JANOS KORNAI E A ECONOMIA DA PENÚRIA
Nota prévia: O texto seguinte só interessa, em princípio, a quem já tenha fortes noções de economia política. Sendo naturalmente de leitura livre, recomendamos aos leitores sem formação prévia adequada que passem adiante. Para depois não virem comentar que o texto era muito chato e difícil de perceber.
"Vinte anos após a queda do Muro de Berlim, é de bom tom sustentar que a crise actual veio reabilitar Marx. Que o pensamento económico marxista tenha sido apenas uma interpretação aproximativa da doutrina de Ricardo, hoje ultrapassada nos seus fundamentos, não parece ter qualquer importância. O que conta é que, invocando o seu nome, se pretenda recusar o liberalismo económico e a economia de mercado. Como escreveu no fim dos anos 40 do século passado François Perroux (1903-1987), um economista francês com um percurso bastante sinuoso, (escola austríaca, extrema-direita francesa, colaboracionista, Comissariado do Plano e Colégio de França), "capitalismo é um termo de combate", usado para instruir o processo de um sistema que, dizia ele, está condenado antes mesmo de a sua defesa ter sido ouvida.
E no entanto, agora que tal processo parece estar de novo na ordem do dia, a defesa conta com advogados de peso, como Janos Kornai. Antigo comunista húngaro, Kornai desenvolveu uma análise económica dos países socialistas da Europa de Leste, tendo concluído que as respectivas contra-performances no domínio da economia eram afinal inerentes às próprias teorias de Marx e de Lénine.
Janos Kornai nasceu a 21 de Janeiro de 1928, em Budapeste, numa família judaica de posses. O pai foi deportado pelos nazis e morreu num campo de concentração. O filho aderiu após a guerra ao Partido Comunista Húngaro, que chegou ao poder em 1947. Kornai fica fascinado pela auto-suficiência dos intelectuais comunistas, que apresentam o marxismo como um verdadeira ciência. Em 1955, já reconhecido como economista de mérito no seu país, fica chocado com o início da destalinização e começa a distanciar-se subtilmente do regime. A ruptura final acontece com a publicação, em 1980, do seu livro de referência Socialismo e economia da penúria (Edit. Economica, 1986, para a versão francesa).
Numa economia de mercado, a pressão da concorrência, conjugada com a necessidade de encontrar negócios rentáveis, força a empresas a racionalizar a respectiva gestão, a inovar e a responder às necessidades dos clientes. Kornai considera que o modelo neoclássico do equilíbrio geral é inutilmente complicado no domínio da matemática, e bastante ingénuo na sua formulação. Duvida que a economia possa ser descrita em termos de "optimalidade", de estabilidade e de harmonia, na igualdade derradeira entre a oferta e a procura. Ainda assim, pensa que a economia liberal, através dos constrangimentos que a procura impõe às empresas, permite o surgimento de uma eficácia que pode ser medida desde os inícios da Revolução Industrial pelo aumento geral do nível de vida.
Em sentido oposto, a abolição da propriedade privada, própria do socialismo, dá o poder de decidir a actores que não atribuem qualquer importância às expectativas dos consumidores. Kornai fala de "obrigação orçamental vaga". O director de uma empresa nacionalizada pode não conseguir vender aquilo que produz, as suas inevitáveis perdas nunca conduzirão nem à sua substituição nem à falência da empresa. Quer seja nomeado pelo governo ou por uma comissão de trabalhadores, segundo o princípio da autogestão, mais ou menos em vigor nos anos 70 do século passado na Jugoslávia do marechal Tito, o que esperam dele os que o nomearam, directamente ou não, é que assegure o pleno emprego, independentemente das possibilidades concretas de escoamento rentável da produção. Tal exigência faz as empresas terem quase só empregados e pouquíssimos trabalhadores.
Kornai extrai desta e doutras conclusões um verdadeira tipologia dos gestores capitalistas actuais. Os que conseguem lucros na conquista permanente de novos mercados, pertencem ao universo da economia liberal. Em contrapartida os "cost killer" são herdeiros, sem o saberem, dos antigos directores das fábricas comunistas. Como eles, desligam-se da procura real e contentam-se com a satisfação de exigências de curto prazo.
Após a queda do comunismo, Kornai envolveu-se no debate económico húngaro, tendo apoiado em 1995 a política de austeridade de Lajos Bokros, ministro das finanças até 1996. Na sua maneira de ver, a política de Bokros ousou finalmente acabar com o paternalismo social herdado dos anos Kadar (Janos Kadar governou a Hungria de 1956 a 1985), e assumiu uma verdadeira ruptura em relação ao espírito rotineiro da economia da penúria."
Jean-Marc Daniel, Le Monde, 30/06/09 - Tradução e adaptação de António Rebelo
Nota final: Poderá parecer insólita a publicação deste texto, cujo interesse para Tomar e para os tomarenses não é nada evidente, assim à primeira vista. Todavia, matutando um bocadinho, começa-se a perceber que afinal os nossos serviços públicos, não todos, mas em grande parte, também não são propriamente locais de trabalho, mas sobretudo lugares de empregos cuja utilidade nem sempre salta à vista. E que a mentalidade de muitos dos nossos dirigentes, tanto eleitos como nomeados, também não os leva a preocupar-se com as necessidades dos eleitores, mas sobretudo com interesses pessoais (vencimentos, regalias, promoções). Temos assim um curioso paradoxo: cidadãos políticamente bastante afastados da esquerda, e até por vezes anticomunistas, praticam na realidade uma gestão marxista, naquilo que ela tem de mais condenável. Afinal sempre tinha razão quem primeiro postulou que, em política, os extremos tocam-se.
A.R.
14 comentários:
Tomar em Primeiro Lugar divulga lista de subscritores do Movimento
Independente "Tomar em Primeiro Lugar"
Está dado o pontapé de saída para a campanha. Vamos aos projectos...
Os cidadãos irão avaliar a 11 de Outubro!
É Hora de acreditar que somos capazes de mudar!
Um subscritor
Este Movimento vem baralhar
as contas aos partidos e aos Independentes por Tomar!
Contem comigo.
Quero ajudar-vos.
Um apoiante
Há pessoas que são capazes por si só mover montanhas.
O Movimento está na Rua.
Coragem e muita força é o que vos desejo do fundo do coração.
A amiga de longa data
Parabéns! Conseguiram...
Contem com o meu voto.
Exmos. Srs.
Venho dizer-vos que contem comigo para recolher assinaturas.
Dr. Rebelo isto nada tem a ver com o seu texto, mas Tomar merce esta lufada de ar fresco!
Sr. Dr.Rebelo, com franqueza, após texto tão francamente elaborado, doutrinado até, pelo seu autor,propor-nos "matutar" sobre o mesmo;
não, essa não, pelo menos meditar,refectir, pensar, cogitar...
concrdará...
E viva a Nova GEnte; tragam a salvação. Combinem com a Geração Nova.A Terra desespera pelo vosso espirito guerreiro, belicista até!
Esse coktail, da esquerda à direita, passando pelo centro, é incontornável em todo o nosso meio: desde a fábrica ao escritório passando pelos gabinetes alcatifados e chegando aos campos verdes das nossas aldeias, tudo anseia a vossa chegada!
Avancem depressa, mas não caiam!
graças a vomecês,todos muito ilustrados cá no nosso sítio, vou sonhar com uma nova terra prá gente todos.
anté quinfim chigou a esperança!cá por mim sempre admirei a gente mais fina; obedeço-lhes e trabalho muito.
fico só triste e muito, porque eu, trolha de profissão, carregador de camiões por ofício, não mirei nenhum dos meus na Dourada Lista de subscritores...e acho que ficava lá muita bem.
vejam só, no meio daqueles nomes ilustrados todos a gente pôr:
.....
Zé das Urtigas:trolha diplomado; carregador de camiões por conta da crise.
....
....
e assim fico com medo,e sabem porquê, como nós somos o grosso do pessoal,com muita votos, e nem todos pensam como eu, receio muito que o voto deles seja em segurança e continuidade!
não conseguem arranjar tachitos para todos pois não?
assim não se esqueçam cá do Zé, capoia vocês e os outros todos.
mas fica bem vir aqui fazer de conta que somos muitos e fazer de contas que a vida é deficil mas a vitória vai chigar e se não for agora vomecês sabem esperar.
paciência de chifre, como falam os da minha laia.
saudações revolucionárias, sejam alemãs, italianas,russas, chinas, conforme o gosto de voçês todos a quem quero servilmente agradar.
Zé das Urtigas, carregador d´ofício
Decididamente isto é a terra dos pavões. Foi-se um para Coimbra, eis que chega uma tribo inteira!
E à volta, reina o deserto onde só se vislumbram calhaus!
Estamos lixados!
AT
http://tomaranosisto.blogspot.com/
uma nova candidatura à câmara municipal de Tomar. Por Tomar diferente, por Tomar mais jovem!
Parabens,
Vão em frente
Para anónimo em 0:15:
Desafiado pelo seu comentário, fui aos dicionários e que li eu?
1 - matutar = dar tratos à imaginação; cismar; meditar; pensar. (de matuto)
2 - matutar = meditar; cismar; reflectir.
Assim sendo, fiquei sem perceber onde reside o problema. Pruridos de linguagem? Convém não esquecer que fui formado noutra escola universitária. Aí me inculcaram ser obrigação de quem se diz culto dizer coisas complicadas com palavras simples. Em Portugal, se não estou equivocado, procuram fazer o inverso: "alambicam" as questões; escrevem coisas simples como palavras e modos complicados. Para impressionar quem lê. Nunca foi o meu estilo.
O comentário que antes ocupava este espaço, subscrito por um tal Observador, foi removido definitivamente. Aceitamos todas as criticas. Mesmo as mais virulentas. Não admitimos que gente de fraca envergadura moral e inteligência mediana, se acoite no anonimato par debitar insanidades ditadas pelos seus recalcamentos não assumidos. Se quer criticar escreva o nomezinho de baptismo por baixo. Ou então diga-nos as coisas cara a cara. Falta a coragem, não é?
Caluniar é muito mais fácil quando não se tem de prestar contas.
Este novo Movimento independentes é muito académico e desfasado da realidade local de Tomar, mas será sempre um grupo de bons consultores para algumas das medidas de "rasgo" que serão necessários de Tomar durante o próximo mandato.~
Corvelo (PSD) ou Vitorino (PS), o que ganhar, tem ali alguma gente muito séria para colaborar no futuro do Concelho.
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