quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

TENTANDO VER CLARO NO INTENCIONAL NEVOEIRO SÓCIO-POLÍTICO NABANTINO

Exemplo de um projecto tomarense. Partindo de uma ideia insuficientemente trabalhada, técnicos competentes foram encarregados de passar ao papel os planos para um prédio na cidade antiga. Concluídos os toscos, há mais de quatro anos, não houve dinheiro para mais. Exactamente o que aconteceu com as bancadas e os balneários do ex-estádio, por exemplo. Afinal os idolatrados fundos europeus não chegam para tudo...

Todos os sociólogos, politólogos e outros especialistas de ciências humanas, sabem que aquando das grandes crises, como é agora o caso, exacerbam-se os ânimos, no sentido de encontrar bodes expiatórios. Com o evidente agravamento das condições de vida -excepto por enquanto para os eleitos e o funcionalismo público- é cada vez mais nítida na sociedade tomarense (sobretudo na sua vertente pensante e na blogosfera) a tendência para considerar António Paiva o causador de todos os males de que agora padecemos, assim como para garantir a pés juntos que a actual câmara é a pior de todos as que já tivemos.
Poderá ser muito confortável, porque pouco cansativo em termos intelectuais, arrumar assim as coisas, mas parece-nos que não corresponde à verdade. António Paiva foi um produto político de um determinado contexto, cuja principal característica, infelizmente para todos nós, já vinha de longe, de muito longe, e pode ser resumido pela conhecida expressão italiana "dolce fare niente". Não é de certeza nada popular nesta terra encarar as coisas sem lentes deformantes. É, no entanto, em simultâneo, a única maneira de honrar a verdade e de criar bases sólidas para eventuais futuros modelos, que haverão forçosamente de ser diferentes.
A verdade nua e crua, tal como a vemos através do intencional e espesso nevoeiro sócio-político tomarense, alimentado por aqueles que nisso têm interesse, é que convém considerar dois períodos bem distintos na governação local. De antes do 25 de Abril não é o momento nem o local para tecer comentários, uma vez que os autarcas de então eram escolhidos, nomeados e praticamente castrados pelo governo que nos era imposto.
Após o 25 de Abril, manda a verdade dizer que desde então até hoje temos tido como autarcas cidadãos exemplares, bons pais, excelentes profissionais, mentes brilhantes, etc. etc., mas infelizmente zeros em política. Para não molestar ninguém e porque não se trata de questões pessoais, não vamos cometer a indelicadeza de citar nomes, apenas frisar que os resultados aí estão para quem os quiser ver. António Paiva emergiu e pôde reinar praticamente sem oposição, porque os seus antecessores tinham criado todos as condições para a sua ascensão. Alguns deles -os que ainda vivem- reconhecem implicitamente isso mesmo, ao desculpar-se com uma frase aparentemente salvífica -"No meu tempo, não havia ainda os fundos europeus."
Ora o busilis da questão é exactamente esse: Todos os eleitos promoveram os fundos da senhora Merkel, doados através de Bruxelas, a tábua de salvação, quando afinal foram, são e serão os caixões políticos de muitos autarcas. Incluindo os tomarenses.
Quase todos os nossos cérebros -poderosamente alavancados pelo lobby das construtoras- cogitaram que   com tantos meios mesmo ali à mão de semear, a única política indicada e proveitosa (em todos os sentidos do termo) era a do Keynes: obras públicas com força, que a ultrafamosa "propensão para investir" e o ulterior desenvolvimento induzido, surgirão com simples consequências. Intelectualmente novo e politicamente noviço (para mal dos nossos pecados) Paiva foi um dos expoentes de tal tendência. Chegou até a ser considerado por um dos seus parceiros "dos melhores, senão o melhor autarca do País". A quem, contudo, nunca passou pela cabeça que, designadamente a nível local, os preceitos keneysianistas são não só inoperantes como perigosos, conforme agora se percebe claramente.
Que interesse poderão ter para a comunidade tomarense as obras previstas (museus da Levada, arranjos exteriores do Convento, realojamento da comunidade cigana, 3ª fase do Flecheiro, ordenamento dos terrenos da antiga fábrica de fiação, etc. etc.), no montante de muitos milhões de euros, se depois não vamos ter recursos para as manter e gerir a contento? Será assim tão difícil perceber que em época de animais esqueléticos não é boa altura para fazer obras projectadas em e para tempos de vacas gordas? 
Para tentar espevitar a economia local e minorar o desemprego? Nem pensar! Empreiteiros e trabalhadores vêm de fora, comem e desaparecem imediatamente após as refeições. Resta a tal orientação indicada pelo Keynes, de que o nosso primeiro-ministro finge ser um grande admirador, sempre que isso lhe convém. Pois a verdade é menos exaltante. Como bem sabe (mas não diz por não ser protocolarmente conveniente) qualquer economista com alguma tarimba, não foram bem as orientações macro-económicas do famoso pensador inglês que permitiram ultrapassar a longa crise desencadeada em 1929. Ou, melhor dizendo, não foram só, nem sobretudo essas directrizes que permitiram a brilhante época subsequente, que durou de 1945 a 1975, os famosos "trinta gloriosos" de impressionate crescimento económico. Foram fundamentalmente dois factores irrepetíveis -A segunda guerra mundial e, sobretudo, a entrada dos Estados Unidos na guerra. Com as fabulosas despesas públicas em armamentos, fardamentos, equipamentos vários, munições, combustíveis, mantimentos; e depois com a gigantesca reconstrução da Europa e o novos equipamentos, tudo com matérias-primas baratas, incluindo o petróleo, foi uma verdadeira e exaltante festa. Que a partir de 1970 foi acabando pouco a pouco e agora nos mergulha lentamente no caos económico, com governos de direita a nacionalizar bancos e outros de esquerda a tentar reprivatizar as grandes empresas... É o mundo de pernas para o ar. E o pior ainda está para acontecer. Infelizmente para nós todos. 
A nivel mundial e nacional, pelo menos até que os grandes cérebros matemáticos percam a mania de que a economia obedece às suas complexas equações. A nível local, certamente até que os tomarenses obstinados aceitem enfim a realidade nua e crua e comecem a empurrar a carroça concelhia, de forma organizada e sem segundas intenções. Tenho a impressão que não será tão cedo, mas oxalá me engane!

2 comentários:

Anónimo disse...

ANTÓNIO REBELO dixit :


..."De antes do 25 de Abril não é o momento nem o local para tecer comentários, uma vez que os autarcas de então eram escolhidos, nomeados e praticamente castrados pelo governo que nos era imposto."...


Coitadinho do general Oliveira,CASTRADO pelo amo SALAZAR...


Digo eu,Jorge Serra.

Anónimo disse...

E a alternativa, é.......