Sabe-se que por estas paragens se convive assaz mal com a verdade e com a imparcialidade. Desde que tentamos fazer alguma análise política, coisa praticamente maldita por aqui, somos apodados de tudo e mais alguma coisa. Já fomos acusados de protegermos Luís Ferreira, o Centrão e/ou o PS; de estarmos vendidos ao PSD; de lambermos as botas ao Relvas para tentar sacar um lugarzito, etc. Há até quem tenha a distinta lata de tentar propalar calúnias velhas de mais de 30 anos. Contra ventos, marés, preconceitos e outros obstáculos, tencionamos continuar enquanto a saúde nos permitir, colocando de quando em vez a pergunta crucial: É assim que pretendem que Tomar ultrapasse a crise?
Tal como o médico indaga quais os sintomas, ou o investigador criminal procura indícios, o analista político examina factos. Para o médico, trata-se de estabelecer um diagnóstico fundamentado, logo seguido da terapêutica. Para o criminalista, trata-se de inculpar ou ilibar alguém. Para o analista, de fornecer opiniões credíveis, baseadas em factos verificáveis.
Tomemos dois casos recentes -as declarações de Miguel Relvas e de Corvêlo de Sousa, durante a emissão "À mesa do café", que levámos a cabo em colaboração com a Rádio Hertz. O presidente da Assembleia Municipal surpreendeu-nos pelas positiva, como já aqui escrevemos. Apareceu bem disposto, colaborante e muito bem preparado. Não surpreende por isso que tenha conseguido uma prestação de assinalável qualidade. Teve o mérito de por sua exclusiva iniciativa ter abordado praticamente todos os temas incómodos da agenda política tomarense, mostrando-se alertado para a necessidade de mudarmos de rumo, de nos juntarmos num clima de união e de elaborarmos um projecto coerente, adequado, exequível e participado. De partilharmos um sonho.
Dado que as suas posições desassombradas visaram igualmente, ainda que de forma muito diplomática, certas pessoas e formações políticas, a sua prestação caiu mal, num ambiente mais habituado ao marasmo, à inacção e aos falsos consensos.
Corvêlo de Sousa, por seu lado, mostrou-se igualmente bem disposto, colaborante e até diplomata. O seu discurso, porém, evidenciou irrealismo e até inadequação à situação tomarense. Basta anotar que enquanto Miguel Relvas advogou a urgente reapreciação do projecto do Museu da Levada, no sentido do seu aligeiramento em termos de custos, Corvêlo de Sousa insistiu que se trata de uma realização estruturante para a cidade na área turística, embora nunca tenha conseguido demonstrar a justeza da sua posição, por nítida falta de fundamentação e de adequados estudos prévios. A ideia que deixou, quanto a nós, é que nas margens do Nabão as coisas são sempre feitas por mero palpite, sem qualquer base em termos de viabilidade económica e, bem entendido, sem estudos de mercado, que os senhores autarcas não parecem conhecer.
Porque assim é, a intervenção de Corvêlo de Sousa, conquanto sincera, pareceu algo desfocada em relação à situação local. Enquanto se mostra satisfeito com o seu desempenho e garante que tudo está a ser feito no sentido de se ultrapassar a crise quanto mais depressa melhor, os eleitores são numerosos a pensar de modo diferente. Todavia, como o seu discurso bem burilado é igualmente, por isso mesmo, algo redondo, torna-se difícil demonstrar-lhe que está equivocado e que o seu estilo de governação só contribui para agravar ainda mais uma situação já de si muito problemática. Faltava-nos o tal facto marcante, significativo, indubitável, capaz de pôr em causa as afirmações de que está tudo a andar no melhor dos mundos possíveis, com a autarquia a trabalhar quanto pode e sabe em prol dos eleitores.
Como não há mal que sempre dure, nem bem que não se acabe, o dito facto sempre acabou por aparecer. Ei-lo:
O cidadão X, com formação universitária, reformou-se e decidiu, para fazer a vontade à esposa, comprar uma casa reabilitada na cidade antiga, naturalmente para nela habitar. A dada altura resolveu utilizar o parque municipal de estacionamento, junto ao ex-estádio. Ficou surpreendido, quando lhe exigiram 40 euros mensais, pois a tarifa para moradores é de 30. Protestou, tendo-lhe sido dito que essa tarifa existe mas é só para os moradores na Freguesia de Santa Maria dos Olivais, conforme consta do regulamento do referido parque, aprovado pela autarquia. Foi então apresentar o seu caso, numa das sessões públicas do executivo camarário, alegando em sua defesa que o parque de estacionamento de S. João Baptista é bastante mais oneroso, designadamente devido ao litígio ainda por resolver entre a edilidade e a ParqT/Bragaparques. Solicitava portanto uma simples adenda provisória ao regulamento do parque de além da ponte, equiparando os moradores de S. João aos de Santa Maria, pelo menos enquanto se mantiver a presente situação litigiosa. Até forneceu uma versão possível para a dita adenda. Praticamente o mesmo que tentar ensinar a missa ao padre, sendo conhecido de todos que Corvêlo de Sousa é um experiente profissional do foro. Pois nem assim! Cansado de esperar, o nosso conterrâneo lastima-se amargamente, garantindo que não tarda a voltar às reuniões públicas do executivo, para insistir na sua justa reivindicação.
Perguntamos nós: É assim que devem ser tratados os cidadãos residentes? É assim que se pretende incentivar a recuperação populacional da cidade antiga? É assim que se faz todo o possível para desenvolver a cidade e o concelho?
Pelo contrário! A ideia que fica é a de que os senhores autarcas, para além de apenas continuarem a procurar ganhar tempo, insistem também na errada crença de que os cidadãos estão ao serviço da autarquia. É o oposto, senhores!!! Os senhores é que deviam estar ao serviço da população. Mas não estão. E isso nota-se. Infelizmente!
6 comentários:
Qual crise ?
Nota: esta questão não é irónica. Provém de um indivíduo que não acredita na propalada desgraça medinista que se propaga por aí aos quatro ventos.
FORÇA PPD/PSD, CONTINUAR O BOM TRABALHO É O NOSSO CAMINHO. TOMAR NÃO PODE PARAR !
Pois! Pelo menos lata não lhe falta! Ou será só inconsciência, misturada com clubite aguda? Tire os óculos partidários!
Doutor Rebelo, quer vir tomar o café por minha conta? Apreciava um diálogo consigo!
Para Pedro Miguel:
Com muito gosto. Pode marcar para esta tarde, se assim lhe aprouver. Tenha a bondade de me mandar um mail para a.frrebelo@gmail.com
Cordialmente,
António Rebelo
"EM TOMAR ANALISAR NÃO É NADA FÁCIL NEM PACÍFICO..."
Nem LIVRE,acrecento eu.
Só é permitido a quem for alinhado,subserviente,"voz do dono".
DE ANTÓNIO ALEIXO (POR CONSONÂNCIA COM DESLEIXO)
Dizem que pareço ladrão
Mas há muito que eu conheço
Que não parecendo o que são
São aquilo que eu pareço
...!!!
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