domingo, 14 de fevereiro de 2010

SALVAR A JANELA DO CAPÍTULO - NOVOS DADOS


Terminou há pouco tempo a primeira fase da lavagem/limpeza das fachadas do Coro Manuelino do Convento de Cristo. Esta primeira fase incidiu no sector que figura na foto supra porque, segundo o IGESPAR, que tutela o monumento, "esta zona, apesar de não ser aquela que apresenta uma maior densidade de colonização biológica, é contudo a mais simples e a menos decorada do ponto de vista arquitectónico, razão que esteve na base da sua eleição como "tramo-piloto". Terá pesado igualmente, quanto a nós, o facto de ser simultaneamente a menos acessível ao público e a menos visível, detalhes importantes se e quando as coisas corressem /correrem mal. Mas isso, compreensivelmente de resto, o IGESPAR não diz.

Terminada a intervenção, naturalmente desapareceu a harmonia do conjunto. Antes tínhamos antigo+antigo, patine+patine. Agora temos lavado+mais sujo, moderno+patine. O que leva a supor que, caso avance a limpeza/lavagem de toda a nave manuelina, a seguir irá o exterior da Charola, depois o Claustro Principal, e assim sucessivamente. Como exclamou um dia, algures entre estas paredes, a raínha Dª Maria II para Costa Cabral: -Ena tanto dinheiro !!!
Manda a verdade dizer que, pela primeira vez em Tomar e arredores, uma intervenção de lavagem/limpeza num monumento parece ter sido feita de acordo com as melhores regras da arte, não tendo por isso danificado as cantarias. Para já ! Agora teremos de aguardar alguns anos, para então observar as consequências da remoção da cobertura biológica, a qual, como sempre aqui dissemos, não só não degrada a pedra (como agora está à vista de todos), mas até a protege de eventuais elementos naturais mais agressivos (chuvas ácidas, por exemplo). Por agora, portanto, tudo bem. Está de parabéns a empresa que efectuou os trabalhos, bem como os subscritores do apelo "Salvar a Janela do Capítulo", que a obrigaram a agir com todas as cautelas. Como sempre deveria ser, mas não é. Infelizmente !



E quando a opinião pública está menos atenta e não mostra preocupação, as coisas são feitas de modo mais expedito, que fica muito mais barato e é mais rápido, mas provoca estes desastres. A foto mostra uma das vergas do Claustro da Hospedaria, ali coloca por volta de 1545. Submetida recentemente à operação de lavagem/limpeza, visivelmente com jacto de água e produtos decapantes dissolvidos, para ser mais rápido, decorridos poucos anos está agora a "descascar-se" pouco a pouco, num processo irreversível...

Oxalá e Deus permita que não venha a acontecer o mesmo no sector da Nave Manuelina, agora acabado de intervencionar. Afinal, as cantarias são praticamente da mesma época. A da foto é de 1545, como já foi referido, as da construção manuelina são de 1515. Trinta anos mais velhas, por conseguinte, mas da mesma pedreira calcárea.

Um último detalhe, que tem a sua importância, sobretudo numa altura de penúria orçamental como a que atravessamos, e cujo fim se não vislumbra: menos de 20 metros quadrados limpos, no sector com menos ornatos de toda a nave, segundo o próprio IGESPAR, custaram aos contribuintes, que somos todos nós, a módica quantia de 76.104 euros (IVA incluído) = a quinze mil duzentos e vinte contos ! Quanto custará a limpeza lavagem de tudo aquilo, se chegar a realizar-se ?

E o Convento com tantos sectores a necessitarem de urgente manutenção. E os Pegões então nem se fala. E a Igreja de S. João Baptista, a precisar de urgente raspagem seguida de pintura da fachada... Oh tempo ! Oh costumes !

4 comentários:

Maria disse...

Já agora, porque não usam ácido moriático ou água forte? É o que se usa na sanita da casa de banho para tirar os detritos e fica limpa. Ainda mais branquinha do que a parte limpa do Convento, que diga-se de passagem, está tão imaculada como o lavatório de uma casa de banho muito limpa. Porque não aproveitam para limpar os lavabos públicos, onde não se pode entrar, tal é a sujidade? Se calhar era mais útil e já tinham com que entreter.
Maria

Anónimo disse...

Boa tarde António Rebelo,

Agora, tudo aquilo pintadinho em tom de ocre e envernizadinho para aguentar as intempéries, fica ali uma coisinha digna de ser vista. Até cá hão-de vir excursões do Algarve para ver a obra, como aconteceu com a rotunda cibernética, segundo o seu mentor...

Anónimo disse...

Excelentíssimo doutor, lá continua a cruzada inútil contra uma acção necessária e bem pensada de quem nos vai gerindo ! Muito bem, muito bem.

No post de baixo, sugeriu-me que deixasse de por aqui passar, visto discordar das suas convicções, e criar um blogue próprio, onde defendesse ideias contrárias às suas. Eu sugiro-lhe algo parecido. Deixe de criticar quem pretende ver a janela limpa, pois já deve ter percebido que essa luta acarreta mais areia do que a sua camioneta transporta, e candidate-se numas futuras eleições. Para vermos, in factum, o quanto as suas causas são apreciadas pelos tomarenses.

Alexandre Miguel Lopes Teixeira de Oliveira

Sebastião Barros disse...

Meu caro senhor Alexandre:Tem toda a liberdade de pensar e/ou escrever o que entender. Mas não tem o direito ético de pretender calar os outros, ainda por cima com argumentos de caca. Desculpe-me o termo, simples produto da minha frontalidade.
Não tenho o prazer de o conhecer, ou até talvez o conheça, sem todavia ligar o nome à pessoa. Em todo o caso, em virtude de que pergaminhos se arroga o direito de opinar que eu "Deixe de criticar quem pretende ver a janela limpa, pois já dev(o) ter percebido que essa luta acarreta mais areia do que a (minha) camioneta transporta..." ?
Andou comigo nas escola ou na Universidade ? Foi meu professor de alguma disciplina ou cadeira ? Então como sabe qual é a real capacidade da minha camioneta ? Está só a presumir, que é com quem diz a armar ao pingarelho ? Ou também é pau mandado ?
Realmente posso não perceber grande coisa do Convento em geral, ou da Janela em particular. Sei, no entanto, e de fonte limpa, que para muitos partidários da limpeza em questão, o importante nem é o que possa acontecer à Janela. O importante é limpar mais uns largos milhares de contos do orçamento de estado. Digam o que disserem.
Em conclusão, aceite esta quintilha de Sá de Miranda, que com quase cinco séculos ainda não foi limpa e todavia continua muito actual: Homem de um só parecer/De um só rosto, de uma só fé/ De antes quebrar que torcer/ Muita coisa pode ser/ Homem da corte não é !
A corte, como decerto não ignora, é agora o poder, em sentido lato.
Aceite os meus cordiais cumprimentos e nunca esqueça que quem diz o que quer, corre o risco de ouvir o que não gosta.

António Rebelo