domingo, 14 de abril de 2013

Crescimento porque esperas?!

"Dinheiro baratinho"

"O imperador Akihito é mesmo azarento. Apesar da era Heisi, inaugurada pela sua entronização, prometer a "confirmação da paz", foi nessa mesma data que começou a descida aos infernos do Japão.
Em três décadas de pósguerra, o país transformara-se no primeiro exportador do planeta. As empresas japonesas compravam Hollywood e os especialistas previam a sua próxima acessão ao primeiro lugar mundial, humilhando assim uma América com a sua indústria devastada.
Bastou então um grão de areia monetário para comprometer tudo. Foram os acordos do Plaza, em 1985, entre os Estados Unidos, o Japão, a RF Alemã, a Inglaterra e a França que, pretendendo instituir uma concertação internacional na área do controlo dos câmbios, provocaram uma queda brutal do dólar em relação ao yen. Esta repentina desordem monetária teve um efeito indirecto: provocou um repatriamento em massa dos capitais japoneses investidos nos Estados Unidos, que vieram investir-se na bolsa e no imobiliário nipónico, provocando uma das maiores bolhas da história económica. O drama do dinheiro fácil que alimenta as mais loucas especulações. Houve bens imobiliários no bairro chique de Ginza, em  Tóquio, que encontraram compradores a mais de 700 mil euros o metro quadrado!!!
Os dez anos que se seguiram à explosão dessa bolha foram marcados por um crescimento nulo e por uma deflação mortífera dos preços. O país esgotou-se. Gastou mais de um bilião de dólares (768 mil milhões de euros - o resgate da troika a Portugal é de "apenas" 78 mil milhões), numa dezena de planos de relançamento, sem qualquer efeito para além de aumentarem exponencialmente uma dívida pública gigantesca, cujo reembolso absorve agora 25% do orçamento do Estado. Chama-se a isso a década perdida. A seguinte não foi mais risonha. Tão deprimente como o feitio neurasténico das princesas imperiais. O total global das despesas anuais em bens e serviços está hoje ao mesmo nível de há vinte anos.
O novo primeiro ministro Shinzo Abe, um político muito experiente, viu-se portanto praticamente forçado a agir forte e feio. O seu plano prevê não só mais um investimento colossal e reformas estruturais de liberalização da economia, tudo coisas já experimentadas sem êxito no passado recente, mas sobretudo um nova política monetária de uma agressividade sem precedentes. Com um objectivo simples: conseguir em dois anos uma inflação de 2% em vez da actual deflação de 0,5%.  O Banco do Japão foi assim constrangido a imprimir yens às toneladas. Um esforço duas vezes mais importante que o dos Estados Unidos, já por si bem generoso. Se a manobra resultar, a inflação sobe, o PIB aumenta, alimentados pelo consumo, e a queda do yen estimula as exportações, o que por sua vez aumenta as receitas fiscais e por conseguinte a hipótese de reembolsar a dívida pública.
Se falhar, quer dizer...: A inflação provoca um aumento das taxas de juro, o qual desencadeia a explosão de uma dívida fora de controlo. O risco é também, como em 1985, que este oceano de dinheiro fresco vá alimentar sucessivas bolhas, as quais por sua vez rebentarão num mundo agora bem mais conectado que naquela época. Um pesadelo ao quadrado.
É por isso que Europeus e Americanos estão extremamente atentos à manobra de Shinzo Abe. Todos optaram pelo laxismo monetário, arma derradeira para enfrentar a crise e voltar a dar um pouco de ar a economias em risco de morte por asfixia. Os Estados Unidos já assim fazem há largos meses, a Europa idem, mas de forma tão tímida que não satisfaz ninguém e parece apostada em pavimentar  a via para uma década perdida à la japonesa. Mas a Europa não é o Japão e a política económica é uma arte toda feita de equilíbrio e de improvisação."

Philippe Escande, Le Monde, Eco&Entreprise, 09/04/2013, primeira página
As cores para destacar e as partes a azul são de Tomar a dianteira

Coitada da esquerda! Coitado do Tó Zé Seguro! Coitada da Anabela! Estão como o imperador do sol nascente: Não têm mesmo sorte nenhuma!

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