No mais recente post do site da Rádio Hertz citam-se declarações de Miguel Relvas, na conversa amena que connosco manteve. Há nelas três temas que até agora não tinham sido referidos aqui no blogue -cultura, ambição e poder local com elas relacionado. Tal silêncio fundamenta-se na cicunstância de, pelo menos aqui em Tomar, o sector cultural ser bastante rico em entidades subsidiadas e ambiciosas em termos materiais, mas com manifestações artísticas de qualidade pelo menos discutível.
Como é sabido, na cultura e em tudo o resto, há dois grandes critérios para aferir a qualidade seja do que for: o critério político e a opinião dos consumidores. Aquele é geralmente definido pelos eleitos, nem sempre de forma isenta, propiciando subsídios e outras benesses sem relação evidente com o real interesse dos eleitores. Em contrapartida, a opinião dos consumidores é sempre extremamente fácil de aferir, ainda que raramente aceite de forma pacífica pelos dirigentes das citadas associações: as receitas dos ingressos, conseguidas em cada manifestação. São conhecidas de resto as rivalidades existentes entre o "estilo La Féria", em geral rentável sem subsídios e o modus faciendi dos restantes operadores culturais, salvo raras excepções.
Não sabemos ao certo qual o total de associações ditas culturais existentes nesta altura no concelho de Tomar. O que não surpreende, pois a actual gerência autárquicas não gosta mesmo nada de facultar informações completas e atempadas. Ainda recentemente noticiou na imprensa local, por exemplo, que os TUTs tinham conseguido uma receita global de Y em X meses de 2010. Como nada se dizia sobre os inerentes custos de produção/manutenção (amortizações e desgaste de material, combustível, pneus e revisões mecânicas, remuneração de motoristas, impressão de bilhetes, contabilidade...), os leitores ficaram praticamente a saber o mesmo. Outro tanto acontece com a cultura. Apenas foi referido que foram atribuídos, salvo erro, 80 mil euros a todas as associações, o que corresponde a 50% do subsídio anual.
No início dos anos 90 do século passado, havia oficialmente 143 associações no concelho, praticamente o dobro das existentes em qualquer outra autarquia do distrito. Alguns autarcas de então ufanavam-se em privado por terem sido escolhidos para dirigir um Município tão dinâmico. Os anos passaram, as vacas emagreceram primeiro, tornando-se depois esqueléticas, sendo agora evidente que o tal dinamismo afinal...
Mesmo ignorando quantas associações culturais existem e funcionam mesmo em todo o concelho, forçoso é reconhecer que, salvo raríssimas excepções, aquilo que apresentam como produção cultural (quando apresentam) não tem qualidade que justifique o que custa aos contribuintes. Não será agradável para os seus dirigentes ler isto, mas a verdade quase nunca é agradável nestas coisas. Com os orçamentos autárquicos a encolherem cada vez mais, os autarcas da relativa maioria estão confrontados com um problema cuja solução será tanto mais difícil quanto mais tarde for adoptada. Estamos a falar da inevitável selecção, tal como sempre tem acontecido e acontece em tudo, até na natureza. Só os mais aptos, os mais capazes, sobrevivem. E o dilema é este: ou seleccionam a tempo e a horas, ou acabam por morrer todos. Porque o concelho definha a olhos vistos. Porque as agremiações de qualquer tipo não escapam à lei geral -nascem, crescem, envelhecem, definham e morrem...
Quando o próprio Miguel Relvas, que nada tem de revolucionário, se vê forçado a denunciar a falta de ambição concelhia no domínio das indústria cultural, no que concerne ao executivo que ele antes apadrinhou e contribuiu para viabilizar, é obvio que a situação não é boa, nem sequer para lá caminha. Por isso ninguém gosta de falar no assunto. Resta pois aguardar pelas hipotéticas decisões, nessa e noutras áreas. Como é costume dizer-se "Sem dinheiro, não há palhaços!" E o dinheiro é cada vez mais escasso...
5 comentários:
Caro António Rebelo:
Antes de mais, queria deixar os meus parabéns pelo seu blogue. Acho que é uma excelente fonte de informação sobre os acontecimentos que "realmente" ocorrem na nossa cidade, bem mais consistente do que muitas vezes é propalado nos jornais locais, além de que são analisados de uma forma que, podendo-se ou não concordar, pelo menos mostra coerência.
Relativamente à sua recente incursão no mundo do jornalismo (desconheço se tem alguma experiência prévia…) gostaria imenso de o ter ouvido na rádio, mas efectivamente não me foi possível. Restringindo-me somente às declarações do seu blogue, não posso deixar de estar de acordo com alguns comentadores, nomeadamente com o Sr. Pedro Miguel. Na minha opinião, vestir a pele de cordeiro (Miguel Relvas) numa altura destas só lhe fica muito mal; agora saber se as pessoas aceitam isto serenamente será algo que só o futuro (eleitoral) nos dirá…
O meu terceiro tópico vem no seguimento de uma dúvida que me assalta e que agradecia que respondesse, se soubesse: não deveria a esta altura terem saído os Orçamentos Camarário e do SMAS? É que quer no site da Câmara, quer no Google, não há referência a nenhum deles. Como curiosidade, pode ser que seja interessante, pode ser que não valha nada, deixo aqui um link onde deputados do CDS-PP (atenção que não sou militante deste partido ou de qualquer outro, além de que podem existir outros requerimentos interessantes vindos de deputados de outros partidos, não pesquisei…) fazem questões que, apesar de pertinentes, não estão explícitas (nomeadamente nas questão 5, onde não especifica se é a remuneração anual ou mensal e a resposta da CMT é também omissa) e as “belas” respostas da CMT, em especial no caso da Tomarpolis...
http://www.parlamento.pt/ActividadeParlamentar/Paginas/DetalhePerguntaRequerimento.aspx?BID=55765
Por fim, uma opinião pessoal: se é sua vontade lutar por ser Presidente da Câmara, acho que deve seguir em frente! Feliz (ou infelizmente) as questões partidárias num concelho pequeno como o nosso, ainda para mais a enfrentar problemas sistémicos tão graves, impõem que aqueles que se consideram adequados a enfrentar os problemas que existem devem avançar. Não lhe prometo o meu voto, mas garanto-lhe que serei uma pessoa atenta na sua análise e nas soluções que apresenta. E isso ou só foi importante há cerca de 1 ano e 3 meses, para apresentação teórica de alguns, ou então pura e simplesmente não existiu para outros.
Os meus melhores cumprimentos,
Para anónimo em 00:48
Obrigado pelas suas opiniões. Os orçamentos e planos da CMT e dos SMAS foram aprovados com os votos contra de IpT, CDU, BE e CDS, e a abstenção do PS, apesar de parceiro da coligação. Consultá-los na net é que é difícil. O deputado municipal Hugo Cristóvão, do PS, mostra porquê no seu blogue alguresaqui.blogspot.com
Quanto à eventualidade da minha candidatura à autarquia, encontro-me num dilema corneliano, (se me faço entender). Por um lado julgo saber que será uma tarefa bem ingrata e agreste; por outro, sou empurrado pela paixão que nutro por esta terra que me viu nascer e crescer. Por um lado gostaria de apoiar um candidato com um projecto sólido e adequado à conjuntura; por outro, sei bem que nunca se é tão bem servido como por si próprio.
Porque assim é, vou dando tempo ao tempo. Pode ser que entretanto apareça alguém capaz. Para lhe ser franco, até ficaria mais satisfeito se pudesse evitar candidatar-me.Na altura própria, os tomarenses dirão o que pensam.
Cordialmente,
António Rebelo
Permitam-me que chame à atenção para o facto de procurar, nos pelouros que me têm estado distribuídos, a apresentação de contas e principais indicadores de gestão.
Além do Turismo, museus e cultura, cuja apresentação de resultados já haviam sido apresentados nos meses de outubro a dezembro, na passada Terça-feira tive oportunidade de o fazer na área da Proteccao civil.
Os grandes números podem ser consultados no meu blogue <a href="http://vamosporaqui.blogspot.com>Vamosporaqui.blogspot.com<\a>.
ferreira das farturas SEMPRE na propaganda pessoal!
Até quando?!
desampara a loja, ferreira. Já sabemos que tiveste 90 e tal de receitas, deixa de ser chato a mandar mensagens às pessoas que tão a trabalhar
Enviar um comentário