quarta-feira, 6 de julho de 2011

Sempre a mesma triste mentalidade...

Público, 05/07/2011, página 39

Diversificar, articular, empreender, trabalhar, ousar, eis os caminhos apontados neste texto pelo antropólogo Luís Marques, que não tenho o gosto de conhecer. O que não me impede de louvar a justeza daquilo que propõe, como praticamente o único caminho  frutuoso para o turismo português. Saber aproveitar os vários recursos disponíveis, articulando-os de tal forma que possam vir a proporcionar o máximo de satisfação para os turistas e o melhor retorno para os fornecedores de serviços.
No caso tomarense, juntando Convento + Tabuleiros + Nabão + Albufeira + Paisagem Rural Peri-urbana, havemos de ter um dia produtos englobando turismo monumental, turismo pedestre, turismo etnográfico, turismo desportivo, turismo rural, turismo gastronómico, turismo activo e turismo cultural. Só falta mesmo juntar quem saiba fazer, quem queira explorar e quem possa coordenar.
Todavia, de pouco ou nada adiantará, sendo até contraproducente, enveredar outra vez pelo  improviso e o faz de conta. Num triste exemplo, bem presente no espírito de todos os tomarenses amantes da sua terra, de tanto se falar e há tanto tempo na candidatura da Festa dos Tabuleiros a Património Imaterial da Humanidade, já bem pouca gente acredita que tal venha alguma vez a ser alcançado. Apesar de não ser assim tão difícil. (E sei o que estou a escrever, uma vez que fui eu o autor do processo de candidatura do Convento de Cristo a Património Mundial, em 1983, durante a presidência do Dr. Amândio Murta. Sei portanto como se faz.)
No texto acima reproduzido, o doutor Luís Marques refere a possibilidade de classificação das Festas do Espírito Santo, nos Açores. Refere-se aos Impérios e Sopas do Espírito Santo cuja origem é, como todos sabemos, nabantina. Produto da difusão dos nossos costumes durante a época gloriosa dos descobrimentos, cujas naus -convém recordar- sempre ostentaram nas velas a cruz da Ordem de Cristo, e não o emblema de Portugal. Por alguma razão terá sido.
A suceder mais tarde ou mais cedo aquilo que neste escrito prevê o ilustre antropólogo, teríamos então de registar com muita tristeza, mais um caso de injusta ultrapassagem, ao arrepio da história, conforme já ocorreu em Itália. Como bem deve saber o tomarense Carlos Trincão, que lá esteve a estudar o assunto, o pálio de Siena (55 mil habitantes), uma corrida de cavalos sem sela que tem lugar na praça principal duas vezes por ano, é a grande atracção turística local, conhecida e famosa em todo o Mundo. Na órbita desse riquíssimo e muito dinâmico centro turístico que é Florença, pois integra a mesma região da Toscânia, Siena conseguiu logo à primeira tentativa integrar o seu célebre Pálio na lista mundial do Património Imaterial da UNESCO.
Oposta é a situação de Ferrara (140 mil habitantes), umas centenas de quilómetros mais acima, na região da Emília Romana. Todos os anos, em Maio, celebra na Praça Ariostea o seu Pálio, o mais antigo de Itália, com início documentado em 1279. Os representantes das oito freguesias da cidade disputam quatro corridas, também em cavalos sem sela - A corrida dos Putti, a das Putte, a dos Asine e a dos Cavale. Pois apesar da sua anterioridade, até agora ainda não conseguiram inscrever essa tradição na Lista do Património Mundial Imaterial. 
Pode muito bem vir a acontecer-nos algo semelhante, se continuarmos a agir como até agora: Inscreverem na citada lista os Impérios dos Açores e ignorarem a Festa dos Tabuleiros, que lhes deu origem. Fiem-se na Virgem e não corram... No fim de contas, as desgraças acontecem com mais frequência a quem menos trabalha. Ajuda-te e Deus ajudar-te-á.

3 comentários:

Anónimo disse...

Por isto tudo é que estamos no lixo...

Anónimo disse...

e bem no lixo ó honorável e anónimo comentador.

Anónimo disse...

Um jovem diplomata português, em diálogo com um colega mais velho:
- Francamente, senhor embaixador, devo confessar que não percebo o que
correu mal na nossa história. Como é possível que nós, um povo que descende
das gerações de portugueses que "deram novos mundos ao mundo", que criaram o
Brasil, que viajaram pela África e pela Índia, que foram até ao Japão e a lugares bem mais longínquos, que deixaram uma língua e traços de cultura que ainda hoje sobrevivem e são lembrados com admiração, como é possível que hoje sejamos o mais pobre país da Europa ocidental?

O embaixador sorriu:
- Meu caro, você está muito enganado. Nós não descendemos dessa gente
aventureira, que teve a audácia e a coragem de partir pelo mundo, nas
caravelas, que fez uma obra notável, de rasgo e ambição.
- Não descendemos? - reagiu, perplexo, o jovem diplomata - Então de quem
descendemos nós?

- Nós descendemos dos que ficaram aqui...