Esta foto, copiada do suplemento NEGÓCIOS, do EL PAÍS de ontem, mostra a importância que no país vizinho se atribui ao turismo. No editorial do já citado suplemento lê-se, designadamente, que "À segurança, os destinos espanhóis acrescentam a existência de infra-estruturas aceitáveis, apesar da insuficiente melhoria da qualidade da oferta..." E mais abaixo: "O aumento de visitantes provenientes do Japão e, sobretudo, da China, requer em primeiro lugar que se dêem a conhecer de forma suficiente os destinos culturais e históricos, que merecem a preferência desses novos turistas. E também, velar pela sua segurança.
Ao contrário da França ou da Itália, Espanha parece não valorizar suficientemente a maior qualidade do turismo chinês e japonês, continuando a apostar sobretudo naqueles outros visitantes estrangeiros com menos poder de compra, que por isso mesmo procuram serviços mais baratos, nem sempre assaz rentáveis em termos agregados."
Estes dois parágrafos mostram, no meu entender, o oceano que nos separa do mercado turístico espanhol, aqui mesmo ao lado, mas o segundo mais importante a nível mundial. Desde logo, na constante preocupação com o binómio qualidade/preço por parte do sector privado, enquanto aqui em Portugal a situação é sempre de expectativa em relação à actuação governamental. Donde resulta que, como me referiam há dias amigos estrangeiros, quem desembarque em Portugal e consiga entender a TV ou ler os jornais, fica com a ideia de que o país não está em crise, nem há problemas fundamentais por resolver.
Para tal atitude generalizada muito contribui aquilo que se pode designar como "política de meias-tintas". Trata-se, basicamente, de fazer um diagnóstico correcto, propôr uma terapêutica adequada, procurando depois implementar esta do modo mais suave possível. Um pouco como se, tendo sido decidido que o doente necessita que lhe seja retirado um tumor maligno, se procedesse depois à sua extracção pouco a pouco, em sucessivas intervenções cirúrgicas. Exactamente o que procurou fazer Sócrates, com o PEC I, II, III, IV... E se está a tentar fazer na Grécia, com o "resgate II", uma vez constatado que o I é afinal largamente insuficiente.
Tudo porque, em termos políticos, faltam coragem e audácia para cortar o mal pela raiz -reduzir a despesa pública em cerca de 50%, quanto mais cedo melhor. O problema parece residir na inevitável escolha entre saúde, educação, funcionalismo, poder local, transportes, subsídios diversos... Donde a constante tentação para alijar responsabilidades.
É agora voz corrente na comunicação social que Portugal está a sofrer as consequências da eventual bancarrota grega, o que não é verdade, ou pelo menos não é totalmente verdade. Só sofremos as consequências da crise grega por estarmos atascados em dívida pública até às orelhas. E sem sabermos como amortizá-la. Caso contrário, se a nossa situação financeira fosse folgada, a tempestade grega passaria bem longe. Como está a suceder com a Alemanha, a Holanda ou o Luxemburgo. A verdade governamental portuguesa tem sido até agora, por conseguinte, um belo exemplo de meias-tintas.
É agora voz corrente na comunicação social que Portugal está a sofrer as consequências da eventual bancarrota grega, o que não é verdade, ou pelo menos não é totalmente verdade. Só sofremos as consequências da crise grega por estarmos atascados em dívida pública até às orelhas. E sem sabermos como amortizá-la. Caso contrário, se a nossa situação financeira fosse folgada, a tempestade grega passaria bem longe. Como está a suceder com a Alemanha, a Holanda ou o Luxemburgo. A verdade governamental portuguesa tem sido até agora, por conseguinte, um belo exemplo de meias-tintas.
E a tendência alastra, que nem mancha de óleo. Mesmo a nível local. Na mais recente edição do programa "À mesa do café", João Victal, Mordomo da Festa dos Tabuleiros, lastimou-se com toda a razão de que o Turismo de Portugal negou este ano o habitual subsídio de 100 mil euros = 20 mil contos, desculpando-se não com a crise, o que até seria aceitável, mas sim com a alegação de que a Festa Grande dos tomarenses não tem importância nacional ou internacional. Na minha opinião, fundamentada em elementos orais anteriores, não houve coragem para transmitir ao mordomo tomarense que, na sequência das muitas reclamações recebidas, aquela entidade oficial não está nada interessada em subsidiar actividades que impliquem a vinda de turistas nacionais e estrangeiros a uma cidade sem boas estruturas de acolhimento, designadamente sanitárias, sem sinalização adequada e completa, sem actividades turísticas guiadas, sem recursos humanos credíveis e, apesar de tais lacunas, com preços inflacionados. E agora até sem acessos capazes ao principal monumento, nem parques de estacionamento com capacidade suficiente. Como qualquer profissional do sector bem sabe, trata-se de carências tendentes a transformar cada visitante num futuro difusor de propaganda negativa, exactamente o oposto daquilo que o país necessita.
Conclusão: Abaixo as meias-tintas! Haja coragem para enfrentar a realidade e agir em consequência!
13 comentários:
Vasta e pluridisciplinar analise. Por isso, de comentario dificil, ou longo. Mas a abordagem simplista e tacanha ao problema economico e financeiro do País, dizendo que basta coetar 50% da despesa publica...então e o excesso de consumo privado? Aprendiz de feiticeiro...
Para 00.06
Em democracia e entre cidadãos livres e honestos, a primeira condição para que possa haver debate frutuoso passa por cada um "dar o peito às balas" -identificar-se, dar a cara. Aproveitar-se do confortável anonimato para tentar amesquinhar a outra parte, nada mais é que cobardia.
Quanto ao resto, acha que um blogue é o local indicado para retorcidas análises de conjuntura?
Claro que o objectivo final é mesmo esse, ou equivalente -cortar 50% da despesa pública. E vão consegui-lo, a pouco e pouco. Não há é coragem para o admitir.
Não reparou que em todos os casos, nomeadamente nos PECs, cada um era sempre excelente e com medidas suficientes para resolver o problema, até ao PEC seguinte, exactamente com os mesmos atributos?
Seja franca/o: A não ser pelo corte de 50% na despesa pública, qual seria, quanto a si, a solução para o abismo da dívida soberana, que não pára de aumentar?
Ia-me a esquecer do consumo privado. Sempre ouvi dizer que "quem não tem dinheiro, não tem vícios". Tendo em conta que, segundo as melhores fontes, mais de 4 milhões de portugueses vivem à custa do Estado, uma vez cortados os tais 50% na despesa pública, adeus excessos de procura privada. Ou estarei a ver mal outra vez?
Costuma dizer-se que O TEMPO PASSA A CORRER e é bem verdade.
Esta semana ocorre um aniversário muito importante: Mónica Lewinsky faz 44 anos! Dá para acreditar?
Parece que estou mesmo a vê-la! Parece que foi ontem. Andava ela a gatinhar pela Casa Branca a pôr tudo na boca...
Não havemos de estar a ficar velhos...!!!
Pois a nós, aqui em Portugal, ou em Tomar, nem o turismo nos salva...
O homem, reconheça que Economia (macro) não é o seu forte! Então não temos consumo (publico e privado) em excesso:em relação às nossa possibilidades?
Objectivo: diminuir rendimento disponivel das Familias.
Como? Valerá tudo: impostos, desemprego, crescimento salarios abaixo da inflação,....
Quanto ao anonimato, confesso que não atino com o funcionamento daquelas coisa do openID e conta Google.
Mas não tiro partido do anonimato, apenas questiono suas doutas mas por vezes faliveis opiniões.
Pronto, chame-me "S".
Seu
S
Para comentador das 15:40
Nem sei como começar, pois manifestamente não falamos a mesma linguagem. Exemplo:"Então não temos consumos (público e privado) em excesso:em relação às nossas possibilidades?" A resposta é não. Se fosse o caso, teríamos inflação por excesso de procura (Ou falta de resposta da oferta). O que tem havido, há e terá de acabar, é excesso de despesa pública, que originou uma dívida soberana astronómica, exactamente como no caso grego. Dado que tal despesa tem sido e é sobretudo para "funcionamento e ostentação", e não para investimento...reduzindo-a 50% matavam-se dois coelhos: acabava-se com o défice e com o excesso de procura privada, provocada sobretudo pelos mais de 4 milhões de consumidores sentados à mesa do orçamento.
Em Espanha e na Irlanda, a crise foi realmente despoletada pelos exageros do sistema bancário, por manifesta falta de vigilância dos respectivos bancos centrais.Pelo contrário, em Portugal e na Grécia o problema tem sido o cada vez maior apetite do estado, que se tornou incomportável para os contribuintes e muito perigoso na opinião dos "mercados" (que nunca perdem um bom pretexto para aumentar os lucros).
Exactamente o que ocorre também nalgumas autarquias da zona (Santarém e Tomar, por exemplo), com o consequente agravamento das condições de vida, em termos de relação qualidade/preço, provocando a progressiva debandada da população. Os resultados do mais recente recenseamento vão surpreender muita gente...
Meu caro António,
Denoto nas suas considerações sobre ciência económica uma confusão de escolas e de conceitos que provavelmente terá a ver com o período conturbado em que estudou em Paris... navegar inconsistentemente entre Ricardo, John Stuart Mill e Paul Krugman não parece honesto.
Então temos consumo em excesso mas apenas o público.
A despesa pública é um mostro. Mas apenas esta.
Que irá dizer aos milhares de portugueses (e tomarenses) que irão sofrer na pele o inevitável aumento das taxas de juro nas suas prestações sobre a habitação que adquiriram?
Para comentador das 18:09
Permita-me esta derradeira tentativa para esclarecer as coisas, procurando ao mesmo tempo não desdenhar da sua formação, que ignoro qual seja.
1 - Não sou formado em "Ciência Económica", que sempre considerei um abuso de linguagem, uma vez que as ciências sociais são em geral apenas "moles" e portanto não exactas.
2 - A minha formação foi em Economia Política - Economia do Turismo.
3 - Estava bem arranjado se tivesse que me preocupar com a coerência e/ou compatibilidade doutrinal entre Adam Smith, Ricardo, Say, Marx, Galbraith, Baran, Sweezy, Samuelson, Friedmann, Keynes, e tutti quanti. Deixo isso para os profissionais universitários da matéria.
4 - O meu ponto é este: Os contribuintes apenas são solidariamente responsáveis pela dívida soberana e, individualmente, por aquilo que cada um deva eventualmente à banca. O resto é música de embalar.
5 - O caso dos milhares de portugueses que irão sofrer na pele... etc. etc. é realmente triste. Mas estavam à espera de quê? Que culpa disso têm todos aqueles cidadãos que nada devem à banca ou ao fisco?
6 - O âmago da situação actual parece-me ser este: A vantagem das esquerdas reside na sua propensão para distribuir riqueza. Infelizmente, agora o país só tem dívidas, com reembolso a dividir por todos...os que pagam impostos.
"
O caso dos milhares de portugueses que irão sofrer na pele... etc. etc. é realmente triste. Mas estavam à espera de quê? Que culpa disso têm todos aqueles cidadãos que nada devem à banca ou ao fisco?
"
E pronto. É definitivo. António Rebelo converteu-se totalmente ao Neo-Liberalismo.
Cada um por si. O Estado deverá evitar intervir na sociedade e na economia.
Será que também advoga o fim das prestações sociais, incluindo as aposentações aos funcionários públicos?...
P.M.
Para comentário das 10:18
Se me desse licença, que isto num país e numa terra de vesgos intelectuais está cada vez mais díficil, gostaria de esclarecer que está redondamente enganado. Não me converti ao neo-liberalismo nem advogo o cada um para si. Limito-me a procurar defender o velho princípio socialista "A cada um segundo as suas necessidades, de cada um segundo as suas possibilidades", ao qual acrescento "Luta sem tréguas nem piedade aos oportunistas, mamões, mandriões, tachistas e outros parasitas do orçamento. Incluindo os da gamela local, que não são só os eleitos...
Sobre as pensões de aposentação, não use argumentos de má-fé. Primeiro porque não se trata de nenhuma prestação social de favor. Apenas de honrar aquilo para que se descontou durante os anos prescritos na legislação. Depois, porque já aqui escrevi, mas repito de boa vontade: estou disposto a descontar o dobro daquilo que você descontar, desde que a taxa de desconto seja igual para ambos. Aceita? Então deixe-se de ultrapassadas cantilenas!
Advogo taxas de desconto iguais para quem aufere o mesmo rendimento.
E aceitaria também uma redução de 8% no montante da reforma, como eu já tive de aceitar este ano no meu montante de vencimento enquanto funcionário público?...
P.M.
Para PM:
Não se trata de estabelecer taxas de desconto iguais para quem aufere rendimentos idênticos, que isso sempre existiu e existe. O que terá de ser feito, mais cedo ou mais tarde, será acabar pouco a pouco com essa injustiça flagrante que consiste em castigar duplamente quem mais ganha, aumentando-lhe a taxa aplicável. Porquê? É pecado ou delito tentar ganhar a vida o melhor possível, na mais estrita legalidade? É preferível viver do RSI?
Descontam-lhe 8%? Não se queixe, que a mim levam-me + 10% em cada mês que passa. Enquanto não vier o novo agravamento. A vida custa a todos e as loucuras têm de ser pagas.
Pois eu não me importava de ter uma taxa de desconte de 45%... (por enquanto a máxima). Era sinal que tinha rendimentos muitos, mas muito acima da média nacional.
Meu caro, no dia em que os milionários descontarem o mesmo (percentualmente) que os que vivem com o ordenado mínimo nacional, a sociedade eclipsou-se.
Veja o que acontece nos países nórdicos, tantas vezes referidos por sim como exemplares...
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