Numa publicação camarária, que até ostenta o título pomposo "Tomar no horizonte do progresso" (Seja lá o que for que se pretenda dizer...), naquilo que parece ser a memória descritiva e justificativa do "Arranjo urbanístico da envolvente do Convento de Cristo", lê-se este belo naco de prosa: "Prevê-se criar um muro de suporte ao longo da Ala Norte do Convento de Cristo, que permite criar uma praça de enquadramento e estadia ao monumento. Esta diferença de nível permitirá rebaixar o acesso viário e criar uma faixa de estacionamento para autocarros, com vista a recolher os turistas no fim da visita e levá-los a visitar a cidade (considerando que estes chegam do sentido de Pegões)".
Uma pessoa lê isto, (subscrito por um arquitecto de um gabinete de consultores), e põe-se a cogitar que realmente o capitalismo tem algumas vantagens, mas muitos inconvenientes. O principal é a ganância, a "ganhunça", como dizia o saudoso Nini Ferreira. Por dinheiro há quem faça tudo. É o seu verdadeiro motor, posto que não é científico mas totalmente pragmático. Ou dá lucro ou não dá. Se dá, a meta é conseguir sempre mais e mais. Se não dá, fecha-se a passa-se a outra tentativa.
Neste caso e por agora, apenas dois reparos. Por um lado, vê-se logo que a fachada norte do Convento, ou parte dela, vai ficar mais bonita, mais espectacular, mais modernaça com uma fila de autocarros estacionados. É o progresso, que lhe havemos de fazer !!??
Por outro lado, quem conhece minimamente o local e os fluxos turísticos, vislumbra logo os autocarros a chegarem do lado dos Pegões, (seguramente depois de terem visitado a Longra ou os Brasões), despejarem os clientes para a visita ao Convento, aguardarem o seu regresso e rumarem à Praça da República, para a visita da cidade. Os autocarros não podem ir até à Câmara, onde até nem há estacionamento para eles ? Tal como na história do caçador maneta, dada a conjuntura, quem é que se lembra disso ?
Conclusão provisória -As obras previstas para o exterior do Convento serão, em grande parte, mais um tiro ao lado do alvo. Mal empregado dinheiro europeu !
Outro eixo de intervenção da autarquia são os Moinhos da Ordem, mais tarde Lagares d'El-Rei (uma vez que, já na época, "Lisboa" abarbatava tudo o que dava chorudos rendimentos). Fala-se num investimento total de cerca de 9 milhões de euros, o que nos traz à memória o dito célebre de Dª Maria II, quando Costa Cabral, seu amigo íntimo, lhe disse "Saiba Vossa Magestade que toda a gente se vende ! Toda marquês ? Toda ! Até Vossa Magestade ! Ena tanto dinheiro !!!", retorquiu a raínha. Aconteceu no século XIX; ontem, afinal ...
Escreveu Corvêlo de Sousa que "Vamos criar novos pólos de atractividade no centro histórico, com um natural destaque para o Museu da Levada, que integrará as moagens, central eléctrica e fundição num espaço relevante de ciência e cultura." Admitamos. Afinal, o mesmo Corvêlo Sousa já antes escrevera "Vamos concretizar o prolongamento das ruas do Centro Histórico até ao Convento de Cristo e promover a Mata como acesso ao monumento." Está-se mesmo a ver, não está ?
Naturalmente, como é habitual, tratando-se de um autarca melómano, ao solo acima muito parcialmente reproduzido, seguiu a música de acompanhamento. Um respeitável vereador garantiu publicamente que o futuro Museu da Levada será o novo tesouro dos Templários. Como ? Por enquanto ainda ninguém explicou. Mas partamos do princípio que será assim. Os automóveis e, sobretudo, os autocarros com alunos, estacionam onde, para deixar ou levar os passageiros ? Na própria Levada, com os grupos a atravessarem a calçada ? Ia ser bonito, ia. Ou vai ?
Conclusão provisória -As obras da Levada vão ser mais um sorvedoiro de dinheiros europeus. Mais um tiro ao lado do alvo. Mal empregado dinheiro, que tanta falta faz noutros sectores.
3 comentários:
"Vamos concretizar o prolongamento das ruas do Centro Histórico até ao Convento de Cristo e promover a Mata como acesso ao monumento."
Esta ideia parece-me interessante:
A ideia realmente é muito interessante. E muito apreciada, ou não estivéssemos no sul da Europa, onde infelizmente abundam as palavras, mas escasseiam as acções. Porque o problema é esse -como conseguir com êxito fazer a ligação entre a cidade e o Convento, bem como aumentar o número de visitantes e sobretudo o consumo/despesa per capita. O resto é música de embalar tolos...
Não concordo com "anónimo". O legado chegou-nos da forma que se apresenta. O castelo está perfeitamente dissociado (fisicamente, entenda-se!)da malha urbana, havendo sido criada uma mancha florestal de permeio. Na minha modesta opinião acho que se deve preservar essa separação, com manutenção aturada da Mata dos Sete Montes, com a recuperação da estrada dpo Convento que inclua a limpeza do excesso de vegetação que tomou conta do espaço de circulação de peões e da que impede a vista da cidade. Aproveito para acrescentar que a estrada do Convento é toda ela um miradouro com a "nuance" de à medida que a percorremos a perspectiva da cidade mudar.
Depois há que criar uma envolvente ao castelo condigna e prtomover a visita à cidade.
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