
Meus queridos e adorados patrícios d'aquém e d'além Nabão e alhures na Nação:
Desculpai o tempo que vos vou furtar. Sei-vos sempre afadigadíssimos, portanto sem tempo ou paciência para ouvir coisas desagradáveis, quanto mais agora para as ler! Que quereis ? Como não preciso dos vossos votos, nem da vossa simpatia, posso dizer e/ou escrever exactamente aquilo que penso, tanto da urbe como de vós.
Antes de mais, aceitai esta humilde oferta da imagem da Charola há quinhentos anos, quando os vossos e meus antepassados ainda olhavam e iam para o futuro com alegria. Não arrastados e às arrecuas com vós hoje.
Nos idos de 1550/80, Luís de Camões, poeta conhecedor do mundo de então, que percorrera em parte, e que morreu na miséria, deixou escrito que "Mudam-se os tempos mudam-se as vontades/Todo o mundo é feito de mudança/Tomando sempre novas qualidades". Pois viu mal, o autor dos Lusíadas (o que até não admira, uma vez que era zanaga). Pelo menos no que se refere a Tomar, a Bela Entorpecida do vale nabantino, onde a tradição ainda é o que sempre foi. Infelizmente !
Para não consumir demasiado pergaminho com ruins defuntos, vou só aos factos recentes. Há cerca de 25 anos, houve um aumento brutal da água. Lembrais-vos certamente. Como habitualmente, não houve reacção cívica. Apenas lamúrias. Quando solicitados a comparecer na Assembleia Municipal, para protestar, apareceram três consumidores, além deste vosso ingénuo e humilde escriba. Hoje pagais das águas mais caras e mais calcárias do País. Estais satisfeitos ? Certamente que sim. O imperador Paiva nunca foi por vós interpelado, fez o que fez, e se por cá tem continuado, provavelmente teria ganho as últimas autárquicas com maioria absoluta. Vós sois assim. O mundo bem pode mudar. Vós continuais firmes e hirtos, algures entre os séculos XV e XVI. Exactamente como a generalidade do mundo muçulmano. Com o devido respeito pelos maometanos, que não têm culpa nenhuma.
Agora é o problema da eventual degradação acelerada da Janela do Capítulo, caso venha a ser limpa, o que implica retirar "a pele da pedra" -aquela protecção que se foi formando lentamente nos seus quinhentos anos de existência. Lançou-se um apelo com gente conhecida, de todos os quadrantes da sociedade. Conseguiu-se a colaboração dos jornais e das rádios locais. Pois nem assim. Em quatro dias obtiveram-se pouco mais de 40 subscritores, parte dos quais de fora de Tomar. Lindo, não é ? Quanto mais mudais, mais estais na mesma. À coca que outros acabem de cozer o pão, para então o comerdes. A isso chama-se oportunismo cínico, arrivismo, estilo mosca do coche.
Como deveis calcular, ainda que muito contrariados, a generalidade dos signatários do apelo nada tem a ganhar, embora infelizmente alguns possam vir a perder, nesta sociedade de videirinhos. No que me toca, nem uma coisa nem outra, para vosso desespero. Estou assim à vontade para vos comunicar que, tal como nos Jogos Olímpicos se exigem determinados resultados para participar, os chamados mínimos olímpicos, também eu fixei um objectivo mínimo para o apelo "Salvar a Janela do Capítulo". Ei-lo: Se até às 24 horas de Domingo próximo, dia 13 de Dezembro, não houver um mínimo de 250 subscritores, o apelo não será enviado. Recuso-me a participar em iniciativas quixotescas. E tendes todo o direito de gostar mais da Janela do Capítulo devidamente lavada, já que as vossas consciências... É a tal união dos contrários. No que me diz respeito, prefiro enviar uma carta pessoal, aconselhando os restantes signatários a fazerem outro tanto.
Quanto a vós, se o apelo morrer à nascença, que a terra vos seja leve e paz à vossa alma. A vossa costumeira inacção demonstrará que, civicamente e intelectualmente, estais mortos há muitos anos. Apenas vos agarrais às tradições, aos monumentos e às paisagens, como náufragos sem coletes de salvação agarrados aos destroços do outrora imponente paquete nabantino, agora de casco para o ar e à deriva no Oceano Pacífico do progresso. Onde só passam barcos de mês a mês...
Aqui fica escrito. Não para vos tentar modificar, tarefa que reputo impossível. Apenas para memória futura e eventualvergonha dos vossos descendentes, que afinal quem sai aos seus...
Vosso humilde escriba,
António Rebelo
Sr Rebelo. há que se debroçar também pelas aldeias deste concelho, têm muito para ver do bom e do mau, mas vale a pena. Um dia destes pode ser que no meu blog comece também a postar em crítica se possivel construtiva, mas saberei certamente avaliar as situações negativas onde as houver.
ResponderEliminarFarei trabalhar um outro blog paralelo ao que existe actualmente, será para breve. O Sr entretanto continue que faz bem.