segunda-feira, 6 de junho de 2011

HÁ UMA NOVA ESPERANÇA E AINDA BEM, MAS...

.Os resultados eleitorais de ontem foram claros, tendo por isso propiciado o surgimento de uma nova esperança, como sempre acontece em tais situações. Convirá, contudo, moderar as expectativas, tanto a nível nacional como local. Isto porque, conforme já aqui referi em postes anteriores, na Europa dos 27 a crise é geral e com tendência para o agravamento, excepto na Alemanha, Holanda e Luxemburgo. Em todos os restantes casos, ainda nenhum governo encontrou solução capaz para o problema da quadratura do círculo: Como tornar sustentável o modelo social europeu?
De Atenas a Dublin, Paris ou Bruxelas, passando por Lisboa e Madrid, o crescimento estagna, o desemprego é elevado e o défice público aumenta. De tal modo que as agências de notação vão colocando em observação negativa mesmo as capitais em princípio acima de qualquer suspeita, como Bruxelas, Paris ou Roma. Nos casos mais graves, como é do conhecimento geral, já houve pedido e obtenção de ajuda externa, condicionada a draconianas medidas de austeridade, eufemisticamente designadas como "estruturais".
Na Grécia, que foi o primeiro "doente" assistido, após dezenas de greves gerais, provocadas pela terapêutica imposta pelo FMI e a UE, é já claro que a primeira fase do tratamento não resultou, tornando indispensável mais uma forte dose de "soro". Em termos económicos, não surpreende que assim seja, porquanto a receita da troika é contraditória -pressupõe por um lado a melhoria da situação, pelo aumento das receitas e a moderação das despesas, mas provoca por outro lado a recessão, ao limitar o crédito e logo o consumo, reduzir os investimentos do estado e emagrecer a função pública.
Tudo indica que em Portugal o futuro governo será confrontado com idêntica situação, a revelar a amarga verdade: Até agora ainda nenhum economista de nenhum país conseguiu apresentar, e muito menos implementar, uma solução eficaz para a crise, mesmo recorrendo a medidas impopulares em doses cavalares. Há apenas o semi-sucesso do governo espanhol (PSOE) que conseguiu evitar até agora o recurso ao resgate externo. Convém no entanto esclarecer que o problema dos nossos vizinhos tem a ver sobretudo com o rebentamento da bolha da construção civil, que provocou sérias dificuldades no sistema bancário, mais propriamente nas "cajas de ahorros", as caixas de crédito.
É verdade que os governos regionais, as chamadas autonomias, salvo raras excepções, estão praticamente em estado de cessação de pagamentos, mas em contrapartida, o défice do governo de Madrid é moderado e a sua dívida soberana perfeitamente sustentável. Pelo contrário, Atenas e Lisboa ultrapassam já todos os limites, tanto num como no outro caso.
E eis-nos entre a espada e a parede. Apesar de toda a boa vontade do futuro governo PSD/CDS, Portugal, que já está em recessão, assim irá continuar, de forma ainda mais acentuada, provocando uma inevitável redução das receitas fiscais. Para a tentar ultrapassar, há que fomentar as exportações, o que implica mais competitividade dos nossos produtos, a qual só poderá resultar da desvalorização da moeda, da redução de salários ou da diminuição dos descontos obrigatórios a cargo do patronato. No estado actual das coisas, tudo indica que foi esta última a via escolhida, até porque a primeira não é possível, uma vez que estamos na zona euro, e a outra seria demasiado impopular. Mas é muito provável que lá tenhamos de ir, faltando por enquanto saber como irá ser compensada a aludida redução em 4 pontos percentuais da TSU. Caso venha a ser pelo aumento de impostos, nomeadamente pelo IVA, estaremos a agravar por um lado o que tentamos aliviar pelo outro.
Mas então não existe mesmo nenhum remédio eficaz? perguntará o leitor. Há sim senhor, mas comporta fortes hipóteses de o doente morrer da cura. Refiro-me à redução drástica das despesas do estado, de forma a possibilitar o aumento da competitividade externa pela redução geral dos impostos. Infelizmente, ninguém no seu perfeito juízo ousará propor, nesta altura do campeonato, uma tal medida bárbara, que para ser mesmo eficaz atiraria para o desemprego forçado pelo menos 25 ou 30% dos funcionários públicos e poderia até ser edulcorada por uma redução transitória da ordem dos 50% em todos os vencimentos e  reformas superiores a 2 mil euros. Mas nada obsta a que vão já pensando no assunto, pois lá diz o nosso povo que "para grandes males, grandes remédios". E como o pior ainda está para acontecer, caso não se encontre entretanto outra saída... Quando se vier a verificar que também em Portugal o memorando da troika na prática aquilo que garante é apenas o pagamento atempado aos nossos prestamistas, num primeiro tempo, tal com vem acontecendo na Grécia, algo de extremamente corajoso terá de ser feito.
E a nível local? Pior um pouco! Após um longo rosário de asneiras, designadamente na área económica, a realidade começa a impor-se. O que tem de ser, tem mesmo muita força! Corvelo de Sousa acaba de comunicar aos presidentes de junta que não haverá mais cedências gratuitas dos autocarros municipais. Lá se vão os célebres e tão apreciados passeios tipo "comezaina+tintol+bailarico", à borla, bem entendido! tão do agrado do nosso amado eleito senhor Carlos Carrão. E o funeral ainda agora começou a sair do tanatório... Quando começarem a ver quão grande é o respectivo acompanhamento, alguns deixarão de dormir tão descansadamente como até aqui. Já não era sem tempo!

12 comentários:

Anónimo disse...

Óh D. Rebelo,

E já pensou nos efeitos de uma crise económica generalizada na UE dos 27 ou no clube do Euro,nas economias da Alemanha,da Holanda e do Luxemburgo ?

É que o negócio da Alemanha está na indústria automóvel e numas (poucas)outras que vivem das exportações para a UE...

A Holanda é uma placa giratória do comércio mundial,uma super-trading que vai vender a quem?

O Luxemburgo não é nada,...além de um paraíso fiscal especializado no branqueamento de dinheiro sujo - droga, diamantes,etc.,etc.,

Afinal,aprendeu economia aonde?
Há quantos anos?
Reciclagem?

Eu sei que lê muito...
Não sei é se não será só com um olho...

Anónimo disse...

Já lá vem o MAS..não me comprometo!

Anónimo disse...

Para 23:33

A sua opinião é naturalmente respeitável. Pena que seja igualmente demasiado portuguesa e tomarense. Procura atirar a bola para canto e não perde a ocasião de tentar achincalhar o adversário. Bom proveito. O ponto é este: Como vamos conseguir ultrapassar a crise em Portugal e, SOBRETUDO, em Tomar? Os exemplos serviram apenas de ilustração.
Respondendo às suas perguntas, tão sucintamente quanto possível: 1 - Já pensei nessa hipótese, mas cabe aos respectivos cidadãos buscar a solução. 2 - Não é verdade. A indústria alemã são sobretudo máquinas-ferramentas, alta electrónica e química, exportadas para o mundo inteiro, sobretudo para os BRICS.
3 - Por exemplo para Angola, onde já nos estão a ultrapassar, como deve saber, mas não lhe convém escrever.
4 - Hong Kong está no mesmo caso e os seus habitantes não se queixam...
5 - Universidade de Paris 8,1972, Economia Política (e não empresarial), Catedrático Michel Beaud, (actualmente em Paris-9-Dauphine) especialista em economia do sector superior de serviços.
6 - Por enquanto ainda consigo ler com ambas as vistas. E até consigo raciocinar sem procurar amesquinhar quem não pensa como eu. Deve ser da educação francesa...
Cordialmente,

António Rebelo

Anónimo disse...

Oh sr. professor...
A pressa às vezes dá mau resultado e no seu comentário lá está: «A indústra alemão são»??????
Não renuncie à qualidade de professor, que aqui vou apreciando, é certo que nem sempre concordando.
E neste âmbito não pude deixar de estranhar que nem uma palavra lhe tenham merecido os números ou as ideias dos responsáveis pelas escolas, que o jornal Templário revelou esta semana.
É que nem mesmo na sua habitual análise semanal à imprensa regional.
Abdicou da profissão? Não quer nada com essa gente? Não atribui significado à educação ou falta dela?
Tenha paciência, mas tinha que partilhar consigo estas dúvidas e apesar de tudo aparece por aqui quem lhe împonha mais paciência do que eu.
Saudações
CM

Anónimo disse...

Caro Professor, o nosso problema é mesmo o... MAS!

Somos muito bons, mas...
Já tivemos o mundo a nossos pés, mas...
Temos um clima óptimo, mas...
Os nossos professores são profissionais, mas...
O nosso sistema de saúde é bom, mas...
Os nossos trabalhadors são os melhores, mas...
Os nossos empresários são competentes, mas...
A nossa economia é das melhores do mundo, mas...
Os nossos políticos são motivadores, mas...
Somos o melhor país do mundo, mas...

E Tomar?

Tomar é o melhor concelho do país para se viver, mas...

Anónimo disse...

Para comentador CM das 10:08

Tem toda a razão quanto ao facto de não ter comentado as peças sobre ensino contidas no Templário. Ficará para melhor ocasião. Já no referente à industria alemã, fará o favor de mandar verificar o seu computador, pois no meu aparece mesmo "a indústria ALEMÃ são...", uma vez que É seria incorrecto: "A industria alemã é sobretudo máquinas ferramentas,alta electrónica e química, exportada para o ano inteiro?" Não me parce nada bem.

Cordialmente,

António Rebelo

Anónimo disse...

Meu caro Rebelo,

Conhecendo as suas ideias sobre Tomar e a posição que esta cidade deveria ter no panorama nacional, atrevo-me a deixar aqui um apelo:

Está na hora de avançar com um movimento cívico para a fusão dos concelhos de Tomar, Entroncamento e Barquinha.
Esta fusão permitiria criar um polo de atracção no centro do país - que é algo que tarda - e possibilitaria inverter a tendência de queda económica e social desta área.
Tomar deveria aproveitar este tempo de mudança para liderar esta mudança e não, e mais uma vez, ser ultrapassada pelos acontecimentos.

O Lacrau do Nabão

Anónimo disse...

Caro professor.
Permita-me discordar da construção da frase «a indústria alemã são...». Totalmente correcto seria, de facto, empregar «é». Ou seja, «a indústria alemã é sobretudo máquinas ferramentas... ». Assim se escreve em bom português.

Bom dia.

Cantoneiro da Borda da Estrada disse...

Muito interessante....
a "nova" visão da "crise internacional"!

Ainda bem que do passado dia 5/6/11 para cá (e só passaram 2 dias) a malvada da crise parece não ter afetado só Portugal, mas também muitos outros países da Europa. Estava já convencido que só Portugal, Grécia e Irlanda eram vítimas...

"Até agora ainda nenhum economista de nenhum país conseguiu apresentar, e muito menos implementar, uma solução eficaz para a crise, mesmo recorrendo a medidas impopulares em doses cavalares" - escreve o Dr. Rebelo. Só faltou acrescentar que a Moody's ameaçou os E.U.A. na passada semana...

Julgava eu (estava já convencido) que só o Ministro das Finanças do Governo derrotado no dia 5 se mostrara incapaz de encontrar uma solução eficaz...

Não deixa de ser igualmente interessante que antes da tomada de posse do novo governo PSD/CDS, se enalteça a sua "boa vontade" (nem sequer está ainda constituído)e se proponha fomentar as exportações, um dos maiores êxitos do governo em fim de mandato... - excelente boleia...

Aliás, ao próximo Governo não faltarão boleias, bastará estar atento e ter cuidado com o rabo...

Na nossa História (dizem os investigadores)nunca se lançaram sementes para o Ciclo Histórico seguinte, a não ser o primeiro Governo de José Sócrates, que lançou sementeira importante, cujos efeitos irão, seguramente, ver-se no futuro imediato, e reivindicados por próximos governantes. Mas ainda bem.

Bem entendido...(estou de acordo), o próximo governo não perderá o juízo, despedindo 25 a 30% de funcionários públicos, embora tivesse pressionado José Sócrates a fazê-lo, e assim o PSD teria tido maioria absoluta.

Uma nova visão da crise internacional, uma mais humana abordagem da nossa realidade e, estou em crer, não tardarão a vir ao de cima as obras valorosas da responsabilidade do mais brilhante Primeiro Ministro de Portugal - o que agora foi derrotado. O único que na noite da derrota brilhou com esplendor.

Foi por isso que sempre apoiei o meu Zézito (sabia lá eu que era o diminutivo familiar...) e o vi partir com uma lágrima no olho.

Anónimo disse...

Para comentador em 12:06

Também cheguei a considerar essa hipótese. Acabei contudo por adoptar a outra, dado que a construção "A indústria alemã É sobretudo máquinas-ferramentas, alta electrónica e química, EXPORTADAS para..." não me pareceu nada canónica. E eu, nestas coisas e no resto...

Anónimo disse...

Meu caro cantoneiro

No desporto, na política ou no amor é sempre melhor encarar as coisas com fair-play. Mesmo quando o artista é o melhor do mundo (o que não era de modo nenhum o caso) chega sempre o momento em que a assistência começa a ficar farta. Era o caso.
Por outro lado, existem na vida várias maneiras de abordar os problemas, incluindo o ilusionismo. Todavia, quando está em causa o quotidiano de milhões de pessoas, convém ser tão terra-a-terra quanto possível. Qualquer político que não perceba isto, o melhor que tem a fazer é dedicar-se quanto antes a outra coisa.
Como já escrevi aqui, o tempo do "mudar qualquer coisinha, para que tudo possa continuar na mesma", já foi. Agora há que mudar tudo, para manter apenas o essencial. E o teu Zézito ou não percebeu isto, ou agiu como se.
Paz à sua carreira política!

Anónimo disse...

PARA ANTÓNIO REBELO E CONTRADITOR

Porque é que não deixam a "indústria alemã" em paz e se dedicam a coisas mais importantes?

Ao contraditor digo: desculpe o erro de António Rebelo. Há que considerar o avançado da idade e o adiantado da hora! Sim, porque àquela hora já devia estar a dormir a seste devidamente algaliado.

Ao António Rebelo digo: nãp alimente conversas redondas. Até parece uma discussão de escola primária. Eleve-se.

PS.- Este comentário não pretende ofender ninguém! Simplesmente achei-lhe graça, e como o meu papagaio já morreu, não tenho ninguém com quem rir-

...problemas de Sul e Dão!

NOVO TEMPLÁRIO