Nota inicial: Conforme puderam ler anteriormente (clicar em Assim vai o mundo - Califórnia 1 e 2), as coisas não vão nada bem no mais populoso estado americano. Ainda assim, houve leitores a perguntar qual o interesse deste tema que resolvemos traduzir. Abreviando razões, digamos que "A Califórnia é a Europa dentro de 10 anos." Logo, Portugal dentro de 15 anos. Ou estaremos a ser optimistas?
"Na passada sexta-feira, 24º dia do novo ano fiscal americano, os dois órgãos legislativos de maioria democrata do Congresso Californiano (o Senado e depois a Assembleia estadual) adoptaram finalmente um orçamento equilibrado que resolve o défice de 18 biliões de euros. "Não é um orçamento fácil", declarou o governador estadual republicano, que deverá promulgar rapidamente o projecto-lei prevendo 15,5 biliões de economias e evitando assim um aumento dos impostos.
"É um orçamento difícil mas necessário", reiterou. Mas agora a Califórnia promete um governo que é estável e que coloca os cidadãos acima dos interesses particulares." Terminou saudando a "coragem " dos deputados.
As reduções orçamentais previstas afectam principalmente o sector da educação (uma diminuição de 9 bilões de dólares) e a saúde para os mais carenciados (cujo orçamento sofre uma amputação de 1,3 biliões de dólares). As escolas públicas devem perder quase 6 biliões , o ensino secundário cerca de 3 biliões e as prisões 1 bilião. Ainda assim, o projecto de libertação antecipada de 27 mil presos, não foi aprovado por enquanto.
O orçamento agora aprovado reduz igualmente os serviços públicos, sistematizando a prática dos "furloughs", férias não pagas obrigatórias até 3 dias por mês, o que representará uma redução efectiva de 15% dos vencimentos de todos os funcionários.
"Há reduções orçamentais dolorosas, sobretudo na educação, na saúde e nas colectividades locais", reconheceu o presidente do Senado californiano, que prosseguiu: "Mas dadas as circunstâncias, estou mesmo assim muito satisfeito por termos conseguido evitar um certo número de outras coisas."
Apesar de tudo, os deputados estaduais votaram contra uma proposta que previa poços de petróleo submarinos ao largo de Santa Bárbara, o que proporcionaria um encaixe de 100 milhões de dólares para os cofres do Estado.
Mas a batalha do orçamento pode ainda não estar ganha, neste Estado atingido pela crise imobiliária, onde a taxa de desemprego já atinge os 11,6%, contra 9,5% de média nacional. Os sindicatos de funcionários estão preparados para contestar judicialmente as medidas prevendo reduções de despesas nos diversos sectores. Por sua vez, o sindicato das comunidades urbanas da Califórnia já declarou que o voto obtido no congresso constitui "um desvio claramente inconstitucional" da atribuição dos recursos públicos, pelo que tencionam apresentar recurso perante a justiça.
Será que o mais povoado dos estados que constituem os USA, que se fosse independente seria a 8ª potência económica mundial, se está a tornar ingovernável? Pelo sim, pelo não, o presidente da câmara de Los Angeles, a maior metrópole do estado, António Villaraigosa, um dos candidatos à sucessão do actual governador, já apelou a que se convoque uma Convenção estadual tendo em vista a reforma da actual Constituição da Califórnia."
Claudine Mulard, correspondente do Le Monde em Los AngelesTradução, adaptação e notas de A. R.
Nota final: Os nossos leitores mais inseridos na política local não deixaram certamente de notar que a notícia não menciona qualquer redução na área da cultura. Por uma razão muito simples: Nos USA, nem os diferentes Estados, nem o Governo Federal concedem quaisquer verbas para a cultura. Só para a educação, e mesmo assim... Cultura é coisa para fundações e outros particulares. Para terem uma pequena ideia da situação, até os monumentos aos combatentes da Coreia e do Vietnam, na capital federal, foram integralmente custeados e são mantidos exclusivamente pelas associações de antigos combatentes. Para a generalidade dos americanos, o chamado "estado social europeu" é algo bizarro a caminho do odiado colectivismo. Assim vai o mundo...
3 comentários:
Já o referendo para decidir se a Califórnia podia ou não aumentar os impostos não é assim tão estranho aos californianos.
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