DEBATE POLÍTICO A SÉRIO

Foi muito vivo e proveitoso o segundo debate da série "Destaques do concelho", emitido na passada quarta-feira pela Rádio Hertz, mas que só ontem foi possível ouvir, no site radiohertz > programas. Os três participantes, o vereador Luís Ferreira, o deputado municipal António Cruz e o locutor António Feliciano estiveram bem, honrando os cargos que cada um desempenha. 

António Feliciano soube a cada momento tomar o pulso dos contendores, deixando correr a troca de argumentos sem interromper, para não quebrar o ritmo. O vereador Luís Ferreira pareceu-nos menos impetuoso do que é habitual, dando indícios de se resguardar um pouco mais, colocando-se à defesa, como se já não acreditasse muito no futuro da bizarra coligação que nos devia governar. O deputado municipal António Cruz excedeu claramente as expectativas que tínhamos a seu respeito. Esteve quase sempre ao ataque, escolheu bem os assuntos e os argumentos, foi claro e conseguiu nunca abusar do seu ascendente por ser um opositor, posição sempre mais fácil em relação à de quem devia governar.

Cabe destacar que ambos souberam respeitar o contraditor. Houve vivacidade, houve discordância, houve entusiasmo, mas manteve-se a cortesia, a tolerância e o vocabulário cordato. Excelente exemplo para a comunidade tomarense, onde infelizmente ainda abundam os brutamontes, persuadidos de que conseguiremos chegar algures com palavrões, calúnias, má educação, práticas mafiosas e tentativas de ajavardar tudo aquilo em que se metem.

Indo agora ao tutano do assunto. Por parte de Luís Ferreira, ficou-se a saber que votará contra qualquer proposta tendente a instalar a comunidade cigana na Zona Industrial (Complica-se assim, e muito, a prevista 3ª fase do Flecheiro...); que o PS procura ajudar o mais possível o seu parceiro de coligação a melhorar a sua actuação, que no passado foi tudo menos razoável; que o PS não pode ser responsabilizado por aquilo que está a ser feito, pois há vários aspectos com os quais não concorda.

Num assomo de sinceridade, o vereador socialista revelou dois detalhes substantivos, que nos parecem bem importantes no âmbito do que aí vem. Disse que, no quadro da coligação, tem havido frequentes reuniões preparatórias, durante as quais cada formação apresenta as suas propostas. Referiu que, quando há unanimidade, avançam; caso contrário morrem ali. Em claro e para leigos em política: O PS é o travão do PSD, e vice-versa. Por isso as coisas são como são e estamos como estamos.

Noutro passo, e este é o segundo detalhe fulcral, o motor e mentor do PS local, defendendo e louvando a acção do seu camarada José Vitoríno, contra as críticas implícitas de António Cruz, foi feliz e franco ao usar um vocábulo delicioso numa frase original e justa. Segundo ele "O Zé Vitorino está a burilar os problemas", naturalmente na área do urbanismo, a sua especialidade. Por outras palavras, face às alegações contundentes de António Cruz, o autarca rosa reconhece implicitamente, não só que os problemas naquela área são às dezenas, ou até às centenas, de tal forma que Vitorino, não os podendo de forma alguma resolver, vai usando aquilo que poderemos designar como "cuidados paliativos". Os doentes em estado terminal não são curados, mas sofrem muito menos. Já não é mau, porque entretanto os requerentes cansam-se e resolvem ir pregar para outra freguesia.

Um exemplo: De forma assaz contundente, porém educada como sempre, António Cruz afirmou, e não foi desmentido, que há na autarquia 32 planos de pormenor, correspondentes a 8 mil apartamentos = 24 mil pessoas (este último dado é nosso). Na sua resposta, demasiado evasiva, uma vez que não domina a matéria, Ferreira lamentou-se dizendo que "a urbanização das Avessadas não tem ponta por onde se lhe pegue". Sabendo-se que a questão da quinta dos Alvellos anda aos baldões na autarquia desde os tempos de Pedro Marques, forçoso é reconhecer que Tomar não tem beneficiado da graça de Deus. Pelo menos no que se refere a planeamento urbanístico. Mas se fosse só isso...

Deixou-se para o fim a prestação do deputado municipal ex-PSD, agora independente, António Cruz, por nos parecer digna de destaque e de rasgados elogios. Na nossa opinião, soube ser ousado, foi claro, preciso, conciso e extremamente cordato, sem nunca abdicar das suas posições. Ferreira viu bem, quando a dada altura lhe deu a entender que estaria bem no PS, o que acontece pela 2ª vez. Só que desta feita Cruz agradeceu com um seco obrigado, quando na outra tinha entreaberto a porta com um esperançoso "logo se vê.."

Em termos factuais, para além do já referido acima, conseguiu dar a entender que a actual câmara prima pela inépcia, sem nunca aplicar tal termo; que não há serviços de acolhimento aos eventuais investidores; que não há planos e, sobretudo, que os membros da transitória maioria apenas estão preocupados com a sua manutenção à mesa do orçamento. Constatando decerto que a mensagem estava a passar, arriscou mesmo um vaticínio, contrariando Ferreira, que evocava autárquicas em 2013. Afirmou que, não pretendendo de forma alguma ser profeta na sua terra, após a aprovação da conta de gerência de 2010, lá para Março/Abril, a coligação deve exalar o último suspiro. Havendo eleições legislativas em Junho/Julho, é muito provável que haja ao mesmo tempo autárquicas intercalares em Tomar, acrescentou. O vereador socialista riu-se (assinalou Cruz) e balbuciou algo como "É o que vamos ver..."

Quarta-feira há mais. Na Hertz. Das 18 às 20 horas.