No seu texto antes citado (ver post de ontem), Corvêlo de Sousa enaltace de certa forma a triste vida das empresas Mendes Godinho, hoje desaparecidas: "E ali esteve, finalmente, o coração de uma grande empresa, que marcou o século XX no concelho, a Mendes Godinho". Ao proceder assim, está a aceitar como natural aquilo a que podemos chamar o fatalismo tomarense. Isto porque, conquanto o tenha omitido, todos sabemos que a Mendes Godinho faliu, em circunstâncias ainda por esclarecer. Em todo o caso, vítima de uma metamorfose comum aos empreendimentos tomarenses -passar de máquina de produzir riqueza, a método de destruição de riqueza. Indo ao príncípio.
No Couto de Alcobaça, recebido de D. Afonso Henriques pelos monges de Císter, o lema foi durante séculos, como em todos os outros mosteiros da mesma ordem, "ora et labora". Pela mesma época, o nosso Gualdim Pais, tendo sido presenteado, enquanto mestre dos Templários, com o termo de Ceras e a Igreja de S. Tiago, em Santarém, não foi por aí. Procurou antes de mais escapar-se legalmente aos impostos religiosos, que eram pesados na época, mediante o estatuto de "diocese nula", após o que soube transformar a casa-mãe da ordem numa máquina de fazer dinheiro.
O infante D. Henrique, cujo pai por aqui havia sido criado, na casa de um mestre da então Ordem Cristo, nova designação para os templários portugueses, a partir de D. Dinis (1319), e inglês pelo lado materno, aperfeiçoou o sistema.
Infelizmente, dominado e mal aconselhado pela mulher, Dª Catarina, irmã de Carlos V, e pelos Jerónimos espanhóis, (um dos quais, o tomarense António Moniz da Silva, conhecido na igreja como Frei António de Lisboa, mas formado em conventos castelhanos, foi seu confessor), acabou por consentir que se transformasse a Ordem de Cristo, até aí um potentado, numa máquina de queimar dinheiro. Foi a reforma de 1529, que expulsou cavaleiros e comendadores, substituindo-os por "noviços ignorantes". O resto é conhecido.
Outro tanto veio a acontecer a Manuel Mendes Godinho e Filhos quatro séculos mais tarde. Começou com a moagem, a central eléctrica, os açudes e a casa bancária. Alargou-se depois para os óleos, a cerâmica e a fibra de madeira, tendo passado igualmente pelos transportes, na altura da construção da barragem do Castelo de Bode. Depois, pouco a pouco transformada numa espécie de asilo de tomarenses de boas famílias à procura de emprego, passou a destruir cada vez mais e a produzir cada vez menos riqueza. As sequelas do 25 de Abril foram-lhe fatais. Os tomarenses sabem o que se seguiu.
Caminho de certo modo idêntico decidiu percorrer António Paiva, quiçá sem disso se dar conta, porque deslumbrado com o seu poder absoluto, que tão facilmente conseguira. Pegou numa autarquia amorfa em certos aspectos fulcrais e bastante desacreditada, começou bem, emendando uma parte do que estava mal, mas acabou envenenado pela ganância dos fundos europeus. Projectos feitos à pressa, decisões precipitadas, governação autocrática, transformaram a câmara nabantina naquilo que continua a ser -uma máquina de destruir riqueza, numa época em que o inverso é imprescindível para recolocar o concelho na senda do progresso. Sem "máquina de produzir riqueza", Tomar caminha a passos cada vez mais largos rumo ao abismo da irrelevância económica, política e humana.
Há dúvidas a tal respeito? Então respondam por favor a estas três perguntas, de um longo rol que poderia ser acrescentado: 1 - Como, com que novos recursos, tenciona a actual maioria pagar a sua dívida global de 32 milhões de euros = 6,4 milhões de contos, a crescer à média de 200 mil contos por mês? 2 - Para que vão servir os novos parques de estacionamento previstos no arranjo da envolvente do Convento de Cristo, se num futuro plano local de turismo não houver trânsito de veículos para aquela zona, excepto os dos moradores? 3 - Para deixar e/ou recolher passageiros-visitantes do futuro museu da Levada, onde vão parar os autocarros de turismo, o comboio turístico e os automóveis?
Estragar dinheiro é facílimo, mesmo para qualquer adolescente. Em contrapartida, gerar riqueza, produzir valor acrescentado, é simultaneamente o mais necessário, o mais urgente e do mais difícil que há. Em economia como em quase tudo o resto, quem não sabe é como quem não vê...
6 comentários:
Comentar para quê?
Falta referir que Paiva (tal como outros "estrategas") pensaram que o turismo - de preferência cultural - era a solução.
Até temos o Convento de Cristo! Bastava alindar a cidade, desviar a poluição de carros e de fábricas e logo viriam resmas (como diria Herman José) de turistas endinheirados invadir a cidade, trazendo novos "amanhãs" económicos. De qualidade. Vê-se...
Pedro Miguel
O Paiva até pode ter pensado que o turismo era a solução, mas nunca fez nada por isso.
Onde apostou foi em paasadeiras, rotundas e obras inúteis.
Bom trabalho. Quer na parte relativa à Ordem do Templo e de Cristo, que na nefasta influência dos espanhóis, quer na fase contemporânea.
TURISMO: olhemos para a Madeira. A crise é profunda. A ilha depende muito do turismo, que passa por um mau bocado. A Madeira procura alternativas ao turismo, principalmente ligadas ao mar. Uma lição para os tomarenses, que não aprendem nada.
DESENVOLVIMENTO: após a última Assembleia da Misericórdia, dois irmãos; António Alexandre e António Madureira, assinaram um documento em conjunto onde criticaram o facto de, naquela, ter terminado a minha intervenção com referência às eleições na Misericórdia para 2011. Mas, não informaram que, na mesma Assembleia, informei que, em 2011, ia ser criado um novo Banco Mútualista, projecto liderado por um amigo meu de infância,católico,
figura conhecido da Economia Social, e que eu estava a procurar entrar em contacto com o projecto, com o objectivo de o ligar à Misericórdia de Tomar, venha ou não a ser candidato a Provedor: fui convidado mas nada ainda está decidido. O objectivo é voltar a colocar Tomar nos meios económicos em desenvolvimento. Por que é que só falarm negativamente das eleições e omitiram a questão do Banco ? Por que não informaram que defendi a Misericórdia como um dos motores de desenvolvimento de Tomar e da Região
RESISTÊNCIA: em Tomar há uma grande resistência à mudança e ao desenvolvimento. Há quem pretenda que Tomar fique uma aldeia, perca tudo e não receba nada. Esta situação tem-se desenvolvido ao longo dos anos. Em 26 de Dezembro de 1988, dois membros da família Mendes Godinho almoçaram comigo, acompanhados de uma japonesa representante de um grupo nipónico que estva interessado investir em Tomar. Os Mendes Godinho lamentaram-se da falta de apoio autárquico, e a japonesa disse: ou teriam na Câmara de Tomar quem entendesse a economia ou não investiam em Tomar. Não investiram. O Partido Socialista que explique.
Posteriormente, com o agravar da crise, o Dr. João Mendes Godinho foi à Câmara de Tomar perguntar a quem lá estava, de forma veemente, por que é que não estava dar atenção à crise. Em 5 de Junho de 1992, na conferência sobre a situação nas empresas de Tomar, o Dr. José Maria Mendes Godinho avisou que "isto ia encerrar tudo". Ninguém ligou. A 12 de Junho de 1992, o jornal Cidade de Tomar informou que ia fazer uma suplemento sobre a conferência. O suplememto foi feito, mas não foi publicado, porquê ?
O Engº António Paiva, não tinha experiência, não tinha prefil de líder, e julgou que o desenvolvimento viria por obra e graça do turismo, do comércio e de outras ilusões. Tal política interessava a alguns que pretendiam, e pretendem, ser os donos de Tomar, mas não interessava ao Concelho. Os que pretendem ser os donos de Tomar jogam no Estado, nas pequenas lojas, nas pequenas coisas, daí a deadência de Tomar.
Tomar vai continuar em decadência, tudo o mais são ilusões.
SÉRGIO MARTINS
Por isso lhe chamavam D. Paiva, O Rotundo!
Como é que se espera que a Misericórdia de Tomar venha a ser um factor de desenvolvimento local e regional numa terra de mortos vivos ?
O Dr. Sérgio Martins ao longo dos anos já deu provas da sua capacidade de organização e realização, mas tem uma visão de desenvolvimento que não de adapta aos tomarenses.
Durante o debate sobre o Estado do Concelho, organizado pela Rádio Hertz, onde também esteve o Prof. António Rebelo, disse-lhe que ele estava a perder tempo com os tomarenses. Ele repondeu-me que Tomar era uma coisa e os tomarenses outra.
Recentemente voltei a falar com o Dr. Sérgio Martins que me chamou a atenção para o facto de ter sido em Tomar que alguém avisou que a demissão do Secretário de Estado da Justiça foi celebrada por ele ser da Opus Dei. Falou-me da guerra Maçonaria-Igreja Católca-Opus Dei que passa por Tomar, mas que os tomarenses não a vêem.
È um pena que um homem tão conhecedor e capaz não tenha sido aproveitado para o desenvolvimento de Tomar. Tomar não estaria como está.
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