JAPÃO
Um regime escolar muito exigente...
No Japão o dia a dia de um aluno do ensino básico começa sempre por uma reunião de 10 minutos com o professor principal (tannin), que inclui as saudações, a chamada e um teste de kanjis (sinogramas). A função de professor principal é de grande importância no Japão, para criar uma forte coesão de grupo, a qual é facilitada pela quase inexistência de repetências.
As aulas são sempre na mesma sala, tendo como disciplinas principais a matemática, as ciências (física, química e SVT), o japonês, o inglês e os estudos sociais (história-geografia e educação cívica). Será este sistema a base dos bons resultados do Japão, que em 2010 aparece em 5º lugar na leitura, 3º na matemática e 2º em ciências, entre todos os países da OCDE?
Ao contrário do que acontece no ensino primário, cuja pedagogia privilegia a descoberta e os debates entre alunos, nos 2º e 3º ciclos, dado o elevado número de alunos por turma, as aulas são quase sempre expositivas/magistrais.. Por outro lado, a proibição absoluta de usar calculadora explica por que motivo os japoneses são excepcionais em cálculo mental.
A escola normal "normal" termina ao princípio da tarde com a limpeza da sala pelos alunos, seguida de uma reunião de encerramento. O que não significa, contudo, o regresso a casa. 65% dos alunos têm após as aulas normais um juku, uma aula privada. E aqui reside, sem dúvida, a diferença em relação aos outros países em termos de resultados comparados. Há no Japão mais juku do que escolas. Os pais inscrevem os seus rebentos num juku, para lhes permitir entrar depois no melhor liceu possível, quase sempre mediante provas escritas e orais de admissão.
Relativamente igualitário até ao final do básico, o sistema escolar japonês torna-se depois extremamente competitivo no liceu, onde existe uma forte hierarquia qualitativa entre estabelecimentos. Em média, os pais gastam 1.800 euros anuais com cada filho inscrito num juku. Nos últimos dois ciclos do ensino básico, a carga horária semanal é de 5 horas, mas os filhos de pais muito ambiciosos podem duplicar as horas de permanência, ou mesmo mais, incluindo aos domingos. E depois ainda há os vários exercícios para fazer em casa. É este o preço pago pelos alunos japoneses de 15 anos, para se manterem no primeiro pelotão do PISA.
E no entanto começam a surgir fendas no "império do concurso". Como demonstra a estagnação verificada na última sessão do PISA. A crise económica e o aumento das desigualdades sociais tendem a provocar na juventude alguma desmotivação, e até uma certa rejeição da sociedade. Perante a perspectiva de um futuro mais difícil, os jovens japoneses começaram a duvidar das virtudes do esforço e da meritocracia.
Em 2004, a opinião pública alarmou-se com a revelação da existência de mais de dois milhões de freeters, jovens precários, diplomados, a viver de trabalhos ocasionais, e sobretudo dos NEET ("Not in Education, Employment or Training"). Jovens que abandonaram a escola e encontraram o desemprego. O fenómeno da desmotivação, no início circunscrito ao ensino superior, já se estendeu aos alunos do secundário e até do básico.
Mathieu Gaulène, Le Monde, Tóquio, 15/12/10
Tradução de António Rebelo
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