quarta-feira, 29 de setembro de 2010

TRANSFORMAR A ESCOLA


Nota prévia

Jacques Attali foi conselheiro do presidente Mitterrand e dirigiu recentemente, por nomeação do presidente Sarkozy, a elaboração do relatório "Propostas para modernizar e melhorar a França". Para os francófonos, basta aceder ao blogue indicado a vermelho, em cima, à direita, para lerem o original.
O texto seguinte é de leitura algo difícil. Deve ser lido apenas, na nossa humilde opinião, por quem goste de raciocinar, de ensino, de formação e de modernização da sociedade. Naturalmente que a análise de Attali é feita a partir da situação francesa. Em Portugal, como todos sabemos, não temos problemas nessa área. Nem em qualquer outra, de resto. Vai tudo bem, graças a Deus. Sobretudo em Tomar. É o que nos vale.

TRANSFORMAR PROFUNDAMENTE A ESCOLA

"A escola é onde uma sociedade transmite os seus valores. Por conseguinte, e antes de mais, igualmente onde eles se reflectem. O sucesso ou o malogro da escola é, portanto, sobretudo o dos valores que uma geração pretende transmitir às seguintes. Os valores essenciais franceses são os de uma sociedade ligada à terra, de origem agrícola, na qual a acumulação está centralizada num Estado, ao qual cada um está  ligado directamente, e onde a excelência provém unicamente da razão. O que conduz a privilegiar a selecção de uma elite muito particular, uma elite da razão, essencialmente hereditária., piramidal, que acumula riquezas ao redor de um centro, preferindo sempre o espírito de geometria, arte individualista por excelência, e seleccionada pela competição no seio das grandes escolas superiores de elite, naturalmente parisienses, numa relação directa do catedrático com cada um dos alunos, como a do poder com cada cidadão.
Este sistema está agora a falhar, porque não valoriza nem as variantes nem os labirintos. Porque exclui a inteligência da intuição. Porque se destina a um grande número de jovens, de origens díspares, com métodos pensados para pequenos grupos homogéneos e socialmente privilegiados. Um sistema que não confia, que não incita os alunos a confiar, que não inculca a ideia de que cada um tem todo o interesse no sucesso dos outros, que despreza tudo o que não seja actividade intelectual, que não valoriza a criatividade, a imaginação, o erro, o assumir riscos.
Acontece que o mundo actual tem necessidade de empatia, de experiência, de cooperações, de redes sociais, de tribos. Tem necessidade de que os recém-chegados conheçam o universo do movimento, da mudança, da vida, da intuição, do colectivo. Daqui resulta o malogro do nosso sistema escolar, o qual, com os seus métodos inadaptados, conduz 15% das crianças a concluir o  1º ciclo do ensino básico sem saber ler nem escrever, e 130 mil outras a abandonar anualmente o ensino obrigatório sem qualquer diploma. Sem contar outras desgraças.
Temos de mudar tudo. Passar a uma educação por medida, que coloque cada um na situação de descobrir em que é que é melhor, e como pode vir a estar interessado, para ter êxito, em ajudar os outros a desabrochar.
Para aí chegar, não bastará criar mais alguns "liceus-internatos de excelência", que apenas alargarão de forma homeopática a área de uma elite anacrónica. Será igualmente indispensável mudar a visão do mundo, avantajar o colectivo, a diversidade, a intuição, a criatividade. Para isso, formar antes de mais professores para um mundo novo. E sobretudo, a montante, mudar a maneira como os pais encaram o futuro dos seus filhos. Que não devem ambicionar fazer deles os melhores nas áreas mais procuradas, nem pensar que o sucesso futuro será homólogo daquele com que sonharam quando eram jovens. Terão de admitir que tal sucesso passará prioritariamente pela escolha livre de modelos de excelência, individuais ou colectivos, económicos ou sociais, , políticos ou associativos. Por conseguinte, pela excelência em matérias renovadas a cada instante, por assim dizer conjuntos à medida de saberes múltiplos.
É este o salto mais díficil que uma geração terá de dar, se realmente deseja ser mesmo útil às seguintes."

J@ATTALI.COM >WWW.LEXPRESS.FR
Tradução e adaptação António Rebelo/Tomar a dianteira

9 comentários:

Anónimo disse...

Este texto é pertinente. É um problema que existe entre nós.
No entanto o texto só foca o topo da pirâmide e omite a base.
Em Portugal o ensino elitista está muito ligado às escolas particulares e da Igreja Católica.
AS escolaS públicas portuguesas, muito boas, apesar de viverem fora da realdade, e com muitos bons professores, está coarctada pelo ambiente que a cerca.
A minha experiência diz-me que, ainda, temos de fazer distinções entre as escolas de Lisboa e as do resto do País. Viver em Lisbo é, por si só, um acto cultural.
Dentro das escolas públicas há que fazer a distinção entre os alunos oriundos das cidades e das classes médias, e os oriundos das aldeias.
Os naturais das aldeias têm uma visão da vida muito assente na hostilidade-competitiva, na resistência à mudança e com poucas preocupações de cidadania. Para se conviver vom os habitantes das aldeias em Portugal é preciso tirar um curso de artes marciais. Toda a sabedoria e toda a civilidade para eles são prova de fraqueza, dái os abusos, as provocações e os conflitos. Este juízo aplica-se a muitos dos oriundos de aldeias e que vivem em cidades de província.
Tenho uma vasta experiência de selecção de pessoal para diversas organizações, privadas e públicas. Sei que na selecção faz-se sempre diferença entre os que nasceram ou sempre viveram em Lisboa, e os que sempre viveram na província e acabados os estudos procuraram vida em Lisboa. Para os primeiros as entrevistas são mais simpáticas, para os segundos mais agressivas, para ver da sua reacção e maturidade emocional.
A diferencação social e de tratamentos também existe no seio da província. Basta ver a diferença de comportamentos entre os alunos que vivem na cidade e os que vêm das aldeias. Todos eles podem viver em boas casas, terem vários carros por família, mil televisões, internet, etc., mas a postura perante a vida e os outros é diferente, com perda para os das aldeias.
Como disse há dias a escritora Lídia Jorge (que viveu e ensinou em Tomar): os portugueses mudaram por fora mas nada por dentro.
Os valores que as escolas portuguesas incutem formam imaturos e inocentes que acrreditam que a vida é só facilidade, e que têm direito a tudo. Os das aldeias , apesar da escola, continuam a manter os valores de rudeza, e não mudam. Não se esqueçam que civilização vem de civitas, que em Latim quer dizer Cidade. E deste termo deriva cidadão.
Não é por acaso que a iliteracia é um problema grande entre nós. Porque ela é cultivada na Escola e em toda a vida portuguesa. A Escola reflecte a sociedade.
Querer copiar os modelos escandinavos de educação é disparate. Os escandinavos têm o sentido de comunidade, daí a crise neles ser práticamente inexistente, os portugueses não têm sentido de comunidade, e faltam-lhe valores, daí a sua fraqueza de carácter.
SÉRGIO MARTINS

Anónimo disse...

"Os naturais das aldeias têm uma visão da vida muito assente na hostilidade-competitiva, na resistência à mudança e com poucas preocupações de cidadania. Para se conviver vom os habitantes das aldeias em Portugal é preciso tirar um curso de artes marciais."

É dos maiores disparates que já vi escrito em algum lado! Não só é uma generalização absurda e leviana, como está completamente ao contrário do que mostra a tendência das escolas, como quem as conhece bem sabe, coisa que Sérgio Martins está visto desconhecer.
Comparar por exemplo uma escola tipo de Lisboa com uma de Tomar, é comparar o inferno com o paraíso.
Depois é totalmente falso que exista mais na cidade que na aldeia, espírito cívico, de comunidade, ou seja o que for.
O senhor parece aquela malta que nunca saiu de Lisboa, que acha que no resto do país vivem selvagenzinhos esfomeados que comunicam através de peidos.

"Viver em Lisbo é, por si só, um acto cultural." É de ir às lágrimas! Será que o senhor vive nalgum castelo isolado do mundo?

Reflicta um pouco antes de falar, se não souber pergunte a quem saiba, e se for para proferir boçalidades deixe-se estar calado.
É que assim, como acontece há anos, ninguém lhe liga nenhuma. E com razão!

PF

Anónimo disse...

PF não teve a coragem de dar a cara.

Viver em Lisboa é só por si um acto cultural, devido à dimensão da cidade e ao que ela oferece em todos os campos da vida, de bom e de mau. Qual a cidade em Portugal que tem os museus que Lisboa tem ? E os Teatros ? E o desporto ? E as oportunidades profissionais ? Etc.
Só o andar na rua, com tamanha multidão, como em qualquer Metrópole, é um acto cultural. Os meios de transporte (Metro, Eléctricos, etc. )são um acto cultural.
Violência ? Em Tomar, e no resto da província, incluindo as aldeias, começa a ser pior.
Para se viver nas aldeias é preciso tirar um curso de artes marciais. Eu vivo numa aldeia. E passo muito tempo em outras aldeias do País. Não tenha dúvidas. Basta viver numa aldeia e não partecipar na vindima ou na apenha da azeitona, e não só, para ter problemas próximo do confronto físico.
Uma escola de Tomar o paraíso, uma de Lisboa o inferno.
Está enganado. Há poucos anos atrás estive a estudar o sitema de ensino e dei aulas ao Secundário durante três anos. Dois de dia, um em Miraflores e outro na Brandoa, nesta com turmas de trinta e tal alunos, e outro ano de noite, em Chelas. Em nenhum deles tive problemas, nem vi problemas que não existam em Tomar. A escola da Brandoa estava muito bem arranjada, e fazia lembrar a Francisco de Arruda de Calvet de Magalhães. Em todas elas tive óptimos resultados, com os alunos a fazerem abaixo-assinados para lá continuar, apesar de ser muito rigoroso. Em Introdução ao Direito (12º ano), um aluno que começou com teste de 11 valores, foi subindo as notas, e, no exame nacional tirou 19 valores. Quando o Conselho Directivo lhe perguntou como era possível alcançar tal classificação em Direito, ele respondeu que eu o tinha ensinado a rsciocinar... Todos os meus alunos do 12º entraram na Universidade com elevadas classificações.
Que a cultura de aldeia é mais violenta que a da cidade isso não restam dúvidas. PF é que não conhece a psicologia social das aldeias. Estas não são como há 30 anos, e, nalguns casos o desregramento é maior que na cidade.
Foi numa aldeia que uma Funcionária Pública, com o 12º ano tirado em Tomar, me disse: "Só sou comedida por necessidade, e não por civilização". Este é um dos casos de antologia,entre outros, que costumo apresentar em conferências ou cursos que dou. Só os animais actuam por necessidade. Estude a pirâmide de Maslow.
PF não refere o que eu conto na diferenciação de selecção entre os de Lisboa e os da província por mim referidos, porque a sua vivência é provinciana. Sabe pouco da vida.
PF não sabe argumentar e prefere utilizar os palvrões de aldeia. Nestas é que ao argumento se prefere o agressivo: "Vou lá (ás repartições) e dou uns coices". Quem dá coices são as bestas. Os seres humanos, comunicam civilizadamente.
PF: Este assunto é demais importante e interessante para ser discutido ao coice. Argumente. Dê um contribuo positivo para o debate. Não seja fanfarrão de meia tijela, provinciano.
A PF não falta só a sabedoria, falta-lhe a coragem.
SÉRGIO MARTINS

Anónimo disse...

Para Sérgio Martins das 14:50

Eu nem quero acreditar no que acabei de ler >>>

"Os naturais das aldeias têm uma visão da vida muito assente na hostilidade-competitiva, na resistência à mudança e com poucas preocupações de cidadania. Para se conviver com os habitantes das aldeias em Portugal é preciso tirar um curso de artes marciais."

Este seu comentario é bem mediocre
Pf tome consciencia do que escreveu e ofendeu
Os habitantes das aldeias de Portugal merecem que lhes peça desculpa

Já agora! Meu 'amigo' dedique-se á pesca,...e fique por lá!

Por favor, inventem rapidamente um ECOponto para humanos!!!!.

Com comentarios destes, inevitavelmente estamos perante 'alguém' que deveria ser RECICLADO.

1 tomarense super-atento

Anónimo disse...

O sr Sérgio Martins não sabe do que fala e generaliza como é hábito.
A realidade das escolas não é essa, e a maior parte dos problemas acontece nas ecolas de ensino básico e não nas de secundário (a Francisco de Arruda é um excelente exmplo) ainda que isso venha a mudar com os megaagrupamentos e a extensão da escolaridade obrigtória até ao 12º ano.

Mas você fique com a sua razão que eu fico com a minha. Já devia ter reflectido porque é tão pouco ouvido.

PF

Anónimo disse...

De facto o sr. Sérgio Martins tem de vez em quando lapsos que revelam a sua verdadeira natureza, escondida atrás de discursos técnicos por vezes bem fundamentados, que camuflam o seu provincianismo ideológico retrógrado e descriminatório.
Que isto sirva de aviso à navegação quanto ao valor deste senhor enquanto putativo candidato a um futuro cargo autárquico.

Anónimo disse...

Para anónimo das 23:42

Creia que fiquei estupefacto com o seu comentário e com a linguagem utilizada.

Este seu comentário é, em si mesmo, um indício da realidade que o Sérgio Martins muito bem descreve no seu artigo.

Em vez de insultar, porque é que não contrapõem civilizadamente? Até pode não concordar com a análise/diagnóstico do Sérgio Martins, mas isso não lhe dá o direito de o insultar.

Sérgio Martins é um dos cidadãos mais interventivos, mais lúcidos e mais coerentes na defesa de Tomar e da sua História. Se o ouvissem talvez não estivéssemos como estamos.

Aceite com tolerância a opinião dos outros e participe sempre, sem constrangimentos de qualquer espécie, nos debates e na vida pela cidadenia plena. Este também é um grande problema do atraso de Tomar.

Tenho perfeita noção que este meu comentário poderá não lhe agradar, mas, acredite, eu estou em crer que você não deixará de o ter em conta, independentemente da reacção que eventualmente lhe possa provocar. A convivência democrática é um bem supremo pela qual vale a pena lutar!
José Soares

Anónimo disse...

A opinião do Sr. Dr. Sérgio Martins surpreende, deixa perplexo que o conhece e até admira.

Esquece o ilustre economista que nas nossas aldeias as pessoas são genuínas, simples, directas, mas esqecidas, abandonadas, humilhadas, oratracizadas e tratados com gente de terceira.

Apesar de muitas serem analfabetas ( não são culpadas disso) têm um mestrado ou um doutoramento de saberes, que envergonha muitos doutorecos das cidades desconhecedores da vida e do dia a dia.

Que o Sr. Dr. Sérgio Martins tenha razões de queixa de alguns aldeões isso não lhe dá o direito de proferir a imponderada proza e englobar todos nas brutidades de alguns.

Gente bruta, inculta, estúpida há em todo o lado, atravessa transversalmente a sociedade.

Mas, atenção de base o povinho não é desonesto, nem ladrão e quando os de cima dão os (maus) exemplos até públicos, há quem não resista e vai atrás!!!!!!!

Anónimo disse...

Eu vim há pouco de Lisboa e ainda não tive tempo de ler atentamente todos os comentários.
As pessoas das aldeias não são tão simples quanto se julga.
É como acreditar que as crianças são uns anjinhos. Como prova a prática, e é defendido por psicólogos e filósofos, as crianças são crués, imaginativas e audaciosas. Por isso se diz que aos cachopos lembra o que não lembra ao Diabo. A inocência dos adultos leva a que as crianças tirem sempre vantagem.
Considerar os habitantes das aldeias simples é desresponsabilizá-los.
Dizer que eles continuam abadonados e esquecidos é desconhecer as aldeias. Hoje, nas aldeias, enormes casas com piscinas é vulgar.
A diferença que refiro entre cidades e aldeias não se limita a Lisboa-aldeias, mas as todas as cidades. As exigências civilizacionais em Tomar não são as mesmas que nas aldeias. É um facto. É histórico. É dos livros.
A sociologia, a psicologia, a filosofia, a economia, o direito, a política, a saúde, a educação, etc., sabem disso muito bem.
A aldeia, como os bairros populares nas grandes cidades, têm um modo de vida diferente e mais violento.
A Francisco de Arruda de hoje não é a de Calvet de Magalhães. Sabe quem foi Calvet de Magalhães ? Esteve, ou não, ligado a Tomar ?
Quando estive em Chelas a dar aulas houve um estudo sobre os africanos, onde se constatou que eles viviam foram da realidade, e apenas entendiam uma África mítica:a Mamã África. Vão diz que o estudo é racista e sei lá que mais, e que os africanos foram explorados, colonizados, etc. ? Ou estudam e debatem o problema ? Porque é que todos os que amam Áfrca, negros, brancos ou outros, têm de África uma visão mítica ?
Digam-me porque é que na selecção de pessoal para as empresas se faz a distinção entre Lisboa e província, e entre cidades e aldeias ?
Digam-me porque é que Tomar é um caso de estudo, e apresentado como aquilo que não se deve fazer na vida moderna ?
Digam-me porque é que quando, em Tomar, disse a um professor de Filosofia: o seu colega Aristóteles... Ele me respondeu: "Meu colega não. O Aristóteles andava a vender com um burro e eu sou Funcionário Público...". Querem mais histórias ?
Debatam as questões. Ganhem conciência. Mudem de atitudes.

SÉRGIO MARTINS