Estas ilustrações mostram duas pinturas do século XVI, que fazem parte da mais rica colecção de pintura quinhentista portuguesa existente no país e ainda no seu local de origem -A Charola do Convento de Cristo. Na primeira, Santo António fala aos peixes, à esquerda, que o escutam atentamente, tal como os animais, à direita. É Santo António de Lisboa, dirá quem lê. Erro! Trata-se de Santo António de Pádua, o português Fernando Bulhões, natural de Lisboa. Sabedor de que ninguém consegue ser profeta na sua própria terra, porque ninguém o ouve, foi-se para terras transalpinas. Aí encontrou peixes e animais acolhedores e atentos. Para já não mencionar os próprios semelhantes, que lhe ergueram uma sumptuosa basílica/santuário, ainda hoje importante local de peregrinação para toda a cristandade. Já santificado pela igreja, o seu país de origem não tardou em rebaptizá-lo como Santo António de Lisboa, sem contudo lhe erguer até hoje qualquer basílica comparável à italiana. Neste país reivindica-se muito, fala-se pelos cotovelos, mas as obras são poucas e geralmente modestas, embora com tendências megalómanas. Uma outra diferença importante separa as duas designações oficiais de Fernando Bulhões. Em Itália, é o protector dos objectos perdidos, a quem se reza para os encontrar. Em Portugal é o santo casamenteiro, o que talvez possa contribuir para explicar porque há entre nós cada vez mais enlaces matrimoniais que cedo se transformam em casos perdidos. E se os casos perdidos se limitassem aos casamentos, ainda vá. O pior é que também na economia e na política, sobretudo no vale do Nabão... O que nos vai valendo é que a generalidade da população, pelo menos na aparência, continua impávida e serena, como se nada tivesse a ver com a calamitosa situação nacional e local. Quando e se resolverem finalmente acordar, é bem capaz de já ser tarde demais, conforme aqui vem sendo escrito, para que conste. O outro quadro -O martírio de S. Sebastião- é na realidade uma simples reprodução fotográfica, com a mesma dimensão do original, que em tempos foi levado para Lisboa, para restauro, e nunca mais regressou ao local primitivo, encontrando-se exposto no Museu Nacional de Arte Antiga, vulgo Janelas Verdes. Nele podemos ver dois sádicos incréus (como alguns tomarenses fingidamente religiosos) alvejando quem não lhes agrada, um com arco e flecha, à direita, outro com besta, do lado esquerdo. Ao fundo, outros independentes e/ou esquerdistas vão aprontando as armas para continuar a odiosa tarefa de sacrificar um semelhante, só porque não pensa nem age como eles. Muitos séculos mais tarde, enquanto nos países além-Pirinéus "quando o dedo aponta para a Lua, os idiotas olham para o dedo", neste extremo ocidental da Europa e entre Tejo e Mondego, além de fazerem outro tanto, têm o mau hábito de agredir verbalmente quem ouse apontar realidades menos agradáveis. E até completam o mal com a caramunha: provocam as piores trapalhadas, votam as decisões mais disparatadas, mentem sem escrúpulos, mas depois ainda têm o desplante de se considerar perseguidos, garantindo que fulano, cicrano, beltrano ou milhano não gostam deles. Como se na política, na economia ou na informação fosse possível agir proficuamente em função dos gostos de cada um... |
4 comentários:
Caro Dr. Rebelo,
O nome de batismo de Santo António de Lisboa, séc. XIII, não tinha como sobrenome BULHÕES. Isso foi invenção.O seu nome verdadeiro era Fernando Martins; o sobrenome Bulhões foi uma tentativa de lhe azular o sangue... - ele pertencia a uma família da mais baixa nobreza. Havia dessas coisas na idade média, inclusivamente, pessoas abastadas que contavam tretas sobre a sua linhagem, dizendo que eram familiares desta ou daquela família de azul carregado. Isso poderá ter acontecido por vontade das autoridades da igreja, da própria família ou da nobreza ela mesma. Ainda hoje isso se passa em barda, como sabe. Eu, por exemplo, descendo de uma família nobre rural caída em ruína e mesmo assim gosto de me vangloriar disso junto de algumas pessoas para crescer em status social., escondendo que fui criado em convívio com os operários das Fábricas de Papel de Marianaia e da Matrena e fui durante oito anos operário tipógrafo (Artes Gráficas...) - esta parte biográfica escondo-a...
"Santo" porquê? Em vida (em Portugal, França ou Itália) nunca foi conhecido por Santo, tão pouco no seio da Ordem, onde era reconhecido como o Frade
mais culto, conhecedor profundo da cultura clássica grega e romana, nomeadamente Platão e Aristóteles e pensadores árabes de topo na altura (esteve no norte de África), sabendo-se que os frades mendicantes eram quase todos analfabetos ou de reduzidíssima instrução, incapazes de competirem com outras ordens cristãs da época na explicação da doutrina cristã aos gentios, à época mergulhada em terríveis controvérsias sobre a natureza de Cristo e a questão da Trindade, etc. A sua cultura e capacidade oratória era tal que Francisco de Assis, a contragosto, lhe pediu para escrever um "Tratado dos Pregadores" (e ele escreveu) para os outros frades se guiarem na sua ação missionária. Foi com dificuldade que F.Assis cedeu a essa modernização. Mal acomparado, é certo, veja, por exemplo, o cagaréu que José Sócrates provocou com as suas medidas na ciência, novas tecnologias, educação, novas energias, etc. e a sua ambição de modernidade no nosso país... e a consequente reação que provocou nos setores da nossa sociedade instalada e institucionalizada, ao ponto de o quererem decapitar como vil heterodoxo. A História e a evolução das ideias ajudam-nos a perceber melhor a nossa vivência do dia a dia, como o senhor muito bem sabe.
"Morreu o santo!", "morreu o santo!", "morreu o santo!", correram as crianças pelas ruas de Pádua a anunciar a sua morte - daí ser conhecido por Santo. Anos depois foi canonizado.
Na idade média para ser Teólogo + Pregador era preciso saber filosofia e ele sabia-a. Numa Ordem onde quem tem um olho é rei..., ora aí está. O nosso povo lá diz, quem tem um olho é rei e Camões é cego Paulino tem olho. Ou seja: o José Sócrates era um ganda maluco e por isso vai agora estudar filosofia, muito aplaudido por MRSousa... Talvez regresse um ortodoxo.
Como já é o segundo post, seguidos, em que refere o Santo António, cascando sistematicamente em Sócrates, deduzi que lhe tivessem dado a ler algum Tratado de Pregador contra o homem, e a favor de eleições intercalares, já que, satisfeito com as últimas, quer mais, agora em Tomar.
Mas de uma coisa o previno: o seu Santo (não o Fernando Martins) decerteza que lhe não encomendou esse sermão e deve estar radicalmente contra essa pregação, sabendo que a acontecerem aí intercalares é ele que salta para os mídea como responsável desse caos que aqui vem criticando - refiro-me ao jagunço político da terra.
Continua....
.....Continuação
Ainda hoje, às 21H00, estive a ouvi-lo, a ele e ao Marinho dos "60 minutos" (que jactância e pedantice ao fazer-se aparecer num tal programa de altíssima qualidade) e acredite que me aterrorizei com a sua conversa fiada contra os partidos e José Sócrates como se estivesse ainda em campanha eleitoral).
Estude um pouco a vida do Fernando Martins (Bulhões não), hoje recuperado para a antologia do pensamento filosófico português, e não o das cantarinhas (mito), e vai ver que o novo "salazar" de S. Bento não lhe despacha de cruz projetos para Tomar, nem que seja o Dr. Rebelo o Presidente. Tenho para mim que ele vai ser o primeiro a ser decapitado. Ele não merece o seu apoio.
Depois não diga que não o avisaram
Imprevidência do dr. Rebelo.
Os alemães já "sugerem" aos gregos que vendam os seus hospitais para conseguir empréstimos. Como o nosso PM, Passos Coelho acha que "estamos a ser um peso para os nossos amigos europeus" ainda se corre o risco de nos levarem as pinturas.
Hoje foi dia de posse e é noite de aflição por causa do que se passar no Parlamento Grego. O fala-barato César das Neves continua com a história de o Governo Sócrates ter negado a falência nacional. Mas se a sra Merkel não é mentirosa havia um programa europeu que evitava a troika e que o PSD+CDS chumbaram.
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