Qual gigantesca matrioska, aquela boneca russa de madeira que quanto maior é, mais irmãs esconde no seu interior, aquilo a que bem podemos chamar o escândalo ParqT, constitui um extraordinário caso de cinema-verdade sobre a desgraça tomarense. Através dele, damo-nos conta, sem margem para dúvidas, que enquanto eleitores temos sido iludidos de forma sistemática. Que o mesmo é dizer, deliberadamente enganados. Por organizações partidárias e cidadãos que, verificamos depois, não estão minimamente à altura das responsabilidades para que se candidataram e foram eleitos.
Relembremos as principais imagens, desde o início deste triste caso. Professor do Politécnico e desconhecido dos tomarenses, porque nado, criado e formado alhures, Paiva surge como sucessor de Pedro Marques e verdadeiro triunfador. Envereda por um conjunto faraónico de obras, entre as quais dois parques de estacionamento cobertos, graças ao recurso a fundos europeus, sempre em marcha triunfal, sem qualquer remoque da fraca oposição então existente. Aparecem a dada altura os independentes de Pedro Marques, com cidadãos quase todos anteriormente ligados ao PCP e/ou à CDU, entre os quais alguns experientes e brilhantes políticos locais. Dá-se assim início a uma ténue contestação, todavia com pouco ou nenhum eco junto da opinião pública.
Surgem as primeiras desavenças de Paiva com a ParqT, nomeadamente a propósito da consolidação do talude da estrada do Convento. A autarquia resolve ir pela via judicial e perde. A oposição existente, se disse ou fez alguma coisa de substantivo, mostrou-se incapaz de o comunicar à opinião pública. A principal figura política dos IpT, o ex-quadro do PCP Fernando Oliveira, decide abandonar o grupo, por razões de ordem particular, que se mantêm até hoje. Continuam as obras faraónicas de utilidade e pertinência cada vez mais duvidosas. Alguns eleitores começam a manifestar dúvidas, em privado e em surdina. Pedro Marques e o PS lastimam-se de nada poderem fazer por estarem em minoria. Reinando praticamente como soberano absoluto, Paiva rompe deliberadamente o acordo leonino, que antes negociara com a ParqT, para a construção do parque nas traseiras dos Paços do Concelho, ao mandar fazer um parque de estacionamento subterrâneo junto ao ex-estádio.
Depois, já com o litígio entregue aos tribunais pela ParqT, embalado pela sua aura de grande autarca- construtor, Paiva é escolhido por larga maioria para fazer parte do organismo regional do centro, encarregado de partilhar os fundos europeus. Corvêlo assume uma presidência com que nunca contou e para a qual carece de capacidade de liderança.
Nas eleições de 2009, a demonstrar a aludida falta de liderança, o PSD perde a maioria absoluta de que beneficiara até então, ficando o PS e os IpT com dois vereadores cada, o que lhes dá a maioria, num executivo de sete. Inesperadamente, ao arrepio da lógica de defesa do interesses do eleitorado, tendo em conta os antecedentes, o PS coliga-se com o PSD, sem que seja estabelecido qualquer documento programático substantivo, robusto e vinculativo. Prosseguem as onerosas obras sem nexo e sem critério. Continua a arrastar-se de Herodes para Pilatos o diferendo com a ParqT, que exige 9 milhões de euros de indemnização por ruptura do contrato.
Após ter liminarmente rejeitado outras vias negociais, com uma gravosa solução arbitral em mãos, Corvêlo de Sousa convoca os membros do executivo para uma reunião à porta fechada, da qual nada transpirou até hoje, e de que a oposição nunca se queixou, pelo menos em público.
Finalmente chamada a pronunciar-se sobre a proposta de acordo arbitral, a oposição falha estrondosamente. Em vez de se concertar de antemão, os seus líderes respectivos resolvem persistir na usual e nefasta rivalidade pessoal, alimentada por doentios ódios antigos. Apesar de coligado, pressionado pelos seus militantes, cansados da manifesta inépcia do PSD, o PS faz saber na véspera que vai votar contra. Inesperadamente, a vereadora dos IpT falta e não é substituída, sem qualquer explicação dos independentes. Incapazes de se unirem, os vereadores da oposição tão pouco tiveram agilidade mental para -vendo-se em minoria- anunciarem que abandonavam a sala, ou pelo menos que oficialmente não estavam presentes, o que teria deixado o executivo na impossibilidade legal de prosseguir os seus trabalhos, por falta de quórum. A subsequente votação dá um empate a três votos, que Corvêlo de Sousa desempata, com manifesto alívio, usando o seu voto de qualidade.
Foi tão flagrante a falta de habilidade e de credibilidade da oposição neste triste episódio, que pela primeira vez a indignação se espalhou entre os eleitores urbanos, muito para além dos usuais comentadores. De tal forma que, enquanto o PS endossa toda a responsabilidade para os IpT, como era de esperar, Pedro Marques só passados oito longos dias decidiu justificar-se junto dos cidadãos através da Rádio Hertz, com uma argumentação cuja pertinência e credibilidade não são, no meu entender, de primeira água. Nomeadamente porque insiste em misturar alhos com bugalhos, ao referir ausências anteriores sem consequências de relevo, ao contrário do que agora sucedeu. Igualmente porque, tal como a do PS, não explica o que terá impedido o acordo prévio entre as duas formações e o subsequente abandono da sessão camarária.
Agora a autarquia está confrontada com encargos globais da ordem dos 45 milhões de euros = 8 milhões de contos, assim discriminados: dívida global a 31 de Dezembro = 32 milhões; indemnização à ParqT + despesas forenses = 8 milhões; Participação camarária de 20% nas empreitadas da Levada, Rua de Coimbra e Envolvente ao Convento = pelo menos 5 milhões.
Como é que vão descalçar tamanha bota? O limite legal de endividamento camarário é neste momento inferior a 2,5 milhões de euros. A informação de Corvêlo de Sousa, segundo o qual o secretário de Estado deu a entender que "excepcionaria" os empréstimos necessários, não passa de um desejo seu. O que o governante disse foi, textualmente, "É um assunto que tem de ser resolvido". Claro que tem! Mas não disse quando nem por quem!
Querem melhor exemplo da prolongada inépcia dos nossos eleitos? Claro que são boas pessoas. Diligentes, educadas, trabalhadoras, cumpridoras e previsíveis, Mas falta-lhes inconformismo, idealismo, golpe de asa. São um pouco como as galinhas -têm asas mas não as sabem ou não as querem usar.
E quanto a honestidade, parece-me evidente que não andam a governar-se "por baixo da mesa". Mas será honesto garantir aos eleitores que são capacitados para o desempenho dos cargos de forma profícua, que têm planos e capacidades para os implementar, quando a experiência demonstra que não passam de redondas mentiras? Quando nem sequer são capazes de exercer os seus poderes enquanto oposição, uns para não perderem as "gamelas", outros por questiúnculas de indole pessoal?
Falta agora ultrapassar a discussão e aprovação do protocolo de acordo CMT/ParqT na Assembleia Municipal, bem como a autorização para contrair o indispensável empréstimo bancário da ordem dos 10 milhões de euros. A que tristes manobras politiqueiras vamos ser forçados a assistir?
Claro que vão repetir não passar tudo isto de inveja e de má língua. É o costume. E se por uma vez tivessem a humildade de ler e ouvir o que dizem os eleitores? Temem o resultado, não é?
11 comentários:
Para uma análise mais profunda das razões que estão por detrás de algumas das rasteiras que têm sido feitas a Corvêlo de Sousa, deve também ser considerado o muito relevante facto de Luís Boavida (actual chefe de divisão financeira e futuro chefe de departamento) se ter tornado recentemente militante do PSD...
Olhó passarão... a passar por cima dos passaritos laranjas.
TOMAR ESTÁ IRRESPIRÁVEL !
É cada vez maior a concentração de 3 gases letais:
O Relvogénio
O Ferreirogénio
O Pedrogénio
Qualquer deles é extremamente tóxico.
Juntos,misturados,a bem,a mal,ou sem querer,transformam-se num composto radioactivo que está a conduzir Tomar e os Tomarenses para o extermínio.
E há certos dias em que ainda aparecem resíduos de Paivogéneo...
Uuii...são de morte.
QUEM NOS ACODE?????????????
"
Por organizações partidárias e cidadãos que verificamos depois não estarem minimamente à altura das responsabilidades para que se candidataram e foram eleitos.
"
O povo teima em andar adormecido por entre falinhas mansas e promessas ocas.
Tomar sempre foi uma terra do faz de conta. Onde quem tem um olho é rei e quem vê bem não passa de invejoso ou profeta da desgraça.
Isto agora vai ser sempre a descer...
Por falar em galinhas... noto que falta um galo na capoeira!
Aconselho uma leitura da posição do PS, que foi quem denunciou a situação e a atacou de forma determinada, tendo inclusive distribuído flyers por toda a cidade em Agosto/Setembro de 2004.
cuidado ele anda por aí
Quem estivesse menos atento, poderia pensar que foi em 2005 que vieram os "salvadores independentes" chamar a atenção para um problema gravíssimo que um ano antes o PS tinha denunciado da forma em que o fez.
Mais: já agora a culpa do disparate do negocio com a ParqT é do PS e das outras oposições. Tinha piada!
Este ferreira das farturas é um patusco e não perde pitada.
Se não tivesse nascido tinha de ser inventado.
Alpiarça aguarda a sua sapiência, o seu elevado grau de ética republicana de serviço público e ainda as suas atitudes de homem de esquerda progressista e, sobretudo, impoluto.
Os tipos da CDU precisam de um homem assim como de pão para a boca!!!!!!!
Ai Austrália que estás tão longe!
Alpiarça lembra-me logo o golpe do casaco...
O Boavida está a seguir o caminho do outro do Polis que foi na lista da assembleia municipal e agora também é director não sei do quê, o Monteiro.
tudo gente muito competente e atinadinha.
Diz-se mesmo já em muitos meandros do PSD local, que o próximo candidato se não for o padre Mário, vai ser um destes dois. Isto depois de correrem com o Delgado que os putos que não diz nada que se entenda e faz ainda menos.
Essa agora, então o Luís Boavida não tem o direito de ser um homem livre e fazer as suas escolhas?
Querem ver que há por aí quem queira ser dono do poder de decisão dos outros. Há por aí uns tipos que querem condicionar a liberdade dos outros, sempre que alguém ousa defender a sua própria liberdade de decidir.
Andam por aí uns tipos que representam muito bem o que de "melhor" tinha a Inquisição. A nossa sorte é não vivermos nesse período da história. Uffa...
"Quem não é por mim é contra mim".
Essa do João Simões dizer que o senhor Marques "fechou o livro do Soares" é não só inquisitorial como estalinista. Uffa...Deus nos livre de tal gente.
Saudosos cumprimentos ao Luís Boavida por se assumir como homem livre.
O Luis Boavida é, como o Curvelo, outra personagem muito simpática, honesta e competente mas sem ideias para virar o concelho.
A concorrer à Câmara será sempre "mais do mesmo".
E nós permaneceremos "à rasca!"...
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