domingo, 13 de fevereiro de 2011

"O ANIMAL HUMANO"

"Solitária e curiosa, passeio um pouco ao acaso, algures na parte central da Cidade do México, num destes sábados mais recentes, à hora do crepúsculo, quando encontro um espectáculo surpreendente, no Parque da Cidadela: acompanhados por pequenas orquestras, várias centenas de casais de idade madura dançam. O que me chamou a atenção foi o ambiente descontraído. As mulheres não recolocam os cabelos para trás, não rodam o mais rápido possível, de forma a levantar a saia e o lenço, nem desatam a rir sem mais nem menos. Os homens, por sua vez, não se exibem, não apertam demasiado a parceira, nem enchem o peito. Nada disso. Os pés seguem calmamente o ritmo dos tambores e das guitarras, os olhares desviam-se e os sorrisos são longos mas tímidos. Nada a ver com as cenas que terão lugar mais tarde nos clubes nocturnos, no México como em qualquer outra grande cidade do Mundo: som ensurdecedor, danças loucas, maquilhagens excessivas, vestimentas que mostram mais do que escondem, corpos que se roçam, se procuram, se enviam mensagens, ambiente claramente e violentamente sexual.
Observação simples, banal, de um fenómeno conhecido de todos. E de repente, cogito, surpreendida -nenhuma teoria contemporânea consegue dar conta do que ali está a acontecer.
Os filósofos geralmente nunca se referem à sedução, raciocinando como se fôssemos todos machos adultos dotados de razão e só vagamente interpelados pelas pulsões. Os sóciobiólogos gostariam que, entre os humanos como entre os macacos, a sedução não fosse mais que uma parada nupcial, inútil uma vez ultrapassada a idade fértil. Os freudianos decretam que os rapazes procuram a mãe e as raparigas o pai. Os psicólogos aventam a hipótese de novos modelos sexuais no seio das famílias. Algumas feministas denunciam a alienação das raparigas, constrangidas a encarnar os fantasmas dos rapazes.  Outros ainda, tendo inventado um mundo unisexo imaginário, exaltam os "estudos de género" de colóquio em colóquio,  sem nunca se deixarem impressionar pela opressão asfixiante das mulheres em todas as partes do Mundo.
Analisemos um pouco mais.
Um chimpazé repara no traseiro avermelhado de uma fêmea, tem logo uma erecção, salta para cima da fêmea, penetra-a e começa o acto sexual. É provável que a parceira nem estivesse sequer a pensar em tal coisa, mas aguarda com paciência a consumação do acto. Após a ejaculação, afasta-se do macho e vai à sua vida, sem procurar saber se o chimpazé a respeita, nem lhe diz "Olha que não consegui gozar nada, ouviste?!"
Dado não se sentirem humilhadas pelo estatuto de "segundo sexo", as fêmeas chimpazés não lutam pela igualdade de direitos. E até são geralmente menos rebaixadas que as suas primas humanas. É certo que as violam! Mas não as contrariam, não as mandam usar véu, não as prostituem, não as excisam, não lhes batem, não as assassinam, não lhes atiram com ácido à cara, não as mandam internar, nem codificam seja de que maneira for a sua inferioridade. São fisicamente mais fracas que os machos, sabem isso, submetem-se e chega. Não sentem necessidade de acompanhamento terapêutico para as ajudar a reconciliar-se com a vida, nem de apoio militante para as incitar a revoltar-se.
Inversamente, nos primatas superiores um pouco inferiores, o domínio dos machos continua actual. A anatomia dita o respectivo destino, eis tudo. Os machos exibem-se, batem no peito, batem-se entre si para conseguir fêmeas. Estas, por sua vez, mostram as coxas, fornicam, emprenham, parem e amamentam... Nem as demonsatrações viris, nem a sedução, nem a maternidade constituem para eles simples "papéis". O mundo deles não é, como o nosso, um imenso palco.
Ficamos sempre um pouco alterados ao constatar a que ponto os macacos são parecidos connosco, e inversamente. Mas há no Homo sapiens algo qualitativamente diferente, que permite explicar a existência de um conflito entre os sexos: a palavra torna-nos famintos de dignidade. A verdade é que o nosso cérebro  e as nossas pulsões evoluiram pouco desde o paleolítico. Enquanto que o nosso intelecto, esse, aspira sempre a mais grandeza. Fora da linguagem, os outros primatas estão igualmente fora da moral.
Que sejam só as macacas a parir, trazendo ao mundo tanto machos como fêmeas, os machos estão-se nas tintas para isso.  Em contrapartida, os machos humanos, nem comprendem nem aceitam. Desde a alvorada dos tempos que espreitam,  mexem, abrem, fecham, esculpem e  desenham o corpo da fêmea, para compreender não só como acontece essa história da gestação, mas porque é que dela foram excluídos.
O facto de as fêmeas tratarem das respectivas crias, nada significa entre os macacos. Mas como tudo tem significado entre os humanos, o facto de ter sido dominado por uma fêmea durante os primeiros anos de vida, pode ser vivido pelo macho como uma humilhação. Ao sair de uma infância vivida sob a autoridade de uma fêmea, o homem olha o corpo feminino de forma ambivalente, desejando-a,  temendo-a, tendo ciúmes e detestando-a.
Como é lamentável a tendência dos cientistas para se fecharem cada um na sua especialidade! O grande especialista dos primatas, o holandês Frans De Waal parece nunca ter lido a formidável psicóloga suiça Alice Miller, e vice-versa. As suas respectivas explicações continuam resolutamente estanques. Nenhuma teoria parece consequir manter simultaneamente presentes no espírito, tanto a herança genética como a educação.
Assim sendo, vamos dançar?"

Nancy Huston, Le Monde, 13/02/11

3 comentários:

Anónimo disse...

...e ao fim de algumas dezenas de milhares de anos de evoluçao, o Homem ainda estah longe da perfeiçao.
Atente-se nalguns exemplares que compoem a fauna nabantina...

Anónimo disse...

AFINAL NÃO SOMOS POBRES...SOMOS ESTÚPIDOS ...

Estava há dias a falar com um amigo meu nova-iorquino que conhece bem Portugal.

Dizia-lhe eu à boa maneira do "coitadinho" português:
Sabes, nós os portugueses, somos pobres ...
Esta foi a sua resposta:

Como podes tu dizer que sois pobres, quando sois capazes de pagar por um
litro de gasolina, mais do triplo do que pago eu?

Quando vos dais ao luxo de pagar tarifas de electricidade e de
telemóvel 80 % mais caras do que nos custam a nós nos EUA?

Como podes tu dizer que sois pobres quando pagais comissões bancárias por
serviços e por cartas de crédito ao triplo que nós pagamos nos EUA?

Ou quando podem pagar por um carro que a mim me custa 12.000 US Dólares
(8.320 EUROS) e vocês pagam mais de 20.000 EUROS, pelo mesmo carro? Podem
dar mais de 11.640 EUROS de presente ao vosso governo do que nós ao nosso.

Nós é que somos pobres: por exemplo em New York o Governo Estatal, tendo em
conta a precária situação financeira dos seus habitantes cobra somente 2 %
de IVA, mais 4% que é o imposto Federal, isto é 6%, nada comparado com os
23% dos ricos que vivem em Portugal. E contentes com estes 23%, pagais ainda
impostos municipais.

Um Banco privado vai à falência e vocês que não têm nada com isso
pagam, outro, uma espécie de casino, o vosso Banco Privado quebra, e vocês
protegem-no com o dinheiro que enviam para o Estado.*
*E vocês pagam ao vosso Governador do Banco de Portugal, um vencimento anual
que é quase 3 vezes mais que o do Governador do Banco Federal dos EUA...

Um país que é capaz de cobrar o Imposto sobre Ganhos por adiantado e Bens
pessoais mediante retenções, necessariamente tem de nadar na abundância,
porque considera que os negócios da Nação e de todos os seus habitantes
sempre terão ganhos apesar dos assaltos, do saque fiscal, da corrupção dos
seus governantes e dos seus autarcas. Um país capaz de pagar salários
irreais aos seus funcionários de estado e da iniciativa privada.

Os pobres somos nós, os que vivemos nos USA e que não pagamos impostos sobre
o ordenados e ganhamos menos de 3.000 dólares ao mês por pessoa, isto é mais
ou os vossos 2.080 €uros. Vocês podem pagar impostos do lixo, sobre o
consumo da água, do gás e da electricidade. Aí pagam segurança privada nos
Bancos, urbanizações, municipais, enquanto nós como somos pobres nos
conformamos com a segurança pública.

Vocês enviam os filhos para colégios privados, financiados pelo estado (nós)
enquanto nós aqui nos EUA as escolas públicas emprestam os livros aos nossos
filhos prevendo que não os podemos comprar.

Vocês não são pobres, gastam é muito mal o vosso dinheiro.

Vocês, portugueses, não são pobres, são é muito estúpidos..........

Anónimo disse...

E MANSOS!.......