É SÓ NEVOEIRO...

Acabo de ler, no vamosporaqui, o blogue do vereador Luís Ferreira, uma informação com relativo interesse -Entre Janeiro e Julho deste ano, os visitantes da Igreja de S. João Baptista passaram de 21.100 para 23.500. Um sensível aumento. Durante o mesmo período, as visitas ao Convento de Cristo diminuiram de 85.500 para 82.500. Uma pequena descida. Estas coisas do turismo são assaz complexas, tornando difícil averiguar com segurança as causas de tais tendências. Luís Ferreira porém, autarca eminentemente prático, nunca vai por quatro caminhos. Avança a direito, sem dúvidas e depressa. Escreveu ele que, no caso de S. João, o aumento dos visitantes se deve a mais divulgação. Já no que concerne ao Convento de Cristo, na sua douta opinião, foi o aumento do preço dos ingressos que provocou a debandada dos turistas.

Muito gostava eu de ter todas estas certezas em relação a qualquer assunto! Infelizmente, só tenho é dúvidas. E quanto mais vivido estou, mais dúvidas tenho. Idiossincrasias diferentes, é o que é.

É pena que o vereador Ferreira não nos diga o que terá provocado o declínio de visitantes do Convento em anos anteriores, designadamente em 2009 e 2008. Terá sido porque ele ainda não tinha assumido a pasta do turismo? Ou o problema será bem mais antigo e complexo, apesar dos nítidos melhoramentos entretanto introduzidos, como por exemplo uma bem abastecida loja de recordações, gerida pela ADIRN?

Seja como for, antes de avançar, aqui vai um profundo lamento -Agora que começava a ser interessante acompanhar mensalmente a "febre camarária", oficialmente designada por dívida global, exactamente graças à boa vontade do vereador Ferreira, eis-nos regressados às propositadas trevas do passado. O respeitável autarca também já se "esquece" desse detalhe. Lamenta-se profundamente, tanto mais que já íamos, no final de Junho, em 31 milhões de euros = 6 milhões e duzentos mil contos. Qualquer coisa como 794 euros = 158.974 escudos por eleitor.

Mas valeu a pena, que a cidade, como todos sabemos, está em franco progresso. E a melhorar de dia para dia.

Ainda a semana passada fui praticamente forçado, em nome da decência, da amizade e da cidadania, a ir guiar um pequeno grupo de turistas franceses. Vinham para o Congresso Templário de Coimbra, mas entretanto decidiram ficar dois dias em Tomar. Segundo me disseram, alguns deles já tinham estado na nossa cidade há três anos, mas não conseguiram então perceber nada, pois não encontraram maneira de contratar um guia. Donde a precaução revelada desta vez, ao solicitarem um guia competente ainda antes de cá chegarem. Gato escaldado...

Infelizmente, como quase sempre acontece nestas coisas, contactados os serviços oficiais competentes, foi-se informado que a única pessoa a fazer visitas comentadas em francês estava de férias. Azar! Mas valeu a pena.

Fiquei assim a saber que S. João fecha à segunda-feira, a Sinagoga só abre às dez, e em Santa Maria, que também abre oficialmente às dez, eram dez e vinte e a porta continuava fechada. Após telefonema para o turismo municipal, conseguiu-se saber que a pessoa que vinha abrir estava num engarrafamento, provocado pelas obras de asfaltagem da rotunda. Azar outra vez! Justificado, todavia. Que Santa Maria dos Olivais fica longe para burro do turismo municipal. Fazer o percurso a pé seria ainda mais penoso que uma ida a Fátima a penantes. Mais a mais tendo de atravessar as obras de Santa Engrácia, perdão! da Rotunda.

Outra novidade foi aquele insólito aviso, à esquerda de quem entra em S. João. Nele se lê "Proibido fotografar ou videografar sem autorização." Está identificado como sendo da autoria do pároco. Mal a meu ver, pois a igreja católica apenas tem autorização para se servir do templo e mais nada. Não pode proibir ou autorizar o que quer que seja, no interior de uma igreja que é monumento nacional e propriedade do Estado, o qual, como todos sabemos, é laico e trata todas as confissões religiosas por igual. Que quem de direito tome as providências que julgar necessárias. Tanto em relação ao dito aviso como ao inopinado e nada prático encerramento semanal às segundas-feiras.

Entretanto, a propósito de visitantes que aumentam ou diminuem, de guias, de preços e de estruturas de acolhimento, permitam-me uma parábola. Era uma força partidária cujas dificuldades económicas se agravavam de dia para dia. De tal forma que já mal conseguiam pagar aos dirigentes e colaboradores a tempo inteiro. Vai daí, reuniram o órgão máximo entre congressos, exclusivamente para debater a crise económica. Ao fim de longas horas de acalorados debates, chegaram à conclusão de que a única maneira de resolver o problema e de encetar um período de risonha prosperidade, era abrirem uma "casa de meninas". Aprovada a proposta por unanimidade, foram logo a seguir escolhidos por voto secreto três militantes, para tratarem do assunto, e fixado o prazo de um ano para pôr o estabelecimento a funcionar.

Os militantes em questão viajaram pelo mundo, visitaram e experimentaram o que de melhor existe no género, regressaram contentíssimos e meteram mãos à obra. O novo ninho de amor facturado foi construído, equipado, pintado, decorado, mobilado em conformidade, com o melhor do que tinham visitado. E começou a operar, como se diz agora, por acaso com preços que até nem destoavam no contexto da capital portuguesa, já bem apetrechada no género.

Um ano mais tarde, o órgão dirigente voltou a reunir, com todos os responsáveis alarmados e a discutirem acaloradamente -O novo empreendimento estava a perder dinheiro. Eram mais as despesas que as receitas. Parecia uma autarquia do tipo da de Tomar. Recuperada alguma calma, passou-se a um exame exaustivo da estranha situação. Todas as instalações similares conseguiam lucros fabulosos, só aquela é que...

Será da casa?, perguntou um. Não pode ser, respondeu um dos membros da trempe fundadora. Foi usado o mesmo projecto de uma similar em Estocolmo. Então se calhar é da decoração, avançou outro. Também não pode ser, respondeu outro ex-viajante. Usamos tudo igual a uma casa muito acolhedora de Las Vegas. E foram-se sucedendo as hipóteses, passando pelas instalações sanitárias, os móveis, as bebidas, a música, os preços...Em cada caso sempre com a melhor justificação, para negar tal possibilidade.

Até que, já farto de tanta conversa, um dos dirigentes desabafou, sem grande esperança: E não será das gajas e dos gajos?!?! Nem pensar!!! Respondeu a troika em coro. São todos membros da nossa organização desde pelo menos 1960!

-Então está tudo explicado, rosnou o mais velho deles todos...

Já lá vão quinhentos anos, o sábio português autor do "Tratado das drogas e dos simples", Garcia da Horta, afirmou que "a experiência é a madre das cousas." Porém, só no século passado é que Einstein acrescentou que "Tudo é relativo." Pois é, digo eu. Com o devido respeito e a minha profunda vénia.