Bem me parecia que a notícia do EXPRESSO sobre a ida de Sócrates a Berlim (ver post "Será que tudo isto vai acabar bem?") tem forte influência da máquina PS de comunicação. Num despacho da agência noticiosa Reuters, publicado na edição de ontem do EL PAÍS, a música é muito diferente do fado daquele conceituado semanário português. Para obstar a qualquer dúvida, aqui vai a tradução integral:
"ESPANHA DE NOVO EM PERIGO"
"O país poderá cair de novo no pântano, caso os líderes europeus não tomem as medidas adequadas"
BREAKINGVIEWS REUTERS
Neil Unmack
"Desvanecem-se as esperanças de que os líderes da zona euro cheguem a um acordo em Março, sobre as reformas a longo prazo para solucionar a crise da dívida. O mais provável é que se consiga um remédio para a Grécia e a Irlanda e que logrem convencer Portugal a aceitar a ajuda internacional. Os mercados já perderam entretanto parte da euforia inicial deste ano, mas pode haver mais repercussões se a zona euro decepcionar. Neste caso, Espanha será arrastada para o pântano.
No mínimo, aguarda-se que os ministros da economia aumentem a capacidade de empréstimo do Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF) até aos 440 mil milhões de euros previstos inicialmente, em vez dos 225 mil milhões impostos pelas agência de notação. Trata-se de um tema praticamente sem contestação.
O tópico seguinte é o custo do financiamento. As actuais taxas de juro dos empréstimos concedidos pelos mecanismos de ajuda da UE são elevados, geram controvérsia política e tendem a agravar os problemas de solvência dos países beneficiários. Além disso, vai ser necessário tornar menos dolorosos os empréstimos, para convencer Portugal a solicitar ajuda. Finalmente, o novo governo irlandês vai querer renegociar as condições do pacote de Dezembro passado, podendo ocorrer que a zona euro queira demonstrar alguma boa vontade. Todavia, para que tenham um impacto significativo, as taxas de juro deverão ser bastante mais baixas do que as actuais, ou então os empréstimos terão de ser ampliados para prazos muito mais longos. Tudo isto poderá provocar problemas de legalidade na Alemanha.
À medida que os dias vão passando, vai-se acentuando a ideia de que a adopção de medidas mais radicais é cada vez menos provável. Uma das propostas em cima da mesa é que se permita ao FEEF comprar títulos, para ajudar a orquestrar as reestruturações de dívida pública. Contudo, dado que os parceiros de coligação da chancelarina Merkel, e mesmo o seu próprio partido, se arriscam a ser derrotados nas eleições regionais alemãs, estão a propor leis que impeçam tais planos para o futuro da zona euro. Tudo isto deverá endurecer a postura de Berlin na próxima cimeira europeia. Já as ideias mais insólitas, como a de permitir ao FEEF recapitalizar directamente os bancos, parecem mais inverosímeis.
Os investidores que aguardam um solução para os problemas básicos de insolvência dos países periféricos e a capitalização bancária da zona euro, vão provavelmente ter de aguardar até uma outra ronda de conversações. Entretanto os CDS (seguros contra riscos de crédito) espanhóis estão 56 pontos base acima do seu nível mais baixo de Fevereiro, mas continuam 86 pontos base abaixo do ponto mais alto de Janeiro, o que indica que poderão vir a aumentar se o pacote final da cimeira for decepcionante. Espanha poderá nesse caso sofrer, se novas tensões nos mercados provocarem maiores dificuldades aos bancos para refinanciar as suas dívidas e ao governo para financiar as recapitalizações. Madrid não está, por conseguinte, fora do eventual turbilhão do contágio."
EL PAÍS, 27/02/11, Negócios, página 22
Relacionada com esta matéria, o PÚBLICO de hoje publicou nas páginas 16/17, numa entrevista conduzida por Ana Rita Faria, declarações de Fátima Barros, desde 2004 directora da Católica-Lisbon School of Business and Economics (ex-Faculdade de Ciências Económicas e Empresariais da Universidade Católica Portuguesa). Considero particularmente importante este excerto da entrevista, pois até parece que a ilustre senhora ou vive em Tomar ou adivinha o que por aqui também vai acontecendo em relação à autarquia:
"Já entrámos no discurso irrealista há muito tempo. Quando disse demasiado optimista estava a ser politicamente correcta. Há muitos anos que se está a escamotear os problemas e a enganar toda a gente. Agora estamos a pagar as consequências. Quando alguém dizia que estávamos a caminho de uma situação muito complicada, o governo dizia que era um discurso pessimista, mas isso só nos conduziu a uma situação muito pior. Porque em vez de começarmos a tomar as medidas restritivas quando era necessário e, se calhar, evitar este descalabro, fizemos disparates cada vez maiores, avançámos nos projectos de grandes obras públicas, em vez de os termos parado. Eu assinei o manifesto em 2005, onde pedíamos estudos de custo-benefício. E o aumento dos salários em 2009, ano eleitoral, foi uma medida desonesta.
Acho que a recuperação vai ser dolorosa, mas os portugueses sempre foram melhores a reagir em dificuldades do que a aproveitar as situações mais favoráveis"... ...