Começo por saudar com alegria a participação nos comentários deste blogue do colega e prezado amigo José Rogério, uma das "boas cabeças" locais. O facto de o poder contar entre os leitores de Tomar a dianteira dá-me ainda mais alento para prosseguir nesta tarefa de cidadania.
Por falar em cidadania, o norte-americano Paul Krugman, Nobel de Economia em 2008, citado pelo Le Monde, escreveu no seu blogue alojado no site do New York Times o seguinte: "A verdade é que a França é um pais que tem o mesmo nível de tecnologia e de produtividade que os Estados Unidos, mas cuja sociedade fez escolhas diferentes nas reformas e nos tempos livres" E daí? perguntarão os habituais génios nabantinos de trazer por casa. E daí, a afirmação do conhecido economista americano confirma que as coisas não são bem como os liberais gostariam que fossem. Há no capitalismo vários modelos empíricos, sendo que o nosso está mais próximo do francês. O que significa que temos uma estrutura económica com significativa interferência do governo, em nome do Estado.
Os economistas liberais, designadamente os da escola de Chicago, cujo arauto português é João César das Neves, não se cansam de proclamar que "quanto menos estado melhor, porque não há almoços grátis". Todos temos de pagar tudo, de uma maneira ou de outra. A comparação acima citada do Nobel Krugman coloca em evidência que afinal é bem capaz de não ser bem assim. Há muito mais estado no modelo económico francês, quando comparado com o dos Estados Unidos, o que não penaliza sobremaneira os gauleses. Sendo certo que ambas as nações enfrentam graves problemas económicos e financeiros, o défice abissal dos norte americanos é incomensuravelmente maior do que o do governo de Paris. Apesar de terem um governo mais pequeno, mais ligeiro e mais ausente das estruturas económicas, como propõem os liberais.
Significa o que antecede estarem os americanos equivocados e os franceses na via mais adequada em termos de política conómica? De modo algum. Indica apenas que, sendo o capitalismo um modo de produção exclusivamente pragmático, vai gerando diferentes formas de funcionamento, consoante as latitudes, as longitudes e as mentalidades. Na Europa, por exemplo, o chamado "modelo económico alemão" e o seu homólogo escandinavo, passaram pela recente crise com muito menos sobressaltos do que os modelos mediterrânicos, estando já novamente em plena ascensão, após alguns pesados sacrifícios no que concerne aos alemães.
No nosso país e na nossa terra, afinal o que mais nos interessa, a crise prolonga-se e ainda ninguém vislumbra uma ultrapassagem honrosa, sobretudo devido à lógica perversa do capitalismo financeiro, em permanente confronto com a mentalidade das "cigarras mediterrânicas". Por um lado, herdeiros de tradições seculares, os tomarenses e os portugueses em geral preferem o saque à actividade produtiva, muito mais cansativa, lenta e mal remunerada. Vai daí, procuram encostar-se ao Estado o mais possível, dos grandes empresários aos políticos e aos altos funcionários, até aos dependentes do RSI. Donde resulta uma dívida pública estatal, empresarial ou municipal, cada vez mais volumosa. É aqui que entra a tal lógica perversa do capitalismo financeiro, que leva os seus mentores e gestores a aumentar as taxas de juro a cobrar em função dos recursos do cliente. Quanto menos este pode pagar, menos garantias oferece, e quanto menos garantias oferece, mais alta terá de ser a taxa de juro. É perverso, é aberrante, mas é assim. São "os mercados"! E "eles" é que mandam.
Neste contexto, a chacelerina alemã Ângela Merkel, com a "tarimba" de dezenas de anos a viver num regime dito comunista mas de partido único, e com a experiência da reunificação do seu país, teve a coragem de dizer alto o que os seus compatriotas pensavam e pensam baixinho -Não é justo nem aceitável que os cidadadãos alemães façam sacrifícios, trabalhem com afinco, paguem os seus impostos e se reformem aos 67 anos (69 dentro de 3 anos), para que outros, a Sul, vivam à larga graças ao crédito, fujam aos impostos, trabalhem o menos possível e se reformem antes dos 65 anos (aos 55, no caso dos gregos). Nestas condições, ajudas alemãs e europeias, de acordo. Mas só para quem implementar medidas drásticas, tendentes a reduzir e depois a acabar com os défices de uma vez por todas.
No nosso entender, conviria que os senhores autarcas tomarenses, com as despesas municipais a inchar e a economia concelhia a encolher, (em manifesta recessão, que tende a agrava-se), se deixassem de floreados, renunciassem à "política do homem morto" e passassem rapidamente às coisasa sérias. Quanto mais tarde o vierem a fazer, pior será para eles e para nós todos. Infelizmente.
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