sábado, 10 de dezembro de 2011

Vítimas do tempo que passa, cada vez mais veloz

Foto Rádio Hertz


Falando francamente, o debate ontem organizado pela Rádio Hertz foi um fiasco total. Por culpa da entidade organizadora? Pelo contrário. João Franco e os seus colaboradores merecem aplauso e ajuda, já  que sem eles, a paisagem política tomarense seria ainda mais lúgubre. Por culpa dos políticos convidados? Também não. Certamente terão feito o melhor que sabem e podem. Então não há culpados? A bem dizer, há três: a educação familiar, a educação societal e a educação escolar. Deste trio provém a nossa desgraça enquanto comunidade livre. Porque nos ensinaram implicitamente que o mundo é estável, sendo o futuro pouco mais que a repetição do passado. Como na agricultura tradicional.
Infelizmente, o país e  o mundo são cada vez menos assim. Aquilo que antes era excepção -a mudança- passou a ser o pão nosso de cada momento. Inversamente, tudo o que era estável passou a ser dinâmico e o que agora é lento está em progressiva aceleração. Conversa fiada? Pode parecer. A verdade porém é  que doravante, sem "mundo" e sem hábitos de mudança constante, ninguém vai conseguir singrar na política de forma durável.
Sobre o encontro político de ontem, escreve Luís Ferreira que foi "Um debate pouco esclarecedor para a generalidade dos participantes." Noutro passo, é mais severo e explícito, na condenação do ex-parceiro de coligação: "O PSD conduziu Tomar a um beco sem saída, que honestamente só eleições antecipadas poderiam resolver. Como afirmou a presidente do PS Tomar, Anabela Freitas, naquela que foi a frase mais acertada da noite, quem criou o problema, dificilmente poderá encontrar a solução."
Um problema que já tem mais de dez anos, digo eu. E que a oposição, maioritária desde 2009, tem consentido que se agrave. Falo da evidente falta de respeito da relativa maioria para com os restantes vereadores, bem documentada na foto supra. Em nenhum outro país da Europa Ocidental uma oposição em maioria consentiria na flagrante falta de ética democrática e republicana que levou a colocar a pobre maioria no topo da mesa -assim tipo soberano e dois acólitos- relegando os quatro membros da oposição para as mesas laterais, como se não passassem de incómodos apêndices, que a legislação força a tolerar.
Claro que os laranjas vão negar tal intenção. É contudo do domínio comum que um imagem vale mais que mil palavras. Em democracia, os executivos camarários reúnem à volta de uma mesa circular, com todos os participantes em igualdade posicional; ou numa mesa rectangular, com o presidente à cabeceira. Não conheço nenhum outro exemplo semelhante ao de Tomar, que diz muito do nosso tosco modo de vida.
Volvendo ao debate, é meu entendimento que a bola está agora, como sempre tem estado desde há dois anos, no campo da oposição. Só não vai haver eleições intercalares para o executivo e a AM se socialistas e independentes não quiserem. O argumento de que íamos ter eleições daqui a seis meses e um ano depois, não cola com a realidade. É falacioso. Não são necessários seis meses para organizar eleições intercalares, nem as futura autárquicas serão daí a um ano. Há é o problema de Nossa Senhora do Vencimento, a quem os eleitos socialistas em boa hora ousaram deixar de rezar. Agora apenas resta saber se PS e IpT vão ter os ditos no sítio para comunicar ao presidente em exercício que não tencionam comparecer a mais nenhuma reunião, pelo que o melhor será renunciar, uma vez que, sem quórum, a relativa maioria laranja nada pode deliberar.
O actual presidente é bom rapaz, cidadão exemplar e tomarense dos quatro costados? É sim senhor. Tal como Corvêlo de Sousa. Mas já está quatro vezes ferido de asa: 1 - No recente inquérito de Tomar a dianteira, em 182 votos livres e anónimos, apenas 6 = 3% apoiaram a sua ascensão à presidência; 2 - Não tem qualquer legitimidade eleitoral, dado que os tomarenses não votaram nele, mas em Corvêlo de Sousa, para presidente; 3 - Pelo menos um dos seus actuais parceiros de lista disse, durante a preparação das candidaturas, que não aceitava candidatar-se caso Carrão fosse cabeça de lista. Atitude que conduziu ao agora já célebre acordo de partilha de poder, que o presidente eleito tem tido relutância em honrar; 4 - Em 14 anos seguidos de caça livre, nunca constou que fosse grande espingarda, muito menos atirador de elite.
Nestas condições, PS e IpT no executivo; os mesmos + CDS, CDU e BE, na AM, estão à espera de quê? Milagres já nem em Fátima, quanto mais a quase 40 quilómetros e com uma ave gravemente ferida de asa.
Ou não se importam que em 2013 vos acusem de complacência e cumplicidade objectiva no naufrágio da barca nabantina?

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