terça-feira, 28 de dezembro de 2010

ROUBAR TEMPO TAMBÉM PREJUDICA...


Nota prévia
João Salgueiro, economista, ex-presidente da Associação Portuguesa de Bancos, Ministro de Estado, das Finanças e do Plano, no VIII governo constitucional, continua a ser um observador arguto e atento da realidade portuguesa. Na sua mais recente entrevista, conduzida por Cristina Ferreira e difundida no PÚBLICO de ontem, foi ao cerne das questões, tanto em termos técnicos como políticos, numa linguagem acessível e sem papas na língua. Prosseguindo a nossa política de usar fontes estranhas a Tomar a dianteira para fundamentar as nossas decisões e tentar obstar a desculpas de maus pagadores, a seguir publicamos, com os nossos agradecimentos àquele diário e à jornalista, os excertos das referidas declarações que nos parecem mais importantes e úteis para a comunidade tomarense. As passagens que, no nosso modesto entendimento, podem ser aplicadas à realidade nabantina (naturalmente com as necessárias adaptações nalguns casos) vão a negrito. Por questões de espaço, omitimos as perguntas da jornalista.

"É uma época esperançosa, pois finalmente os portugueses perceberam que existe um grande problema. ... ...E perceberam que a falta de racionalidade na organização da economia vai ter custos. E portanto vai haver um maior empenho em encontrar um rumo. A primeira coisa que se precisa quando se quer mudar, é de ter vontade.
Esta questão está clara para uma grande parte da classe política. Mas quando a ideologia e o oportunismo são os condutores, pode haver um obstáculo.
... ... ...O primeiro-ministro continua com fantasias, a querer convencer-se a si próprio de que estamos a ter um bom desempenho. Mas estamos a ter um péssimo desempenho.
Os portugueses perceberam que estão num grande sarilho. E também importa que percebam como é que aqui chegaram. O desmazelo tem várias características. Uma delas é terem pouca ambição. Outra  é a tolerância para com os maus resultados. O governo compara-nos com os piores para dizer que estamos bem. Mas a comparação deve ser feita com os melhores.
Os portugueses deviam indignar-se. Quando nos dizem que a Irlanda, a Grécia e a Espanha também estão mal, achamos que isso é uma resposta. As pessoas ainda hoje pensam que estamos assim devido à crise internacional. Obviamente que não é por essa razão. Não tivemos os problemas na banca que a Irlanda teve, nem tivemos a despesa pública descontrolada dos gregos. Mas sabemos que temos o pior resultado da zona euro em termos de crescimento do produto (PIB). Já viu alguma reacção contra isto?
O primeiro protesto dos portugueses seria não aceitarem como boas a justificações que lhes são dadas. Este governo não foi reeleito depois de quatro anos de confusão? Os portugueses aceitaram durante muitos anos soluções de facilidade. E depois são desmazelados, porque aceitam que as instituições funcionem mal. Em Portugal as pessoas indignam-se se virem alguém ser maltratado, mas não se indignam se virem alguém a roubar. E elegeram vários autarcas que estavam sob investigação. ... ... ...
Temos bloqueios, disso não há dúvida. Gastamos mais do que produzimos, quer o Estado, quer os particulares. A consequência é o endividamento. Enquanto tínhamos direito ao crédito e tínhamos coisas para vender, fomos vendendo. Privatizou-se e o dinheiro foi gasto em despesa corrente.
Se queremos criar empregos e se achamos que temos de melhorar de vida, então temos de ter maior investimento em actividades directamente produtivas. Não há maneira de reduzir o desemprego, de melhorar o PIB,  as condições de vida e também, é claro, de reduzir a dívida, sem produzir mais. Mas quem é que vai produzir mais? O estado já não pode endividar-se mais. Têm que ser as empresas e elas têm que ter condições. ... ... ...
Temos excesso de despesa pública e falta de condições para as empresas privadas, portuguesas ou estrangeiras, trabalharem em Portugal. Já se percebeu que este problema não se resolve num só ano? Que vamos ter um problema grande durante vários anos? Precisamos de ter a mesma atitude que tiveram os franceses, os alemães e os ingleses a seguir à guerra, quando precisaram de reconstruir os países. Hoje estamos perante uma guerra que é a da sobrevivência. Será que os portugueses perceberam isso? Na Alemanha chegaram a destruir casas para recuperar os materiais, à mão. E conseguiram.
E a solução não passa pela redução do nosso nível de vida. Passa por produzirmos melhor.
... ... ...A Irlanda neste momento é um dos países mais desenvolvidos da Europa e há 20 anos estava ao nosso nível. Antes da fase da especulação financeira, criaram um sistema atractivo para o investimento produtivo, e nós não. Em termos sectoriais apenas criámos esse clima favorável no turismo, que é o único sector onde, em regra, os estrangeiros estão interessados em investir em Portugal.
... ... ...Temos de disciplinar a despesa pública. A existência de descontrolos por todo o lado só vai agravar o custo da nossa dívida. Quando começamos a abrir excepções em relação a empresas públicas, parcerias público-privadas (PPP), empresas estaduais, regiões autónomas e autarquias, estamos a enterrar-nos mais.
Há que reduzir a burocracia e não fizemos praticamente nada para acabar com ela. O Simplex permite fazer uma empresa rapidamente. Mas depois toda a burocracia das autorizações e das relações com os ministérios mantém-se. ... ... ... Há que limpar a administração pública de decisões arbitrárias."

Nota final
No que concerne ao nosso cantinho tomarense, está fora de causa pôr em dúvida a honestidade estrito senso da actual e estranha maioria autárquica. Há a certeza, entre os que os elegeram, de que são incapazes de "meter a mão no cofre" (em sentido próprio e figurado), para se apropriarem do que não lhes pertence. Valha-nos isso! Mas há roubo e roubo, honestidade e honestidade. Agarrar-se ao poder quando não se tem qualquer ideia de como melhorar as coisas, não é honesto e constitui objectivamente um roubo de tempo útil, uma vez que, quanto mais tempo se mantiverem, mais difícil será depois recuperar, pois a situação terá piorado e de que maneira. Estão portanto a prejudicar deliberadamente toda a população, incluindo os que os elegeram. Têm por isso legitimidade para continuar até ao limite de validade, em 2013. Mas deixaram de ter razão, e isso vai notar-se cada vez mais!

3 comentários:

Anónimo disse...

E agora,aqui para nós,que ninguém nos ouve...qual é o rendimento mensal bruto e líquido do "patriota" João Salgueiro ?

Quantas reformas acumula ?
De que instituições?
Quanto de cada lado?

Bem prega Frei Tomás...olha para o que ele diz...não olhes para o que ele FAZ...


É que estou farto de ouvir "LADRÕES" a filosofar e a cagar loas sobre o míster dos COLEGAS.

Já não há pachorra!

Cheira mesmo MAL...!

Anónimo disse...

O dr. Salgueiro e outros "papagaios" devem ter muita pena de ser portugueses mas não de o povo se deixar enganar. Por quem? Pelos políticos incompetentes que lhe acenaram com cenouras e devem ter pensado: depois logo se vê! A começar em Cavaco, Salgueiro, passando por Pina Moura, Constâncio e até Guterres (este deve ter pressentido o buraco para onde se ia e sem força para o leme largou o barco). Teve e tem a dignidade de se manter calado. Quanto ao figurão do dr. Salgueiro que até se candidatou a presidente do PSD na Figueira da Foz e disse depois que só manteve a candidatura porque não sabia que havia outra mostra assim firmeza de carácter. A outra era o dr. Cavaco que foi fazer a rodagem do Citroen...
Quando os bancos aliciaram o povo para se endividar, onde estava o dr. Salgueiro? Na Caixa Geral de depósitos e depois subiu a Presidente da associação de bancos!
Porquê? Porque foi um bom gestor, isto é convenceu os portugueses a endividarem-se! Este sr. teve "a lata" de dizer na RTP (programa prós e contras)que os portugueses deviam estar agradecidos aos bancos porque foram eles que os ajudaram a comprar casa! É preciso descaramento para vir dar "lições".
O que quer ele agora? Por a tropa na rua para disciplinar alguém? Transformar Portugal numa Roménia? Mudar de povo depois de ter enganado este?
A desgraça deste País (e de Tomar) tem sido a falta de preparação, incompetência evidente, apostas erradas em modelos errados e falta de visão dos políticos que nos têm governado. Para não falar em corrupção e arranjinhos...
O Dr. Rebelo ao contribuir para que esta gente responsável venha sacudir a água do seu capote presta um mau serviço porque confunde a relidade. Só falta dizer que a responsabilidade da situação actual é dos assalariados!
Até em plena guerra de África se dizia não dever confundir o povo português com a política colonial.
Haja decoro.
Pedro Miguel

Anónimo disse...

Professor, "quando a ideologia e o oportunismo são os condutores, pode haver um obstáculo". Nisto o ex-ministro João Salgueiro tem razão. Enquanto alguns responsáveis continuarem a olhar apenas para eles próprios e para a cor do 'clube' a que pertencem em vez de pensarem no todo que são os portugueses, não saímos da cauda da Europa...
Cordialmente,
Zé Esperança