segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

A SÍNDROME TOMARENSE



Adicionar legenda

Adicionar legenda


Um dia destes resolvi ir aos antigos Pavilhões da Fai, agora oficinas e garagens da autarquia, ali por trás do Pinhal de Santa Bárbara. Ia com a intenção de ver a nova roda do Mouchão, que segundo notícia do semanário O Mirante ali está a ser construída, o que sempre acabei por conseguir. Com alguma dificuldade, por causa da habitual mania do segredo e do controlo, que sempre vigorou na autarquia, umas vezes mais, outras vezes menos. Os eleitos não há meio de se convencerem de que tudo o que é público, tudo o que é pago com os dinheiro dos contribuintes, deve ser transparente, aberto, acessível e sem segredos. Quando assim não acontece, como é neste momento o caso em Tomar, nomeadamente com a questão dos telemóveis distribuidos a funcionários e  autarcas -é porque deve haver algo de grave a esconder...
Seja como for, lá consegui, graças à feliz decisão de uma funcionária competente. Antes, porém, de aceder ao pavilhão da carpintaria o diligente funcionário Leonel, encarregado dos transportes, proporcionou-me uma agradável visita guiada a todo o trabalho que por ali tem desenvolvido, tanto no embelezamento do espaço circundante como na recolha, aproveitamento e exposição de milhares de objectos, que vão de um velho cilindro a centenas de ferramentas que já não se usam, bem como a uma miniaturização de uma parte do percurso do Rio Nabão. O amável guia contou-me o seu sonho de proporcionar aos alunos das escolas visitas explicadas de tudo aquilo. Fiquei sem saber o que lhe dizer, uma vez que nem consigo de momento entender o que poderá a autarquia vir a fazer com todo aquele vasto e importante acervo, afinal  ali reunido e exposto à revelia dos senhores autarcas, logo sem qualquer perspectiva de futuro, porque sem objectivos definidos.
É nesta crónica falta de planos e de objectivos que radica o que podemos caracterizar como a síndrome tomarense. Que já vem de longe; de muito antes do 25 de Abril; embora agora com sintomas bem mais graves. Nos anos 60/70 do século passado, quando o então vereador Manuel Bento Baptista imaginou e implementou as feiras temáticas em Tomar, das quais veio depois a ser comissário, com destaque para a FAI - Feira da Avicultura Industrial, que viria a dar o nome aos pavilhões, os eventos começaram por ter lugar na Várzea Grande. Mais tarde foram os pavilhões transferidos para o local onde agora estão, uma vez que o respectivo terreno se revelara impróprio para o uso que lhe fora inicialmente atribuído -o de cemitério.
Apesar de muito concorridas, tais manifestações nunca foram devidamente estruturadas, de forma a criarem riqueza, único meio de se projectarem para o futuro. De tal maneira que entretanto apareceram e singraram os vários certames, sobretudo em Lisboa, em Beja, em Santarém e no Norte, enquanto Tomar passou ao esquecimento, vivendo agora numa reles e apagada existência. O mais curioso é que Bento Baptista, o obreiro das feiras e, em conjunto com Mota Lima, do parque de turismo, mais tarde de campismo, quando se apresentou como cabeça de lista do PSD para suceder a Jerónimo Graça, foi vencido por Pedro Marques, um ilustre desconhecido, neófito político e ex-futebolista do União de Tomar, então advogado recente e funcionário de Fábricas Mendes Godinho. Apesar de os tomarenses terem o hábito de perguntar sempre "O que é que esse gajo já fez por Tomar?", quando se indica algum nome como candidato a presidente da Câmara, acabaram por escolher alguém sem anterior obra feita, em detrimento de quem tinha. E depois queixam-se! 
Vinte anos mais tarde, praticamente nada mudou. Os eleitores continuam sem perceber que o importante não é o que já fez, mas sim o que é capaz de vir a fazer, de acordo com os planos que apresenta. Que o fundamental não é ser simpático, conhecido ou de "boas famílias", mas sim ter ideias, ter projectos. Ter um sonho para Tomar, como disse recentemente Miguel Relvas. O resto são balelas, tretas, bocas, palpites, usados como armas de arremesso visando evitar, ou pelo menos ir adiando, o que terá de acontecer mais cedo ou mais tarde: Surgir um presidente de câmara capaz de implementar projectos que nos façam saír do atoleiro, demonstrando assim que os seus antecessores eram e são boas pessoas. Porém, nascidos ou radicados em Tomar, na antiga Nabância, não admira que em termos políticos tenham sido e continuem a ser uns nabos, enquanto insistirem em actuar sem adequado planeamento prévio, sério e adequado aos tempos que vão correndo.

PS
Não me venham outra vez com a argumentação esfarrapada de que não gosto dos tomarenses, ou de que não tenho consideração pelos meus conterrâneos. Sou tomarense e tenho uma paixão por esta terra, como já referi dezenas de vezes. Pela mentalidade da maioria dos seus habitantes nem tanto. Afinal se em termos políticos nem mudam de ideias, nem têm consideração por mim, a que título pretendem que eu a tenha por eles? Nunca ouviram dizer que amor com amor se paga?

10 comentários:

Anónimo disse...

Você veja lá é se para com essa do snho do "outro" para Tomar. Nem conhecemos o sonho, nem o imaginamos, nem nunca ouvimos falar dele. Nós, os Tomarenses como você. Ou estou enganado?
Você deve é estar a ver de o "outro" sonha consigo para candidato....

Anónimo disse...

Ai o António!...

Então está admirado com o facto de o TÓPATUDO ter perdido as eleições para Pedro Marques?

Não consegue perceber porquê?

Dou-lhe três razões principais :

1ª - Bento Baptista,pela sua altivez e peneiras,pelo seu nulo prestígio como médico "de atestados",pela sua postura sacana(para os humildes)enquanto delegado de saúde com intervenção institucional e política na atribuição de pensões de reforma,nunca foi uma pessoa querida do Povo. Antes pelo contrário.
E por isso perdeu com uma votação humilhante,a castigá-lo individualmente.
Basta referir que na freguesia de Santa Maria dos Olivais,Alfredo José,candidato PSD à Junta de Freguesia,teve mais 1.000 votos do que ele para a Câmara.
E a cena repetiu-se em muitas outras freguesias.
Decididamente,Bento Baptista foi rejeitado pelo Povo.

2ª - O Povo estava cansado da inépcia da AD e do PSD de Amândio Murta,Espírito Santo,Fernando Jesus,Jerónimo Graça(pese embora a sua honestidade,Becerra Vitorino,Mário Gonçalves(Catorze),Baeta Neves e outros.

3º - Virou-se,em alternativa,para o PS onde pontificavam a juventude do presidente do União de Tomar,Pedro Marques e figuras como Lino Cotralha,António Alexandre e outros,todos mais próximos do cidadão comum,e com potencial diferente das anteriores "brigadas do reumático".
Só um sistema político onde se impunha o caciquismo e o voto pela arreata podia impôr,durante dois mandatos,um Presidente tão incapaz,tão desconhecedor,tão impreparado,tão vazio como Amândio Murta. Sem prejuízo de ser pessoa respeitável como cidadão e como médico.
Agora como Presidente da Câmara : NUNCA!

E,pelos vistos,a histórica poderá replicar-se mas com outra personagem...

A ver vamos,como dizia o cego...

R.Grácio

Anónimo disse...

Oh Senhor Professor!
Foi dito que os 'chefes' não sabiam que as bocas de incêndio estavam inoperacionais. Será que têm conhecimento do exemplar trabalho que o diligente funcionário sr. Leonel está a desenvolver?

Anónimo disse...

Para R. Grácio

Nunca disse ou escrevi que estava admirado com o resultado eleitoral conseguido por Bento Baptista. Apenas referi que os resultados conseguidos por aqueles que o eleitorado resolveu escolher não terão sido os mais brilhantes. De tal forma que ainda hoje andamos "a pagar as favas" de um PDM mal alinhavado e da classificação patrimonial da cidade antiga, por exemplo. Limitei-me portanto a falar em consequências, que as causas julgo eu já conhecer há bastante tempo, baptizado que fui na igreja de S. João nos idos de 40 do século passado. Quando ainda se usava barrete, daqueles de borla. Os de agora enfiam-se sem darmos por isso e ficam-nos cada vez mais caros. Ó se ficam!

Anónimo disse...

O verdadeiro Presidente da Câmara Murta era o sr. Duarte Nuno de Vasconcelos!!!!!!!!

O Dr. Murta era tão só o cabeça de cartaz!!!!!

Logo......!!!!!!

Anónimo disse...

ANTÓNIO REBELO dixit:

"O mais curioso é que Bento Baptista, o obreiro das feiras e, em conjunto com Mota Lima, do parque de turismo, mais tarde de campismo, quando se apresentou como cabeça de lista do PSD para suceder a Jerónimo Graça, foi vencido por Pedro Marques, um ilustre desconhecido, neófito político e ex-futebolista do União de Tomar, então advogado recente e funcionário de Fábricas Mendes Godinho."

"Apesar de os tomarenses terem o hábito de perguntar sempre "O que é que esse gajo já fez por Tomar?", quando se indica algum nome como candidato a presidente da Câmara, acabaram por escolher alguém sem anterior obra feita, em detrimento de quem tinha. E depois queixam-se!"

POR ISSO,e só por isso,comentei o seu post nos termos em que o fiz.

R.Grácio

Anónimo disse...

Esta agora. Lembrar o bobo (bibi) de Tomar, como grande estratega só lembraria ao Rebelo.

Além de um derrotado e ressabiado o contributo dele, foi ser gente grande com as calças dos outros.

Vereador de uma Câmara do antigo regime? Essa não!
Isto parou em 1971? Foi?

Anónimo disse...

Essas descrições da Câmara de Amândio Murta parecem colar tal e quall com a atual...
E não é que esta é pior!!

Anónimo disse...

Para comentário das 22:24

Se quiser fazer o favor de voltar a ler o post, concluirá que nele nunca se considera Bento Baptista como um estratega. E se pensar mais um bocadinho até chegará à conclusão que me limitei a comparar factos com outros factos e consequências com outras consequências. Para que se concluisse o seguinte: Cada cidadão tem inteira liberdade para escolher e votar em quem entende. E ainda bem! Não deve é vir depois queixar-se que tem um "galo" na cabeça, em consequência de ter dado uma valente carolada na parede...
Mas enfim, como se sabe, a língua portuguesa está cada vez mais complicada!

Anónimo disse...

Desculpem a minha ignorância, mas na Câmara Municipal de Tomar, que cargo ocupou o Dr. Duarte Nuno de Vasconcelos? E em que ano? Obrigado