quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

QUEBRA-CABEÇAS DE ANO NOVO




Sabe-se que os tomarenses, salvo raras excepções, são cidadãos "bons de boca"; "comem de tudo" e sem dificuldade. Vivem cá, andam por aí, mas não reparam na maior parte das coisas. Então em termos políticos nem se fala. Passa-lhes quase tudo ao lado. Ou despercebido, que dá o mesmo resultado prático. Como contrariamente ao que tem acontecido em anos anteriores, agora quanto menos se repara mais se é prejudicado, vai ser praticamente obrigatório mudar de comportamento. Em 2010 e além, os cidadãos ou abrem os olhos, ou abrem olho e põem-se e jeito. A escolha cabe a cada um.
Tentando ajudar, aqui ficam, com os nossos votos de BOM ANO NOVO, três aspectos da cidade antiga, à vista de toda a gente. Veja se consegue identificá-los e diga-nos.
O primeiro é um telhado ecológico, muito verdejante, mas se calhar menos conveniente em caso de chuva forte. O seguinte é uma chaminé modelo clássico tomarense, devidamente caiada, mas florida; sinal de que nem o inverno obrigou ainda à sua utilização. A terceira é uma fonte muito curiosa, do tipo "máquina multibanco" (depois lhe diremos porquê), que já conheceu melhores dias, visto que agora já não deita água.


O ESTADO DO BURACO MUNICIPAL

A chuva tem sido abundante e com ela os nabos, incluindo os buracos da Nabância, lá vão merdando, desculpem !, queríamos escrever medrando, mas já está, já está ! Pois então lá vão medrando, felizmente para poucos, infelizmente para muitos.
Certo, mesmo certo é que aqui na Aurora Macedo não passa nenhuma linha de água, a não ser a dos SMAS, mas essa é canalizada. O mesmo acontece com o colector de esgotos que, todavia, no caso documentado na fotografia deve ter a laje de cobertura partida e daí... Mas claro, sempre dá trabalho ir ver como é. Sobretudo quando se sabe que, mais mês menos mês, vão instalar as novas infraestruturas de saneamento.
De qualquer, desejamos-lhe um bom 2010. A si e ao buraco municipal.
Como diz habitualmente um amigo nosso, que é dono de uma agência funerária -"Está isto mau. Não morre ninguém !"

INSÓLITOS TOMARENSES - 18

Já aqui se falou daquela casinhota do Mouchão, cuja utilidade ninguém conhece. É por assim dizer uma coisa sem passado nem futuro. Uma simples borbulha provocada pela febre dos fundos europeus.
Hoje apresentamos mais três exemplares, mas estas são de outra estirpe. São muito tomarenses. Tal como a cidade, têm um passado, por vezes brilhante. Não têm é futuro nenhum.
Esta primeira, situada na Mata dos Sete Montes, foi durante muitos anos apoio para o único parque infantil então existente em Tomar. Ao lado havia até um armário metálico com umas boas dezenas de livros para empréstimo, a cargo de uma funcionária municipal, que também vendia refrigerantes. Foi durante o período áureo de Tomar. Vinham as senhoras dos senhores oficiais e outras damas da boa sociedade nabantina passear a descendência, fazer malha e conversar, sempre acompanhadas pelas respectivas criadas de servir, ou sopeiras, devidamente ataviadas com aventais de peitilho...
Foram-se os militares, foram-se esses tempos, foram-se os livros, foi-se a funcionária, foi-se o parque infantil. Já não há sopeiras nem boa sociedade. Apenas alguns tomarenses que ainda julgam que sim. Ficou a chafariz e acrescentaram um contentor, por despejar desde a última festa dos tabuleiros...
Entretanto os adolescentes de ambos os sexos, apesar da liberdade de costumes, continuam a macular espaços com juras de amor que não têm coragem de dizer directamente aos interessados. Os portugueses sempre foram muito desinibidos, e quem sai aos seus...
Outra casinhota municipal, sem futuro mas com passado. Fica na estrada do Convento, do lado direito de quem sobe. Foi em tempos uma mini-estação elevatória. Puxava a então "água da Mendacha" da reduzida rede local até ao Convento, onde era consumida pelo Hospital Militar, pelo Seminário das Missões, pelo Posto Rádio Militar e pela GNR. Tinha até um vigilante permanente, avô de uma funcionária superior da autarquia. Já não há no Convento qualquer daquelas estranhas ocupações (e ainda bem) e o abastecimento de água utiliza agora outras canalizações.


Esta é a benjamim das casinhotas locais. Pertence ao IGESPAR e fica na via de acesso à Ermida da Conceição. A dada altura, um daqueles quadros superiores do organismo lisboeta que tutela o Convento e mais meia dúzia de monumentos, cuidou ser capaz de mudar o mundo. Assim como aquele outro que descobriu o método para fabricar pregos com a cabeça do outro lado...
Pois a pessoa em causa, certamente com vasta experiência em gestão turística, convenceu-se que colocando ali um funcionário do Convento a vender bilhetes a um euro para visitar a capela, iria ser um sucesso. Está claro que não foi. Pois se a maior parte dos visitantes nem à borla lá querem ir...
Ficou a casinhota, a aguardar transporte e melhores dias.



quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

ANÁLISE DA IMPRENSA DA ZONA DESTA SEMANA

COLABORAÇÃO CLIPNETO
Quem cumpriu o serviço militar obrigatório sabe que a antiguidade é um posto, entre iguais. Daí começarmos com o decano da imprensa tomarense. Numa das suas relativamente raras intervenções escritas no periódico que dirige, António Madureira escreve esta semana na sua "Nota do director" que "Importa...reafirmar que tais intervenções são feitas com profundo sentido ético, sempre na defesa da nossa cidade... ...e nunca, por nunca ser, visando individualmente quem quer que seja." Ser-se de algum modo constrangido a escrever isto no mais importante jornal local, do qual se é director há mais de dez anos, mostra bem onde nos situamos no panorama nacional, em termos de liberdade de expressão.
No mesmo semanário, a manchete da semana constitui outro triste sinal dos tempos: "Custos acrescidos nas obras de construção das Escolas Nuno Álvares Pereira - Actualizações custam mais dois milhões e 380 mil euros". Acrescenta a notícia que tais acréscimos resultam de erros dos projectos. Será que os respectivos autores de tais erros vão ser chamados a assumir responsabilidades ?
"Apesar da falta de verbas para simples manutenções - Mata dos sete montes deixa estragar lenha em vez de a vender" é outro destaque de primeira página do semanário da Praça da República, que inclui igualmente uma ampla reportagem fotográfica dos principais acontecimentos de 2009.
Na penúltima página, com o evidente selo MC, uma irónica conversa com a estátua do Infante D. Henrique, bem como uma brincadeira com os actuais apertos financeiros da Câmara de Santarém, aqui destacados na passada semana, a partir da manchete d'O RIBATEJO. " Grande crise já vem em Santarém" é o título do curto comentário brincalhão, que convém ler tendo em conta o velho dito popular "A brincar a brincar..."



A principal notícia d'O TEMPLÁRIO desta semana(quanto a nós, claro), tem tudo a ver com a da "Grande crise já vem em Santarém". Infelizmente para muitos cidadãos, essa notícia está apenas na edição electrónica, o que nos leva a resumi-la aqui. Segundo o semanário dirigido por José Gaio, um tribunal arbitral, escolhido por ambas as partes, já está em actividade e dispõe de seis meses para decidir se a Câmara de Tomar terá ou não de pagar à Parq T, da Bragaparques, a título de reparação por prejuízos sofridos, um total de 8 milhões de euros, acrescidos dos custos processuais. Leu bem, caro/a leitor/a: um milhão e 600 mil contos, por causa de mais uma argolada da anterior maioria, por acaso da mesma cor da actual. Tenciona a autarquia pedir contas a alguém, por evidente gestão no mínimo negligente, no máximo danosa ?
Os contribuintes nabantinos ficariam muito agradecidos se alguém fosse obrigado a assumir responsabilidades.
"Adega cooperativa bate no fundo", é a manchete d'O Templário, que dispensa outros comentários. Apenas uma achega pessoal -mais uma empresa tomarense atingida pela síndrome nabantina, que se caracteriza por custos demasiado elevados para os benefícios disponíveis. Tal como acontece com a autarquia e com o governo.
Igualmente no semanário de além da ponte é notícia o realojamento do Rogério, que antes dormia com o chapéu aberto quando chovia. A autarquia atribuiu-lhe um pequeno mas funcional alojamento da Rua da Saboaria. Aqui fica o registo, para não estarmos sempre a dizer mal.

Para a região de Tomar, O MIRANTE publica duas notícias de grande interesse. Eis os seus títulos, ambos a uma coluna, mas na primeira página: "Relvas "empurra" Vasco Cunha para mais um mandato à frente da distrital do PSD" e "Janela do Capítulo vai ser limpa apesar dos protestos -Iria Caetano, directora do Convento de Cristo, garante que não serão utilizados métodos abrasivos."
A notícia envolvendo o presidente da assembleia municipal de Tomar, só tem interesse para os nabantinos porque o ex-deputado afirmou, a dado passo que, "Quem precisa de mudar é o PSD nacional, e não o PSD distrital." Dado que ainda a semana passada, conforme aqui referimos, o socialista Hugo Cristóvão escreveu e disse cobras e lagartos sobre a gestão autárquica do PSD, há aqui um nítido desencontro. Tanto mais importante e significativo, quanto é certo que praticamente todas as câmaras da região já têm os respectivos orçamentos e grandes opções do plano para 2010, aprovados pelas assembleias municipais respectivas, e aqui em Tomar nicles batatoides. Que se saiba ainda não existe sequer um rascunho para apresentar ao executivo.
Que quererá isto dizer ?
Sobre a questão da Janela do Capítulo, a notícia d'O MIRANTE nada adianta em relação ao anteriormente referido n'O TEMPLÁRIO, salvo o título de primeira página, realmente mais categórico. Dado que, como é do conhecimento geral, este blogue está desde o início envolvido no problema, parece-nos oportuno dizer que, por enquanto, apenas uma coisa é certa -se a limpeza vier a ser feita, já não será de modo algum a que estava inicialmente prevista, como claramente resulta do novo discurso do IGESPAR, através de Iria Caetano: "A remoção dos líquenes não retirará a patine das paredes. A imagem será diferente da actual, mas sempre acusando a passagem do tempo." Vamos esperar para ver, mas anotando desde já que em todas as limpezas anteriores, designadamente na Ermida da Conceição e no exterior do corredor do Cruzeiro ou na Fachada Sul do Convento de Cristo, não foi isso que aconteceu, nem de perto nem de longe. Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades ?
Esperamos ter novidades sobre este assunto dentro de alguns dias e cá estaremos para avaliar à posteriori aquilo que vier a ser feito. Depois não digam que não foram avisados...
Desejamos um novo ano o mais clemente possível para todos. Alá é grande, mas mesmo assim ignora-se se há lá para todos...

INSÓLITOS TOMARENSES - 17

É a política do "tapa buracos". Um destes dias, reclamou-se aqui a reparação urgente do pequeno abatimento ocorrido na Rua Dª Aurora de Macedo. Fomos atendidos alguns dias depois. Vieram os trabalhadores e, quando tudo levava a pensar que iam primeiro averiguar as causas da ocorrência, para depois procederem à reparação e ao recalcetamento, zás ! Vá de obstruir o buraco com serrisca, e já está !


Pensavam os funcionários camarários que já estava resolvido, mas pensavam mal. Alguns dias mais tarde, a situação é a documentada na fotografia. Agora, quando voltarem, eles que não se esqueçam de tornar a entulhar os buracos. Será uma boa e rápida maneira de entupir o colector de esgotos, o que depois lhes dará muito mais trabalho, podendo até facultar-lhe algumas horas extraordinárias. Nunca se sabe.
Entretanto o presidente goza uma semanita de férias no Algarve, que também tem todo o direito, como qualquer cidadão. O pior são os buracos. Estes da calçada e outros bem piores.

POBRE MATA DOS SETE MONTES !




Mais de uma semana após o temporal, a Mata dos Sete Montes -a antiga Cerca Conventual- está como mostram as fotografias. Praticamente ao abandono, ao Deus dará. Por falta de pessoal, por falta de interesse, por estar demasiado longe de Lisboa e das preocupações governamentais.
Entretanto a autarquia, com fundos da União Europeia, vai requalificar a casa do guarda, as casas de banho, e sobretudo um dos acessos pedonais entre a cidade e o castelo, através da Mata. À excepção das casas de banho, realmente a precisar de urgente reforma, mas que, se se ficarem pelas obras previstas, menos de um ano depois estarão outra vez a precisar de obras urgentes, mal empregado dinheiro ! Mal comparado, é assim como se oferecessem uma gravata de seda natural e uns bons óculos de sol a um indivíduo sem camisa, descalço e com fome...
Já aqui foi escrito diversas vezes que a melhor solução seria voltar a unir, sob a administração da autarquia, a Mata, o Convento, o Castelo e os Pegões. Habituados a depender do pai-estado, através do capataz-governo, e a receberem os respectivos vencimentos com um mínimo de esforço, vários responsáveis alegaram logo (e vão voltar a dizê-lo) que a autarquia não tem vocação, nem estruturas, nem recursos humanos, para se ocupar de monumentos e de parques florestais. E o governo tem ? perguntamos nós. Porque se tem, realmente não parece. Quanto à autarquia, o que falta aos seus dirigentes é humildade, vontade de aprender, apego ao trabalho, apetência por novas soluções, abertura ao mundo. Vocação, estruturas e recursos humanos logo se arranjariam. Mas também concordamos que assim é muito mais confortável para quem ocupa os cadeirões dos paços do concelho. Não se pode ter tudo. Honra e proveito raramente cabem no mesmo saco.


terça-feira, 29 de dezembro de 2009

NÃO ESTARÃO AMBOS OS LADOS EQUIVOCADOS ?

É raro abordarem-se aqui problemas nacionais. Acontece porém que, neste caso da negociação professores/ministério, a questão é também local. Assim sendo, e porque há alguns docentes que fazem o favor de nos ler, pensamos poder ter alguma utilidade dar aconhecer a nossa opinião.
Segundo o jornais diários, Paulo Guinote, nosso colega de profissão e da blogosfera (www.aeducaçãodomeuumbigo.blogspot.com), terá dito ontem que, com a actual ministra, o ME está transformado numa sucursal do ministério das finanças. A ser verdadeira tal notícia, o colega só agora terá descido à terra, pois desde há muitos anos que todos sabemos o óbvio -qualquer ministério, em qualquer país democrático, é apenas uma sucursal do das Finanças, se por sucursal entendermos um serviço forçado a agir de acordo com as determinações da casa-mãe, neste caso o primeiro-ministro e o ministro das finanças.
Na realidade, o que parece estar a acontecer em Portugal, com as negociações entre os professores do ensino básico e secundário e o ministério da educação, é um duplo equívoco. Ambas as partes partem do princípio que a outra quer realmente negociar e ambas estão enganadas. Não por vontade própria, mas tão somente porque nem a ministra nem os sindicatos ousam dizer à outra parte a verdade, toda a verdade e nada mais que a verdade. Donde o inevitável impasse, a partir de dado momento negocial.
Os sindicatos não têm tido a coragem de dizer que quanto menos avaliação burocrática melhor e que todos os professores devem chegar ao topo da carreira, sejam excelentes, bons, médios ou nem isso. A ministra, por sua vez, rodada nestas coisas do sindicalismo e da política, parece ter-se convencido de que os sindicatos estão agora em nítida posição de fraqueza, pelo efeito conjugado da já longa luta e da crise, pelo que será a ocasião ideal para lhes sacar um acordo, mesmo que coxo. Por isso, ainda não lhes disse uma evidência -o tempo das vacas gordas acabou; o governo de agora não tem capacidade financeira que permita suportar a chegada ao topo da carreira de todos os professores, nem sequer da maioria. Consequentemente, tem de haver uma selecção mais ou menos rigorosa e uma série de obstáculos que poucos conseguirão transpôr.
Resta aos sindicatos, em vez de aguardarem que seja o governo a avançar soluções, apresentar opções realistas, que contemplem os severos limites orçamentais. Enquanto o não aceitarem e fizerem, bem podem esperar por novos ministros, novos negociadores ou novos governantes. A dada altura estarão mais uma vez entre a espada e a parede ou, se preferirem, entre o martelo e a bigorna: têm de ser seleccionados de alguma maneira, para que nem todos cheguem ao topo. Tal como em qualquer outra profissão, pública ou privada.
Um dos sindicatos da classe tem uma longa experiência de acordos contra os quais votou, que algum tempo depois resolve apesar disso defender. Talvez não fosse pior ir aprendendo algo com a experiência e procurar chegar agora ao consenso possível, seguido finalmente de assinatura. Se o não fizer, temo que dentro de um ou dois anos esteja a negociar um acordo ainda pior, como sempre defendendo então este que agora se recusa a assinar.
Quanto aos negociadores do ministério, que tal mudarem de método e proporem aos sindicatos uma hipótese aliciante, do tipo "poderão transitar ao escalão imediato todos os docentes que nos cinco anos imediatmente anteriores tenham tido uma classificação não inferior a bom e um horário completo com mais de três turmas" ? Matavam-se assim uns quantos coelhos com uma única cajadada, e já não haveria a tal questão tão controversa das vagas. Sobretudo quando se pensa a sério e de forma rigorosa no que aí vem... (menos alunos, menos turmas, menos disciplinas, menos opções, menos escolas, menos verbas disponíveis...).
Sem pretender alarmar, caso ainda estivesse no activo e fosse dirigente sindical, começaria desde já a estudar com atenção o que sucedeu nas forças armadas portuguesas nestes últimos 25 anos. Cá por coisas.

CONTINUAMOS A TENTAR SALVAR A JANELA


A questão da limpeza/lavagem da Janela do Capítulo continua na ordem do dia, apesar do silêncio reinante e da lamentável atitude da maioria PSD/PS/CDS na Assembleia Municipal. Lá para o final da próxima semana, esperamos ter novidades para os cidadãos realmente amigos da sua terra, para quem o interesse da comunidade está sempre antes da carteira de meia dúzia, ou das opções lisboetas, venham elas de onde vierem.
Entretanto, após esforços consideráveis, graças ao trabalho do fotógrafo aqui do blogue e à ajuda preciosa do piloto do nosso helicóptero, é-nos agora possível apresentar uma perspectiva exclusiva de parte do Convento de Cristo, naturalmente protegida por rigoroso copyright.
Na foto de cima, o Convento visto de noroeste, mostra toda a sua imponência. Na foto de baixo, tirada de uma posição assaz rara, mesmo em helicóptero, no sentido sudoeste/nordeste, vemos no primeiro plano parte do telhado do Claustro dos Corvos, com a edícula circular da escada de caracol, ainda não lavada. No segundo plano, parte do telhado novo do Corredor do Cruzeiro e o exterior da respectiva capela, já depois da tal "limpeza por escovagem". No terceiro plano, o Coro Manuelino, que permite ver a diferença de patine entre as partes já alvo de limpeza/lavagem, e as outras.
Dado que as mesmas causas, nas mesmas condições exteriores, produzem sempre os mesmos efeitos, a Janela do Capítulo e toda a fachada manuelina, caso consigam resistir sem estragos demasiados aos trabalhos previstos, terão depois o mesmo aspecto do exterior da capela do cruzeiro e da torre anexa. Se acham que fica melhor...nós não !
Finalmente, ao fundo, a parte superior da Charola e, do lado esquerdo, os andaimes e plataformas para os tais testes, tendo em vista a limpeza/lavagem da Janela, já aqui referidos em escritos anteriores.
(A foto de cima é d'O TEMPLÁRIO, a quem agradecemos. A outra é de Tomar a dianteira)

FAZ E DESFAZ - 2

Nos anos 20 do século passado, o Mouchão, então propriedade particular, ainda não tinha os plátanos que agora conhecemos. Mas tinha um casino, com dupla escadaria e, do lado esquerdo, um ringue de patinagem.


Comprado pela autarquia nos idos de 40, logo ali se projectou e edificou uma estalagem municipal com a fabulosa capacidade de...quatro quartos ! Os tomarenses sempre viram grande e longe. Entregue a um concessionário, cedo se constatou que quatro quartos era realmente muito pouco. Procedeu-se então, já nos anos 60, a uma ampliação para 11 quartos. Por enquanto não dispomos de fotografias dessa ampliação, que aliás também aqui não poderiam figurar, pois o blogue só admite um máximo de três fotos por post.



Veio o 25 de Abril e com ele, a par de muitas coisas boas, outras que nem tanto. Com o advento do reino das farturas, o concessionário foi-se embora e procedeu-se a novas obras importantes, que deram à estalagem o seu actual aspecto. Foi antes dessas obras e logo a seguir à saída do concessionário, o saudoso Henrique Pinto Merino, um senhor à moda clássica, que teve lugar o "milagre do desaparecimento do recheio". Propriedade da autarquia, desapareceu praticamente sem deixar rasto. Móveis, decoração, roupa, loiça, talheres, e até um piano, coisa fácil de levar no bolso, como é sabido. Ainda hoje a opinião pública tomarense ignora o ou os destinos finais de tanta coisa. E depois digam que não há milagres em Tomar...


FAZ E DESFAZ - 1

Ao contrário daquilo que muita gente pensa, não foi António Paiva que inaugurou em Tomar a prática do faz e desfaz. Muito antes dele já cá havia verdadeiros especialistas nessa arte, como veremos mais adiante. Na foto, a entrada do Mouchão, nos anos 40 do século passado, quando estava muito em voga o "estilo à antiga portuguesa", também conhecido como "estilo Raúl Lino".


Veio a modernidade e lá se foi a edificação inicial, mais ou menos dez anos após a sua construção. A nova entrada ganhou um par de candeeiros, mas manteve o portão, que por acaso nunca ninguém viu fechado...

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

DIAGNÓSTICO DAS MALEITAS TOMARENSES


TOMAR: UMA SOCIEDADE AMORFA, HABITUADA A QUE TUDO POR ELA DECIDÍSSEM

A realidade tomarense apresenta-se com grandes contrariedades económicas e sociais. Tomar depende do funcionalismo público, mas num tempo de simplificação de serviços, é uma dependência com poucas probabilidades de sucesso. Os grandes empregadores são neste momento a autarquia e os ministérios da defesa, da saúde, da educação e do ensino superior. Todos estes organismos terão como provável tendência a redução de funcionários.
Por outro lado, é muito difícil que nasçam crianças num concelho como o nosso, que os jovens abandonam em busca de melhores paragens. Deverá por isso haver uma redução acentuada do número de alunos e no caso do ensino superior esta situação obrigará porventura a uma contracção de equipamentos. Até que ponto saberá e terá capacidade o "nosso" politécnico para sobreviver ?
É urgente percebermos que Tomar definha todos os dias. Difíceis são os tempos que o concelho atravessa e que pouco têm a ver com a crise que cruza o mundo. Poucas abertas se vislumbram para o nosso futuro, num mundo cada vez menos proteccionista e mais competitivo. Uma sociedade amorfa, habituada a que tudo por ela decidíssem, o concelho de Tomar deu-se mal com a democracia. O amorfismo perdurou e congelou-nos num orgulho vão e bacoco. No mínimo, durante as duas últimas décadas, nunca a autarquia soube ser liderante, aglutinadora e inspiradora. Tem agido sem planos, sem estratégia, sem capacidade de orientar a comunidade. Nunca soube indicar o caminho e agravou as dificuldades com o aumento da despesa e da dívida, pagando obras espúrias e insensatas.
E aqui estamos agora, com uma autarquia pesada, desorganizada, enferrujada, sem filosofia conceptual, e hipotecada, que terá como primeira grande missão corrigir os erros cometidos, sabendo que alguns não têm correcção possível.
A obtenção de fundos comunitários não pode ser um fim em si mesmo, porque obrigam ao comprometimento de verbas próprias e consequentemente do endividamento. A câmara de Tomar terá de arrepiar caminho e definir quanto antes um rumo, claro para todos.
Este é o ponto de partida. Agora há que definir de vez onde, como, porquê e com quê, queremos chegar enquanto comunidade.
Por Tomar e com os tomarenses !
Após a leitura do texto acima, muitos leitores pensarão, como habitualmente, que estou a ser demasiado duro com os nossos autarcas, e que esta dureza resulta de um doentio comportamento de mau perdedor. Alegarão até que as sucessivas maiorias PSD podem ter cometido alguns erros, mas globalmente têm tido actuações positivas. Caso contrário, os socialistas não teriam assinado um acordo de coligação, que os vai comprometer irremediavelmente na presente e futura gestão laranja.
Pois quem assim pensou, pensou mal ! O referido texto é uma condensação do discurso de Hugo Cristóvão, presidente dos socialistas locais, líder da bancada, deputado municipal e signatário do tal acordo de coligação. Foi lido na recente sessão da Assembleia Municipal, perante a indiferença geral, podendo ser consultado no seu blogue algures aqui por quem eventualmente tenha dúvidas.
Como se pode constatar, ainda a procissão não saiu sequer da igreja e já os rosas dizem cobras e lagartos dos seus parceiros, com toda a pertinência, refira-se de passagem. A citada peça parece-nos um excelente diagnóstico, quiça incompleto, das maleitas locais, focando até parte do que não deve ser feito. Com esta corajosa intervenção política, que não teríamos qualquer reserva em subscrever, fica agora a faltar apenas a indicação da indispensável terapêutica. E aí é que a porca torce o rabo. Basta lembrar que, na mesma sessão, os socialistas votaram em bloco com os laranjas contra a moção em defesa da Janela do Capítulo, cuja limpeza foi decidida em Lisboa, como sempre. Para quem tinha, pouco antes, criticado com palavras duras "uma sociedade amorfa, habituada a que tudo por ela decidíssem", não está nada mal, não senhor ! E mostra uma grande coerência política ! Digo eu...

LIDERANÇA E PUSILANIMIDADE



Uma notícia do EL PAÍS de sábado e um comentário enviado a tomar a dianteira ontem, servem-nos de detonador para a questão tomarense actual. Não está em causa a honestidade dos membros da actual maioria 3+2, no âmbito daquilo que podemos designar por "meter a mão na gaveta". O que aqui se contesta é a nítida falta de liderança, a gestão algo caótica, a ausência de projectos realmente fecundos e mobilizadores, a evidente falta de uma linha de rumo -tudo afinal aspectos do mesmo problema fulcral: a inexistência de envergadura intelectual para o cabal desempenho dos cargos, que no entanto juraram em público "desempenhar com lealdade". Tentar esconder aos cidadãos de todo o concelho a gravíssima situação actual do município, será uma prova de lealdade ? Não cumprir a palavra dada, aquilo que foi publicamente jurado, será honesto ?
O caso do Estado da Califórnia, o mais populoso e rico dos USA, é paradigmático. Após importantes cortes orçamentais, aumentos de impostos e reduções drásticas de pessoal, o problema mantém-se, com o défice a agravar-se de modo insustentável. Neste momento atinge já os 1.462 milhões de euros. No último ano do seu mandato, o governador passou pela dupla vergonha, que qualquer cidadão americano procura evitar a todo o custo: pedir ajuda ao governo federal e a um presidente adversário político. Mas, para grandes males, grandes remédios, e como refere o jornalista espanhol "A Califórnia é a Grécia da zona euro ou o Dubai do próximo oriente, ou pior ainda... um problema cuja resolução vai demorar anos e implicar mais aumentos de impostos e reduções de despesas."
O outro texto é um corajoso, lúcido e bem escrito comentário, que nos foi enviado por alguém que viveu a longa crise da IFM/Platex por dentro. Vale a pena lê-lo com todo o vagar, pois enquanto o governador americano teve a coragem de liderar e fazer o que devia, mesmo não sendo nada popular, na Platex sabemos agora que se escondeu a real situação pouco consensual da empresa durante pelo menos dez anos. Daqui resultou que os trabalhadores, mal informados e mal liderados pelos sindicatos, têm afinal e sem querer andado a fazer figura de palhaços. O próprio presidente da câmara, em vez de se informar previamente e de forma exaustiva sobre os múltiplos aspectos da situação, deixou-se ir na onde populista e lá foi a Lisboa, pedir auxílios que ninguém vai conceder, pois não vislumbram quaisquer hipóteses de retorno.
Outro tanto está a acontecer na própria autarquia, como aqui temos vindo a referir desde há meses. Tal como na Califórnia e na Platex, as receitas do município diminuem de dia para dia, ao mesmo tempo que as despesas vão sempre aumentando. Há obras paradas por falta de verbas (o Largo do Pelourinho, por exemplo, ou a Rua Infante D. Fernando e adjacentes), enquanto noutras se continua a actuar como se fôssemos um concelho a nadar em dinheiro. Este ano as iluminações de Natal foram ainda mais caras que o ano passado, enquanto que o custo daquelas estranhas lajes que andam a colocar ao meio de cada rua, dava para concluir todas as outras artérias que ainda faltam (parte da Rua Nova, Rua Aurora Macedo, Largo de Quental, Rua do Teatro, Rua do Pé da Costa de Baixo e de Cima e Estrada do Convento).
Dêem-lhe as voltas que derem, tal como a Califórnia ou a Platex, a autarquia tem demasiada sede para a água disponível. Gasta demasiado para aquilo que recebe. Se aumentar as taxas que dela despendem, passará a receber ainda menos, pois a sangria da população aumentará. Da parte do governo vai receber cada vez menos, uma vez que Lisboa padece do mesmo mal e só poderá transferir uma parte daquilo que recebe. Como aqui no concelho recebe cada vez menos... Resta portanto ousar liderar e ter a coragem de explicar à população o buraco onde estamos a afundar-nos em cada dia que passa. Depois, procurar ainda mais coragem para começar a cortar nos gastos permanentes. Eleitos a tempo inteiro, assessores, adjuntos, secretárias, chefes de gabinete, automóveis, telemóveis, gabinetes, consumíveis, rendas, promoções, técnicos superiores, despesas de comunicção, custos de consultoria, combustíveis, electricidade...
Quanto mais tarde, pior maré, e ontem já não era nada cedo. Continuar mudo e quedo poderá ser tudo. Honesto não é de certeza.

domingo, 27 de dezembro de 2009

TRUISMOS, TAUTOLOGIAS E LAPALISSADAS

Antes de mais, visto que o saber não ocupa lugar, aqui têm uma fotografia aérea do castelo do dito. Exactamente ! A residência de Jacques de Chabannes de La Palice ou La Palisse, marechal de França, morto em combate na batalha de Pavia, em 1525. No regresso os soldados cantavam "Hélas, La Palice est mort/Il est mort devant Pavie/ Hélas s'il n'était pas mort/Il ferait encore envie." Com o tempo este último verso transformou-se em "Il serait encore en vie." Temos portanto à partida algo como "Provocaria ainda inveja", que se transformou em "Ainda estaria vivo". Daqui resultou a conhecida verdade de La Palisse, que "antes de morrer ainda estava vivo", uma evidência ou truismo, que pode facilmente transformar-se em tautologia: Porque é que ele morreu ? Porque ainda estava vivo. E porque é que ele ainda estava vivo ? Porque ainda não tinha morrido.
Este preâmbulo todo, tendo em vista preparar os leitores para o texto de amanhã de manhã. Que isto de escrever em Portugal, quando se foi formado noutro lado e noutra língua, não é por vezes nada fácil. Em termos de informação e opinião é mesmo assaz complexo, como a seguir passo a tentar demonstrar.
Os leitores já ouviram decerto, nos vários canais televisivos, respeitáveis directores clínicos, com anos e anos de formação universitária, mais outros tantos de profícua actividade profissional, responderem às perguntas dos jornalistas, quando há doenças, epidemias ou acidentes graves. A dada altura, os profissionais da informação avançam com a pergunta sacrossanta -E qual foi a causa da morte ? Surge então a resposta, praticamente sempre a mesma, com ar solene de sentença final: "Paragem cárdio-respiratória." O jornalista agradece e vai à sua vida.
Felizmente para todos nós, nenhum outro povo europeu usa o português como língua normal de comunicação. Caso contrário seríamos gozados e bem gozados, com toda a razão, de resto. Então não é que andamos há anos a ouvir semelhante truismo ou lapalissada, e não reagimos !? Porque na verdade, indicar como causa do óbito "paragem cárdio-respiratória", sendo verdade, não adianta nem atrasa, uma vez que até hoje toda a gente morreu assim. Por paragem do coração e da respiração. Que respeitáveis e experientes clínicos se fiquem por aí, revela uma quantidade de coisas que nos abstemos de escrever aqui, mostrando igualmente que os jornalistas também se estão nas tintas para a informação do seu público. Caso assim não fosse, perguntariam imediatamente -De acordo, mas qual ou quais as causas que provocaram a paragem do coração e a paragem da respiração ? Porque aí é que está o busilis, a verdadeira causa do falecimento. E não numa fórmula técnica que nos conduz directamente à lapalissada seguinte: Qual a causa dessa paragem ? O falecimento do paciente. E qual a causa do falecimento ? A paragem cárdio-respiratória. Esclarecedor, não é ?
(A partir daqui, os puritanos, os ortodoxos e outros feitios monacais, ou fiscais da moral, devem abster-se de ler e irem à sua vida. O aviso aqui fica. Depois não venham protestar !)
As crianças, ainda não condicionadas pelos implícitos sociais do tipo hipocrisia, subserviência, inveja, etiqueta, frases feitas, lugares comuns etc., detêm geralmente uma grande capacidade de raciocínio, de longe superior à de muitos adultos. Um dia destes, uma dessas crianças vivaças, o Rodrigo, perguntou ao pai, quando iam a caminho do jardim escola, se ele andava de diarreia. -Claro que não ! Olha que raio de pergunta !
Porque é que queres saber ? -Porque está noite ouvi a mamã a dizer-te -Esta merda está muito mole !
O pai, com a coluna muito maleável e um excepcional jogo de cintura, como alguns políticos tomarenses; dotado de grande capacidade de raciocínio, ao contrário desses mesmos políticos, foi rápido na resposta: Ah, estou a ver ! Sabes, não te queria preocupar e por isso não te disse. Mas é realmente verdade e acontece a todos os homens, mais tarde ou mais cedo. Já ficas a saber e um dia logo compreenderás. E seguiram o seu caminho...

SERVIR-SE E SERVIR SÃO COISAS DIFERENTES

Esta fotografia, copiada da primeira página do EL PAÍS de ontem, dá-nos a conhecer uma cena típica dos países da Europa ocidental, para lá da nossa fronteira. No Aeroporto de Madrid-Barajas, a Polícia Nacional, que depende directamente do governo, distribui refeições frias a centenas de cidadãos ali retidos devido à falência de uma companhia aérea que os deixou em terra. Era a noite de Natal (Nochebuena, em castelhano) e as autoridades procuraram assim minorar o mais possível as consequências do incidente, enquanto foram contratando voos especiais alternativos.
Se fosse no aeroporto da Portela, a PSP, naturalmente a mando do governo, teria agido de igual forma ? Aqui fica a legítima dúvida, já que entre nós eleitos e funcionários, mas sobretudo aqueles, têm a péssima tendência de ignorar algumas noções básicas de gramática. Esta por exemplo: Pegam no verbo servir, usam-no na forma reflexa, mas garantem sempre que estão ao serviço dos cidadãos. Confundem servir-se com servir, calhando sem disso se darem conta. Deus os proteja, que nos fazem muita falta !

MUDAM-SE OS TEMPOS, MUDAM AS PAISAGENS

No princípio do século passado era assim. Um rio que se espraiava sem grande entraves, lavadeiras e pescadores. Mais tarde fizeram a ponte do Albano, sensivelmente entre os dois casarões, um em cada margem. Nos anos 5o foi construído o mercado e uma ponte de madeira, porque entretanto a Ponte do Albano tinha sido levada por uma cheia. Fez-se igualmente a popularmente chamada "muralha do matadouro", pois este era onde está agora a entrada do lado poente da nova ponte. No terreno assim conquistado ao leito do rio foram plantados cerca de 20 salgueiros-chorões.



Este, cuja ramagem se vê na foto foi o único que conseguiu resistir ao tempo e às obras, mas estava condenado. Foram feitos esforços para o preservar, mas o resultado conseguido foi medíocre, sobretudo porque lhe descalçaram parcialmente o tronco.




Velho, já com pouca saúde e mal calçado por culpa dos homens, praticamente não ofereceu resistência aquando do recente temporal. Agora certamente virá um substituto, que dentro de alguns anos terá um porte semelhante ao deste. Todo o mundo é feito de mudança/Tomando sempre novas qualidades, escreveu Camões, há mais de quatrocentos anos...



sábado, 26 de dezembro de 2009

UMA DESGRAÇA NUNCA VEM SÓ




É do conhecimento geral que cada povo é formatado de determinada maneira, essencialmente pela língua e pelos costumes. O chamado peso sociológico. No caso português, logo nos primeiros séculos da nossa era, um viajante romano deixou escrito que "no ocidente da hispânia vive um povo, os lusitanos, que se não sabe governar nem deixa que o governem". Muitos séculos mais tarde, na primeira metade do século passado, Unamuno, um escritor espanhol, anotou que os portugueses eram um povo de suicidas, não tanto por porem termo à vida mais do que os outros, mas simplesmente porque, mesmo quando avisados de que caminham para o abismo, prosseguem impávidos e serenos a sua marcha.
Nestas condições, não espanta demasiado que em 2009/10 estejamos, aqui em Tomar, numa situação assaz curiosa, em termos de conservação do património e de acolhimento dos turistas. É o caso que, enquanto o IGESPAR, por razões difíceis de descortinar, (ver foto acima) , resolveu mandar limpar/lavar a Janela do Capítulo, com o apoio objectivo da actual maioria autárquica tomarense, e dos que dela dependem; a Câmara adjudicou a empreitada da requalificação do caminho pedestre entre a cidade e o Castelo, pela Torre da Condessa. Esta empreitada inclui igualmente a iluminação do citado percurso, quando é sabido que tanto a Mata como o Castelo/Convento encerram às 18 horas no verão e às 17 horas no inverno, bem como o arranjo da casa do guarda, situada à esquerda de quem entra na antiga Cerca conventual.
Praticamente a dois passos do Convento e da entrada da Mata, o Tanque da cadeira d'el-rei, da primeira metade do século XVII, está conforme documenta a fotografia há mais de dois anos. Na vertente oposta, a Charolinha, edícula renascentista do reinado de D. João III, sofre as agruras do tempo e os atentados dos homens, tudo na indiferença geral. Ambos os monumentos já pertenceram ao Convento, um integrado no sistema de abastecimento de água, o outro como logradoura da Cerca dos Frades, sendo actualmente da responsabilidade do ICN- Parques Nacionais. Perante situações destas, com dinheiro mal gasto nuns lados e a fazer tanta falta noutros, não dá mesmo vontade de bater com a cabeça nas paredes ?

JOSÉ MOURINHO E TOMAR A DIANTEIRA

Como os nossos leitores bem sabem, este blogue não trata de desporto em geral, nem de futebol em particular. Por três boas razões. À cabeça, o facto de quem escreve estas linhas não perceber nada do chamado desporto-rei em Portugal. Segue-se o facto de em Tomar, como em todo o lado e em todos os suportes, a concorrência ser cada vez mais forte. Finalmente, o futebol joga-se sobretudo com os pés, como de resto o seu nome indica, enquanto que Tomar a dianteira vai sempre tentando ser feito unicamente com a cabeça e o coração tomarense.
Mesmo assim, parece-nos que o comentário acima, do Público de hoje, na secção Sobe e desce, se pode aplicar, com as necessárias adaptações, a tudo aquilo que aqui vai sendo publicado. Ou estaremos enganados ? Você, por exemplo, o que pensa a este respeito ? Afinal, José Mourinho também não ganha o que ganha, tanto no campo como na carteira, com os pés, mas com a cabeça. Digo eu...

LEIS E REGULAMENTOS PARA TODOS, OU NÃO ?


Os preços exorbitantes pedidos pelos donos, bem como as excessivas formalidades e taxas exigidas pela Câmara, fazem com que, actualmente, quase ninguém se arrisque a recuperar casas antigas na cidade velha. O que explica a cada vez maior profusão de ruínas, um pouco por todo o lado.
Se, mesmo desencorajado por todos os meios, o leitor tem alma de herói e pretende avançar, dando o peito às balas, aqui lhe facultamos uma modesta ajuda que, bem aproveitada, pode vir a revelar-se preciosa. Quando na autarquia lhe começarem a colocar obstáculos legais em termos de cérceas, cores, volumes, integração, conformidade, e quejandos, como inevitavelmente acontece sempre, no quadro da bem conhecida prática de criar dificuldades para depois vender facilidades, bastar-lhe-á copiar as duas fotos acima. Como decerto já sabe, são da primeira grande obra do reinado Paiva -a recuperação do Cine-Teatro. Mande-as ampliar e quando as mostrar aos senhores quadros superiores da câmara, não se esqueça de lhes perguntar: -Afinal as leis e regulamentos aplicam-se a todos, em todo o território nacional, ou a autarquia de Tomar está isenta ? Se não está nem estava, como explicam este autêntico mamarracho em pleno coração do núcleo histórico ? Sendo o município o propietário, está a aguardar o quê para emendar o manifesto erro ? Faz o que eu digo, não olhes para o que eu faço ? Isso era no tempo em que Cristo andava pela terra !

SEBASTIANISTAS SERÔDIOS

D. Sebastião, rei de Portugal - Fundación Casa de Alba - Sevilha
Os tomarenses e outros habitantes da urbe que continuam pacatamente calados, à espera que o próximo ano venha a ser melhor do que este, bem podem mudar de ideias. Ou de terra, que ainda será melhor. Para que isso fosse possível, seria necessário que os senhores autarcas da circunstancial maioria 3+2 soubessem o que é preciso, o que querem e como lá chegar. Infelizmente tal não parece ser o caso. Factos recentes e convergentes indiciam mesmo o contrário.
Enquanto noutras cidades, com problemas igualmente graves (Santarém, por exemplo, que está à beira da falência), o orçamento para 2010 já foi elaborado, debatido e aprovado no executivo; discutido e votado favoravelmente, na assembleia municipal, aqui em Tomar ainda nem sequer está feito. Os senhores que nos governam parecem aguardar mais dias de nevoeiro, esperançados que talvez D. Sebastião... Como não quero que lhes falte nada, aqui lho deixo, com 18 anitos. Ainda a tempo de ser educado "à tomarense" -instalar-se à mesa do orçamento e esperar que outros vão fornecendo o indispensável.
Entretanto, instigados pelas bem remuneradas agências de comunicação, os edis lá vão fornecendo, aos semanários habituais porta-vozes da maioria, o pouco que há para dizer, e mesmo assim bem espremido. A semana passada foi o pedido de viabilidade de mais uma residencial na Corredoura. Esta semana temos direito à monitorização da qualidade do ar em 2010 e à rede de águas e esgotos na Pedreira. Como são assuntos visivelmente de lana caprina, os coitados dos jornalistas lá foram mais uma vez forçados a puxar pelo bestunto, tentando transformar tordos magros em perús gordos. Assim, enquanto num dos jornais somos informados que as obras da Pedreira já estão concluídas a 36 %, no outro há bastante mais factos dignos de menção. Ei-los: O presidente visitou as obras apesar de estar a chover, as obras estarão prontas no fim do próximo ano e, imaginem os leitores !, as obras incluem a repavimentação das vias e a construção de valetas. Não é mesmo extraordinário ?
Quanto ao facto de, uma vez as obras prontas, os pedreirenses terem de começar a desembolsar no mínimo, a preços actuais, 15 euros por mês (2,5 de água e o restante de taxas várias), o que vem dar 30 e tantos contos anuais, isso pode esperar.
Enquanto isto, os dirigentes das muitas associações culturais e desportivas do concelho foram convocados recentemente para uma reunião, "de trabalho", pois claro ! Diz quem participou que a dita durou duas horas bem medidas, e que nunca ouviu tanta banalidade e tanta palermice junta. Quanto ao senhor vereador da cultura, que presidia, esclareceu logo de início que estava para ouvir. Supõe-se que tendo em vista o tal orçamento para o próximo ano. Foi um balde água fria para alguns dos presentes que, imagine-se, também tinham vindo para ouvir. Infelizmente, segundo relataram mais tarde, não ouviram nada de aproveitável. E da boca do respeitável autarca então, nem uma para a caixa das almas. É o que vos digo: Vamos ter um rico ano novo !

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

A CRISE DA IFM/PLATEX

Foto O Templário

Esclarecimento prévio:
Nunca fui, não sou, nem pretendo vir a ser economista profissional, gestor ou patrão, salvo de mim próprio. Fiquem portanto descansados os habituais especialistas de ideias gerais, bicas baixas e copos cheios . Não vou falar de cátedra e procurarei não ser arrogante. Dito isto, também não sou propriamente um analfabeto ou um palonço, e julgo ter uma cabeça que funciona satisfatoriamente, para as minhas necessidades. Assim sendo, não contem comigo para me armar em trôpego mental, só para evitar as eventuais picadas venenosas de alguns, menos dotados e sem poder de encaixe.
Falta acrescentar que, durante uma já longa vida bem vivida, conheci a miséria, a fome, o frio, a doença, o desemprego, a solidão, a guerra, a prisão, a angústia, a indiferença; mas também o carinho, a fraternidade, a amizade sincera, a camaradagem, o amor, a paixão e a alegria de viver. O que me leva a considerar que estou assaz artilhado, em termos de experiência, para tentar perceber os problemas alheios. Não me vanglorio, como também não me calo.

2AVC/IFM

O grande problema de todos os trabalhadores e patrões do sector privado, diga-se o que se disser, pode ser resumido na fórmula acima, que significa Alojamento+Alimentação+Vestuário+ Calçado/Incerteza do Final do Mês. Com estes elementos, convém a seguir ter sempre em conta que o funcionamento de qualquer empresa, sujeita às leis do mercado aberto, corresponde geralmente a um jogo de bilhar, em que a bola vermelha é o mercado, a preta o patrão, e a branca os trabalhadores.
Acontece que na longa crise da IFM/PLATEX já houve tantas carambolas imprevistas e por explicar, que o público em geral, presumo, deve estar mais ou menos como eu -não consigo perceber o que desencadeou o longo calvário, que ainda continua. De acordo com os jornais, a empresa deve 1 milhão há EDP, 6 meses de salários aos trabalhadores, não sei quantos milhões à banca e somas avultadas, por esclarecer, aos outros fornecedores. A uma dada altura, falou-se numa ajuda do Estado, da ordem dos 6 milhões de euros, para permitir recomeçar a laboração. Tudo indica que tal hipótese não foi concretizada, entre outros motivos por falta de garantias reais. Chegados aqui, será útil colocar a questão: Que se passou afinal, desde o início das dificuldades? Porque aí reside o problema.
Não adianta escamotear ou tentar maquilhar alguns aspectos menos agradáveis da realidade. Só conhecendo os reais sintomas se pode chegar ao diagnóstico da doença, condição prévia para prescrever uma terapêutica e tentar assim conseguir a cura. Neste momento, em termos de opinião pública, ninguém entende como se consentiu que as coisas chegassem ao ponto em que estão. Porém, dado a realidade nunca andar para trás, é com aquilo que temos que devemos tentar encontrar uma saída. Para aí chegar, muitas perguntas são indispensáveis. Estas, para começar: A empresa tinha e tem mercado ? Aquilo que produzia era e é competitivo em termos de preços e de qualidade ? Tanto no mercado interno como externo ? A tecnologia utilizada não está ultrapassada ? A gestão sempre foi honesta, eficaz, ágil e competente ? Os trabalhadores eram assíduos ? A produtividade era mais alta, mais baixa ou praticamente equivalente à das outras empresas do sector ? De todos estes aspectos, qual ou quais falharam sistematicamente ?
Escreveu-se que a empresa tinha bastantes clientes, que era praticamente a única no mercado e que exportava cerca de 60% da produção. A ser verdade tudo isto, algo falhou estrondosamente e durante algum tempo, sem que fossem tomadas as adequadas providências. Porque não cabe na cabeça de ninguém que uma empresa a produzir normalmente, com boa carteira de clientes e exportando mais de metade da sua produção, possa ter acumulado pela calada um tal rol de dívidas, que agora impelem os credores a provocar a sua falência. Em termos primários, só duas hipóteses são plausíveis -ou a produção era escoada a preços que não cobriam nem de perto nem de longe os respectivos custos; ou os gestores não foram suficientemente prudentes ao deixarem acumular débitos muito superiores ao "fôlego" da empresa.
Agora, tendo em conta o estado a que as coisas chegaram, torna-se mais necessário do que nunca apurar quais foram os erros cometidos, de forma a não os repetir no futuro. Ficar à espera de ajudas do Estado a fundo perdido, ou com juros bonificados, já deixou de ser solução. Urge encontrar alternativas. E isso só com ideias claras e operativas. O tempo das desculpas tautológicas já passou.
Não sabe o que são desculpas tautológicas ? Vou dar-lhe um exemplo. Uma senhora tinha uma filha, que a dada altura deixou de falar. Andou de médico em médico e melhoras nenhumas. Após aturados exames, não conseguiam saber o que se passava. Já algo desesperada, a pobre mãe levou a filha a um curandeiro. Este ouviu-a com muita atenção e no final disse-lhe -Já sei porque é que a sua filha não fala ! -Então porque é ? -Porque é muda. -Mas isso já eu sabia. -E é muda porquê ? - Ora, porque não fala, minha senhora !
Neste caso da IFM/PLATEX, assim à primeira vista, parece que estamos na mesma: - Porque é que estão em crise tão profunda que até o Estado vos recusou auxílio ? -Por causa das dívidas que são muito elevadas. E porque é que as dívidas atingiram tais níveis ? Por causa da crise.
Com raciocínios destes, que não andarão muito longe dos feitos pelos senhores autarcas nabantinos, em relação a outros assuntos, nunca mais vamos conseguir saír da cepa torta. E é pena, qua cidade é muito agradável. Não consegue é proporcionar condições de vida aos seus filhos, que vão sendo forçados a votar com os pés, pondo-se a andar para paragens mais acolhedoras e menos atraídas pelos bolsos dos contribuintes.

ATÉ NOS AÇORES...OBRIGADO AÇORES !

Clique sobre a ilustração para a ampliar.


Graças à boa vontade do Dr. João Simões, ilustre amigo nascido alhures, mas agora tomarense de antes quebrar que torcer, acabamos de receber este apoio ao nosso apelo "Salvar a Janela do Capítulo", que naturalmente agradecemos, com um grande abraço fraterno para o "Expresso das nove" e para todo aquele arquipélago de briosos patrícios nossos, cuja igreja matriz e cabeça foi, durante muitos séculos, Santa Maria dos Olivais, ou Santa Maria de Tomar.
Temos assim que lá longe, em pleno Atlântico, há quem tema pelo futuro do nosso ex-libris, enquanto que pelas bandas da Praça da República... Decidamente, os autarcas que vamos tendo por aqui estão a ficar cada vez mais tremidos na fotografia. Ai estão, estão !

TEMPOS DIFÍCEIS. TEMPOS DE ANGÚSTIA ?

Este terreno, ali na estrada do Convento, pomposamente baptizada "Avenida do Dr. Vieira Guimarães", é da Câmara. Foi-lhe doado em 1976, pela Família Madureira, conjuntamnente com o do lado oposto, onde agora se lembraram de fazer um parque de estacionamento em terra batida, para 32 automóveis. Desde então ao abandono, o seu aspecto indica que vai finalmente servir para qualquer coisa. A espessa cobertura vegetal parece indicar que vamos ter ali uma reserva natural troglodita. Os linces ibéricos virão de Espanha. Os trogloditas já cá estão.


Instalada no Mouchão desde os tempos do Imperador Paiva, esta casinhota modernaça continua a intrigar os tomarenses. Mini-biblioteca ? Quiosque ? Apoio a uma esplanada que há-de vir ? Mictório para utentes exibicionistas ? Simples expediente para sacar mais uns fundos europeus ? Ninguém sabe ao certo, porque ninguém até agora julgou útil explicar ao rebanho nabantino. Que também não se queixa. O costume.
Certo é que, tal como no caso da onerosa "fonte cibernética", ou dos candeeiros da Rua Infante D. Fernando e travessas adjacentes, uma vez pagas as mercadorias e as respectivas instalações nos locais, agora há que ir pensando em pagar a respectiva remoção e o transporte. Que ricos administradores que nós arranjámos !



Após discussões e mais discussões na executivo e na assembleia municipal, era mesmo o que o mercado necessitava com mais urgência -uma iluminaçãozinha de natal. Como todos sabemos, o local é muito frequentado à noite, sobretudo por turistas, a energia está baratíssima, Portugal produz electricidade a rodos e a baixo custo, a Câmara nem sabe o que há-de fazer a tanta receita. Nestas condições, percebe-se tanto a decisão de iluminar como a escolha de centenas de lâmpadas incandescentes, justamente as que mais consomem. A União Europeia até já proibiu a sua venda, mas esses são não só uma cambada de pobretanas, como ainda por cima uns unhas de fome. No fim de contas, que diferença fazem mais umas centenas ou menos umas centenas de lâmpadas incandescentes acesas toda a noite ? Não são sempre os mesmos a pagar ? Perdido por cem, perdido por mil !
Não terá sido por acaso que o nosso vereador da cultura, senhor Luís Ferreira, cogitou no seu blogue, no passado dia 19, as substantivas frases seguintes: "No jantar de Natal da Câmara. Respira-se bem. Para o ano como será ?"
Aqui há duas décadas, foi exibido no cine-teatro um excelente filme americano intitulado em português "Angústia para o jantar". Querem ver que então como agora...

quinta-feira, 24 de dezembro de 2009

ANÁLISE DA IMPRENSA LOCAL E REGIONAL





COLABORAÇÃO DA PAPELARIA CLIPNETO
Abrimos com um esclarecimento prévio. Por imperativos técnicos, originados pelas restrições do blogue, só podemos publicar uma máximo de 3 ilustrações em cada post. Por esta razão, dado que esta semana lemos os quatro semanários da região, houve necessidade de omitir a ilustração de um deles. Calhou ao MIRANTE, que por isso tem honras de abertura.
A sua manchete refere-se ao Natal assim: "Puseram em cima da festa do Natal a festa do consumo". A afirmação é do padre Frutuoso Matias, natural de Santarém, e actual pároco de Tomar, após alguns anos na Asseiceira, com fotografia a cores logo abaixo do título. Nas páginas interiores, numa entrevista de duas páginas, ficamos a saber, entre muitos outros temas, que "Os portugueses têm tendência para beijar tudo e mais alguma coisa" ..."E precisam que lhes facilitem a vida para que se possam desenvolver com as suas capacidades. As pessoas não podem estar à espera qe o Governo lhes dê o almoço já feito". Lá isso é verdade, senhor padre. Mas os tomarenses... E quanto a essa de beijar tudo e mais alguma coisa...salvo seja !
"Centro Ambiental de Tomar avalia qualidade do ar" e "Pedreira com nova rede de águas e esgotos" são outros assuntos tratados n'O MIRANTE desta semana. Se nos é permitida uma opinião, parece-nos particularmente pertinente a avaliação da qualidade do ar que se vai respirando por aqui. São tantas as novas indústrias instaladas, que, mesmo dotadas das mais modernas tecnologias de tratamento de fumos, não podem deixar de poluir, e muito, a atmosfera nabantina. Ou estamos a ver mal ?
O TEMPLÁRIO abre com "Platex pede insolvência" e "Ponte inaugurada há um ano - Acesso ao mercado é "caminho de cabras". Se quem nos lê fizer o favor de ir ao arquivo aqui do blogue, clicar em 2008 e depois em "Nova ponte e arredores -só maravilhas", verá que já nessa altura o acesso da nova ponte ao mercado era notícia. Sinal de que as coisas evoluem para melhor e muito rapidamente...É como vos dizemos -Vale a pena pagar impostos e outras alcavalas !
Merece igualmente destaque o fascículo "Um olhar sobre Tomar", com fotografias aéreas da nossa terra. Custa um euro, mas julgamos valer a pena.
"Trabalhadores da IFM na sessão de segunda-feira - Assembleia Municipal assume apoio dos órgãos autárquicos", destaca CIDADE DE TOMAR na sua primeira página. Logo ao lado esta preciosidade: "Obras a cargo dos SMAS - Águas e esgotos da Pedreira 36 por cento concluídas". Serão mesmo 36 por cento ?
Na última página, o decano da imprensa tomarense publica uma boa reportagem sobre o Aqueduto dos Pegões", enquanto que as habituais "Conversas Ajardinadas", na página 26, merecem leitura.
Finalmente, O RIBATEJO é muito explícito: "Câmara de Santarém em apertos financeiros", a toda a largura da primeira página. No interior, outro título significativo -"Orçamento de crise aprovado na Assembleia", logo seguido desta pesada frase- "A câmara está com dificuldade em pagar vencimentos e prestações dos empréstimos, e já suspendeu pagamentos de ajudas de custo e horas extra aos funcionários". É claro que estas notícias tristes nada têm a ver com Tomar. O orçamento ainda nem sequer foi apresentado, mas deve ser apenas porque o executivo tem alguma dificuldade em arranjar obras para tantas receitas previsíveis... Salvo erro !
Em todo o caso, se fôssemos funcionários ou fornecedores da CMT, íamos já açambarcando água (enquanto não aumenta), para pôr as barbas de molho...
Bom Natal para todos !

(O negrito é de Tomar a dianteira)

O PODER LOCAL EM 3 ILUSTRAÇÕES...

Aprende-se em todas as escolas de jornalismo que "Os factos são sagrados, as opiniões são livres". O que não quer dizer que todos os alunos fiquem a saber. Para mais, uma outra escola, menos americanizada, sustenta que o ideal é apresentar aos leitores "a verdade tal como nós a vemos", que o mesmo é dizer, a nossa verdade. Complicado, não é ? Em qualquer caso, factos são factos, e contra factos não há argumentos. Ou não devia haver, mas os senhores causídicos também têm o direito de ganhar honradamente a vida deles. O que sem argumentação...
Vamos aos factos. Este recibo dos SMAS tomarenses mostra-nos o ponto a que chegámos, em termos de exploração dos cidadãos/consumidores pelo poder instalado. Um consumidor individual, ou uma família, que consiga ficar-se pelos 5 metros cúbicos mensais, desembolsa no fim de cada mês 2,25 euros pela água que gastou, mas 12, 40 euros pelas alcavalas (quota de serviço, que ninguém sabe explicar a direito de que se trata, taxa de resíduos sólidos=recolha do lixo, tratamento de esgotos), o que corresponde, sem IVA, ao fim de cada ano, a 5 contos e quatrocentos de água consumida, e 29 contos 760 de alcavalas. Estará isto certo ? A palavra aos consumidores.
Quanto aos nossos autarcas executivos, continuam a não perceber porque é que a situação nunca mais melhora e os munícipes continuam a dar à sola... Uma pessoa bem vai procurando ajudar. Sem resultado até agora.


Foto O Templário
Com a situação a agravar-se continuamente e a população a diminuir, o poder vai-se instalando, ocupando cada vez mais espaço, ao mesmo tempo que vai deixando cada vez menos lugar para os eleitores. No caso documentado na fotografia, o executivo autárquico está agora no 3º modelo de mesa desde o século XII. Com efeito, de 1162, data do primeiro foral, até 1420, data em que o Infante D. Henrique se apropriou do governo da Ordem de Cristo, as reuniões municipais faziam-se na Igreja de S. Tomás (A Charola), que naturalmente funcionava como mesa redonda. O mestre e o alcaide eram apenas primus interpares, sem opiniões preferenciais.
Com o advento do governo do senhor Infante, apareceu a mesa rectangular, com ele à cabeceira, e assim se continuou a praticar, mesmo quando toda a população foi escorraçada do interior das muralhas para a parte baixa. Nem o regime autoritário anterior ao 25 de Abril ousou alguma vez alterar a tradição -mesa rectangular e sessões semanais.
35 anos volvidos após Abril, descobriu o minoritário executivo laranja que vamos tendo as vantagens da mesa em U, que para os do PSD são evidentes. Agora não há cá misturas, nem cochichos entre forças de diferentes classes políticas. A cabeceira é ocupada pelos 3 titulares do verdadeiro poder. À sua esquerda têm os circunstanciais criados. À direita têm os malvados, unicamente porque a lei eleitoral a isso obriga, sendo evidente que, para o quinteto 3+2, só lá estão a empatar e a provocar desnecessárias irritações e perdas de tempo. E reuniões, só duas por mês que chega muito bem. Os munícipes que vão esperando...
Julgam os senhores eleitos que não é bem assim ? Pois poderá não ser. Mas é a verdade tal como a vemos. E as opiniões são livres. Por enquanto ?

Fotografia O Templário

Na Assembleia Municipal, o caso da expansão do poder é ainda mais evidente. Como é óbvio, antes de 74 não havia parlamento local para ajudar a apascentar o rebanho. Depois, durante anos, o salão nobre dos Paços do Concelho era dividido praticamente em partes iguais: na metade à esquerda da tradicional porta de acesso, os deputados municipais (como agora se diz, porque na altura eram só vogais), os membros do executivo e um ou outro jornalista. Na outra metade, dezenas de cadeiras para o público, que não tinha qualquer dificuldade de acesso pela porta principal.
Numa altura em que tanto se fala de aproximar os eleitos dos eleitores, em Tomar o panorama é o que está à vista. O salão é o mesmo, com a mesma superfície útil, mas os titulares do provisório poder entretanto alargaram o seu espaço vital (onde é que eu já li isto ?). Agora o público fica em pé, desde que antes tenha conseguido encontrar as dissimuladas entradas do salão, visto que a porta principal -a única que dá para o exterior- está fechada.
Ainda não chegámos à situação dos nossos vizinhos de Ourém, em cujos novos Paços do Concelho, que custaram um ror de dinheiro, não cabem sequer os membros da Assembleia Municipal. Tudo indica, porém, que vamos no bom caminho. Estes políticos domésticos não se enxergam ? E ainda terão lata para vir argumentar que, de qualquer maneira, os cidadãos nunca comparecem nas reuniões da Assembleia ? Com tais condições de acolhimento...
UM BOM NATAL PARA TODOS, APESAR DE TUDO.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

NESTA ALTURA DE NATAL E ALEGRIA...

Escreveu-se aqui anteriormente sobre o relógio da torre sineira do Convento, que nos anos 30 do século passado foi retirado, para permitir a consolidação daquela parte do monumento, tendo todavia ficado o mostrador. Só muito mais tarde, outros técnicos que não cuidaram de ouvir a opinião dos tomarenses, resolveram mandar retirar o mostrador, alegando que não era de época.

Pois imagine o leitor que, como se pode ver na foto acima, tudo indica que o primitivo mostrador do século XVI, ou nunca chegou a ser colocado no seu destino, ou cedo foi apeado. Percebe-se bem porquê, desde que se olhe com alguma atenção.
Após um reinado exeburante e de grande liberdade e euforia para a época, com um rei (D. Manuel I) que despachava ao som da música, e enviava embaixadas ao Papa com animais exóticos, o período sob a égide de D. João III foi de ultramontanismo, inquisição, tristeza, repressão, tudo numa envolvência a que mais tarde se chamou "sentimento trágico da existência", o qual implicava considerar esta vida como simples preparação e passagem para uma outra, eterna e muito melhor, se aqui não cometêssemos pecados imperdoáveis.
É o que está bem representado nos ângulos do mostrador, para lembrança de todos os que para ele olhavam apenas para saber as horas. Em cima os soberanos -D. João III e Dª Catarina. Em baixo os mesmos, alguns anos após o fim desta vida. É pois natural que os frades não tenham simpatizado muito com o tema, tanto mais que naquela época... e o mostrador teve uma via útil bem curta. Se chegou a ter...

Em contrapartida, fora do Convento de Cristo, os habitantes da vila, que já na época certamente pouco se iam incomodando com as ideias mais ou menos obtusas de quem mandava, tal como acontece actualmente, não levantaram qualquer obstáculo. Um mostrador praticamente idêntico foi colocado na torre sineira de S. João Baptista, onde continua há mais de quatro séculos, na indiferença geral. Quase apostava que a leitora ou o leitor nunca sequer tinham reparado nos detalhes. Tal como no do convento, temos em cima D. João III e Dª Catarina, com a diferença de que aqui a ordem é inversa. O busto do rei está do lado direito. Em baixo as mesmas representações algo tétricas, que terão desagradado aos frades.
E vejam lá o que pode fazer a idade. Homem piedoso, austero, duro, de vontade férrea, com o passar dos séculos D. João III acabou por perder metade da cabeça. Decididamente, os anos não perdoam nem aos reis. Mesmo quando conseguem escapar a uma boa limpeza "unicamente por escovagem".