Hesitei entre dois títulos, por ambos me parecerem muito adequados. O que prevaleceu (Dá Deus nozes a quem não tem dentes) e "A união dos contrários". Isto porque, por vezes, até dá vontade de chorar, desde que o actual governo tomou posse. Pela primeira vez desde o 25 de Abril, estamos como tomarenses muito bem posicionados em Lisboa. E sublinho "como tomarenses". Não individualmente. Podemos por conseguinte ser ouvidos e tidos em consideração, para tudo o que seja legítimo, legal e de interesse geral.
Infelizmente, a nível local sucede exactamente o oposto. A maioria relativa, que nos devia governar se soubesse, quisesse e conseguisse, é apenas isso mesmo: maioria relativa. Como se tal não bastasse, não dispondo de táctica nem de estratégia, nem de vontade ou capacidade para as vir a ter, podia ir navegando à vista. Pois nem isso. Encalharam. Desde o início do actual mandato, ainda não conseguiram resolver um único dos grandes problemas locais. Em termos de vitórias, ficaram-se pela reabertura do Parque de Campismo. O que sendo importante, também não será para deitar foguetes e mandar sair as bandas.
A oposição representada no executivo é o que se tem visto. Se exceptuarmos a corajosa e recente ruptura da estranha mancebia por parte dos vereadores PS, cansados de tanto desprezo dos parceiros de papel assinado, contentam-se em navegar placidamente nas inquinadas águas do charco político nabantino. Quanto às outras formações políticas, representadas unicamente no parlamento concelhio, terão conseguido agora a sua coroa de glória. Uniram-se em prol de Tomar -o que se saúda e louva. Contudo, factos convergentes indiciam que não terão escolhido o melhor tema. A questão da inevitável reforma do CHMT é extremamnente melindrosa e dela depende em grande parte a sobrevivência dos três hospitais que o compõem. Não nos podemos esquecer -entre muitos outros factos gravosos- que as horas extraordinárias dos enfermeiros aumentaram mais de 300% de um ano para o outro, de acordo com o relatório 913 da Inspecção Geral de Finanças. Ou que, de acordo com as melhores práticas homologadas a nível mundial, a maternidade de Abrantes (única do CHMT) não tem condições para continuar a funcionar, visto que não realiza 1.500 partos anuais, o mínimo indispensável para "não perder a mão", conforme o normativo europeu em vigor.
Nestas condições, caso a reforma estrutural em curso venha a falhar, vários indícios apontam, não para a privatização ou venda de hospitais, mas simplesmente para o seu encerramento. Isto porque se o Estado os não puder sustentar com o actual modelo, por evidente falta de recursos financeiros, também o não poderá fazer em regime de PPP, pois não consta que os privados sejam generosos filantropos. Se não vislumbrarem hipóteses de gerar riqueza, para desta extraírem lucros, nada feito. As coisas são o que são. Implacáveis e redibitórias. Os doentes da zona terão de passar a ir para Leiria, os mais a norte; ou para Santarém, os mais a sul.
E nada adiantará vir com longas considerações de índole sociológica, política ou moral. Não havendo dinheiro, como é o caso, todas as outras hipóteses estarão condenadas à partida. Excepto uma: que as grandes organizações fliantrópicas mundiais, tipo Cruz Vermelha, Crescente Vermelho ou Fundação Bill Gates, tenham pena de nós e venham reabrir os hospitais, a título caritativo e provisório. Mas é pouco provável.
Pelo que, no meu tosco entendimento, a conseguida união política local (a que alguns mais maldosos já chamam o "soviete nabantino"), devia abandonar quanto antes a luta em prol do hospital -que é uma causa perdida desde o início-e dedicar-se à resolução dos milhentos problemas da autarquia. A começar pela actual situação de evidente bloqueio, apenas mascarada de forma transitória pela querela hospitalar.
É certo que faltam apenas 21 meses para as autárquicas de 2013. Mas em política e numa situação de gravérrima crise para todos, um mês já parece uma eternidade, quanto mais agora 23 meses! E depois, quem nos garante que após Outubro de 2013 ainda continuaremos a estar tão bem "amparados" em Lisboa?
Vá lá! Deixem-se de bizarrias e pensem um bocadinho. Enquanto é tempo... Lá diz o ditado que "Antes da hora ainda não é hora; após a hora, já não é hora. Há que arrancar a tempo."
2 comentários:
É esta a vez primeira que vou opinar neste seu espaço.
Salvo erro, ou omissão, tenho ideia de ter sido seu aluno nos idos de setenta do século passado e contemporâneo da sua chegada à cidade ( corrija-me se estiver errado, p.f. ) para leccionar creio que francês. Recordo o porte e a atitude desassombrada, contrária ao modus vivendi tão próprio de Tomar e que foi tão apreciado pelos seus e outros jovens alunos; adiante, que não é este o mote do comentário!
Prender-se-á ele com o título do seu artigo.
Onde vivo desde 1980, na zona de Lisboa, em Caneças, mais propriamente, e onde fui trabalhando, sempre fui um doente defensor da minha terra, das suas tradições, da sua história e dos seus personagens. Sempre tive p'ra mim contudo esta firme certeza: a terra é linda, sempre teve um enorme potencial, teve e tem condições para "tomar a dianteira", mas enferma duma doença a raiar o estado terminal - os tomarenses! que me perdoem os que por opção, ou sem ela, ficaram ou tiveram que ficar, o pior de tomar, são os tomarenses! meio a brincar, tenho dito que se se pudesse retirar as poucas dezenas de milhar de habitantes do concelho e substitui-los por outros quaisquer, Tomar sairia beneficiada. Estou convicto que o melhor de tomar, são os que de lá sairam! (salvo raras e honrosas excepções, bem visto!)
Durante estes poucos anos (35 anos é salto de formiga) de Democracia, Tomar, que era à data da sua implantação (da Democracia, entenda-se) uma urbe importante com um comércio e uma indústria florescentes, a esticar-se para nascente fruto de uma modernidade que apesar de tudo ia chegando, com estabelecimentos de ensino conceituados e agregadores, inexplicavelmente e em comparação com os concelhos vizinhos, foi aos poucos definhando.
Claro que houve o IPT e o Hospital e mais esta ou aquela "coisita", mas desenvolvimento sustentado, que é bom, "viste-lo"!
Caro professor, desculpe a crueza, mas eu lembro-me de si assim de modo que não levará a mal, a corja de gente travestida de políticos que durante este tempo foi autorizada pelos tomarenses a tomar conta dos destinos da cidade e do concelho, foi, a passo de gigante, conduzindo o barco para águas cada vez mais revoltas e, mais grave, incomensuravelmente mais turvas!( e sobre hipermercados e bombas de gasolina e outros que tais, por aqui me fico, porque a informação de que disponho é a de "A Cidade de Tomar" de que sou assinante há muitos anos e ela é obviamente escassa ).
De modo que, como muito bem diz, a culpa não é da cidade e do concelho, na sua metáfora as nozes, mas dos desdentados que têm tido o privilégio de estar à frente dos destinos de tão insigne concelho e, por nítida incompetência uns, por aproveitamento pessoal ( que não invalida a permissa anterior ) outros, têm levado ao definhamento de Tomar.
Duas notinhas finais:
1- A culpa não é só dos digníssimos eleitos, é muito e também de quem os elege;
2- A doença tem-se vindo a agravar, com a cada vez maior falta de competência de quem governa o burgo.
As minhas desculpas, talvez o comentário esteja desenquadrado, mas como é o primeiro, poisou aqui. Lá iremos um destes dias à política local e aos pimpolhos que dela se servem.
Cumprimentos
Estou inteiramente de acordo consigo. As coisas agravaram-se de tal forma que me vi forçado a recorrer à internet para tentar alertar uns e outros, o que nem sempre é fácil.Quase todos os nossos conterrâneos continuam a ser omnicompetentes e a pensar que têm o rei na barriga. Apesar disso, tenciono continuar, embora já numa idade pouco propícia para contestações.
Cordiais cumprimentos.Quem sabe, nunca esquece.
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