UM DEBATE CONDENADO DE ANTEMÃO

Cerca de 90 pessoas assistiram esta tarde, durante mais de duas horas e meia, interrompidas por um intervalo de 15 minutos, ao anunciado "Debate sobre o estado do concelho". A Rádio Hertz está portanto de parabéns por mais esta feliz iniciativa, que correu de forma impecável. Oradores e alguns assistentes puderam "dizer de sua justiça", segundo uns; "vender o seu peixe", segundo outros. Não se registou qualquer incidente, a não ser a saída inopinada, e ainda por explicar, de quatro ou cinco pessoas ligadas aos IpT, antes do início da função.

O anunciado debate é que não houve, nem podia haver, conforme aqui foi oportunamente referido. Com seis intervenientes + dois moderadores, tal não era realmente possível. A não ser que houvesse mesmo muito boa vontade dos eleitos visados, o que não era nem tinha de ser o caso. O vereador Carrão nem sequer chegou a comparecer por "motivos pessoais inadiáveis", segundo a fórmula consagrada. Fino diplomata, Corvêlo de Sousa escudou-se no seu habitual discurso emoliente, não tendo respondido a qualquer das perguntas colocadas. Já Luís Ferreira foi prolixo e mostrou-se até empolgado por momentos. Anunciou bons resultados na sua área, como o aumento de visitantes da ordem dos 35%, salvo erro. Só quando foi instado, por Correia Leal, a explicar-se sobre o "caso Lobo Antunes", soube ser rápido, sucinto e escorregadio quanto baste.

Na nossa opinião, mesmo sem debate, ou até em virtude disso mesmo, tornou-se evidente que a actual maioria está numa posição política praticamente idêntica à de Sócrates em relação à economia portuguesa -Está tudo bem, os progressos já são visíveis e as coisas vão melhorar rapidamente. Trata-se, como é óbvio, de uma posição muito perigosa. Ao não reconheceram a gravidade da situação tomarense, nem a política errada que vêm seguindo, torna-se impossível optar por novas soluções, antes debatidas com os cidadãos.

No caso de Sócrates, praticamente nada podemos fazer a nível local, enquanto que a nível nacional não temos estruturas de protesto, fora da área sindical. Terão, por isso, de ser os mercados financeiros e Bruxelas a constranger o primeiro-ministro, vendedor de ilusões de circunstância, a mudar de agulha, promulgando gravosas e impopulares medidas de austeridade. Quanto antes, para evitar males maiores.

Já a nível local, como a oposição se tem mostrado impotente, tanto para contrariar a relativa maioria como para apoiar os protestos dos cidadãos, resta esperar que a nova gerência do PSD local saiba ser digna de alguns ilustres militantes que o partido já teve e tem em Tomar. Vamos esperar, no duplo sentido do termo. Aguardar e ter esperança.

Entretanto, salvo melhor e mais fundamentada opinião, o formato escolhido para o evento mostrou que está totalmente ultrapassado, se o que se pretende é mesmo que haja debate, diálogo vivo, troca de pontos de vista. Tudo, bem entendido, num clima de correcção e de serenidade. De futuro, parece-nos que o ideal será um dos três formatos seguintes: Um para um, 1 x 2, ou 2 x 2. Exactamente como nos matraquilhos. Com as mesas frente a frente. Com um moderadorao meio, só para dar início, acalmar os ânimos quando e se for necessário, marcar os intervalos e fechar o programa. O outro moderador recolherá a opinião dos espectadores durante os intervalos, estabelecidos para esse efeito. Aqui fica a proposta, naturalmente sujeita...a debate prévio, pois então!