"Salvar Portugal para poupar a Espanha", titulava a agência económica americana Reuters, no seu serviço em francês, no passado dia 12. Para aqueles leitores que, como Sócrates, estão convencidos de que o casal FMI/BCE não virá, nem cá faz falta nenhuma, a seguir se transcreve um excerto bastante explícito, assinado pelo analista económico/financeiro Pierre Briançon: "... ... ... Em Paris, Berlim e Francfort, sede do Banco Central Europeu, Lisboa é vista como a última linha de defesa antes de uma possível batalha de Espanha -que desencadearia uma crise bem mais profunda e sistémica do que as anteriores. Socorrer sem demora Portugal, num resgate calculado entre 60 a 80 mil milhões de euros, durante os próximos três anos, estaria dentro das actuais possiblidades do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), que vai lançar em breve a sua primeira emissão de obrigações. Os adeptos de tal ataque preventivo pensam que poderia contribuir também para afastar as perspectivas de um incêndio financeiro em Espanha, reafirmando outrossim a unidade e a determinação dos europeus. Afinal de contas, os rendimentos das obrigações da dívida pública portuguesa a dez anos estão agora muito próximos dos 7%, que o próprio governo português reconhece serem insustentáveis. Dito isto, Portugal também pode contra-argumentar que ainda se consegue financiar nos mercados a taxas ligeiramente inferiores -pelo menos por enquanto- às que exigiria o FEEF. Pode igualmente acrescentar que o crescimento económico é ligeiramente superior ao previsto para este ano, ao mesmo tempo que já se antecipou no seu esforço de redução do défice orçamental. Deve-se no entanto ter em conta que os juros actuais são também o reflexo de compras importantes da dívida pública portuguesa pelo BCE, pelo que não facultam uma ideia correcta das posições dos investidores. Por outro lado, o BCE mostra-se cada vez mais reticente perante tal tipo de intervenções, que já duram desde Maio de 2010. Ainda numa outra vertente, a situação política em Portugal, dirigido por um governo minoritário, obrigado a pedir o apoio da oposição para implementar políticas de austeridade, torna ainda mais difícil um pedido de ajuda ao BCE e ao FMI, que seria considerado como uma vergonha nacional. Os governantes europeus têm de enfrentar igualmente uma situação bastante delicada na Bélgica, sem governo desde há vários meses e com uma dívida pública das mais elevadas da zona euro, devendo ultrapassar 100% do PIB em 2011. Os mercados já começaram a reparar na anomalia belga, o que provocou um súbito aumento das taxas de juro desde o início do ano. Apesar de tal subida brusca, os juros continuam por agora suportáveis, sendo pouco provável que a Bélgica venha a ser obrigada a apresentar-se ao balcão dos seus pares para solicitar ajuda. Bruxelas aumenta portanto as dificuldades da zona euro, mas reforça ao mesmo tempo a doutrina segundo a qual as crises devem ser tratadas de forma preventiva. O que terá de passar obrigatoriamente por fortes pressões sobre os países recalcitrantes em relação à ajuda que se lhes propõe ou se lhes impõe. De qualquer maneira, na zona euro, a época da soberania orçamental absoluta já foi." |
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