domingo, 26 de junho de 2011

A JANELA, A GANÂNCIA E O FUTURO

Foto 1
Foto 2

Foto 3

Foto 4
Foto 5

Foto 6

Foto 7

Foto 8

Os leitores desculparão a insistência. O tema merece toda a atenção dos tomarenses e do país. Está em causa o futuro, a perenidade da Janela do Capítulo. Volto à reportagem de ontem, no suplemento FUGAS d'O PÚBLICO. Nela pode ler-se, a dado passo: "Triste é ver a janela a ser comida pelos líquenes invasivos. Só terão aparecido depois da plantação de coníferas na Mata dos Sete Montes... ... ...Procurava-se imitar as matas de Sintra que, por sua vez, reproduziam as florestas alemãs. Mas Tomar não é Sintra e o efeito foi encher de líquenes as pedras do convento.
De lado, numa das torres, nota-se já o efeito da limpeza: aplicaram-se pachos biológicos com nutrientes que promovem a emigração dos líquenes da pedra para uma calda biológica. A diferença é notória: a pedra foi devolvida à sua beleza na torre já limpa, continua sujeita à patine do tempo na janela e em grande parte das paredes do edíficio."
Infelizmente, o que aqui consta foi soprado ao jornalista por gente que cá habita e tem responsabilidades no Convento. Apesar disso, penso que estamos perante duas histórias da carochinha. Passo a tentar fazer a respectiva demonstração.
1 - "Triste é ver a janela a ser comida pelos líquenes... ... ..." Trata-se obviamente de uma patranha. Basta olhar para a janela com atenção (foto 7) para verificar que não há nela qualquer indício de degradação originada pelos alegados pretensos líquenes glutões.
2 - "Só terão aparecido depois da plantação de coníferas..." é um perfeito disparate. Uma infantilidade sem pés nem cabeça. Quem pode demonstrar e como, que assim foi?
3 - Admitamos, contudo, que seja verdadeira a referida galga da origem dos líquenes. Se tal ocorreu no convento, terá ocorrido também na Ermida da Conceição, igualmente nas proximidades da Mata. Pois bem, a tão alavancada proposta, neste caso implícita, de limpeza da janela, já foi executada na ermida em 2003. Pela modesta soma de mais de um milhão de euros = 200 mil contos. Caso para dizer que foi mesmo uma boa limpeza, em todos os sentidos da expressão. Oito anos mais tarde, a capela da Conceição  (Foto 1) está aparentemente melhor, excepto naquela parte caiada, no ângulo superior direito. As mazelas causadas pela onerosa limpeza só são visíveis quando nos aproximamos: tímpanos e cornijas muito danificados (fotos 2 e 3), produtos isolantes que afinal não isolam nada e só sujam (foto 4), blocos do revestimento corroídos pelos jactos de água+areia, usados na limpeza ( foto 2). É isso que se pretende fazer no Coro Manuelino e Janela, para encher os bolsos de alguns?
4 -  "A pedra continua sujeita à patine do tempo na janela e em grande parte das paredes do edifício." Afinal em que ficamos? A janela está  mesmo a ser comida pelos tais líquenes glutões, ou tudo aquilo é apenas "a patine do tempo"?
5 - "Numa das torres, nota-se já o efeito da limpeza..." Deixemos o português macavenco do autor. Não se trata de uma das torres, mas simplesmente de um botaréu, naturalmente rematado por um coruchéu. As fotos 5 e 6 mostram essa parte que já foi limpa, a título de ensaio, por cerca de 100 mil euros = 20 mil contos. A história dos "pachos biológicos" para originar a emigração dos líquenes gulosos, é mais um conto infantil, que não resiste aos factos. Tenho em meu poder fotocópias do caderno de encargos da empreitada (por acaso elaborado pela empresa que depois ganhou o concurso de adjudicação) e nele não se fala em quaisquer "pachos", ou coisa parecida. Aliás, basta clicar para ampliar a foto 5, para intuir como as coisas foram realmente feitas. Agora não há líquenes naquele sector, que deixaram portanto de proteger o calcáreo contra as chuvas ácidas. O resultado já é bem perceptível. Atente-se nas pedras que já mudaram de cor e começam a apresentar um aspecto "leproso", inexistente em qualquer outra parte ainda por limpar. Sinal inequívoco de que se trata de mais algum descuido durante os trabalhos. Algo que "correu mal", como é habitual. Os produtos químicos decapantes são realmente muito práticos e eficazes, mas depois não perdoam, a médio e longo prazo.
6 - Apesar de todos estes óbices impeditivos, vamos admitir que, num qualquer momento de loucura, alguém lá longe, nas alturas do Palácio da Ajuda, resolve mesmo mandar limpar integralmente o coro manuelino e a janela. Nessa horrível eventualidade, se as coisas viessem a correr mal, como infelizmente já aconteceu nos Jerónimos, no Portal da Atalaia, na Torre de Belém e na Sra. da Conceição, por exemplo, quem viria depois a ser responsabilizado criminalmente? Ninguém, não é verdade? É pena!
7 - Ainda no caso da tal perigosa limpeza vir a ser levada a cabo, tendo em conta aquilo que está à vista de todos na Sra da Conceição, o coro manuelino e a Janela do Capítulo, caso resistissem ao atentado sem demasiados danos, teriam de ser novamente limpos passados quantos anos?
8 - O que me entristece é que pessoas em princípio acima de qualquer suspeita se deixem arrastar e embalar pelo espírito de ganância, de ganhunça, de dinheiro pelo dinheiro, pugnando pela limpeza da janela à revelia do bom senso, quando há no convento inúmeras dependências no estado que foto 8 mostra. Para já não falar do matagal que cresce na sapata, ou alambor, do castelo, nem nas ervas altas e outros detritos no adro da Sra. da Conceição. São coisas pequenas, que não dão dinheiro, não é?  Haja vergonha!

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