Foto Carlos Garcia |
Para o bem e para o mal, pertenço ao pequeno grupo de tomarenses que ficam com as lágrimas nos olhos, de emocionada alegria, ao verem os tabuleiros a sair da velha Cerca do Convento. O que não implica, bem entendido, que tenha de concordar com tudo e com todos, logo que se trate da nossa Festa Grande. Há mais de trinta anos que mantenho tal posição, que apesar disso ainda não terá sido entendida por todos os meus conterrâneos. Ainda hoje me constou, uma vez mais, haver quem considere que sou contra a realização da Festa dos Tabuleiros. Sou, portanto constrangido a explicar de novo o que penso sobre tal evento.
É sobejamente conhecido o tradicionalismo tomarense. Bom mesmo é o que já foi e está. Nunca o que virá. Avessos à mudança, os nabantinos procuram por todos os meios evitar que ela aconteça, baseados num equívoco -o de que, não havendo mudanças atempadas e substantivas, tudo poderá continuar na mesma. Como se ainda estivéssemos na época das carroças, da grafonola, da máquina a vapor, do daguerreótipo ou do ferrador-dentista.
Com o evidente e cada vez mais rápido agravamento da crise tomarense, ampliada pela crise nacional, parece-me um aberrante contra-senso gastar-se uma pipa de massa numa festa lindíssima, mas cujos objectivos reais carecem de nova e urgente definição. A agravar a situação, haverá como habitualmente um peditório de porta em porta. Muitos tomarenses, entre os quais me incluo, pagam assim duas vezes para a sua festa: nos seus impostos e por ocasião do peditório. Não será um exagero, quando há por aí conterrâneos com fome?
Se considerasse não haver outra solução, nem sequer me daria ao trabalho de escrever este texto. Acontece, todavia, que há um outro modelo estrutural para a festa, o qual, sem a adulterar, possibilitaria arrecadar uma boa receita, quando com o modelo actual quase só há despesas. É aqui e só aqui que reside a minha discordância sem acrimónia. Não concordo, sem contudo estar zangado ou irritado. Limito-me a pensar de modo diferente. Noutros termos, não me refiro nem critico o "operariado da festa" (cesteiros, latoeiros, floristas, armadores, padeiros, portadoras, ajudantes, aguadeiros, etc), nem os quadros intermédios (membros das comissões, presidentes de junta, mordomo). Apenas lamento que a "superestrutura pensante" tarde em cumprir a sua obrigação, actualizando a festa pela modificação do seu modelo organizativo. Tal é inevitável e quanto mais tardar, pior será para a cidade. Bem sei que é um atavismo no nosso país. Conforme referiu esta semana António Barreto, fazemos o que tem de ser feito sempre tarde, a más horas e de modo atabalhoado. Sempre.
Por não estarem em causa liberdades fundamentais, acedi não escrever ou falar mais sobre a Festa dos Tabuleiros até a realização da mesma. Cumprirei o que prometi. Mas logo a seguir vão ter me aturar. Procurando conseguir que, ao menos uma vez, os tomarenses liderem, em vez de andarem sempre a reboque dos acontecimentos. Ou nos adaptamos ou desapareceremos como comunidade.
2 comentários:
Para CARLOS CONSTANTINO:
Como estamos a poucos meses da próxima Festa dos Tabuleiros e prometi uma trégua até lá, o seu comentário foi impresso e entregue em mão ao mordomo da festa, que era, julgo eu, o principal destinatário. Logo após a festa cá estaremos para o debate que se impõe e no qual as suas opiniões serão bem vindas.
Cordialmente,
António Rebelo
A Festa vai ser um flop.
Acabaram os tempos das vacas gordas. E infelizmente hoje ninguém trabalha por amor à camisola. Ou melhor, até há quem trabalhe, mas são sempre os mesmos e não dão para encomendas...
João Victal sabe que este ano não será como no passado. Os voluntários escasseiam, os oportunistas abundam. Tomar corre sérios riscos de ficar mal na fotografia.
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