O MIRANTE, como se sabe, tem edições diferentes, embora com conteúdos semelhantes. Aqui temos a Edição Médio Tejo e a Edição Lezíria do Tejo desta semana. Como os nossos leitores podem aquilatar, dá muito jeito poder variar consoante a área geográfica e, naturalmente, os eleitores. Basta atentar na troca de manchetes e na permuta de fotos.
No primeiro quartel do século XVI, o grande poeta Sá de Miranda regressou ao país, vindo de Itália, onde estudara. Trazia a "medida nova" e uma consciência mais desperta para certas coisas. Agastado com a vida da côrte, exilou-se no Minho, tendo deixado uma quintilha, naturalmente na medida nova, que ficou célebre: "Homem de um só parecer/De um só rosto, de uma só fé/De antes quebrar que torcer/Muita coisa pode ser/Homem da corte não é". Meditando nestas manchetes e noutras notícias d'O MIRANTE, (e não só!) fica-se com a impressão de que, se fosse hoje, muito provavelmente o grande vate Sá de Miranda (que decerto nos perdoará) teria escrito antes "Homem de só aparecer/De um só rosto, mas com com bom pé/De antes pensar que perder/ Muita coisa pode ser/ Depende para quem é".
Em todo o caso, vale a pena ler, a todos os títulos, a excelente entrevista do engenheiro Mira Amaral. Não só por ser um antigo ministro e agora banqueiro (Presidente do BIC), mas sobretudo por se tratar de um grande gabarito intelectual, dos melhores do país, e não ter papas na língua.
Nesta entrevista, ajusta contas com o PSD ("a minha dedicação e colaboração com o PSD acabou, por causa da cena vergonhosa que me fizeram na Caixa em 2004"...), acusa a gestão socialista de Santarém (..."porque de facto as lideranças municipais tinham deixado adormecer completamente a cidade."), fala de Torres Novas como capital económica do distrito, de Abrantes e de Ourém, mas sobre Tomar nem uma palavra. Só quando questionado acerca dos dois politécnicos opinou que devia existir só um, mas com dois pólos: "Há coisas que só por si não têm dimensão. Temos de perceber que o país mudou..."
Finalmente, sobre a crise foi lapidar, no nosso entender: "Dar a volta ao texto vai levar muitos anos. Os portugueses vão ter de se lembrar de coisas básicas. Vão ter de trabalhar mais e melhor. Vão ter de perceber que ainda não são europeus, como alguns pensavam... ... ...Vamos ter de passar uns anos de sangue suor e lágrimas. Com muitos sacrifícios, e uma sociedade civil mais consciente, mais responsável, mais actuante, que faça pressão sobre a classe política, para que esta seja mais responsável e comece a gerir melhor..."
Lendo-o atentamente, percebe-se que o engenheiro Mira Amaral, se não vem com frequência a Tomar, pelo menos conhece muito bem os seus habitantes.
2 comentários:
À sua atenção, António Rebelo:
Face à constante degradação das passadeiras de peões na ponte Roflim, as sumidades (in)competentes decidiram fazer o quê? Pura e simplesmente alcatroar os buracos...
Isto só em Tomar! Cidade tem+pleira, cidade cigana!!!
Mas foi precisamente com o PM Cavaco (em que Mira era ministro) que os portugueses se convenceram que eram ricos "à europeia". Não tentem re-escrever a história. O Engº Mira (Prof.Perdigoto, como é conhecido no IST)deve quase tudo o que é ao percurso político partidário. Fica-lhe mal dizer-se desinteressado da política. Dá razão ao povo quando esse povo comenta: "este já se encheu".
A entrevista são banalidades mas, como sempre, em terra de cegos...
Pedro Miguel
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