Os manuais de ciência política postulam que, regra geral, a contestação da actuação de qualquer entidade política eleita pode ser dividida em cinco fases. Na primeira, o ou os empoleirados nas cadeiras do poder ignoram ou simulam ignorar a contestação. Esta atitude pode durar mais ou menos tempo, consoante a envolvência sócio-geográfica, relacionada com a tradição política do país ou da zona. Nos países como o nosso, com democracias "oferecidas de bandeja" e relativamente recentes, esta primeira etapa é naturalmente mais longa do que nos países do norte da Europa ou da América.
A segunda fase é aquela em que os alvos da contestação procuram "apalhaçar" a actuação dos adversários, na tentativa de lhes retirar qualquer credibilidade. Dela faz parte quase sempre uma campanha de calúnias, boatos, meias verdades e subentendidos, com a intenção de reforçar a pretensa falta de peso sociológico.
Na terceira fase, o adversário já é implicitamente reconhecido como perigoso. Trata-se, por conseguinte, de procurar convencê-lo (ou convencê-los) de que a sua acção contestatária é inútil, uma vez que os instalados estão de pedra e cal até ao final dos mandatos para que foram eleitos.
Segue-se a quarta fase, quando as anteriores falharam, como sucedeu recentemente na Tunísia e no Egipto, a qual engloba duas reacções possíveis. Nos países ainda ditatoriais procura-se intimidar ou mesmo agredir fisicamente os contestatários. Nos países de regime democrático, pelo contrário, faz-se saber que não há medo, atitude que pode revelar uma de duas coisas, ou mesmo ambas em simultâneo: a) - não há medo porque há inconsciência; b) - há hipocrisia, pois na realidade os "sem medo" estão deveras "acagaçados".
O processo sociológico conclui-se com a quinta etapa, na qual os protagonistas empoleirados desaparecem no alçapão da História. Ou porque abandonaram prematuramente, acossados pelos contestatários, ou porque se mantiveram alapados até final dos mandatos, chegando contudo à nova consulta eleitoral tão queimados que a simples decência impede que a anterior sigla partidária de acolhimento repita a dose. Uma vez por não saber, outra para aprender.
Pelo que me é dado observar, tendo em conta que, como qualquer outro processo dinâmico, este também não é linear, em Tomar estamos agora algures entre a terceira e a quarta fase, havendo ainda hipóteses de o actual executivo autárquico não atingir o final do mandato com a mesma composição, caso lá consiga chegar. Só ultrapassada a fase da discussão e votação do Plano e Orçamento para 2012, poderá haver alguma certeza em relação à perenidade da maioria relativa. Mas até lá, a meteorologia local anuncia periodos tormentosos de forte agitação, com muita trovoada e possibilidade de despistes aparatosos, sobretudo na área financeira. Quem não tiver "pé marítimo", pode muito bem vir a ser levado pela borrasca. Aguardemos.
Sem comentários:
Enviar um comentário