Um dos primeiros comentadores portugueses a ser apelidado de pessismista encartado foi o antigo ministro das finanças de um governo de Mário Soares, Medina Carreira. De então para cá muita água passou sob as pontes. Tanta que agora até já solicitam ao antigo ministro uma visão positiva da economia do país. Foi o que fez o Expresso/Economia de 30/12/10, numa entrevista conduzida por Ana Sofia Santos, que aqui reproduzimos, com a devida vénia e os nossos agradecimentos à autora e ao conceituado semanário.
"-Chamam-lhe pessimista. Isso não o incomoda? - Não ligo a ignorantes. Se olharmos para o horizonte de 1960 a 2000, vemos uma economia sempre a cair e um Estado sempre a gastar mais. Era fácil perceber ao que iríamos chegar.
-Confirmaram-se os seus alertas. -Preferia que não, mas as minhas previsões não foram inventadas. Íamos chegar ao ponto em que a situação iria ser insustentável. Só não se sabia quando. Foi em 2008, poderia ter sido adiado para 2012, mas esta crise teve um efeito de acelerador. Isto só não era visível para os optimistas que andam por aí a perturbar o país. Costumo dizer para porem uma dona de casa no Governo, porque teria muito mais senso.
-Há solução? -Claro! O problema não é a solução. O problema é o estado em que vamos ter de viver até que Portugal se recomponha. Não acredito que dez milhões se deixem ir ao fundo de braços cruzados. Quero acreditar que, pela primeira vez em democracia, iremos ser capazes de ter contas públicas equilibradas. Só no Estado Novo é o que o Estado deixou de dever muito dinheiro ao estrangeiro. É perturbante, mas os números não enganam. Nós hoje devemos ao estrangeiro, em termos relativos, mais do que em 1850, quando o Fontes Pereira de Melo fez as grandes obras públicas...
-Qual seria o seu plano? -Em primeiro lugar, as pessoas com mais responsabilidades, primeiro-ministro ou presidente da República, deviam ir à televisão explicar como é que chegámos aqui. Há 25 anos entrámos na Comunidade Europeia com a promessa do desenvolvimento do país. Veio a globalização, perdemos o escudo e agora estamos de cócoras, a mendigar empréstimos. Entrámos num espaço livre de comércio e nunca nos preparámos para exportar...Por isso andamos agora a pedir emprestados 50 milhões de euros por dia.
-Acredita que para sairmos do charco há que conquistar a confiança da sociedade? -Hoje é a mentira que impera. Os políticos dizem uma coisa em Bruxelas, outra aqui. Num momento não aumentam os impostos, no outro já aumentam. Este é o nosso fado. A classe dirigente põe-se a cavalo na sociedade para tratar das suas vidas e este pano de fundo não muda no plano empresarial.
-Reconhece na sociedade portuguesa capacidade para "dar a volta por cima" em momentos difícies como este? -Não é por culpa dos portugueses enquanto povo que Portugal chegou ao estado em que está. Trabalhei numa metalúrgica no Barreiro e, por vezes, testemunhei esforço, a dedicação, a capacidade para inventar uma solução para um problema (surgido fora des previsões), por parte dos operários. Davam tudo de si na fábrica, porque se sentiam bem tratados e valorizados. Eram tratados como gente.
-Além dessa experiência, identifica outros bons exemplos? - A forma como lidámos com mais de 600 mil pessoas que perderam tudo em África. Só um povo muito capaz é que podia registar um aumento súbito de 6% da população sem grandes sobressaltos. Em dois, três anos, o problema estava ultrapassado. Para mim, foi o maior feito da sociedade portuguesa após o 25 de Abril.
-Os portugueses têm capacidade de união? -Sim, união e integração no objectivo que se pretende. Mas tem que lhes ser explicado o objectivo, como se atinge e quais os problemas que podem surgir.
-Identifica bons exemplos de empresas portuguesas? - Tenho dificuldade, porque hoje as boas empresas são monopolistas ou oligopolistas. Se eu vendesse gasolina, seria um bom gestor, porque era eu que fazia o preço. Nas chamadas telefónicas passa-se o mesmo... Nestas empresas há de certeza pessoas que gerem com muita capacidade, mas estão em sectores que não competem com ninguém. É uma gente especial, que eu preferia que estivesse na CP, Carris ou Transportes Colectivos do Porto, nas empresas difíceis.
-E no Estado? - A máquina fiscal hoje é excelente. Reconheço o mérito do Paulo Macedo (ex-director-geral dos impostos). Não há serviço público igual e não deve haver paralelo a nível europeu. O Serviço Nacional de Saúde também é bom, o problema é que não há um sistema que salvaguarde as urgências hospitalares apenas para os casos graves. Estamos a manter um monstro para tratar de vulgaridades.
E no mundo da política, identifica pessoas com valor? - Não o posso fazer porque não conseguiria indicar todas aquelas que desprezo, nem todas as que prezo. Indico-lhe uma que desapareceu recentemente, Hernâni Lopes, um grande homem ao nível técnico, profissional e moral,, um símbolo de seriedade e de verdade. Outro, Silva Lopes, um homem excepcional.
-Um político que fale verdade, pode ganhar eleições? - Os nossos políticos acham que não. Eu penso exactamente ao contrário. Temos de ter eleições com base no maior rigor informativo possível. Quem quiser ganhar as próximas eleições e governar, devia apresentar as caras de cinco ministérios-chave, entre os quais as Finanças, Educação e Justiça. Defendo algo deste género: "O nosso programa são estes cinco sujeitos de vida limpa, com profissões, pessoas em que se pode acreditar e que se comprometem a atacar os nossos dois grandes males -o financeiro e o económico."
O negrito é da responsabilidade de Tomar a dianteira. Indica, como habitualmente, as passagens com as quais há maior concordância e que podem ser transpostas para a situação local, mediante as necessárias adaptações.
10 comentários:
"A posição do PS?
Simples: sempre a trabalhar de forma EFICAZ, EFICIENTE e aumentando a QUALIDADE do SERVIÇO PUBLICO prestado, nos pelouros que têm e tiveram à sua responsabilidade".
Presunção e água benta...
Quem governou o país de Guterres a Sócrates?
ATENÇÃO !
Fui ler o post destacado por Luís Ferreira.
Li e no final fiquei surpreendido: ACEITAVA COMENTÁRIOS!
Deixei o meu comentário sobre o assunto.
Agora,por curiosidade,fui ver se havia réplica.
EUREKA!
Desapareceu o comentário e a hipótese de o fazer.
À luz da propalada ética repúblicana e dos bons costumes,como devo encarar este senhor Luís Ferreira ??
MEMÓRIAS DESCONHECIDAS.
1961: Marcelo Caetano rompe com Salazar acusando este de estar a estaganar económicamente o País;
196... arranca a Platex de forma clandestina, com a protecção do Ministro da Economia, Ferreira Dias, avô de Manuela Ferreira Leite. A Platex fora chumbada ao abrigo da Lei do Condicionamento Industrial, porque havia demasiados operários em Tomar...
1968: quando chegou a Chefe do Governo, Marcelo Caetano ficou em pânico - o País enfrentava três guerras e tinha uma base económica envelhecida e a degradar-se. Caetano pediu a um seu filho, a Sá Carnero, a Pinto Balsemão, a João Salgueiro que constituissem uma organização que estudasse os problemas económicos e sociais do País. Em 1970 nasceu a SEDES - Associação para o Estudo dos Problemas Económicos e Sociais, onde entrei por proposta de João Salgueiro.
1973: Marcelo Caetano, perante a degradação da economia portuguesa e o primeiro choque petrolífero, solicitou à SEDES um estudo sobre a evolução de Portugal entre 1975 e 2005. Partecipei no estudo no grupo de Sá Carneiro, Balsemão, João Slgueiro e outros; havia outros grupos, entre eles um ligado ao Partido Comunista... A SEDES concluiu, ou Portugal mudava a sua estrutura económica ou até 2005 viveria um conjunto de crises, cada vez piores que as anteriores. Como aconteceu.
1977 e 1982 veio o FMI, e nada resolveu. E amanhã nada resolverá.
2003: elaborei um estudo sobre o futuro de Portugal para uma instituição. Três conclusões:
- ao longo da sua História os portugueses só fizeram disparates;
- nos próximos séculos cometerão os merros erros que fizeram no passado;
- os portugueses nunca serão um povo desenvolvido.
Conclusões aprovadas por economistas, sociólogos e generais.
Cada dia que passa confirma a minha tese.
Como diz Medina Carreira, quem chama de pessimista aos realistas não passa da ignorância,e,digo eu, sofre do sindroma da Raposa e das uvas, e é inocente, porque acredita que as coisas mudam por obra e graça do Espírito Santo, ou da boa vontade dos políticos e do capital. Para curar estas maleitas só a economia de mercado: quem tem unhas toca guitarra, quem não as tem está condenado pela História, como acontecerá aos portugueses. Pobretes, mas alegretes.
SÉRGIO MARTINS
A população diminui. As despesas correntes aumentam. As dívidas, estas não abrandam.
Chegará o dia em que o povo abandonará a cidade em virtude dos impostos praticados pelos senhores autarcas. Talvez aí, eles aprendam finalmente que contrariamente ao que pensam, o povo não suporta tudo.
AA
A verdadeira restruturação devia começar com a saída dos mamões dos dois vereadores ferreira das farturas e victorino empreiteiro e dos seus secretários ou adjuntos ou lá o que são.
Poupavam-se uns valentes milhares de euros pagos a gentinha que só serve para mandar papos, fazer propaganda política baratucha para enganar eleitores.
Assim é que devia ser!
Rua com esta malta de má índole e de má raça!
Ao Sr.Virgilo, pseudónimo de alguém muito preocupado com a ética, mas pouco dado a respeitar o político que uso de total transparência na sua execução política
Pode consultar o seu comentário clicando no post respectivo , onde está publicado. Mais informo que o objectivo do meu bloguenão é ser de cariz de "fórum de discussão", como o é este excelente blogue animado e moderado pelo Prof.Rebelo, mas essencialmente o blogue informativo do politico e Homem livre (e de bons costumes) Luis Ferreira.
Uma nota final para informar que manterei o hábito de divulgar aí as contas dos pelouros, bem como passarei a partir deste mês a avaliar alguns aspectos particulares de alguns dos investimentos e contas sectoriais da autarquia, para que saibamos todos melhor onde e porquê Tomar está como está...
A Liberdade é assim mesmo, livre...
A VERTICALIDADE de Medina Carreira está nos antípodas do CURVAR A SERVIS do paladino de Tomar a Dianteira.
NÃO comparemos o olho do c´ com a Feira de Borba!
Para anónimo em 19:19
Bem haja pelo seu comentário, de evidente e indiscutível gabarito filosófico, além de apurada fundamentação analítica, bem como uma irrepreensível civilidade e requintada educação. É com cidadãos assim que a cidade, o concelho, a região, o país, a UE e o Mundo podem contar -sem a mais pequena sombra de dúvida- para a progressiva edificação de uma sociedade mais justa, mais livre e mais fraterna.
Como dizia a saudosa colega "Cavalo de Tróia": E relincham!!!
"politico e Homem livre (e de bons costumes) Luis Ferreira"
Lá presunção não falta a este ser. Presunção, arrogância, inconpetência, falta de sentido de opurtunidade e mesmo de inteligencia, tudo ele tem.
Palmas para o grande político. Feliz de quem tem sentido do ridículo.
JAXX
É verdade! Nós que nos ríamos de Rans por causa do Tino, andamos de orelha murcha esperando que não se riam eles de nós por causa do ferreira das farturas!
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