No final do século passado, uns autarcas invejosos (como são muitos tomarenses) souberam que a família Gonçalves da Silva tinha celebrado um contrato promessa para venda do antigo convento de Santa Iria. Gananciosos, os nossos eleitos fizeram valer imediatamente o direito de opção da câmara. E lá se foram 80 mil contos = 400 mil euros.
Ao lado do ex-convento, um grande conjunto de construções pertencente a particulares acabou também na posse da autarquia, ninguém sabe bem como nem porquê. 15 anos volvidos, esse conjunto de edificações é agora um monte de ruínas, subsistindo apenas e por enquanto algumas paredes mestras. Exactamente aquilo que acontece também no antigo convento.
Pouco tempo após a compra do ex-convento e a apropriação do ex-colégio feminino, começou a constar que tudo aquilo era para "um hotel de charme de quatro estrelas". Decorrido todo este tempo, protelando, rodeando, fingindo, errando, temos agora dois conjuntos de destroços, mas a mania inicial continua:
Só desapareceu o "charme", se calhar por ninguém saber explicar em que consiste tal coisa. Impõe-se assim a pergunta: No concreto (como gosta de dizer o camarada Jerónimo), reabilitar o quê? Isto?:
Em boa verdade, quer-me parecer, a mim que sou leigo na matéria, porém não inculto, nem desprovido de inteligência, que é um bem raro, que há muito pouca coisa a preservar. Porque é disso que se trata agora. No ex-colégio, apenas as cantarias. No ex-convento, o claustro, que é muito pobrezinho,
o Pego de Santa Iria, uma mera curiosidade histórica, com um arco e alguns azulejos do século XVII,
e um nicho renascença com duas mísulas laterais, dentro de uma ex-capela abobadada, transformada em arrecadação:
Apesar de anos de gargarejos, continua por demonstrar que o desejado hotel de 4 estrelas possa ser edificado naquela área, respeitando todas as normas legais, mais umas minhoquices que os competentíssimos arquitectos municipais não deixarão de inventar a seu tempo. Há pelo menos um entrave de peso. Nos hotéis de 4 estrelas é obrigatória a existência de corredores duplos -um para a circulação dos hóspedes, outro para o serviço interno. Os senhores técnicos municipais, do alto da sua elevada competência, têm a certeza que cabem esses dois corredores no Arco de Santa Iria, aquele que atravessa a rua, permitindo a ligação entre os dois terrenos? Tencionam autorizar a sua duplicação? Têm na manga outra solução?
De acordo com opiniões de profissionais da área, no estado actual das coisas só um eventual investidor louco ousará comprar aquilo à Câmara. Pelo que, se realmente os actuais ocupantes dos Paços do Concelho querem mesmo libertar-se definitivamente daqueles monos, o que não é nada certo, só lhes resta a solução mais escorreita: Mandar executar o projecto do anunciado hotel, pelos serviços camarários, por ajuste directo ou por concurso público. Uma vez aprovado, será então muito mais fácil vender tudo aquilo.
Os excelsos técnicos municipais da área é que são bem capazes de não gostar da ideia. Com o projecto aprovado será muito mais difícil para eles criar dificuldades por cima da mesa, para conseguir escorrências por baixo da dita... É a vida!