quarta-feira, 22 de junho de 2011

SINTOMAS DA TRAGÉDIA TOMARENSE

Resulta do post anterior que em Tomar (e tudo indica que por esse país fora não seja muito diferente), após a política sólida, em que se procurava servir o bem comum, e a política líquida, onde já se metia demasiada água, estamos agora na era da política gasosa. Os debates autárquicos não têm qualquer conteúdo substantivo, uma vez que os actores/autores, a maior parte das vezes, dizem uma coisa e fazem o seu oposto. Outros ainda, negam a evidência: após uma intervenção fundamentada, porque apoiada em factos, garantem que "tem fundamento zero". De tudo isto resulta a dedução de que se trata de prestações mais ou menos coerentes, apenas para mobilar e decorar, tentando entreter a maralha. E intrujando-a, ao dar-lhe a entender que há debate sério dos problemas, quando afinal estes já foram resolvidos alhures, com outros argumentos mais substanciais e longe dos olhares e ouvidos indiscretos.
Nesta envolvência trágico-cómica, um comentador de Tomar a dianteira (comentário das 22:21, de 21/06/11) resolveu vir constatar que "...Se a senhora Merkel não é mentirosa, havia um programa europeu que evitava a troika e que o PSD+CDS chumbaram." Como se no actual contexto tal matéria tivesse algum interesse! Além de se tratar de prosa tão maliciosa quanto gasosa. Refere o PEC 4 sem o mencionar, numa singular habilidade, omitindo que também o Bloco de Esquerda, o PCP e os Verdes chumbaram o dito, juntando as suas vozes à direita, numa rara acção unânime da oposição. Porque terá acontecido assim?
Outro sintoma que não engana -Ali na Rua de Coimbra, um prédio ainda em acabamentos ostenta agora uma bela faixa publicitária, anunciando lojas e apartamentos T5 [6 assoalhadas] para venda. Com o devido respeito pelos investidores privados em questão, ouso formular uma pergunta inocente: Não seria mais proveitoso irem vender sobretudos e outros agasalhos para os países equatoriais?
Um último detalhe, igualmente sintomático. Na edição hoje publicada, O TEMPLÁRIO noticia que o edifício onde funcionou o Tribunal de Trabalho, o chamado prédio Silva Magalhães, ali à Várzea Pequena, está para venda. Até aqui nada de mais normal. Trata-se de uma propriedade privada, tendo os seus donos todos os direitos inerentes, que de modo algum se pretendem pôr em causa. O que me parece digno de especial relevância é o preço -Milhão e meio de euros = 300 mil contos!!!
Uma vez que um terço já seria, na minha tosca opinião, exagerado, aposto que vamos ter ali uma espécie de "Convento de Santa Iria Bis". Na ex-monástica construção de Além da Ponte também houve quem depositasse megalómanos expectativas, que vieram a malograr-se, como de resto era facilmente previsível. Agora, da tentativa de venda por milhão e meio, a actual gerência autárquica já passou para cedência gratuita em direito de superfície, tendo como contrapartida obrigatória o sonhado "hotel de charme de pelo menos 4 estrelas e 60 quartos". Azar dos azares, nem mesmo assim apareceu até agora quem lhe pegue.
Um jovem e arrojado empresário local ainda encetou conversações, mas cedo descobriu que a autarquia afinal quer enfiar o Rossio na Rua da Betesga. Pretende um hotel de 60 quartos, sem contudo permitir o aumento das cérceas, a abertura de uma subterrâneo sob a rua de Santa Iria, ou a duplicação do arco homónimo, em altura ou em largura. Nestas condições, uma vez que a actual regulamentação hoteleira impõe que os hóspedes nunca transitem pelos mesmos corredores do pessoal de serviço, adeus hotel de charme, bom dia megalomania tomarense! Somos assim e não parece haver grande coisa a fazer.

15 comentários:

Anónimo disse...

O Governo PSD/CDS informou na tomada de posse, por intermédio de Passos Coelho, que iam extinguir os Governos Civis.
Miguel Relvas disse hoje que os Governos Civis ainda não serão extintos, e que serão dirigidos por Secretários Distritais, ou seja por um orgão burocrático.
Os governadores civis agora demissionários avisam que os Governos Civis têm uma acção supra municipal, sendo vitais em caso de terramotos e dos incêndios florestais, porque são eles quem coordena as forças da Protecção Civil: a época que aí vem é a dos incêndios...
A rapaziada nova julga que o mundo começou com eles, e vai daí acabam com as estruturas sem medir as consequências.
Os Governos Civis não deviam ser extintos sem reformular toda a organização territorial do país. Mas, neste governo, a Organização do Território está no Ministério da Agricultura, da Cristas, e a Administração Local está no Ministério do Miguel Relvas, o que é um espanto.
Ainda procissão vai no adro e os pecados já são muitos.
Miguel Relvas diz hoje que a sua geração tem uma oportunidade para reestruturar Portugal. Sem dúvida, Portugal vai ser de tal maneira reestruturado que até o Diabo se admirará. Se a reestruturação de Portugal for igual à que tem vindo a ocorrer em Tomar, sobre a hegemonia de Relvas, vai ficar para a História das catástrofes.

Anónimo disse...

O seu ponto de vista parece-me duplamente sectário. Por um lado considera que eram os governadores civis a coordenar as operações de combate a incêndios e outras, o que não é verdade. Essa direcção e essa estrutura continuam a existir. Deixa é de haver verbos de encher...por vezes até os bolsos. Por outro lado, insiste em culpar Relvas por todos os males que afligiram e afligem Tomar. Contra a sua teimosia a toda a prova, só uma pergunta: E os eleitores, não têm quaisquer responsabilidades? É que entre a selecção operada por Relvas e a execução por quem todos sabemos, houve quem neles votasse, por vezes até com maioria absoluta. Ou já se esqueceu? E nessa altura, onde é que você escreveu comentários como o de agora?

Anónimo disse...

Tomar caiu de vez, e o que se vai fazendo é devido ao que vem de fora. Em breve será a tão esperada vetusta e mal fadada aldeia.Não é na politica que estão as soluções mas sim nas pessoas simples e anónimas. A ver vamos....a seu tempo.

Cantoneiro da Borda da Estrada disse...

"Os debates autárquicos não têm qualquer conteúdo substantivo, uma vez que os actores/autores, a maior parte das vezes, dizem uma coisa e fazem o seu oposto." - escreve-se no post
- e FRANCISCO ASSIS do PS.

Se fosse só isso...

De facto é verdade. Raramente, nos últimos anos, assisto a uma assembleia autárquica. A convite de um amigo, militante do PS, assisti ontém a uma Assembleia de freguesia (Algueirão-Mem Martins, 115 mil habitantes), que desde as eleições de 2009 não aprovaram ainda nenhum Orçamento, devido a interesses tão mesquinhos e irritantes que não me seguraram na assembleia mais de 75 minutos. Sei que o Orçamento voltou a não ser aprovado. Seria fastidioso explicar os contornos das contradições - metem dó...

No convite deste meu amigo estava incluída a participação hoje num almoço na RES PÚBLICA, Lisboa, com participação e intervenção de Francisco Assis (paguei o almocinho, pois então). Não sou militante PS mas aprendi a admirar este líder parlamentar do PS, culto, valente e leal na luta na crista das ondas. A lealdade, firmeza e caráter democrático são qualidades que admiro nos políticos, seja de que partido for

F.Assis defende nesta sua candidatura à liderança do PS uma medida que há muitos anos defendo para o sistema partidário português: "Abertura à sociedade civil". FA foi direto e concreto nesta questão. Julgo que a sua proposta é de agarrar pelos militantes do PS para o retirar (e aos outros partidos) do lodaçal em que está atolado. É uma espécie de primárias nos partidos (à semelhança do que acontece em alguns países) para escolha de alguns candidatos mais importantes, como, por exemplo, o cabeça de lista para C. Municipal e deputados

Em termos práticos:

-A organização local do PS cria uma comissão que controla as inscrições de simpatizantes do partido decididos a participar nos respetivos actos eleitorais internos de escolha de candidatos a cargos políticos públicos.

- Qualquer simpatizante do partido, para além dos militantes, pode candidatar-se ao cargo, organizar movimentos de apoio a este ou aquele candidato.
Isto pode significar que num concelho como Tomar a lista eleitoral pode atingir 1 000 eleitores (ou mais), numa primeira experiência.

Os riscos que se correm são de pouca monta, alguns deles controláveis. A experiência removerá imperfeições do modelo. Os militantes não perdem o seu estatuto.

Esta solução desferiria rude golpe naqueles grupos que controlam a máquina partidária e aprofundaria a olhos vistos a participação democrática de muito mais pessoas na escolha dos candidatos, cuja qualidade e legitimidade cresciam enormemente. Evitavam-se as lutas corpo a corpo decididas por escassas dezenas de militantes na maior parte das vezes atrelados a este ou aquele por interesses, muitos deles deconhecidos. Se este modelo existisse talvez os Independes de PMarques não existisse.

Como primeiro passo, esta proposta merece o meu incondicional apoio.
Os militantes do PS devem acordar para esta nova realidade para combater as pequenas camarilhas que sonegam a vida democrática ao partido e comprometem a qualidade dos detentores de cargos políticos públicos.

A candidatura de António José Seguro, na prática, é muito semelhante a práticas do Dr. Miguel Relvas no PSD (ele agora já é Ministro...) e em Tomar, de todos conhecidas. Eles dominam as máquinas e controlam os interesses pessoais que por lá campeiam.

Eu votaria Francisco Assis.

Anónimo disse...

O tempo e a vida vão continuar a evidenciar a verdadeira natureza e as ímpares responsabilidades de Miguel Relvas no descalabro de Tomar.

Inexorávelmente!

Com ou sem a vassalagem de António Rebelo e outros súbditos,novos e velhos.

Anónimo disse...

Sobre o comentário relativo à sra. Merkel e ao acordo que ela disse existir com o governo de Sócrates, talvez se pretenda por alguma sanidade mental no actual discurso político. Pode achar o assunto gasoso mas é não ser rigoroso vir dizer que Portas,Passos & Relvas são a entidade nacional salvadora e as faces do novo rigor. Pois se foram eles quem derrubou o gov. eleito, assinando ao mesmo tempo o contrato desse governo com a troika. O PC e o BE sempre estiveram fora do processo e fora da possibilidade da ida para o governo.

Anónimo disse...

"Os governadores civis agora demissionários avisam que os Governos Civis têm uma acção supra municipal, sendo vitais em caso de terramotos e dos incêndios florestais, porque são eles quem coordena as forças da Protecção Civil: a época que aí vem é a dos incêndios..."
Quando foi o tornado em Tomar onde esta a Governador Civil Sonia Sanfona? Atá hoje não apareceu em Tomar...

Anónimo disse...

Para o comentário das 14:27.
Li o seu post às 22:00.
O sr. ao relatar essa ideia de Relvas-ministro reestruturar Portugal, deixou-me em pãnico. Acredite que nem com um "Valium10" me tranquilizei. Felizmente é feriado.

Anónimo disse...

Para comentador das 00:34

O seu comentário é não só gasoso como mentiroso. Gasoso porque o que já não tem remédio, remediado está. Mentiroso porque, ao contrário do que escreve,a CDU e o BE estiveram dentro do processo, visto que votaram em conjunto com o PSD, o que indica que houve concertação prévia.
Quanto à sua crítica à minha posição sobre o actual elenco governativo, não será melhor esperar para ver? Olhe que limpar o dito antes de defecar, é prática que não se recomenda!

Anónimo disse...

Meu Caro Professor Rebelo,

A sua relexão merece-me todo o respeito, embora possa não concordar a 100% com a mesma ou ter uma visão menos fatalista da "doença" tomarense.

Gostaria de abordar esta última questão, de duas perspectivas distintas e complementares.

É um facto indesmentível que Tomar atravessa um período negro. Um concelho quase sem emprego, com muito pouca indústria, sem investimentos reais e concretos no ramo turístico hoteleiro (sempre anunciado como a nossa grande prioridade estratégica) não poderia ter outra realidade.

Confrangedora é também a postura de muitos daqueles que deveriam ser os primeiros defensores de Tomar - valorizam o "péssimo"; esquecem a iniciativa privada, os bons sinais de luta contra o ciclo negativo que estamos a atravessar.

Como exemplo do que afirmo, reitero o erro do projecto nas antigas instalações da Auto-Acessórios (que viola tudo o que é legislação nacional e local, com o beneplácito da autarquia - pelos vistos com o argumento de que se criam 10 empregos... - e quantos se perdem, pergunto eu?; onde está o estacionamento para aquela área de comércio? onde está afixada a licença de abertura do espaço? onde está a ficalização?).

Em contraponto, ainda ontem fui convidado para assitir à abertura de uma nova valência da "Academia dos Sonhos", um projecto de sucesso de duas jovens de Tomar - e não vi nem autarcas (à excepção do sempre jovem António Rodrigues, no "papel" de avô), nem imprensa, nem parangonas, nada. Criam e irão criar muito mais de 10 empregos; tiveram de obedecer a todas as intermináveis regras que as pessoas de Tomar têm de obedecer quando fazem investimentos, mas parece que não interessa. Pode até nem ser, mas parece.

Mas o objetivo desta relexão não visa pessoalizar, antes olhar para a frente.

Concordo consigo quando refere que a nomeção de Miguel Relvas é em simultâneo justa e importante para Tomar. O problema é que, neste momento a "velocidade de pensamento e visão" de um, é incompatível com o adormecimento e letargia da maioria daqueles que nos governam.

Também concordo que muito há a fazer, mas quase sempre esbarro / esbarramos nas dificuldades (o dinheiro escasseia; os bancos deixaram de apoiar os investimentos privados; as pessoas mudaram de hábitos de consumo; o retorno é lento e a muitos anos - em suma, Tudo mudou. A única realidade que permanece inalterável é a burocracia / a postura altiva e douta / a distância em relação à realidade de alguns serviços da autarquia, que "afastam" para bem longe tudo o que é investimento.

Esquecem-se de algo muito simples -que, também eles um dia podem deixar de ter o que fazer, e talvez aí também seja desnecessária a sua permanência em funções.

Sem uma mudança de visão e sem políticos / governantes que tenham a força e coragem para mudar toda este "cenário", não vale a pena continuarmos a lutar. É preferível ficarmos no nosso canto, vermos uns dizerem mal dos outros até à exaustão, e tentarmos resistir a algo que "apelidamos" de crise, mas que para mim é antes "auto-destruição".

O futuro não é melhor, não por ser algo impossível, mas antes porque alguns de nós assim não o querem.

Quando e se houver essa mudança de mentalidade, Tomar terá o desenvolvimento possível a uma cidade da nossa dimensão, situada no interior do país.

Abraço com amizade.

Ivo Manuel Querido dos Santos
ivo.santos@kool-park.com

Anónimo disse...

Conforme foi hoje dito na SIC Notícias, em desmemtido directo a Miguel Relvas, os Governadores Civis não podem ser extintos sem a revisão da Constituição, e, por efeito de legislação os Secretários Regionais não podem substituir os Governadores Civis.
Por direito e dever de cidadania coloco uma questão: será, como consta, que as funções do Governos Civis vão ser privatizadas ? Os Governos Civis, que até dão lucro,vão ser substituidos por empresas, portugueseas ou estrangeiras? Para onde irão as receitas dos Governos Civis ? Ficarão no país ou irão para o estrangeiro?
Não concordo com o Governos Civis, mas nunca se extingue um orgão sem ter outra forma de substituição. Esta rapaziada que está no Governo é muito apressada; são jovens, não pensam, e nós é que vamos pagar os erros.
Concerteza que os eleitores têm a sua quota de responsabilidade no estado a que chegou Tomar, até porque continuam a votar, quando o não deviam fazer; uma abstenção a cem por cento retiraria legitimidade a qualquer governo, local ou nacional. Mas, o Miguel Relvas tem enormes responsabildades no estado a que chegou Tomar, porque a política do paleio fácil, das frases curtas retiradas de almanaques, da escolha dos candidatos à Câmara,o esvasiamento do PSD local e distrital, e as políticas seguidas ao longo dos últimos 14 anos em Tomar são da sua escolha (recordo que 15 dias antes de Passos Coelho/Relvas terem ganho o PSD, a lista de Miguel Relvas em Tomar foi derrotada, o que é significativo). Repare que a estrutura do actual é muito parecida com a estrutura do PSD na Câmara de Tomar, com grande preferência por independentes: para que é que servem os partidos políticos se não têm militantes à altura? Os partidos não são piores que os Governos Civis?
Outras questões: o que é que Tomar ganhou quando Relvas foi Secretário de Estado da Administração Local? O que é que Tomar ganhou com Relvas e outros de Tomar em deputados quando as empresas começaram a encerrar? O que é que Tomar vai ganhar com a nova pollítica na Saúde e na Educação?

Anónimo disse...

Tenho pena que a figura do governador civil seja extinta. Tenho pena que a dona Sanfona perca visibilidade. Era de encher o olho!

Anónimo disse...

Em contraponto, ainda ontem fui convidado para assitir à abertura de uma nova valência da "Academia dos Sonhos", um projecto de sucesso de duas jovens de Tomar - e não vi nem autarcas (à excepção do sempre jovem António Rodrigues, no "papel" de avô), nem imprensa...

A casamentos e baptizados só vão os convidados.

Anónimo disse...

"
Tudo mudou. A única realidade que permanece inalterável é a burocracia / a postura altiva e douta / a distância em relação à realidade de alguns serviços da autarquia, que "afastam" para bem longe tudo o que é investimento.
"

Infelizmente esta verdade faz parte da razão do nosso subdesenvolvimento

Anónimo disse...

Tomarenses,não percamos a esperança! Com a anunciada reestruturação administrativa do país de que resultará a extinção de freguesias e concelhos, pode ser que o nosso concelho deixe de existir, e passe a ser integrado num dos concelhos limítrofes. Por muito má que a solução seja, não será pior do que o estado de coisas em que vivemos!