Quem siga com alguma atenção a actualidade, já terá certamente sido confrontado com a flagrante fractura comportamental entre o centro e a periferia da Europa, no que toca às reacções perante a crise. Enquanto no centro (6 países fundadores do MCE) e no norte do continente as manifestações populares, quando as há, são ordenadas, pacíficas e com reivindicações claras, na península ibérica e sobretudo na Grécia, o panorama é bem diferente.
Em Lisboa, a "geração à rasca" manifestou e acampou de forma ordeira, no respeito possível pelas leis em vigor, mas ainda está por saber o que pretendiam realmente, para além da óbvia crítica à situação existente. Em Madrid, em pleno centro e durante dias e dias aconteceu algo semelhante. Milhares acamparam e protestaram contra isto mais aquilo, sem todavia nunca definiram o que pretendiam mesmo e como lá chegar. Em Barcelona, chegou mesmo a haver confrontos violentos com a polícia, mas quanto a reivindicações claras, nicles!
Já em Itália, aquando da campanha para as recentes eleições e posteriores referendos, as manifestação eram pacíficas, organizadas, alegres e com palavras de ordem extremamente precisas, centradas à volta do objectivo principal: procurar derrubar o governo Berlusconi.
Enquanto isto, mesmo ao lado, na Grécia, continuava e continua agora o espectáculo, confrangedor a todos os títulos. Manifestações, mais manifestações, mais manifestações, todas com alguma violência, contra as sucessivas e inevitáveis medidas de austeridade. Recusam-se a participar na criação de condições para honrar a monstruosa dívida soberana entretanto contraída, a qual serviu, entre outras coisas para pagar os vencimentos de, por exemplo exemplar, 14 jardineiros de determinado hospital ateniense, encarregados de cuidar de 62 metros quadrados de logradouro ajardinado, com quatro árvores. Calcula-se que esteja impecável. Pelo custo da manutenção...
Em Portugal e em Tomar ainda não chegámos a tão triste patamar de fantasia sócio-política? Pois não. Mas ao ouvir Carvalho da Silva, doutorado em Ciências Sociais graças ao sindicalismo, reivindicar o aumento do salário mínimo nacional para 500 euros; ao ler, a outro nível bem mais baixo, comentários onde sou acusado de escrever em Tomar a dianteira apenas por inveja; começo a ficar preocupado. É flagrante em ambos os casos apontados o irrealismo fantasioso tipo Sócrates. Exactamente o oposto daquilo que permitiu aos nossos antepassados singrar na vida e desenvolver a urbe. De tal forma que, quando o Infante D. Henrique entendeu lançar a empresa dos descobrimentos -a maior e mais gloriosa da nossa multicentenária história- foi em Tomar que encontrou os recursos económicos necessários. E não consta que durante os três séculos imediatamente anteriores os templários ou a população tenham tido muitas facilidades, ou andado a tentar enganar a realidade. Como os tempos mudaram! Só o Nabão continua a correr para sudoeste e a cidade instalada numa cova...
3 comentários:
"
Como os tempos mudaram! Só o Nabão continua a correr para sudoeste e a cidade instalada numa cova...
"
Pois é. A cidade está num buraco e por lá deverá ficar nos próximos tempos. Carrão que trate de fomentar umas hortas urbanas em terrenos camaráris junto ao Nabão, que os tempos que aí vêm serão de fome para muitos. Sobretudo funcionários públicos à beira do desemprego.
Nesta última semana houve meia dúzia de notícias que me preocuparam muito mais do que as nomeações de ministros e secretários de Estado. Passo a enumerar.
Notícia número 1: Uma auditoria da Inspecção-Geral das Finanças às despesas da Justiça detectou 165 mil euros de pagamentos em excesso de subsídio de compensação a magistrados jubilados já falecidos. Faltou a comunicação do óbito pelo Instituto de Registo e Notariado.
Notícia número 2: O presidente da Câmara Municipal de Grândola, Carlos Beato, do PS, nomeou o seu filho para o cargo de adjunto do seu gabinete de apoio pessoal, decisão que qualifica como "consciente e responsável".
Notícia número 3: Hospitais e centros de saúde da região de Lisboa enviam sistematicamente doentes para o Hospital da Cruz Vermelha antes de verificarem se outras unidades do sector público são capazes de dar as consultas e cirurgias em causa. O Tribunal de Contas acusa o Ministério da Saúde, que deu ordens para que assim se fizesse, de favorecer os privados e de prejudicar o Estado, que deixa de cobrar taxas moderadoras.
Notícia número 4: O Ministério Público prepara uma acusação por suspeita de crimes e burlas fiscais na sequência da fusão da Compal com a Sumolis. Em causa está um imposto de 1,5 milhões de euros e uma dívida atribuída à Compal de 250 milhões, resultante do empréstimo que serviu para a compra desta pela Sumolis. Ao meter essa dívida nas contas da Compal, a empresa passou de lucros a prejuízos e deixou de pagar IRC. São arguidos administradores da empresa e da Caixa Geral de Depósitos.
Notícia número 5: A Inspecção--Geral de Finanças (IGF) acusa o Exército de reposicionamento ilegal de militares e de ter assim aumentado em 8,4 milhões de euros a sua despesa pública anual. No entretanto, os salários dos militares custam, ao contribuinte, mais 2,6 milhões de euros por mês.
Notícia número 6: A Polícia Judiciária está a investigar uma burla com receitas falsas de medicamentos prescritos por médicos e dentistas, que utilizaram as cédulas de colegas falecidos para pedirem vinhetas e passarem receitas. Foram detectados casos em que o doente, a quem foi prescrita a receita, também já tinha falecido.
Este seria algum do melhor material humano do País: magistrados, autarcas, gestores de saúde, banqueiros, grandes empresários, militares, médicos. Todos, mas mesmo todos, espoliam, enganam ou roubam descaradamente o Estado. Como podem Passos Coelho, este Governo, qualquer Governo, qualquer ministro ou secretário de Estado, sair-se bem?
Há múltiplas razões para criticar o PS,sem necessidade de recorrer à mentira.
Carlos Beato,presidente da Câmara de Grândola,foi eleito pelo PSD.
É mais um exemplar que saltou da extrema-esquerda para a direita.
Enviar um comentário