Na seu modesto e anódino aspecto, este detalhe de uma página do Turismo de Portugal, publicada na imprensa de hoje, pode bem ser para os tomarenses um anúncio de morte a longo prazo -a morte da Festa dos Tabuleiros, a nossa Festa Grande. Porquê? Pelos motivos que vamos tentar resumir.
Como bem sabem todos os que, com real aproveitamento, gastaram os fundilhos pelas cadeiras e bancos das universidades, há uma regra comum a todos os seres vivos e organizações: nascem, crescem, definham e morrem. É sempre assim, quer queiramos, quer não. E não há excepções, dos seres microscópicos aos maiores impérios.
No caso da nossa Festa Grande, já estava moribunda quando João Simões, o "Jones" pegou nela e a transformou numa vistosa manifestação de beija-mão ao poder então vigente, que disso bem precisava, uma vez que não era legitimado pelo voto popular universal e livre. Aconteceu em 1950...para celebrar a inauguração do mercado, que agora algumas luminárias querem deitar abaixo, em nome daquilo que julgam ser o progresso. Uma repetição do caso da Fonte Cibernética...
Nestes cinquenta anos, a Festa dos Tabuleiros, contrariando a regra geral, praticamente não evoluiu. Passou a realizar-se de 4 em 4 anos, em vez de 3 em 3, já não são os magalas do 15 nem as moçoilas da fiação que desfilam com os tabuleiros, mas em contrapartida, contra a corrente, estes foram normalizados. Foram banidos os tabuleiros bojudos, estilo barroco. Apenas se admitem os de tipo botaréu manuelino do Convento de Cristo. Pior ainda, a Festa Grande custa cada vez mais caro, integra aspectos perfeitamente espúrios, como o desfile dos senhores autarcas e outros eleitos no cortejo do mordomo, acabando por resultar em avultadas despesas não cobertas por receitas comerciais, mesmo quando se anuncia ao povo que a festa não deu prejuízo. Trata-se em suma, como o Botas dizia da agricultura, de uma maneira de ir empobrecendo alegremente. Estou a falar dos contribuintes que pagam impostos sem fazerem batota.
Com um comportamento menos pacóvio, os nossos conterrâneos de Carregueiros, descendentes dos habitantes do Vale de S. Martinho, onde se situam agora os claustros renascença do Convento, perceberam que ia sendo tempo de meter mãos à obra e resolveram fazer a Festa dos Tabuleiros todos os anos, com a sua designação original: Festa do Divino Espírito Santo. ou Império do Espírito Santo. Estão no bom caminho, mas se não houver um acordar a nível do concelho, é de temer que tenham de vir a renunciar, por "falta de combustível".
Infelizmente, face à geral inércia tomarense e à artificial mumificação da festa, freguesias vizinhas vão pegando no tema e no argumento...e ganham dinheiro onde nós continuamos a esbanjar verbas do orçamento municipal, que tanta falta fazem noutros sectores.. Neste momento já são três freguesias, duas de Torres Novas, uma da Golegã. Com o tempo, outras aparecerão. Até que, com cada vez menos público e mais despesas, a Festa Grande de todos nós, tomarenses de nascimento, por opção ou produto das circunstâncias, continuará definhando, mirrando, até desaparecer, dela restando apenas algumas referências em meia dúzia de linhas na história local. Oxalá esteja a ver mal...
3 comentários:
Diria antes, morte da cidade! Infelizmente. Quando não há estratégia da e para comunidade... antes projectos pessoais, é assim.
A.Miguel
A MORTE ANUNCIADA DA FESTA DOS TABULEIROS SÓ ESTA NA CABECA DE ALGUNS QUE POR VEZES PARECE QUE BEM GOSTAVAM QUE TAL SE VERIFICA-SE,POIS PELA VONTADE DO POVO(POVO)DO CONCELHO DE TOMAR NUNCA TAL VAI ACONTECER.
VAI SEMPRE HAVER QUEM DE UMA FORMA OU DE OUTRA LUTE PELA FESTA GRANDE DE TOMAR.
Ai o Português!!!!
VerificaSSe e não verifica-se!
Cultivar a língua portuguesa é muito necessário ... sempre!
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