terça-feira, 28 de dezembro de 2010

A FORMA O FUNDO E OS RESULTADOS


Há duas grandes categorias de comentários que chegam aqui a Tomar a dianteira - os publicáveis e o lixo. Estes últimos, contrariando o que pretendem e propalam os seus autores, não são censurados porque há administradores neste blogue que são sádicos, ou afilhados de, ou com um passado duvidoso, ou, ou, ou. Nenhuma destas balelas, geralmente com mais de 30 anos, tal como as ideias de quem as garatuja, encaixa minimamente na realidade. Tais arrazoados apenas têm o destino que merecem: o lixo porque não passam de sujidade; a sanita, porque são isso mesmo que está a pensar. Aqui fica o esclarecimento, para todos o fins tidos por convenientes.
Estes dois que acima se reproduzem integram a categoria dos publicáveis, um porque usa uma linguagem aceitável, conquanto aqui e ali pouco convencional; o outro porque é formalmente correctíssimo, como aliás tem sido sempre timbre do seu autor. Foi decidido, a titulo excepcional, responder-lhes aqui, por três razões principais: A - Constituem excelentes exemplos daquilo que pretendemos demonstrar; B - Ambos os autores parecem sinceros e de boa fé; C - No blogue, o espaço não é limitado pela google, ao contrário do que ocorre nos comentários.
Esclareça-se à cabeça que nenhum dos autores é conhecido, pelo que não se trata de forma alguma de atacar pessoas. Apenas de debater ideias de forma serena, venham elas de onde vierem, e sejam quais forem, desde que nos limites das liberdades garantidas pela lei fundamental.
Abre-se a questão central com uma metáfora. Vamos supôr que se assiste a uma competição de tiro ao alvo, com armas, munições, alvos e distâncias iguais. A dada altura restam em prova, para o desempate final, apenas dois atiradores. Terminada a prova do primeiro, o segundo competidor, inesperadamente, vira a arma para ele e abate-o. A assistência fica estupefacta e horrorizada. Apupam, gritam, assobiam, vem a polícia e a ambulância....
O leitor acha uma coisa assim, um bocado estranha, forçada, algo irrealista, não é verdade? Pois tem toda a razão. Não lembraria a ninguém minimamente equilibrado tentar abater um adversário durante uma competição. De tiro, ou de qualquer outro desporto.
É no entanto o que tentam fazer -quiçá sem disso se aperceberem cabalmente- os dois comentadores acima citados. E não estão sós. De cada vez que aqui reproduzimos opiniões de qualquer personalidade, por muito técnicas que sejam, e reputado o seu autor ou autores, aparecem logo os comentários do tipo "e onde é que ele estava nessa altura? quantas reformas é que tem? o que é que fez na sua época? porque é que só agora é vem largar postas de pescada?" Ou então a pergunta sacramental, que os seus usuários julgam mortal : "O que é que esse gajo já fez por Tomar?" 
Por outras palavras, se de um lado chove, do outro cai água. Se fez é porque valia mais estar quieto. Se não conseguiu governar a sua vida é um palerma. Se conseguiu é um oportunista. Se nada fez, valia mais estar calado. Na verdade, o que tudo isto denota é uma confrangedora herança, que nos vem dos muçulmanos, da idade média e da Santa Inquisição  - a intolerância em todo o seu esplendor. Todos são culpados, até prova do contrário. 
O Santo Tribunal foi até hoje, infelizmente, a única instituição portuguesa totalmente eficaz. Sem saberem em concreto de que eram acusados, sem conhecerem os seus acusadores, submetidos à tortura, todos os desgraçados que lá caíram, ou confessaram e foram condenados por heresia; ou não confessaram, apesar da tortura, e foram condenados como relapsos. Já foi há muito tempo? Foi sim senhor. Mas deixou marcas profundas e fortemente nefastas. Que estão bem presentes nos nossos dias. Basta pensar e procurar um bocadinho...
Nos países árabes, mesmo aqui ao lado, ainda hoje se ouve dizer, com a maior das naturalidades, "bate na tua mulher todos os dias; mesmo que não saibas porquê, ela sabe!" Infame, não é verdade?
Pois é exactamente aquilo que fazem os nossos comentadores supracitados. Consideram todos os autores do que lêem  como culpados de tudo e mais alguma coisa. Vai daí, em vez de se limitarem a emitir opinião fundamentada sobre o que leram, fazem como o atirador da metáfora -Atiram-se ao respectivo autor como gatos a bofe. Por vezes até com pouco ou nenhum nexo da causalidade, e sem possibilidade de correcção. Por exemplo, neste caso de João Salgueiro, atacaram logo porque foi candidato na Figueira da Foz, porque foi presidente da Associação Portuguesa de Bancos, porque tem não se sabe quantas reformas, porque algumas devem ser douradas, etc etc. Como se tais factos constituissem outros tantos crimes! Triste sina Severina! Caso para dizer, como o poeta, mas com sentido oposto, "Não se nasce impunemente em Portugal!"
Já anteriormente ocorreu exactamente o mesmo, tanto com os autores reproduzidos -os mais recentes dos quais foram João César das Neves e Moita Flores- como com quem escreve estas singelas linhas. Quando é que passaremos a adoptar figurinos da sociedade ocidental? A debater com calma textos e ideias, em vez de atirar logo a matar sobre os autores, sejam eles quem forem?  Acham que é assim que vamos saír da merda em que estamos atascados? Ou desejam o regresso da Idade Média e da Santa Inquisição?

8 comentários:

Anónimo disse...

Resposta a António Rebelo :

1º - Sou o autor do primeiro comentário reproduzido e não retiro uma vírgula ao que escrevi.

2º - Fui o autor de muitos comentários censurados por si,classificados como lixo,só porque ousei discordar de teses,ambições cegas ou comportamentos seus.

3º - Sei que abomina o contraditório quando estão em causa as suas ideias e ambições políticas,o que lamento profundamente.

4º - Não retiro uma vírgula ao que escrevi sobre João Salgueiro e outros figurões porque não consigo contemplar com a hipocrisia,a incoerência e a falta de pudor e/ou de vergonha.

5º - João Salgueiro sempre defendeu,como economista e como político,em palavras,o que não pratica. E,em alguns dos excertos dos textos respigados,volta a fazê-lo.

6º - João Salgueiro,enquanto ministro,enquanto dirigente do Banco de Portugal,enquanto presidente da SEDES,enquanto presidente da Associação Portuguesa de Bancos,sempre bateu e rebateu na tecla da moderação salarial dos trabalhadores (leia-se classe média para baixo).No fundo, foi um dos principais teóricos,a para de Vitor Constâcio,de um modelo falhado de competitividade terceiro-mundista,assente em baixos salários/mão-de-obra barata.

7º - Mas este mesmo João Salgueiro ia auferindo vencimentos milionários,uns à custa do Estado e outros à custa de uma política obscena de vencimentos para os altos quadros das empresas privadas ou semi-públicas.

8º - Como o relógio dele também não pára,hoje está reformado. Acumula,pelo menos, reformas de Deputado,do Banco de Portugal,da APBancos. Terá seguramente um rendimento de mais de uma dezena de milhares de euros/mês.

FACE A TUDO ISTO, PERGUNTO :

Que legitimade,que credibilidade pode ter este homem quando nos vem dizer o que António Rebelo trancreve,sublinha e enfatiza ?

Para João Salgueiro e milhares de outros como ele terem uma vidinha IMUNE À CRISE,quantos milhares têm de continuar a "viver" com pensões de 200/300 euros?

Quantos têm de aguentar a miséria e a fome ditadas pelo desemprego e pelos cortes nas prestações sociais básicas?

Enquanto o meu país for isto,não tenho pachorra para ler e ouvir os "joões salgueiros" que fizeram o mal e agora fazem a caramunha.

Respeito quem pense de forma diversa mas não sou obrigado a curvar-me perante esta gentalha com muito "pedigree",mas sem qualquer pudor social,apesar de beatos que não se cansam de bater com a mão no peito.

VIVA A LIBERDADE DE PENSAMENTO!

VIVA O DIREITO À VERDADE E À INDIGNAÇÃO!

ABAIXO A HIPOCRISIA!

QUEM NÃO QUER SER LOBO,NÃO LHE VISTA A PELE!

Anónimo disse...

Considerarei um atentado à inteligência (pelo menos à minha) sempre que, quando se falar no endividamento nacional nos últimos 30 anos, venham banqueiros como Ricardo Salgado, por exemplo, ou funcionários bancários de topo como J.Salgueiro, tecer considerações moralistas ou de superioridade intelectual relativamente ao compromissos em que famílias e governantes se "meteram". Aqueles, que assumam pelo menos a sua parte de responsabilidade.
Mira Amaral dizia, e bem, que a função pública vai agora pagar os "desmandos políticos passados".Tal como Cadilhe. Assumem-se como parte do erro.Já Cavaco, o não político(?), lamenta "o monstro"-algo que ele próprio criou!
Voltando à imagem da Santa Inquisição, talvez haja por aí Juízes do Tribunal do Santo Ofício lamentando os queimados na fogueira! Pesarosos, até porque não foram eles os que acenderam os fósforos...
Pedro Miguel

Anónimo disse...

Para anónimo em 23:31

Percebo e respeito a sua indignação. E como vê também respeito o contraditório, quando cordatamente exposto.
Está cheio de razão na maior parte daquilo que diz, só peca por esquecer que todos erramos, mais cedo ou mais tarde. A tal história do "Quem nunca pecou..."
E depois há uma ligação que faz e me parece de todo inaceitável: Não é por João Salgueiro e muitos outros terem reformas confortáveis e excessivas, que há (Infelizmente!) compatriotas nossos na miséria, ou com reformas de 300 euros. Vivemos desde o 25 de Abril e graças aos militares numa sociedade aberta, no seio da qual cada um é livre na busca da sua felicidade. Salvo raras excepções (acidentes, doenças, intempéries) se alguém nunca conseguiu, a culpa é sobretudo dele ou dela. Mas os que mandam, a sociedade por tuguesa, a burocracia ?! As fronteiras estão abertas! Na UE, cada qual pode residir e trabalhar onde quiser. Viver à mama é que não!
A terminar: Uma das grandes chagas do Santo Ofício da Inquisição era o anonimato das testemunhas. Séculos mais tarde, ainda não há nada mais honrado e franco do que assinar por baixo. Como eu faço sempre.

Fraternalmente,

António Rebelo

Anónimo disse...

Nova resposta a António Rebelo :

PRÉVIO

Estamos a falar de João Salgueiro por mero acaso.Podíamos estar a falar de Vitor Constâncio,de Jardim Gonçalves,de Paulo Teixeira Pinto,de Ricardo Espírito Santo,de Cavaco Silva e de muitos,muitos outros.

1º - Concordo que não há ninguém que não erre,nem que seja apenas uma vêz.

2º - No caso vertente e em muitos outros similares não estamos perante o carácter pontual do erro.
Estamos perante um erro de toda uma vida,uma postura de "terratenientes" que sempre recomendam austeridade para os outros como forma de assegurar sua "abondanza"...

3º - Os desgraçados obrigados a viver com pensões de 200/300 euros tinham 25/30/35 anos quando se deu o 25 de Abril. É inaceitável,na minha opinião,que se diga que estão assim porque não aproveitaram as oportunidades dadas pela Democracia. Pode haver um caso ou outro em que isso tenha acontecido. Generalizar é hediondo,é autismo político e social!

4º - A gerações mais jovens (na sua maioria)são varridas a ordenados mensais de 400/500 euros,sem direitos,numa precariedade que configura a nova escravatura do séc XXI.E de nada lhes vale ter "um canudo" vendido pelos correlegionários dos "Salgueiros & Cª".

5º - É verdade que muitos jovens de hoje não têm uma visão de lutar pelas coisas,de esforço,trabalho e sacrifício. Exigem tudo e pouco ou nada querem dar ou fazer. Quem os educou e educa - na família e na escola?

6º - Tudo isto desmonta as teses líricas de que

"Vivemos desde o 25 de Abril e graças aos militares numa sociedade aberta, no seio da qual cada um é livre na busca da sua felicidade. Salvo raras excepções (acidentes, doenças, intempéries) se alguém nunca conseguiu, a culpa é sobretudo dele ou dela".

OU...

"Na UE, cada qual pode residir e trabalhar onde quiser."

7º - Até a vulgar "cunha" já está fora de prazo. Agora tudo passa pelo clientelismo partidário,pela Opus Dei,pela Maçonaria,quais Federações do Bloco Central de Tachos e Interesses.

TENHA DÓ!

DESÇA À TERRA!

EXPERIMENTE VIVER UM MÊS SÓ COM 300EUROS DA SUA REFORMA!

E dê o resto à Cáritas.

Sobre o meu anonimato,convido-o a reflectir :

Porque será?

É sintoma de falta ou de afronta à liberdade?

A liberdade de expressão existe ou está sob vigilância das sanguessugas do OE?

Será mais importante o que se diz ou saber quem o disse?

A clandestinidade é sintoma de liberdade ou de falta dela?

Até mais ver.

Anónimo disse...

Para anónimo em 11,54

Ignorando com quem estou a debater, também não sei se me conhece pessoalmente ou não. Sou por isso obrigado a falar de mim, o que não me agrada mesmo nada. Mas o que tem de ser, tem muita força.
Naturalmente que tem todo o direito de ficar na sua, que o mesmo é dizer, de continuar a atacar os autores estando-se nas tintas para as ideias. O único inconveniente é que ficaremos todos a perder, pois por aí não se vai a lado algum.
Acredite que tudo o que escrevi no comentário anterior resulta de um "saber de experiência feito".Ninguém foi mais pobre do que eu, que durante anos tive de roubar para matar a fome. E conheço bem as dificuldades, o frio, a sede, a guerra, o medo, a incerteza, a angústia, a prisão, a emigração, as lutas académicas...
Não me vou alongar. Apenas acrescentar que a sua posição sobre a solidariedade é louvável: consistiria em tirar a quem tem, para distribuir pelos que mais precisam. O bem conhecido preceito "de cada um segundo as suas posses; a cada um conforme as suas necessidades". Infelizmente, entretanto houve certos regimes, com esse ideologia oficial, que implodiram e os que restam, ou estão a mudar ou para lá caminham. E sobretudo, sobretudo, sobretudo, é tudo muito bonito mas não há dinheiro para pagar. Até o PCP já se limita a apresentar "Uma candidatura patriótica e de esquerda". Trocado por miúdos, que quererá isso dizer? Os outros não são patriotas? Não são de esquerda? Mesmo o poeta Alegre e o pessoal do bispo Louçã?
Ou muito me engano ou em certos aspectos parece que isto se está a transformar pouco a pouco numa casa de doidos. Angustiados e encurralados na falta de ideias, ainda por cima!

Fraternalmente,

António Rebelo

Anónimo disse...

Ó Rebelo:
Sabes que foram ontem as eleiçoes para a sopa dos pobres(?).
Sabias que o Fidalgo ficou fora da lista eleita?
Dizem na caserna que é para assegurar o tal tacho de que falava o Templário - 1.500€ por mês, ou para a filha dele, advogada(?), sem trabalho.
Parece que o filho do Lima agora eleito presidente (que está desempregado) se prepara para tomar de assalto um tacho com bom salário.
Não deverias investigar, tu, que tanto gostas de saber?
Aguardo com expectativa.
Cumprimentos.

Anónimo disse...

Nova resposta a António Rebelo :

Você AFIRMA :

"...tem todo o direito de ficar na sua, que o mesmo é dizer, de continuar a atacar os autores estando-se nas tintas para as ideias."

Eu CONTESTO :

Eu não me estou nas tintas para as ideias.
O que acontece é uma coisa bem diferente.
Só gasto o meu tempo e só valorizo as ideias coerentes com a praxis de que as defende.

Seria incapaz de ler um MANUAL DE GESTÃO BANCÁRIA DE EXCELÊNCIA escrito pelo Oliveira e Costa e com um prefácio de Dias Loureiro.

Consigo fazer-me entender?

Anónimo disse...

Isso é capaz de ser demasiada areia para a camioneta do bloguista...