Os Portugueses, Barry Hatton, tradução de Pedro Vidal, Edições Clube do Autor. S.A. info@clubedoautor.pt, Maio de 2011
Numa altura de gravíssima crise, que ninguém sabe como nem quando vai acabar, nada melhor, no meu entender, do que documentar-se na medida do possível, de forma a tentar compreender onde estamos e como chegámos a esta triste situação. Britânico há muito residente em Portugal, jornalista e excelente observador, Barry Hatton é casado com uma portuguesa, de quem tem três filhas, também portuguesas. O seu livro é, quanto a mim, uma suculenta, enriquecedora e amena leitura sobre o povo que sempre fomos e somos, numa linguagem irónica e fingidamente distanciada, como só os ingleses sabem usar. Eis cinco excertos selecccionados, assim a título de amuse-gueule, que é como quem diz acepipes, em linguagem pessoana.
"Quando disse à minha filha mais velha, nascida em Portugal, então com 15 anos, que estava a escrever este livro, a sua resposta imediata foi: "Oh pai! Não nos faças parecer um bando de saloios, que é o que toda a gente pensa de nós." Tinha alguma razão. Até mesmo os portugueses concordam por vezes com isso. Não é invulgar ouvir um taxista português a vociferar contra a falta de habilidade para conduzir dos seus compatriotas, nesta linha: "Somos um bando de camponeses a viver numa cidade." E quando num avião cheio de portugueses se começa espontaneamente a bater palmas por causa da aterragem bem sucedida da aeronave, é palpável o embaraço de alguns dos seus compatriotas." (Pág. 26)
"Um amigo português contou-me que o dono de um restaurante que conhecia, enganou um casal de ingleses, levando-o a pagar um preço muito mais elevado do que a conta, por um prato de sardinhas. E gabava-se da história. Mas quando uma das maiores empresas turísticas britânicas se retirou, porque a região se tornara demasiado cara, os donos dos restaurantes foram a correr ter com o governo para que os salvasse."(Pág. 43)
"Um jornalista estrangeiro recém-chegado... ...que se esforçava por compreender o português, fez uma nota mental para pedir uma entrevista com um homem chamado "Pá", que nunca tinha visto, mas que era repetidamente mencionado sempre que as pessoas discutiam. Deve ser, pensou o meu colega, alguém poderoso, alguma figura obscura que puxa os cordelinhos atrás do cenário -um general, talvez. Ou um político ligado ao KGB." (Pág. 193)
"Em especial nas pequenas vilas rurais, onde as relações são mais pessoais do que oficiais, os políticos locais mantiveram as mãos metidas na bolsa da UE e entregaram-se a gastos estouvados e frívolos, que perpetuavam o patrocínio e o nepotismo. A criação de riqueza perene foi muito frequentemente negligenciada. O presidente do Tribunal de Contas reconheceu, em 2008, que "muitas infra-estruturas foram construídas para ninguém." Foram uma manifestação da síndrome de "pontes-para-nenhures". (Pág. 224)
"Uma atitude desdenhosa em relação à noção de ordem talvez seja mais visível na confusão rural de Portugal. As cidades da província parecem ter sido planeadas nas costas de um guardanapo de papel, durante o almoço. Mesmo os locais que contêm notáveis jóias arquitectónicas e históricas, como Tomar, com o seu Convento de Cristo, do século XII, estão desfigurados pela arquitectura urbana desleixada. "Tomar é feia!", suspirou a minha mulher (portuguesa), enquanto a atravessávamos de carro." (Pág. 228)
Gostou? Então está à espera de quê?! Se está em Tomar, ala direito à Livraria book.it do Modelo/Continente. Ontem ainda restavam cinco exemplares. No expositor central, à esquerda de quem entra, na face virada para o exterior, livros expostos com a lombada para cima, sensivelmente a meio. Boa sorte...e boa leitura!
2 comentários:
"Arquitectura urbana desleixada?" Mas há muito que isso é denunciado neste Blogue, não só nos comentários, mas através do Sr. Professor Rebelo. Mas ainda há quem pense que não. São sempre os mesmos do costume.
Desleixadas estão também as antigas Escolas Primárias. Mas a Vereadora Rosário nada faz para alteral a situação. É somente mais uma parasita que habita nos Paços do Concelho, entre tantos outros, quer políticos, quer técnicos com responsabilidades na educação no Concelho de Tomar. Se tivessem vergonha na cara já tinham actuado em conformidade.
Deixe lá os estrangeiros. Dê-lhes a mesma importância que um francês daria a um emigrante portugues opinando sobre a França. Ou opinando sobre os (des)amores na casa real inglesa. Em todo o lado há períodos de incompetencia como aqui nos ultimos 30 anos.Não prestamos porque nada descobrimos desde 1500? Talvez, mas Napoleão veio ao saque e foi corrido. Ficaram os ingleses a saquear mas foram de volta. Os alemães quiseram ocupar as colónias em Africa em 1915 e lá fomos para a 1ªGrande Guerra. Os tontos dos franceses e ingleses ganharam-na e humilharam os vencidos. Até os alemães se recomporem e declararem vingança em 1939. Arrasaram a Europa. Escapámos e fizemos jogo duplo diplomático. 10 anos depois da descolonização já estavamos a fazer parcerias com os novos países. Argelinos e franceses ainda hoje não se podem ver. Tal como Belgas e congoleses. Ou chinese e ingleses. Durante 8 séculos resistimos a um vizinho poderoso e que nos podia encurralar. Tivemos 30 anos de governação de incompetentes? Verdade. Basta olhar para Tomar, apesar das tentativas de branqueamento.
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