sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

ANÁLISE DA IMPRENSA DE REFERÊNCIA


Ora aqui temos um exemplo de duas maneiras de ser, de estar e de agir, totalmente diferentes. Por um lado, esta notícia da página 41 do DN de 13/01/11. Nela ficamos a saber que o ex-presidente da câmara de Nova Iorque, Rudolph Giuliani, visitou Lisboa para participar na 1ª Cimeira de Turismo Português. Por outro lado, as declarações do citado participante. 
Naquele jeito tão americano de aproveitar qualquer ensejo para governar a vida, pois na ideologia "WASP" (white/anglo-saxon and protestant), e difundida desde os primórdios pelos americanos "pura lã", "ganhar dinheiro é uma maneira de agradecer e honrar a Deus", o referido político americano veio realmente a Lisboa participar da dita cimeira; mais precisamente para pronunciar uma conferência e responder a perguntas, mediante o pagamento prévio de algo como 100 mil dólares + viagens + alojamento + alimentação + transportes locais e guias. É o que fazem todos os ex-eleitos americanos, cujo preço varia consoante a sua nomeada. Se por exemplo alguém quiser trazer o ex-presidente Clinton a Tomar, para falar daquilo que pretenderem durante meia hora e responder a perguntas, basta preparar 300 mil dólares tudo incluído e contactar a embaixada US em Lisboa. As coisas são como são.
Indo agora à substância. O que disse Giuliani, numa frase curta? Que as cidades têm de ser competitivas, se querem mesmo singrar.
Para isso, acrescentou, devem baixar tanto quanto possível impostos, taxas, licenças, prazos e dificuldades. Exactaente o oposto do que se tem feito e continua a fazer aqui pelas margens do Nabão. Por isso os resultados são diametralmente opostos. Nova Iorque vai de vento em popa, Tomar vai sendo arrastada pelas circunstâncias rumo ao abismo cada vez mais próximo. Por vontade expressa dos nossos autarcas? Claro que não! São todos gente honrada e bem intencionada. Apenas ainda não perceberam que  mais serviços = mais chefes = mais funcionários = mais burocracia = mais despesas = mais impostos, mais taxas, mais autorizações, mais licenças, mais dificuldades, mais debandada = menos receitas. Quando começarem a perceber isto e a agir em consequência, a situação começará a melhorar. Até lá resta aos tomarenses mais informados continuar a ter paciência! Como escreveu o poeta, "Não se nasce impunemente em Portugal!"

"Salvar Portugal para poupar a Espanha", titulava a agência económica americana Reuters, no seu serviço em francês, no passado dia 12. Para aqueles leitores que, como Sócrates, estão convencidos de que o casal FMI/BCE não virá, nem cá faz falta nenhuma, a seguir se transcreve um excerto bastante explícito, assinado pelo analista económico/financeiro Pierre Briançon:
"... ... ... Em Paris, Berlim e Francfort, sede do Banco Central Europeu, Lisboa é vista como a última linha de defesa antes de uma possível batalha de Espanha -que desencadearia uma crise bem mais profunda e sistémica do que as anteriores.
Socorrer sem demora Portugal, num resgate calculado entre 60 a 80 mil milhões de euros, durante os próximos três anos, estaria dentro das actuais possiblidades do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), que vai lançar em breve a sua primeira emissão de obrigações. Os adeptos de tal ataque preventivo pensam que poderia contribuir também para afastar as perspectivas de um incêndio financeiro em Espanha, reafirmando outrossim a unidade e a determinação dos europeus. 
Afinal de contas, os rendimentos das obrigações da dívida pública portuguesa a dez anos estão agora  muito próximos dos 7%, que o próprio governo português reconhece serem insustentáveis.
Dito isto, Portugal também pode contra-argumentar que ainda se consegue financiar nos mercados a taxas ligeiramente inferiores -pelo menos por enquanto- às que exigiria o FEEF.  Pode igualmente acrescentar que o crescimento económico é  ligeiramente superior ao previsto para este ano, ao mesmo tempo que já se antecipou no seu esforço de redução do défice orçamental.
Deve-se no entanto ter em conta que os juros actuais são também o reflexo de compras importantes da dívida pública portuguesa pelo BCE, pelo que não facultam uma ideia correcta das posições dos investidores. Por outro lado, o BCE mostra-se cada vez mais reticente perante tal tipo de intervenções, que já duram desde Maio de 2010. Ainda numa outra vertente, a situação política em Portugal, dirigido por um governo minoritário, obrigado a pedir o apoio da oposição para implementar políticas de austeridade, torna ainda mais difícil um pedido de ajuda ao BCE e ao FMI, que seria considerado como uma vergonha nacional.
Os governantes europeus têm de enfrentar igualmente uma situação bastante delicada na Bélgica, sem governo desde há vários meses e com uma dívida pública das mais elevadas da zona euro, devendo ultrapassar 100% do PIB em 2011. Os mercados já começaram a reparar na anomalia belga, o que provocou um súbito aumento das taxas de juro desde o início do ano. Apesar de tal subida brusca, os juros continuam por agora suportáveis, sendo pouco provável que a Bélgica venha a ser obrigada a apresentar-se ao balcão dos seus pares para solicitar ajuda.
Bruxelas aumenta portanto as dificuldades da zona euro, mas reforça ao mesmo tempo a doutrina segundo a qual as crises devem ser tratadas de forma preventiva. O que terá de passar obrigatoriamente por fortes pressões sobre os países recalcitrantes em relação à ajuda que se lhes propõe ou se lhes impõe. De qualquer maneira, na zona euro, a época da soberania orçamental absoluta já foi."

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