no caso interina, posto que empossada sem concurso prévio. E parece ter havido logo uma nova edição do milagre da multiplicação dos pães, neste caso dos visitantes, o que nem espanta, dada a santidade do lugar. Seja como for, de acordo com os dados oficiais que seguem, parece ter havido uma súbita corrida para visitar o Convento de Cristo:




Conforme se lê no quadro 18, verificou-se uma redução de visitantes de 2011 para 2012, a qual atingiu 7,7% no Convento de Cristo, 6,8% em Alcobaça e 5,1% na Batalha. Ou seja, considerando todos os monumentos constantes do gráfico, só o Convento de Mafra teve uma redução mais importante do que o nosso convento, mesmo assim de apenas 0,1%.
Nestas condições, uma vez que em 2011 teve lugar a Festa dos Tabuleiros, não se entende de todo que com 183.027 visitantes em 2012, o Convento de Cristo tenha ainda assim sofrido uma quebra de apenas 7,7% em relação ao ano anterior, desde logo uma afluência excepcional devido à Festa Grande de Tomar.
Pelo que, ou me engano muito, ou os turistas foram bastante mal contados à entrada do Convento de Cristo. Ultrapassar Alcobaça em número de entradas, quando em 2010 a diferença se cifrava em -28.745 visitantes? Era bom era! Mas são coisas que só acontecem nos romances de fraca qualidade...