Aprende-se em todas as escolas de jornalismo que "Os factos são sagrados, as opiniões são livres". O que não quer dizer que todos os alunos fiquem a saber. Para mais, uma outra escola, menos americanizada, sustenta que o ideal é apresentar aos leitores "a verdade tal como nós a vemos", que o mesmo é dizer, a nossa verdade. Complicado, não é ? Em qualquer caso, factos são factos, e contra factos não há argumentos. Ou não devia haver, mas os senhores causídicos também têm o direito de ganhar honradamente a vida deles. O que sem argumentação...
Vamos aos factos. Este recibo dos SMAS tomarenses mostra-nos o ponto a que chegámos, em termos de exploração dos cidadãos/consumidores pelo poder instalado. Um consumidor individual, ou uma família, que consiga ficar-se pelos 5 metros cúbicos mensais, desembolsa no fim de cada mês 2,25 euros pela água que gastou, mas 12, 40 euros pelas alcavalas (quota de serviço, que ninguém sabe explicar a direito de que se trata, taxa de resíduos sólidos=recolha do lixo, tratamento de esgotos), o que corresponde, sem IVA, ao fim de cada ano, a 5 contos e quatrocentos de água consumida, e 29 contos 760 de alcavalas. Estará isto certo ? A palavra aos consumidores.
Quanto aos nossos autarcas executivos, continuam a não perceber porque é que a situação nunca mais melhora e os munícipes continuam a dar à sola... Uma pessoa bem vai procurando ajudar. Sem resultado até agora.
Com a situação a agravar-se continuamente e a população a diminuir, o poder vai-se instalando, ocupando cada vez mais espaço, ao mesmo tempo que vai deixando cada vez menos lugar para os eleitores. No caso documentado na fotografia, o executivo autárquico está agora no 3º modelo de mesa desde o século XII. Com efeito, de 1162, data do primeiro foral, até 1420, data em que o Infante D. Henrique se apropriou do governo da Ordem de Cristo, as reuniões municipais faziam-se na Igreja de S. Tomás (A Charola), que naturalmente funcionava como mesa redonda. O mestre e o alcaide eram apenas primus interpares, sem opiniões preferenciais.
Com o advento do governo do senhor Infante, apareceu a mesa rectangular, com ele à cabeceira, e assim se continuou a praticar, mesmo quando toda a população foi escorraçada do interior das muralhas para a parte baixa. Nem o regime autoritário anterior ao 25 de Abril ousou alguma vez alterar a tradição -mesa rectangular e sessões semanais.
35 anos volvidos após Abril, descobriu o minoritário executivo laranja que vamos tendo as vantagens da mesa em U, que para os do PSD são evidentes. Agora não há cá misturas, nem cochichos entre forças de diferentes classes políticas. A cabeceira é ocupada pelos 3 titulares do verdadeiro poder. À sua esquerda têm os circunstanciais criados. À direita têm os malvados, unicamente porque a lei eleitoral a isso obriga, sendo evidente que, para o quinteto 3+2, só lá estão a empatar e a provocar desnecessárias irritações e perdas de tempo. E reuniões, só duas por mês que chega muito bem. Os munícipes que vão esperando...
Julgam os senhores eleitos que não é bem assim ? Pois poderá não ser. Mas é a verdade tal como a vemos. E as opiniões são livres. Por enquanto ?
Na Assembleia Municipal, o caso da expansão do poder é ainda mais evidente. Como é óbvio, antes de 74 não havia parlamento local para ajudar a apascentar o rebanho. Depois, durante anos, o salão nobre dos Paços do Concelho era dividido praticamente em partes iguais: na metade à esquerda da tradicional porta de acesso, os deputados municipais (como agora se diz, porque na altura eram só vogais), os membros do executivo e um ou outro jornalista. Na outra metade, dezenas de cadeiras para o público, que não tinha qualquer dificuldade de acesso pela porta principal.
Numa altura em que tanto se fala de aproximar os eleitos dos eleitores, em Tomar o panorama é o que está à vista. O salão é o mesmo, com a mesma superfície útil, mas os titulares do provisório poder entretanto alargaram o seu espaço vital (onde é que eu já li isto ?). Agora o público fica em pé, desde que antes tenha conseguido encontrar as dissimuladas entradas do salão, visto que a porta principal -a única que dá para o exterior- está fechada.
Ainda não chegámos à situação dos nossos vizinhos de Ourém, em cujos novos Paços do Concelho, que custaram um ror de dinheiro, não cabem sequer os membros da Assembleia Municipal. Tudo indica, porém, que vamos no bom caminho. Estes políticos domésticos não se enxergam ? E ainda terão lata para vir argumentar que, de qualquer maneira, os cidadãos nunca comparecem nas reuniões da Assembleia ? Com tais condições de acolhimento...
UM BOM NATAL PARA TODOS, APESAR DE TUDO.
3 comentários:
E quem é que pagava os vencimentos dos "patrões" dos SMAS, com o Vicente (PSD) à cabeça?
Boa tarde,
Faltou-lhe dizer que no tempo em que Pedro Marques foi presidente, as reuniões eram fechadas ao público e aos jornalistas. Por isso, o Paiva marcou pontos, porque fazia reuniões semanais com os jornalistas, para lhes "dar" as notícias. E, mais tarde, pagou-lhes com tachos feitos à medida. Enfim, outros tempos!
E os milhares de euros pagos por mês ao Presidente e às duas Vogais do Conselho de Administração dos SMAS? Não fará isso parte da Quota de Serviço e de Resíduos Sólidos npara o bolso de cada um? Ou será que estão lá, em linguagem popular, à borla, para defender os interesses dos clientes dos SMAS? Não será por acaso que a água do Município de Tomar é das mais caras do País!!! Porque será? Perguntem a quem recebem os milhares de euros por mês...
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