Foram muito bem recebidas, porque extremamente oportunas e agradáveis para todos, excepto para os especuladores e as agências de notação, as medidas decididas na mais recente cimeira europeia de emergência. Até os famosos mercados corresponderam favoravelmente. E o caso não é para menos. Redução de 1,5% nos juros e duplicação do prazo de reembolso dos empréstimos, equivale praticamente a oferecer a um pedinte no período de descanso um ano de alimentação gratuita no restaurante de qualidade mais próximo.
Proclama o povo, na sua milenar sabedoria, que "Quando a esmola é grande o santo desconfia", pelo que convém examinar a nova situação, sem dúvida mais favorável, com todas as cautelas. Será finalmente o princípio do fim da crise? Claro que não. Trata-se apenas de mais um remendo, num pneu já cheio deles. Vistas as coisas detalhadamente, o problema de fundo mantém-se e agrava-se de dia para dia. Estado, Regiões, Empresas Públicas, Empresas Municipais, Empresas Mistas, Câmaras, Freguesias, continuam a gastar bastante mais do que as receitas efectivamente entradas nos cofres. Tanto em Portugal como em toda a Europa do sul. Sempre usando como justificação a estafada frase feita "Alguém há-de pagar!"
O problema é que ninguém paga afinal. Não por má vontade, mas apenas porque o tempo em que era "sempre a somar" foi-se, dando lugar ao actual "é sempre a diminuir", excepto no que concerne aos impostos e outros pagamentos obrigatórios.
Em Tomar, apesar da aparente normalidade, as coisas vão tão mal ali pela Praça da República que até já há pelo menos um caso em que o uma família modesta vive um sério drama, basicamente causado por desleixo, desinteresse e incompetência dos senhores autarcas. Trata-se de um salariado que não recebe há meses (nem sabe quando ou se alguma vez virá a receber) porque a sua entidade patronal continua a aguardar que a autarquia cumpra o acordo que assinou em tempo oportuno. Que agora não consegue honrar por falta de "cabimento orçamental", que é como quem diz "verbas disponíveis". Que culpa tem o infeliz empregado que assim aconteça?
Neste como em cada vez mais casos, a actual e relativa maioria, com a conivência de jure ou de facto dos outros membros do executivo e da maior parte da AM, vai empatando, empatando, empatando, empatando. Para quê? À espera de melhores dias? Procurando apenas mamar quanto mais tempo melhor?
Sendo indiscutivelmente positivas, as recentes decisões tomadas em Bruxelas representam apenas uma curta aberta na persistente tempestade internacional, uma vez que permanecem e se agravam os factores na origem desta. Além de que era praticamente obrigatório agir como foi feito. Em termos políticos, faria algum sentido o duo Merkel-Sarkozy conceder ao governo grego -que é de esquerda- novas e evidentes facilidades (alargamento do prazo de reembolso, juros mais baixos, eurobonds), indispensáveis para evitar a bancarrota, recusando-as aos correlegionários irlandeses e portugueses?
PP Coelho tem todos os motivos para estar contente, sendo no entanto forçado a não cantar de galo e mesmo a continuar a imposição de medidas drásticas na capoeira lusitana, que de resto delas bem precisa. Aqui em Tomar então, nem se fala! Ainda ontem, tendo havido um acidente aqui numa obra, em que um operário se sentiu mal e caiu. Apareceram duas ambulâncias, com quatro socorristas e o carro patrulha da PSP, com dois cívicos. Houve interrupção de trânsito na Rua Direita durante mais de meia hora, após o que a vítima lá seguiu para o Hospital, numa das ambulâncias. Duas horas mais tarde, 5 pessoas, cada uma com um dossier na mão, ainda debatiam o assunto no interior da obra, uma delas com um desses coletes fluorescentes ostentando a legenda "Autoridade para as condições de trabalho". Como é que um país com gente assim poderá alguma vez ultrapassar a crise?!
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