Isto é por fases. Agora estamos na fase dos palpites, segundo os quais Tomar está em crise porque os turistas que visitam o Convento (grandes malandros !) não vêm cá abaixo. Subentende-se que para comer, beber e comprar. É um ponto de vista que não tem qualquer base sólida, como por exemplo um adequado trabalho de investigação por inquérito. Mas que importância têm isso ? O tomarense é geralmente um cidadão de crenças, que embora o não admita, ainda acredita em milagres. Um sebastianista, afinal.
Quem tiver a pachorra necessária para consultar os poucos e imperfeitos dados disponíveis, chegará à conclusão que afinal os turistas sempre vêm cá abaixo. Não todos, mas uma parte significativa. S. João, a Sinagoga e o Museu dos Fósforos, por exemplo, registam todos os anos entre dez e vinte mil visitantes. Bastante mais até, no caso de S. João Baptista. Lá se vai, por conseguinte, a balela dos turistas que se ficam pelo Convento.
Em vez de persistir no erro crasso, melhor seria que a autarquia, a entidade de turismo ou a ACITOFEBA mandassem proceder a adequados estudos, no sentido de apurar, sem margem para grandes dúvidas, quais os motivos que levam uma grande parte dos visitantes a não descerem à cidade. Quando o resolverem fazer, tudo indica que vão ter grandes e desagradáveis surpresas. Sinalização, limpeza, qualidade, variedade, preços, acolhimento, tudo isso falta nesta pobre terra. Basta comparar com outras aqui bem perto.
Às gritantes carências locais, junta-se a recente mudança de paradigma, que para nós foi anterior e resultou da drástica redução das forças armadas, em virtude das crescentes dificuldades orçamentais. Entretanto, a Europa deixou de ser o "centro do Mundo", um continente de países ricos e a crescerem mais de 3% ao ano, em média. Agora o "centro do Mundo" é na Ásia, onde a China e outros crescem ao ritmo incrível de mais de 10% ao ano. Enquanto isto, no velho continente e em Portugal, é a crise, o desemprego e o crescimento negativo. Nestas condições, como querem que os cidadãos tenham alegria, dinheiro e vontade de o gastar em viagens e respectivas despesas conexas ? O futuro nunca foi tão incerto, pelo que o mais importante é precaver-se. A poupança voltou a ser uma virtude cardinal.
Alheios a tudo isto e ao geral fluir dos mundo, autarcas e outros dirigentes locais persistem na clássica actuação do arrivista: O importante é conseguir, pouco importam os meios. Um bom palpite vale mais que cinquenta estudos aprofundados. Fiados nisto, cada qual procura implementar o seu palpite. Temos assim uma bela série de "elefantes brancos", uns já no terreno, outros que estão para chegar. Já no terreno, temos o comboio turístico, a ponte metálica entre o Mouchão e o ex-estádio, a reformulação do Mouchão, o parque subterrâneo, a transformação do estádio em campo de treinos, o pavilhão, a ponte do Flecheiro, o Museu de Arte Contemporânea, etc. etc. Estão para chegar os novos parques de estacionamento junto ao Convento, os museus da Levada e o arranjo do perscurso pedonal Cidade-Convento pelo interior da Mata. Ainda com futuro muito incerto anuncia-se um funicular entre a Anunciada e o Convento, a Ponte do Padrão, a Ponte de Carvalhos Figueiredo, a Ponte da Arrascada e a Ponte do Prado. Só !
O mais curioso é que cada um destes "melhoramentos", tanto os já no terreno como os que hão-de vir, ou não, é sempre anunciado como uma importante mais-valia. Tempos mais tarde verifica-se que tinham razão os seus promotores, mas em sentido inverso ao que julgavam. Realmente cada um dos ditos "melhoramentos" revelou-se (ou virá a revelar-se) uma mais-valia muito particular, de acordo com o que pensam os tomarenses em geral: mais valia não os terem feito, que sempre se poupava o dinheiro para coisas mais úteis.
Num mundo cada vez mais complexo, como querem planear o desenvolvimento local sem técnicos competentes, sem estudos prévios, sem planos adequados, sem ideias fecundas, sem humildade e sem vontade de aprender ? Cuidam que governar é mais ou menos a mesma coisa que jogar no Euromilhões? Que os desafios que se nos colocam cada vez com mais premência são assim como um Sporting/Benfica, cujo resultado, seja ele qual for, não nos afecta minimamente sob o ponto de vista material ?
Bem cantava o Variações:"Quando a cabeça não tem juízo, o corpo é que paga."
2 comentários:
Bom dia António Rebelo,
Essa da crise de Tomar se dever ao facto dos visitantes do convento não descerem ao povoado é de rir! Só para rir, quando não para chorar por tanta parvoeira à solta nesta terra.
Até aqui a crise devia-se ao afastamento das melhores vias de circulação. Entretanto fez-se o IC3, parte do IC9, e a caminho estão novas vias rápidas que ligarão Tomar aos quatro pontos cardeais. Mas pelo que se ouve, afinal o IC não trouxe nada de novo a não ser para os que saem de Tomar! Agora fazem-no mais rápida e comodamente!
Cá para mim fazem falta é mais arraiais de comezaina, tipo Festa do Tremoço, Festa do Frango Assado, Festa da Entremeada, Festa do Pão com Chouriço, Festa dos Couratos, etc. etc...
Entretanto, quer os de fora (que cada vez menos cá vêm), quer os de cá que cada vez mais saem para gastar dinheiro onde há oferta para o gastar, vão tornando a cidade mais e mais deserta. É um dó de alma percorrer qualquer rua da cidade e "apreciar" o silêncio, o deserto em que isto se está a tornar. Até para ver um filme é preciso ir a Torres Novas. Por cá, uma sala fechou definitivamente há anos, e a outra, propriedade da câmara, é um morto-vivo que não cria apetência nas pessoas dada a sua programação verdadeiramente inqualificável.
Para comprar roupa, qualquer loja de franchaising em Torres Novas, Leiria ou Coimbra tem mais oferta que todas as de Tomar juntas.
Aquilo que podia ter sido um motor para o redespertar da cidade em termos populacionais e até mesmo económicos foi morto à nascença pelo redesenhar da cidade sob a (ir)responsabilidade de Paulino Paiva que foi um autêntico mestre na arte de destruir o modesto parque desportivo da cidade. Modesto mas com possibilidade de vir a ser mais alguma coisa se se tivessem feito melhoramentos adequados. Digo isto porquê? Porque hoje em dia está provado que o turismo ligado ao desporto é um poderoso veículo de animação das cidades, de valorização da sua imagem, e de incremento económico. Traz gente nova, que por sua vez arrasta outros, além de promover os locais, se bem recebidos.
Mas não! Isto quer-se é sossegadinho! Para quê o bulício? É só desassossego! E depois, se o ordenadinho pinga de Lisboa com a regularidade de um relógio suiço, para que nos havemos de estar a incomodar?
Já agora porque não o TGV não ter uma ligação a Tomar, o turismo sorria-lhe, mas tou a lembrar o tal orçamento não permite esta linha exepcional.
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