quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Análise sucinta da imprensa local de hoje




Apetece escrever "Tudo como dantes, miséria em Tomar, precisão em Abrantes." Refíro-me a notícias, mas poderia alargar à economia, ao emprego, à cultura ou à política. Enquanto cidade e concelho, somos cada vez mais uma irrelevância. A tal ponto que O Mirante, jornal da região sediado fora de Tomar, mais precisamente na Chamusca, consagra-nos nesta edição apenas cinco notícias, qual delas a mais palpitante: Informatização de processos na CMT, Sporting de Tomar campeão regional de infantis, Aluno do IPT na selecção nacional de rugby, Carnaval de Tomar e Carnaval da Linhaceira. Concordemos que não é nada abonatório, para uma cidade e um concelho que se acham importantes.
"Os gajos do Mirante não nos gramam", pensarão alguns. Erradamente, julgo eu. Vejamos sucessivamente os dois semanários da urbe gualdina. O Templário traz uma entrevista com Pedro Marques, que convém ler atentamente, tratando-se de um dos líderes políticos locais com mais experiência. Foi o que eu fiz. Confesso que não encontrei nada de novo. Tudo previsível. E até algumas afirmações de que discordo, como por exemplo a da chamada de primeira página: "Batemos no fundo". Infelizmente tal não foi ainda o caso, como se verá, sem margem para dúvidas, lá mais para diante. É pena que Pedro Marques assim não o entenda. Mas cada um é como cada qual. Certo certo é que, no estado actual das coisas, muito dificilmente os IpT voltarão a dispor de uma conjuntura política tão favorável à vitória. Caso o líder natural daquela formação saiba jogar os trunfos de que dispõe. O que, pelo menos por enquanto, não parece ser o caso. Aguardemos.
Também no Templário, aquilo a que podemos chamar o estranho caso dos bombeiros municipais. Em plena festa de aniversário, o comandante da corporação queixa-se de falta de ambulâncias em condições, a ponto de ter recusado participar na evacuação dos feridos no recente acidente do IC8, na Sertã. O responsável regional da defesa civil ataca a câmara por não ter comprado ambulâncias atempadamente. Posteriormente, respondendo a perguntas durante a reunião semanal do executivo, o presidente Carrão sustenta que não sabia de nada e que vai ter de conversar com o comandante dos bombeiros. Estranho. Tudo muito estranho. A cheirar a lavagem de roupa demasiado suja... E as eleições ainda são só daqui a nove meses. Parece-me que vamos ter um Verão tórrido...
Mais pacato, Cidade de Tomar destaca em manchete os danos provocados pelas obras da A13 nalgumas zonas da freguesia de S. Pedro. Igualmente na primeira página, a inesperada candidatura PSD de Rui Costa à nova Freguesia de Santa Maria de Tomar. Trata-se da primeira cara nova no panorama autárquico local, o que mostra bem o imobilismo tomarense. Tão desconfortável que origina o desabafo que mais se ouve pela cidade -"Não vou votar; não vale a pena porque não há escolha." Os responsáveis políticos locais que se cuidem, que isto pode resultar numa bronca a nível nacional. Depois não venham com a usual cantiga de que ninguém avisou, por isso não sabiam. Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém.

Órfãos políticos

Sei bem que a galeria de autores, cujos escritos aqui tenho reproduzido, não passa afinal de um grupo de cidadãos que vivem no erro por ainda não terem tido acesso à verdade definitiva. (???). Pior ainda: tudo o que escrevem visa objectivos bem dissimulados e altamente condenáveis. Não se sabe bem porquê, pois os acusadores nunca explicaram, mas pronto; é assim e acabou-se.
Vou agora reincidir, citando Pedro Lomba, jurista jovem, cujos pecados políticos ainda não conheço, mas que decerto não tardarão a ser esmiuçados, graças à argúcia dos leitores de Tomar a dianteira. Penso nomeadamente no amigo Cantoneiro da Borda da Estrada.

... ..."Quase dois anos depois, o socratismo mexe-se. Interessa perceber como. Sócrates perdeu as eleições em Junho de 2011, saiu desacreditado e deixou o país in extremis sob tutela estrangeira. Mas o socratismo já não depende hoje do antigo líder. Tornou-se uma espécie de entidade não personificada. Estamos a falar de muita gente na política e à volta dela que quer acima de tudo ajustar contas com o passado, com as instituições e até com o povo que, desgraça, não lhes fez a justiça devida.

... ... ... ..

No nosso Portugal de 2013, esta família de órfãos sonha avidamente em vingar-se das instituições, dos políticos, dos eleitores, de uma sociedade que os rejeitou, porque foi essa mesma sociedade, as suas instituições e eleitores que aqui liquidaram o "rei".
Os socráticos acreditam que foram derrotados, não por incompetência própria, não porque foram democraticamente rejeitados nas urnas, mas por uma conspiração tentacular que juntou Passos Coelho, Cavaco Silva, Pacheco Pereira, José Manuel Fernandes, os mercados, os juízes de Aveiro, Ângela Merkel, Olli Rehn, o BCE, alguns jornais e jornalistas, alguns banqueiros e empresários. Acham-se vítimas desta gente toda. Daí a raiva completamente anormal e desproporcionada que têm contra estas e outras personagens -pensem em Soares dos Santos.
Claro que nos europeus, Merkel, os funcionários troikistas, eles não podem tocar. Mas, cá dentro, esperam poder ser os Bourbons. Por isso, quando acusam António José Seguro de moleza na oposição, ou de não ter absorvido o passado como devia, a família revela os seus instintos. Achando-se genuinamente prejudicados por uma conjura, querem um chefe que não se coíba e não rompa o cordão umbilical. Seguro não serve para esse papel. António Costa, pensam eles, pode servir. Mas este, compreensivelmente, retrai-se."

Pedro Lomba, Os Bourbons, Público, 31/01/13, última página

Nota final
Vivendo e escrevendo longe de Tomar, que se calhar mal conhece de ouvir falar, Pedro Lomba omitiu uma curiosa espécie política nabantina, que pode ser designada por discípulos d'El-rei D. Duarte. Não porque o irmão do Infante D. Henrique aqui faleceu, mas devido à sua obra escrita. Com efeito, particularmente no PS, os dirigentes, militantes e filiados agem como profundos conhecedores da "Arte de bem cavalgar toda a sela". No caso em apreço, aqueles que ainda ontem apoiavam entusiasticamente o "delinquente" Sócrates (Maria Filomena Mónica dixit), defendem agora com unhas e dentes o inapto Tó Zé Seguro, mas logo aplaudirão Costa, quando e se ele conseguir finalmente acostar à direcção do PS. 
Temos assim direito a sucessivas "missas socialistas", (uma delas no Convento de Cristo), para usar a expressão do ex-deputado PS e empresário Henrique Neto, em vez do debate livre, franco e aberto, que poderia regenerar o partido e possibilitar finalmente a recuperação da cidade e do país. Mas por enquanto é o que temos: políticos miméticos, tipo camaleão. Sem ideias nem opções próprias. É pena.

Promoção turística

Praceta Dr. Raúl Lopes

 TOMAR CIDADE LIMPA
UTILIZE BEM OS ECOPONTOS
CUIDADO COM OS PÉS

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Promoção turística


Enquanto a nível nacional o governo, através do ministério da economia, decide implementar medidas, nomeadamente na área fiscal, tendentes a facilitar a compra por estrangeiros reformados de segunda habitação em Portugal, aqui na urbe templária, cuja autarquia a proclama importante cidade turística, é o que está à vista. Alguém arriscará comprar o apartamento à venda, depois de ter visto o estado caótico da entrada? Só se for louco. 
Por conseguinte, enquanto o governo PSD procura estimular a economia, a câmara PSD nada faz para ajudar. Uns aceleram, outros travam. Entendam-se senhores!
E se o proprietário resolver processar o município, invocando sérios prejuízos, causados pelo estado miserável da calçada durante meses? Que poderá argumentar o advogado síndico? Falta de verba? Falta de pessoal? Falta de tempo? Falta de vontade? Falta de autoridade? Falta de vergonha? Um pouco de tudo?
Visite Tomar, cidade acolhedora.

Alergia e democracia a 100 à hora


Sabe-se que desde sempre os portugueses em geral e os tomarenses em particular demonstram ser visceralmente alérgicos à mudança e à democracia. Basta recordar as reacções às reformas mais recentes, a dos hospitais e a das freguesias. Em ambos os casos houve manifestações, sempre acompanhadas pelo mesmo chavão leninista: "Somos favoráveis às reformas, mas não a esta reforma". No caso da agregação de freguesias, até daria para rir, não fora o assunto tão sério.
Após terem recusado todos os ensejos para debater, fazer ouvir e até impor pelo voto maioritário as suas soluções, alguns presidentes de junta continuam a opor-se ao já decidido na AR e promulgado por Belém, alegando que não foram ouvidos. É preciso ter lata! Muita lata mesmo!
No fundo, lá bem no fundo, a maleita é a mesma -alergia à democracia, ao livre debate de ideias. Tenha-se em vista que mesmo a própria autarquia -que devia dar o exemplo- não publica a ordem de trabalhos das suas reuniões, nem o rol das deliberações tomadas, contrariando assim uma prática em vigor antes do 25 de Abril, apesar de vivermos então em ditadura mais ou menos mole.
Na mesma onda, as formações políticas locais também adoram o segredo. Só muito raramente anunciam os seus conclaves, ou aquilo que lá foi decidido. Com uma notável e louvável excepção -o Partido Socialista (ver ilustração supra). Com regularidade, o PS local vai actualizando o seu blogue, permitindo assim manter assaz bem informados não só os seus militantes e aderentes, mas igualmente todos os que se interessem pela vida política tomarense.
Infelizmente, até no melhor pano cai a nódoa. A convocatória socialista acima reproduzida mostra que, para uma reunião de trinta e tantos membros (semelhante em número à Assembleia Municipal), com início previsto para as 18H15, a ordem de trabalhos inclui cinco pontos: uma discussão e quatro análises, qual delas a mais complexa. Uma vez que, na melhor das hipóteses, a reunião terá começado às 18H30 e a hora normal de jantar é às 19H30, os esforçados 30 e tantos comissários terão arrumado cinco debates complexos numa hora, hora e meia quando muito. É obra! Diria até que se trata de democracia a cem à hora. Uma espécie de democracia Ferrari.
Não será já tempo de se deixarem de comédias, admitindo que o PS local é  controlado por quem nós bem sabemos e que estas reuniões se destinam apenas a carimbar decisões já tomadas alhures? Os eleitores terão as suas limitações, mas já não são propriamente criancinhas políticas, quase quarenta anos após o 25 de Abril.

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Promoção turística

Quando decorre em Madrid mais uma edição da FITUR - Feira Internacional de Turismo, na qual Tomar não se fez representar, quiçá por falta de cartazes...entre outras carências, parece oportuno tentar dar uma ajudinha, gratuita e desinteressada. Aqui temos o que nos parece, no estado actual das coisas, um cartaz turístico apelativo, adequado e verdadeiro:



VISITE TOMAR
CIDADE ACOLHEDORA
CIDADE LIMPA
PASTÉIS DE CÃO À DISPOSIÇÃO

Mais uma desgraça

 Moinhos e lagares da Levada, em finais do século XIX

Edifício da antiga Comissão de Iniciativa e Turismo, agora Turismo Municipal, antes das recentes obras de requalificação.

É verdade, mais uma desgraça. Custeada pelos nossos impostos. E provocada pela ganância dos fundos europeus. Primeiro foram as obras no edifício renascentista da antiga Comissão de Iniciativa e Turismo, agora Turismo Municipal, ao cimo da Rua da Graça. Requalificação, disse a autarquia. Candidatura tão bem fundamentada tecnicamente que, uma vez terminadas as obras, chegou-se à conclusão de que não havia verba para comprar o equipamento. Só mesmo na Nabância, afamada terra de nabos, como o próprio topónimo indica.
O edifício continua fechado há meses, propiciando aquela vergonha ao fundo da Corredoura, que é ao mesmo tempo uma ofensa ao bom-senso e aos contribuintes: um posto de informação turística de cada lado da rua. Coisa que não acontece nem nos países mais ricos, por ser uma manifesta parvoice.
Seguem-se as obras da Levada -o célebre museu polinucleado- que ninguém sabe com virão a ser concluídas. Não só por não haver um projecto estruturado e estruturante, mas também, e sobretudo por terem surgido vestígios dos antigos lagares, dado que não foram feitas antes as indispensáveis prospecções. Falta de verba, alegou o arquitecto responsável.  Obras à moda nabantina.
Por outro lado, ainda que por mero bambúrrio aquilo alguma vez venha a ser acabado, permitindo arrecadar os anunciados 6 milhões de euros = um milhão e duzentos mil contos, será mais um sorvedouro de dinheiros públicos, destinados a sustentar um armazém de funcionários, cuja utilidade nunca será demonstrada, visto que muito dificilmente os previstos museus alguma vez chegarão a abrir ao público, quanto mais agora a conseguir viabilidade económica.
O mais triste disto tudo é que estamos neste caso como antes do 25 de Abril. Praticamente, já ninguém acreditava no regime caetanista, mas só os militares é que se chegaram à frente de armas na mão, primeiro a 17 de Março e depois a 25 de Abril. Agora em Tomar sucede algo semelhante. Pelo que se ouve por aí, já ninguém liga sequer à câmara e muitos afirmam que não vão votar em Outubro. Mas como os militares já não têm razão alguma para intervir, pois vivemos felizmente em democracia, é asneirar à vontade pessoal! Até Outubro. Depois logo se vê, dizia o cego. E como não há piores cegos do que aqueles que não querem ver...estamos bem arranjados estamos!

segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Autocarros, votos, equidade, livre concorrência e impostos

A questão da insólita cedência de um dos autocarros da autarquia ao União de Tomar foi tomada por alguns adeptos daquele clube como um ataque deliberado, tipo ofensa intolerável. Importa por isso detalhar a questão.
Antes de mais, por muito que possa desagradar a quem quer que seja, a liberdade de opinião é um dos direitos fundamentais, dos quais Tomar a dianteira jamais abdicará, facultando como é natural o direito de resposta, quando cabalmente identificado. Conquanto possa parecer muito simples e de pouca importância, a citada cedência, nas condições em que foi feita, ofende princípios básicos que a seguir se enumeram:
1 - A partir do momento em que o Município de Tomar doa um autocarro a uma determinada colectividade, para mais em conflito com o fisco, em virtude do princípio de igualdade perante a lei, todas as outras cento e tal agremiações existentes no concelho podem exigir idêntico tratamento. A câmara está em condições de fornecer dezenas de autocarros usados? Não? Então como tenciona garantir os direitos dos agora prejudicados? Será que o União de Tomar tem mais direitos que, por exemplo, o Sporting de Tomar, o Santa Cita, a Gualdim Pais ou o Ginásio Clube?
2 - A eventual argumentação de que o mesmo se destina ao transporte de crianças e jovens, pelo que só as instituições que com eles trabalham podem pretender a tratamento igual, não colhe. Com efeito, aquando da encomenda do novo autocarro, o executivo alegou que o antigo fora interditado para o transporte de crianças, por ter mais de 20 anos. O autocarro foi entretanto rejuvenescido? Nesse caso, o que levou o executivo, com uma dívida superior a 30 milhões de euros, a comprar um novo, em vez de mandar reparar o antigo? A doação já estava programada para o ano das autárquicas?
3 - É sabido que a autarquia cede habitualmente o autocarro a qualquer entidade e para qualquer percurso, por vezes mediante o pagamento do gasóleo e das eventuais horas extraordinárias ao motorista. Ao fazê-lo viola de modo grosseiro directivas europeias sobre concorrência. Há no país e fora dele empresas legalmente constituídas, cujo objecto é o transporte rodoviário e que pagam aos seus trabalhadores, bem como as licenças e os impostos exigidos. Neste contexto, como pode o Município, cujas funções nada têm a ver com transportes rodoviários de longa distância, ceder gratuitamente um autocarro, falseando assim sistematicamente a livre concorrência? Seria aceitável que a Rodoviária do Tejo, por exemplo, começasse a emitir, gratuitamente ou quase, alvarás de licença de obras?
4 - Acresce ao já enumerado o aspecto fiscal. Com efeito, as sucessivas cedências "gratuitas" do autocarro, na verdade custeadas pelo orçamento = contribuintes, fazem com que os utilizadores do referido meio de transporte fiquem isentos de IVA e os "transportistas" prejudicados inibidos de cobrar IVA, bem como de declarar IRC, uma vez que lhes foi retirado o trabalho remunerado a que tinham direito, em virtude da livre concorrência. Num Estado de direito com uma dívida pública superior a 120% do PIB, com um défice de 5% do PIB em 2012 e com altíssimos impostos directos e indirectos, será isto aceitável?
5 - Ao assim proceder, o Município de Tomar pratica uma pedagogia errada, pois inculca nos jovens e nos adultos a ideia de que se pode viajar sem pagar, desde que se saiba pedir e se disponha de conhecimentos bem situados. Por outras palavras, mais cruas mas também mais adequadas, dá a entender que é possível viver à custa dos outros = à mama. Será isto que se pretende?
6 - É óbvio que as sucessivas cedências do autocarro camarário não têm qualquer relação com filantropia ou outra forma de solidariedade social. Mais não são na verdade que meras tentativas de compra de votos, tal como sucede com as passeatas-comezainas-tintol-bailarico, à custa dos contribuintes. Será isto tolerável durante muito mais tempo?
7 - Por agora fica-se por aqui. Contudo, caso viesse a apurar-se que uma autarquia mandou construir um equipamento específico para a venda de bebidas alcoólicas num recinto desportivo onde evoluem jovens, seria naturalmente uma bronca a nível europeu, uma vez que o dito recinto foi parcialmente financiado pela UE...

domingo, 27 de janeiro de 2013

Requerimento ao Presidente da Câmara

Rua Aurora Macedo, sector poente, 27JAN13

Senhor Presidente:
António Rebelo, cidadão eleitor na plena posse dos seus direitos cívicos, do conhecimento pessoal do senhor e de todos os actuais membros do executivo camarário, morador na Rua Dª Aurora de Macedo, sector poente, em seu nome e em representação de todos os outros moradoras do referido troço urbano, constatando que o documentado na foto supra já dura há vários meses, sem qualquer explicação da autarquia, vem requerer o seguinte, em alternativa: Hipótese A - Reparação urgente e completa do pavimento, logo seguida da remoção de toda a areia e de uma campanha junto dos cidadãos, no sentido de recolherem os dejectos dos seus animais de estimação, quando em plena via pública, que em casa cada qual sabe de si; Hipótese B - Solicitar à entidade competente a classificação do referido sector, no estado em que se encontra, como reserva natural, com proibição de quaisquer obras tendentes a alterar o seu aspecto tão típico, para turista ver.
Caso a autarquia opte pela hipótese B, por incapacidade crónica ou por qualquer outra, mais requer o signatário que, ao abrigo do disposto na alínea v) do artigo 64º da Lei 169/99, a Comissão de Toponímia, caso exista, altere desde já o nome oficial deste trecho da rua, para um dos três seguintes: 1 - Nome mais de direita: Rua do defecatório animal; 2 - Nome mais de Centro: Rua dos pastéis de cão e afins; 3 - Nome mais de esquerda: Rua do cagatório de cães e gatos.
Na expectativa de uma resolução rápida, único modo relativamente eficaz de evitar, na medida do possível, que se diga que temos uma câmara de caca, porque incapaz de providenciar mesmo nos casos mais simples,

                         Respeitosamente

                         António Rebelo

Nota: Adoptou-se a cor que melhor se adequa ao tema principal do requerimento.

Matar saudades

                                      Nuno Botelho/Expresso-Revista

O nabantino José Quitério, decano dos gastrónomos portugueses e colaborador habitual do Expresso, veio mais uma vez matar saudades, recordando sabores da adolescência, graças às iguarias agora das Algarvias. Acontece porém que, antes de oficiar por aquelas bandas, a Céu, filha do Zé Careca, laborou durante anos alí ao cimo da Corredoura, à ilharga da Igreja de S. João, na casa paterna da Mimi e do Zé Quitério. Onde isso já vai. Ainda nem havia Ponte Nova, quanto mais a do Flecheiro...

"A Céu aberto"

"O Restaurante Chico Elias, a dois quilómetros de Tomar (povoação de Algarvias, na estrada velha para Torres Novas) há muito que se tornou conhecido, reconhecido, louvado e consagrado. Tudo começou com o casamento, em 1963, de Maria do Céu Pereira com Francisco Elias Simões, cujo pai, entre outras coisas, tinha uma tasca em que a companhia para os copásios não passava de petiscos sumaríssimos. Dotada de natural aptidão culinária entretanto desenvolvida, aprofundada e aperfeiçoada, Maria do Céu foi dando a volta à coisa, calmamente, introduzindo novas petisqueiras que trouxeram novos fregueses que possibilitaram novo apetrechamento e nova acomodação espacial, o que por sua vez lhe estimulou a criatividade e o salto qualitativo: em pouco mais de uma dúzia de anos, o modesto estaminé transformou-se numa casa de pasto famosa, a que o estatuto de restaurante não aqueceu nem arrefeceu.
Declaração de interesses (como se diz agora): sou amigo da Céu desde os meus 10 anos de idade (e 13 dela), há tantas décadas, céus!, que não ouso contar. Contado fica que nesta coluna (nascida em 1976) falei do restaurante em 1979, 1981, e 1989. Passados 24 anos, apetece-me voltar a escrever. Primeiro o resumo do agora provado em duas jornadas. "Petingas no forno" (€6/€8) entradeiras, que se entretiveram nos calores com rodelas de cebola, alho, colorau, azeite, vinagre e um tiquinho picante. O "Bacalhau com broa e presunto" (€14), em que ele começou por ficar dum dia para o outro em leite e sumo de limão, cozinhando depois no forno lentamente em camaradagem com presunto, broa migada e molho de natas e açafrão-da-índia, uma ridente salada de alface à parte. O "Pato com migas" (€14), considerando-se estas na couve cozida e a broa esfarelada que às camadas vão entremeando o marreco, previamente estufado e desfiado, na assadeira, o seu molho a animar a malha aspergida d pinhões e nozes. O "Coelho na abóbora" (€15) começa por ser um espectáculo visual: a abóbora, que pode ser menina ou porqueira, qual bojudo vaso lacado (a negritude aqui não é senghoriana, é fornífera), apresentada sobre peanha de barro encaixante. Tira-se a tampa, um anel da própria segmentado, e é o espectáculo olorífero. O sápido vem a seguir, dado que o coelho, repousado anteriormente em vinha-d'alhos, assou dentro da cucurbitácea despevidada (antes levou uma entaladela em tacho) que também lhe transmite algo de si conluiado com o molho derivado da marinada mais cogumelos, alecrim e rosmaninho, durante as duas horas de parto. O "Cabrito assado no forno de lenha" (€17), afinado pelo diapasão canónico, é dos mais brilhantes desempenhos celestes, pela qualidade e idade do chibinho, pela exatidão do unguento temperador, pelo tempo certo da assadura, pelo acompanhamento. Por falar nisto, não se deixe sem registo um complemento muito presente aqui: os grelos de nabo cozidos. Este magnífico legume português, levado ao mais alto nível pela selecção apurada e pelo processo de coccção: bem lavados em água fria, água a ferver despejada por cima deles ainda no alguidar, introdução na panela de abundante água fervente em cachão, parcos gramas de bicarbonato do sódio para relevar o verde. Nada de salteados, que trariam o inevitável gosto aliáceo, só cozidos como o descrito, vivificados por um fio de bom azeite, a revelarem o seu toque de amargura tão específico.
O arsenal logístico fornece muito mais munições de boca. Na área das entradas, a "morcela de arroz" e a fundacional "feijoada de caracóis". Dos pratos de peixe, os antigos e apreciados "enguias de fricassé" e "bacalhau com carne de porco", e o mais recente "bacalhau à S. João Baptista" (primo, o bacalhau, não o santo, do Zé do Pipo). Na zona carnal, a veterana "cachola", as especiosas "couves à D. Prior" (com história e ingredientes que lamento não ter espaço para contar), os mais modernos (e compósitos, se não barrocos) "danado de bom" e "ragu do embaixador".
Alto e pára o baile! Para usufruir de quase tudo o que está para trás, é absolutamente necessário entrar em contacto telefónico (249 311 067), encomendar e combinar, de antevéspera.
Há vinhos tintos suficientes (e os tomarenses valem a pena). Melhores "fatias de Tomar" e "leite-creme", não existem.
Céu: Enquanto se mantiverem essas criatividade, mão e dedicação, temperadas pelo riso a céu aberto, não há inferno "troikiano" (e dos capatazes locais) que aniquile a esperança."

José Quitério, À mesa, Expresso-Revista, 26/01/2013, página 70

sábado, 26 de janeiro de 2013

Oito dias depois...

Uma semana após o temporal, eis o ponto da situação na zona do Convento de Cristo:


Na Calçada dos Cavaleiros, principal acesso pedestre para quem venha de nordeste, o cipreste continua no mesmo sítio, obrigando a complicadas manobras para se poder transpor. Deve ser falta de tempo do pessoal camarário. Caso contrário já teria sido removido. O local está devidamente sinalizado e ao fundo da calçada há uma tasca aberta. Falta de tempo portanto. De certeza!


O maldito alambor templário continua a dar água pela barba aos especialistas do ex-IGESPAR, agora DGPC. Então não é que vai mesmo até à parede norte do ex-hospital, como sempre disse aquele palerma do Tomar a dianteira, que não percebe nada de história?!? E agora? Vai-se encanado a perna à rã e nadando em potes de iogurte, aguardando que surja uma solução milagrosa. A que existe não serve.
O que vale a este país e a esta terra são os especialistas diplomados! Pena é que não percebam, ou não queiram perceber, que uma coisa é um licenciado, mestrado ou doutorado em história, outra bem diferente um historiador. A  mesma que existe, por exemplo, entre um médico e um licenciado em medicina. Vamos aguardando.

                    
Em condições que um dia terão de vir a ser esclarecidas, a EDP lá se "pendurou" nas obras camarárias, obtendo uma futura cabine de transformação e comutação. Tratando-se de uma empresa privada, não se entende quem paga o quê e porque motivo. Terá alguma relação com a doação pela EDP ao município de 100 mil euros para rebocar e pintar a fachada do ex-Convento de Santa Iria que dá para o rio?
Mais uma tarefa para o próximo executivo, uma vez que este não está interessado em esclarecer nada. Apenas em conseguir manter o actual regime de sopas e descanso. Haja saúde e paciência! Que o mesmo é dizer vamos dar tempo ao tempo


E cá temos o aspecto actual da Cerrada dos Cães, uma vez consumado o arboricídio. Ficou a pinheira mais nova, para amostra e recordação. Que mais nos irá ainda acontecer? As obras continuam...quase paradas.

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Concordo!

É raro, mas acontece: Concordo com a deliberação camarária indeferindo o pedido de um subsídio de 15 mil euros para a realização do Carnaval de Tomar por uma associação cultural  da cidade. Há, no meu entender, três fundamentos sólidos para essa posição. 
1 - Na nova situação resultante da crise, convém que todas as associações concelhias se vão habituando a funcionar sem ajudas camarárias, que a autarquia não está, nem voltará a estar, em condições de propiciar, mesmo para os da cor. A prová-lo, aí temos a crescente austeridade, bem como o facto de haver uma deliberação de 2011 a conceder 30 mil euros para Festa dos Tabuleiros, que até esta data apenas foi cumprida a 50%.
2 - Em termos empresariais, não é possível ter o melhor de dois mundos. Uma vez que a Tomariniciativas é uma colectividade privada, com todas as vantagens daí resultantes, deve conseguir funcionar e desenvolver-se sem o auxílio dos contribuintes, seja através do governo, seja através do poder local. Ou então encerrar portas. Mesmo a Festa dos Tabuleiros e a Feira de Santa Iria terão, mais tarde ou mais cedo, que adoptar um formato menos ambíguo, precedido de uma clara definição de objectivos e de estatuto.
3 - Como deu a entender e bem o vereador Pedro Marques, as realizações anteriores da mesma associação, bem como o documento endereçado à autarquia não cumprem os mínimos aceitáveis em termos de qualidade. Estamos num mundo cada vez mais competitivo, a nível internacional, nacional e local. Qualquer evento numa localidade compromete a sua reputação, quer se queira, quer não. Porque assim é, se Tomar pretende sair do atoleiro no qual se vai afundando, os seus eleitos devem velar para que impere a qualidade em todas as áreas. Não é o caso? Pois não. Mas é pena. E permite concluir que, para má qualidade, já nos bastam os políticos locais. Não precisamos de toscos e tacanhos cortejos de carnaval. Ou se faz com qualidade, ou é melhor não se fazer. Dá menos prejuízo e faz menos estragos em termos de imagem...
Desta vez decidiram bem os senhores autarcas. "Penso eu de que..."

Adenda
Em conformidade com os hábitos, os visados no texto supra vão eventualmente reagir, invocando o caso do carnaval da Linhaceira, contemplado com um subsídio de 5 mil euros. 
Trata-se de uma realização diferente, dinamizada por toda a população de uma freguesia rural e destinada quase exclusivamente à respectiva área. Há portanto uma ingenuidade e uma genuinidade que a iniciativa citadina não tem nem nunca pretendeu ter, pois sempre resvalou para o comercialão, ainda por cima tosco e de mau gosto.
De qualquer forma, têm razão num ponto: Tendo em conta as condições resultantes da crise em curso, devem os responsáveis da Linhaceira ir também pondo as barbas de molho, que a austeridade e a boa governação são para todos. Este ano a galinha ainda deu ovo, se calhar por causa da consulta de Outubro próximo, mas em 2014 não sei não! Se calhar já nem galinha haverá.

Uma notícia muito esclarecedora

Correio da Manhã, 25/01/2013, página 17

Há notícias muito esclarecedoras. Sobretudo quando se trata de esclarecimentos que acabam por permitir compreender melhor processos homólogos, já resolvidos em tribunal arbitral, como é o caso. Após leitura atenta e subsequente alargamento espacial, fica-se com a ideia -quiçá errada- de que afinal a orquestra é sempre a mesma, os músicos idem, mais coisa menos  coisa, e o reportório aspas aspas. Só varia o local do concerto: ParqB para Bragança, ParqT para Tomar...
Mas não é justo. Os contribuintes de Bragança vão pagar seis milhões + alcavalas por dois parques de estacionamento, enquanto os tomarenses já estão a arrotar com 6 milhões e meio + alcavalas por um só. Não há direito! Até nisso fomos burlados!  Ele há coisas do arco da velha!

Câmara de Tomar dá autocarro ao União

Autocarro camarário para o União de Tomar, noticia o blogue Tomar na rede. Trata-se do anterior autocarro, entretanto já substituído por um novo, que custou 260 mil euros. Segundo a mesma fonte, o veículo de passageiros agora dado ao União fora antes avaliado em 3 mil euros, para eventual retoma.
Tomar a dianteira está em condições de afirmar que o referido meio de transporte tem um valor muito superior, mesmo no estado em que se encontra. Uma vez requalificado e com outro motor poderia até fazer mais 500 mil quilómetros, pois a estrutura está em bom estado. Tratou-se portanto, tudo o indica, de uma "avaliação por baixo", destinada a minorar a importância da doação, uma vez que se visa compensar anteriores subsídios camarários atribuídos ao clube, que a autarquia não está em condições de liquidar. O que evidencia uma outra vertente da questão: Um executivo tão honesto e tão coerente que não hesita em atribuir subsídios que sabe não ter meios para pagar, naturalmente visando posterior "caça ao voto". E esta hein?! 
Uma outra fonte lembrou que um dos membros do actual executivo camarário até faz parte da direcção unionista, o que não pode deixar de incomodar boa parte da opinião pública, composta por todos aqueles que consideram que "ou há moralidade ou comem todos, filhos e enteados é que não". Mesmo que agora venham garantir que a pessoa em causa não participou na decisão, tendo-se até ausentado da sala. Sucede que a minha avó também não foi vista nem achada nas conversas que conduziram ao seu casamento, mas depois ela é que teve de dormir com o noivo durante mais de quarenta anos... Perante tal gesto magnânimo com o dinheiro dos contribuintes,  todas as outras associações e clubes do concelho têm agora o direito de solicitar à câmara que dê um autocarro a cada um, uma vez que são todos iguais perante as leis da República.
Dirão alguns que o União de Tomar, velha glória tomarense, tem representado a cidade com dignidade por esse país fora. É redondamente falso! A maneira como a secção de futebol do dito clube tem representado Tomar nos últimos 25 anos só tem envergonhado os tomarenses dignos desse nome. Incluindo os amantes do desporto. Vai sendo tempo de nos deixarmos de fantasias!
Meios jurídicos locais, com quem Tomar a dianteira conversou, aventaram a possibilidade desta doação do autocarro configurar várias ilegalidades, entre as quais avulta a hipótese de  peculato de bens públicos, crime previsto e punido pela lei em vigor. Acrescentaram que, na ausência de esclarecimentos mais completos, não é de descartar o recurso ao poder judicial, para que este ordene um inquérito sobre as facilidades autárquicas concedidas ao União, ao Ginásio e ao Sporting de Tomar, bem como o respectivo enquadramento legal.

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Análise sucinta da imprensa local de hoje






Abre-se com O Mirante. Por uma questão de equidade, mas igualmente por dois outros tópicos. Um deles está na última página, com título a três colunas "Ex-fiscal da Câmara de Tomar condenado a dois anos de prisão por esconder processo de obra". Segue-se a detalhada notícia, após cuja leitura se não consegue ficar a saber qual o nome do condenado. Simples precaução do jornal, quiçá já escaldado em casos anteriores? Ou lapso do jornalista?
O outro tópico a destacar no citado semanário é a sua saudável tendência para satirizar situações da zona. Desta vez, o vereador Luís Ferreira volta a ser o bombo da festa: "Vereador Luís Ferreira ofereceu-se para ser rei do Carnaval de Tomar", relata o Mirante cor-de-rosa, com uma fotomontagem do eleito socialista já coroado. E acrescenta ter-se Luís Ferreira oferecido para "rei mono", rematando assim: "Recorde-se que o autarca tem vasta experiência no campo da animação, nomeadamente nos vários carnavais políticos ocorridos ao longo do último mandato."
Logo ao lado, uma foto de quatro autarcas da zona. Um deles é Carlos Carrão, com um molho de nabiças na mão, sob o título "Anúncio do regresso aos mercados entusiasmou candidatos às eleições autárquicas".
Na página seguinte, na secção "Cavaleiro Andante", lá vem outra vez o vereador Luís Ferreira, agora devido às sucessivas picardias entre os dois eleitos socialistas, com o oportuno título "A saga continua"
Após esta curta resenha, o leitor ficará decerto a pensar que os eleitos tomarenses são considerados os palhaços do distrito. Quem sou eu para o desmentir? Os factos aí estão.

O Templário não esteve com precauções. Puxou o caso do fiscal camarário condenado para manchete e escarrapachou-lhe o nome com todas as letras: António Rafael, agora colocado na empresa pública Estradas de Portugal, que foi igualmente condenado a entregar dois mil euros nos Bombeiros de Tomar.
Tanto o semanário agora dirigido por Isabel Miliciano, como o Cidade de Tomar noticiam detalhadamente o recente temporal, embora omitam o arboricídio com data marcada, ocorrido na Cerrada dos Cães. Porquê?
Igualmente nos dois semanários, referência à recente sessão organizada pelo PS local, com a presença de Basílio Horta. Cidade de Tomar dedica-lhe até uma chamada de primeira página: "Anabela Freitas e Basílio Horta defendem a criação de um gabinete de apoio ao investimento", na Câmara de Tomar, claro está.
Na minha tosca opinião, trata-se de mais um ideia balofa, destinada a tentar ludibriar o eleitorado e completamente ultrapassada pelos acontecimentos. Digo isto porque, nos anos 80 do século passado, um vereador da AD decidiu criar um "Gabinete de Cultura", o qual começou a funcionar com três pessoas -um bibliotecário e duas secretárias. Trinta anos volvidos, a Câmara até já tem uma Dívisão de cultura, turismo e mais não sei quê, uma sala de espectáculos e não sei quantos funcionários nessas áreas. Os tomarenses estão mais cultos? Melhorou a qualidade de vida? Ou apenas duplicou o número de funcionários autárquicos?
Há candidatos que julgam estar ainda no período a.t. = antes da troika. Quando havia verbas para tudo. Como disse Cristo na cruz: "Perdoa-lhes pai, que eles não sabem o que fazem".

Meditar é preciso

Houve um tempo em que quase todos procurámos militar. Agora é chegado o tempo de meditar, sob pena de perdermos o comboio. Em maré de transcrições e com os partidos locais fracturados, à pesca de ideias e de candidatos para encher as listas, parece-me oportuno dar a palavra ao conhecido escritor Vasco Graça Moura.
Os destaques coloridos são da responsabilidade de Tomar a dianteira.

"Falar da crise"

"Passamos o tempo a falar da crise. A crise tornou-se, não apenas o abominável pano de fundo da nossa existência, mas ainda uma dimensão perversa e desestruturante da nossa vida individual e colectiva. Por via da crise, estimula-se o nosso pessimismo atávico, mas talvez ela, na sua monstruosa dimensão, contribua para nos despertar de alguma inconsistência não menos hereditária.
Éramos propensos a crer que, entre mortos e feridos, alguém havia de escapar. Agora, começa-se a ver que ninguém escapa. E, por mais que haja quem tente incutir nos ânimos algumas partículas de esperança, o país mantém-se desconfiado e renitente. Vivemos num terramoto oscilante e a verdade é que, entre pesadelos e catástrofes, nos custa a acreditar que as coisas possam tornar-se menos duras em tempo útil.
É claro que esta reacção é profundamente humana. As pessoas, quer as incluídas no vasto grupo da população envelhecida, quer de outras faixas etárias, sentem-se resvalar para um misto de desalento e de revolta, entre os problemas agravados do desemprego e as dificuldades crescentes do dia-a-dia, quer nos seus casos individuais, quer nos que atingem os seus familiares e conhecidos. Mas, em termos de consciência colectiva, acaba por não se ter bem a noção daquilo que se pode fazer ou de como é que o presente estado de coisas poderia ser alterado para melhor. A crise não é apenas económica e financeira. É também moral e cultural. E vai durar muito, muito tempo.
De todos os lados se brada contra a catadupa dos infortúnios. Lança-se mão de enquadramentos ideológicos e de chavões de toda a ordem, rapidamente convertidos em acusações estridentes. Desenvolve-se conscientemente uma estratégia do descrédito das instituições e dos seus responsáveis. Esgota-se o leque das argumentações sem que se vislumbre qualquer remédio concreto que ultrapasse as fronteiras de uma retórica acintosa.
As coisas já são, em si, muito complicadas, quer no plano nacional, quer no internacional. Mas é claro que, da banda dos radicalismos, as soluções são expeditivas e simplistas. Deve-se? Não se paga e pronto... Precisa-se? Tem de se ter custe o que custar. Há que cumprir as leis? Apela-se à insubordinação e espera-se o conflito de rua. E assim sucessivamente. Vociferar é preciso, ajudar a resolver não é preciso...
Na luta política, ninguém está disposto a viabilizar absolutamente nada. Da parte do principal partido da oposição, o embaraço dos socialistas é total. O protesto à escala geral engrossa diariamente com as vozes deles grasnando por tudo e por nada, e o tremendismo torna-se ainda mais sinistro porque não era de esperar que desse quadrante deveras desmemoriado viesse uma radicalização assim.
Vê-se que não existe para aquelas bandas nenhuma ideia nova, nenhum programa consequente, nenhuma garantia de mudança. Confunde-se as propostas de medidas com os objectivos delas. O que é apresentado como solução é o que toda a gente quer, do crescimento económico à pretensa intocabilidade do estado social, passando pela redução do desemprego.
As medidas que o governo toma ou anuncia são com certeza passíveis de acesas discussões. Pode até ser útil e saudável discuti-las. Mas não basta proclamar-se em vários registos que elas afectam profundamente as pessoas. Isso já se sabe e o próprio governo não o esconde.
Agora também já se pode supor que o PS, se chegar a ser governo, não tem soluções drasticamente diferentes. Por exemplo, já anunciou que não pode prometer reduzir as taxas de IRS... Compreendem-se algumas evasivas. Se são do mesmo quilate as soluções que o PS diz andar a preparar para ter um programa de governo em carteira, no caso de eleições antecipadas, então podemos interrogar-nos sobre a oposição que temos.
O PS também diz que não quer uma crise política. Esta, tal como o PSD e o CDS de há muito dizem, seria profundamente nociva e colocaria Portugal em dificuldades ainda maiores. Só os irresponsáveis a desejam. Mas não se vê que os socialistas façam seja o que for de modo a contribuir para que se saia dela. Dir-se-ia que andam empenhados em ajudar a que essa crise se torne ainda mais funda..."

Vasco Graça Moura, Diário de Notícias, 23/01/2013, página 54

Tanto a nível nacional como nas maviosas e pantanosas margens nabantinas.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Voar até ao sétimo céu

Numa altura em que se volta a falar da privatização da TAP, em que  há frio, chuva, neve, dias cinzentos e esta maldita crise que nunca mais acaba, que tal um pouco de sonho?! Por exemplo uma companhia aérea que nunca deu prejuízo...e outras coisas mais.
Ora faça o favor de ler:

"Singapura Airlines transporta ao 7º céu"

"São apenas quatro, mas são um símbolo. Nos seus Airbus 380, nomeadamente o da carreira de Paris, Singapura International Airlines (SIA) coloca agora à disposição dos seus clientes quatro "casinhas". Quatro cabines fechadas, aninhadas entre os doze lugares de primeira classe do A380. Um verdadeiro sucesso comercial. Porque, segundo a própria companhia asiática, "estas quatro suites podem ser convertidas em camas de casal para recém-casados".
As quatro suites "nupciais" são praticamente tomadas de assalto, designadamente pelos recém-casados que desejam passar a noite de núpcias a voar. Para depois a continuarem em Paris. Mas este 7º céu tem um preço. Acasalar recatadamente a 10 mil metros de altitude, entre Singapura e Paris, custa entre 8 e 9 mil euros. "O dobro do preço normal para um lugar da classe "negócios", refere com orgulho a companhia aérea da cidade-Estado. 
Para os seus 40 anos, comemorados no passado dia 21 de Dezembro, Singapore Airlines tem a firme intenção de nada alterar à receita que é a base do seu sucesso. "Qualidade de serviço e inovação", como sublinhou no final de Dezembro Andrew Yip, director-geral para o mercado francês, durante a festa de aniversário da SIA.
Incontornável figura de proa da companhia asiática, a "Singapore girl" tem direito a uma formação longa, antes de subir a bordo. "Três meses de treino, contra um único" para as hospedeiras de Air France, esclarece Singapore Airlines. Mas sem loucuras financeiras. Por cada 100 dólares gastos, 40 são para o carburante e apenas 13 para as despesas com o pessoal. Ao contrário do que sucede na Air France, cujos empregados custam tanto como o combustível.
Na SIA, os salários são pouco elevados, sobretudo porque as hospedeiras são jovens (e devem retirar-se antes dos 45 anos) e o pessoal tem uma produtividade bastante superior. Os pilotos trabalham em média 750 horas por ano, 50% mais que os seus homólogos europeus.
Uma margem que é investida na frota. A companhia acaba de anunciar uma encomenda suplementar de 25 Airbus dos maiores: 5 A380 e 20 A350, num total de 7,5 mil milhões de dólares, a preços de catálogo. Globalmente, Singapore Airlines já encomendou 127 Airbus.
Mais ainda do que com o pessoal navegante, é com os produtos a  bordo que a companhia asiática procura marcar a diferença em relação à concorrência. Em 2014 prevê investir 400 milhões de dólares de Singapura = 244 milhões de euros, para equipar os Airbus A350 e A 380, bem como os Boeing 777 com um novo sistema de divertimento a bordo. Para ser "a companhia mais recompensada no mundo", segundo Andrew Yip, a SIA acelerou a renovação do interior dos aviões da sua frota. "Adoptou um ciclo rápido, com a substituição dos assentos de seis em seis anos", segundo a direcção.
O outro ingrediente do êxito da companhia é o seu aeroporto. Verdadeiro centro comercial, especializado nos produtos de luxo, concentra num único local mais de 50% de todo o tráfego da SIA. Mais do que uma simples linha aérea, Singapore Airlines é um grupo. Nomeadamente para explorar  o que designa por "rede global". Além da SIA, explora também uma companhia regional, Silk Air, e duas low-cost; Tiger, especializada em voos de curta e média distância, e Scoot, um dos raros exemplos de companhia de baixo custo a explorar voos de longa distância.
Uma estratégia ganhadora. No exercício anual de Abril 2011 a Março 2012, Singapore Airlines registou um volume de negócios de mais de 9 mil milhões de euros, com um lucro de 205 milhões de euros. "Não foi um bom ano", lamenta a SIA, cuja coroa de glória é nunca ter registado prejuízos, desde a sua fundação em 1972. Uma excepção no sector do transporte aéreo."

Guy Dutheil, Le Monde, Eco & Entreprise, 22/01/2013, página 5

O destaque colorido é de Tomar a dianteira

Aselhas e casas de loucos

Correio da Manhã, 23/01/2013, página 23

Prosseguindo a sua meritória e muito oportuna tarefa de apresentar em radiografia os principais concelhos do país, o Correio da Manhã publica na edição de hoje a situação do município de Cascais. Componente importante da região de Lisboa, não pode validamente ser comparado com outras autarquias do interior, muito mais desprovidas de trunfos, sobretudo no que concerne a recursos humanos. Convém no entanto, para cabal esclarecimento dos munícipes, efectuar algumas deduções na área da gestão, de forma a evidenciar o buraco em que nós tomarenses estamos metidos. Sem que, à primeira vista pelo menos, alguém se preocupe com isso. Um dos principais causadores da tragédia até se vai candidatar para continuar o meritório trabalho...
Neste pequeno mundo da política local, tudo tem a sua explicação. No caso da desastrada gestão nabantina, como é sabido, as sucessivas nulidades ou aselhas foram escolhidas e apresentadas ao eleitorado por autênticas casas de loucos, para não ser demasiado duro. Prova disso é que, aqui na Nabância, todos os economistas responsáveis que se filiaram ou aproximaram das formações políticas indígenas, depressa se afastaram em grande velocidade, agoniados com tanta fantasia, tanta megalomania, tanto improviso, tanto erro e tanta aselhice.
Dito isto, que é por demais evidente, mas que ninguém admite, vejamos então a nossa triste situação presente, usando neste caso o exemplo de Cascais como espelho.
Cascais tem 206.429 habitantes e uma dívida de 69 milhões de euros. Uma vez que Tomar tem apenas 43 mil habitantes, em simples contas de merceeiro temos uma relação à roda de 5 para 1. Logo, 69 : 5 = 13,8. Em igualdade de circunstâncias externas, para que a autarquia tomarense tivesse uma dívida comparável em grandeza à de Cascais, ela seria de 13, 8 milhões de euros. Menos de 14 milhões, em vez dos 34 milhões que o senhor Carrão ostenta, como se fosse uma medalha de mérito. E coisa de pouca monta, que pode ser paga de um momento para o outro. Só falta encontrar as fontes de receita... E os tomarenses continuam a aceitar mansamente o implícito insulto à inteligência de cada um.
Fazendo a operação oposta, ou seja, multiplicando a dívida nabantina por cinco, dado que somos 40 e poucos mil, contra quase 206 mil cascaenses, vamos obter 34 x 5 = 170 milhões. Caso tivesse uma situação financeira comparável à de Tomar, Cascais apresentaria uma dívida global de 170 milhões de euros. O que poria toda a região alfacinha com os cabelos em pé, particularmente os banqueiros. Aqui pelas margens do Nabão porém, parece que não se passa nada...
Outra comparação interessante é a dos funcionários autárquicos. Visto que Cascais tem um funcionário para cada 142 habitantes, aqui por estas bandas deveríamos ter 43 mil : 142 = 302 funcionários. O problema é que temos um pouco mais de quinhentos...
Inversamente, como temos em Tomar um funcionário por cada 86 habitantes, dividindo a população de Cascais por 86, obtemos 2.400 funcionários municipais. Quase o dobro dos existentes. Estão a ver a enormidade, tomarenses meus conterrâneos? E acham que semelhante ninho de sanguessugas pode durar muito mais tempo?
Façam o favor de não se enervar! Estou só a perguntar.

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Anomalias

                         
Correio da Manhã, 22/01/2013, página 30

Vivemos num país que, não se podendo dizer que seja anómalo, é no entanto um país de anomalias. Eis três delas. Uma troika, se preferem.
Por esse mundo fora, há basicamente dois tipos de jornais de informação geral -os de referência e os "tabloid". Em Portugal, Público e Diário de Notícias proclamam-se de referência, enquanto o Correio da Manhã é considerado de estilo "tabloid". Pois imagine o leitor que em vez de ser um jornal de referência a noticiar de forma clara e documentada a situação geral de cada autarquia, é o Correio da Manhã que desempenha essa tarefa de forma eficaz e com qualidade. Uma anomalia na paisagem da comunicação social.
Na edição de hoje, a "radiografia" é da autarquia de Caldas da Rainha. 55 mil habitantes, 7 milhões de dívida, 322 funcionários, um para cada 171 habitantes. Mais original ainda: Em ano eleitoral, em vez de aumentar as despesas para apresentar obra feita, o presidente Fernando Costa (PSD) decidiu baixar os impostos "para atrair gente". Uma anomalia no universo municipal português.
Comparando o caso das Caldas com o de Tomar, ambas geridas pelo PSD desde há mais de 15 anos, constata-se que, ao invés das Caldas, Tomar tem uma respeitável dívida de 34 milhões de euros, contra apenas 7 milhões daquela. Outro tanto sucede com os funcionários. 500 e poucos em Tomar, apenas 322 nas Caldas. Tendo em conta o ratio funcionários/habitantes, que nas Caldas é de 1 para 171, em Tomar temos mais ou menos 1 funcionário municipal para cada 86 habitantes. Ou seja que, para termos o mesmo ratio das Caldas, a autarquia tomarense deveria empregar apenas 251 funcionários. Tanto mais que a nossa qualidade de vida, de acordo com um estudo da UBI, é o segundo do distrito...a contar do fim!
Cereja a enfeitar o bolo, em 1999 Caldas tinha 38.753 eleitores inscritos e Tomar tinha um pouco mais: 39.671. Dez anos volvidos, Caldas subiu para 43.454, enquanto Tomar descia para apenas 38.671 eleitores inscritos.
Uma anomalia, esta câmara de Tomar. Enquanto Caldas procede de forma a atrair população, a nossa relativa maioria procura fazer o oposto -tomar medidas para correr com a população residente. Palmas para eles!

Ouse que vale a pena



Não ligue ao título, na verdade pouco feliz. Pense noutro. Neste, por exemplo: Políticos do meu país.
E lance-se denodadamente  à leitura. Vai ver que não terá sido em vão. Algumas gargalhadas garantidas e certos aspectos da realidade política nacional explicados aos profanos, assim como quem não quer a coisa.
Eis alguns excertos, já da parte final da obra:
"Porém, para além da verdade oficial, existia outra. Quando chegou às urgências do hospital, as enfermeiras despiram-no para lhe colocar uma bata ligeira e, ao retirarem as cuecas, as duas soltaram um grito de espanto. Um médico acorreu e observou o motivo do alarme.
-Santa Maria! Nunca vi um par de tomates deste tamanho! -e perguntou com um sorriso cúmplice ao governante: -É preciso isto tudo para entrar a política?
Gregório esboçou um sorriso ainda dorido e foi então que se soube que o coração dele estava em ordem. Com a piedade dos homens delicados, gemeu a explicação possível.
-Foi a porta do elevador." (Pág. 233)
"Vamos directos ao assunto. O vosso país está na bancarrota e vocês todos ainda não morreram de fome porque o nosso chanceler adora esta terra. Antigamente, até costumava aqui passar as suas férias, mas, com a degradação da vossa vida económica, da última vez apanhou piolhos no hotel onde costumava ficar e a esposa foi picada pelas pulgas. Agora passa férias no Ruanda. A coisa por lá está melhor.
Carlos estava estupefacto. -No Ruanda?! Pulgas? Piolhos?
-É verdade, senhor presidente -explicou o alemão, consternado- O pior é que pegou os piolhos aos seus ministros. Tiveram de interromper várias reuniões do conselho para se catarem uns aos outros. Caiu mal. Os ministros do mais poderoso país europeu carregados de piolhos portugueses." (Pág. 256)
"Se for primeiro-ministro, fica a saber que pode cantar o seu hino nacional e ver desfilar tropas. Quanto ao resto é por nossa conta. Ah! Também pode fazer reuniões com empresários, inaugurar exposições e defender as cores da vossa selecção nacional de futebol. Enfim, ficará com bastantes poderes." (Pág. 257)
"Oiçam o trovão. Até os céus aplaudem o nosso partido! Os temores transformaram-se em palmas, gritos de medo em berros de alegria, e, aproveitando o momento místico, ele cortou a voz do Zé Cabra e entrou a Avé Maria de Schubert, lançando um halo doce, uma pequena fragância, uma pitada de perfume divino." (Pág. 269)
Pode encontrar na BOOKIT, no Continente, ou em qualquer outra livraria. Por menos de 20 euros. Boa leitura!

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Vem mesmo a calhar...

Na sequência do post O osso da questão , o nosso estimado leitor-comentador Leão da Estrela enviou um fundamentado texto, logo publicado. Nele, depois de ter procurado sacudir a água do capote, esclarecendo que o carapuço da alergia à liberdade de opinião não lhe serve, usou a conhecida técnica da inversão discursiva -escamotear o essencial, mediante argumentação valorativa de detalhes sem grande relevância na matéria em debate. Quando estava para lhe responder de forma detalhada, após uma primeira reacção tipo "bola para fora", surgiu-me a peça que a seguir reproduzo com muito gosto, pois vem mesmo a calhar.
O que não significa de modo algum que esteja sempre de acordo com o signatário ou com quem quer que seja. Sou um animal livre, mais ou menos racional, consoante as circunstâncias. Já entendi de uma vez para sempre que posso ser contra o frio ou o calor, que isso não invalida, antes salienta, o facto de haver períodos anuais de calor e de frio, consoante o local em que se vive ou está. Outro tanto sucede na área da economia: a realidade não se compadece com opiniões políticas, por muito abalizadas que sejam. Ou colam ou não colam.
 E vamos à anunciada peça.

"Estão a ver o filme?"

"Fala-se da crise há anos. Ouvem-se muitas teorias, protestos, fúrias e desânimos, mas no essencial ainda permanece uma enorme ilusão. As reacções ao recente estudo do FMI mostram acima de tudo profundo irrealismo face à real situação do país.
O texto Rethinking The State -Selected Expendidure Reform Options, pretende "reformar a despesa em Portugal, perante a questão de fundo da dimensão e funções do Estado." (página 6) Chegámos finalmente à questão decisiva. Após ano e meio de medidas pontuais de emergência, tocamos nas reformas estruturais, discutidas há décadas e sempre adiadas. Perante um contributo tão importante para o nosso problema essencial, a grande maioria das reacções foi extravagante. É caso para perguntar se esses comentadores têm andado por cá ultimamente.
Todos sabemos que o país está na "unidade de cuidados intensivos", ligado à máquina da ajuda externa para sobreviver. Todos concordamos que temos uma crise grave e fundamental, que exige medidas profundas. Mas, logo a seguir a este consenso, grande quantidade dos analistas envereda por uma ilusão cómoda, para evitar enfrentar a realidade. Muita gente está plenamente convencida que a crise se deve a um punhado de maus (corruptos, incompetentes, esbanjadores) e, pior, que basta eliminá-los para tudo ficar normal. Nas actuais circunstâncias, esta fantasia é uma irresponsabilidade criminosa. Num momento tão decisivo e doloroso, acreditar em tolices destas só aumenta o sofrimento de tantos, prejudicando a urgente solução do problema.
Portugal tem uma dívida externa bruta total quase duas vezes e meia superior ao produto, e uma dívida pública bem acima do que produzimos. Não há corrupções, incompetências e desperdícios que cheguem para justificar uma coisa destas. Quem fez isso não foram os ricos, políticos, ladrões. Tem de ser a vida comum e os hábitos dos cidadãos honestos a gerá-lo. Muitos nos lembramos como estávamos há vinte anos, e como tudo melhorou tão depressa. Muito disso foi mérito e crescimento sólido, mas a euforia empolgou e foi-se para lá do razoável. Agora a situação nacional não se resolve só eliminando gorduras. É preciso cirurgia profunda e estrutural. Não é sina nacional, até porque vimos igual noutras zonas. Mas tem de ser feito.
A maioria da crítica olha, não para a situação nacional, mas para os interesses afectados. Falam então em "direitos adquiridos", sem notar que esse é outro nome da doença. Existem direitos básicos que o país tem de garantir a todos. Nesses não se pode tocar, nem ninguém quer que se toque. Mas grande parte dos supostos direitos não foram de todo adquiridos, mas atribuídos irresponsavelmente com dinheiro alemão. Foi bom recebê-lo e custa a deixar, mas não há alternativa. Se quisermos um dia lá chegar de forma sustentável.
Cortar 4 mil milhões de euros de forma permanente à despesa pública não é a solução. Apenas o primeiro passo para Portugal voltar a ser um país sério. Temos de viver com a nossas possibilidades. Durante uns tempos até um pouco abaixo, para aliviar as dívidas de se ter vivido demasiado tempo acima delas. A correcção não é o fim do mundo: pouco mais de 5% da despesa total prevista no Orçamento para 2013. Pode-se negar, insultar, protestar, mas a aritmética não se comove.
Isto não é novidade. Aliás todos o dizem há décadas. Perdemos a conta aos relatórios, estudos, programas de governo e discursos de Estado em que foi repetida a necessidade de reformas estruturais. Esse é o outro consenso. Quando uma das instituições mais experientes e reputadas neste tipo de reformas analisa a situação e sugere medidas concretas, será razoável tratar isso como um disparate? Uma imposição externa? Uma aleivosia? Será que não estão a ver o filme?
Perante o estudo do FMI há duas atitudes razoáveis. Pode-se aceitar e também é sensato discordar. Afinal é só um estudo técnico externo, nem sequer um programa político. Mas quem recusa tem de apresentar cortes alternativos de valor equivalente. Senão diz só uma tolice ociosa de quem não está a ver o filme."

João César das Neves, Diário de Notícias, 21/01/2013, página 54, naohaalmocosgratis@ucp.pt

A cor é da responsabilidade de Tomar a dianteira

Um filme com muito sucesso...

Correio da Manhã, 21/01/2013, página 23

Já vi este filme algures. E mais do que uma vez. Recordo-me até de uma versão de seis milhões e meio, em que um dos actores principais dava pelo nome de ParqT, salvo erro. Ao que parece também já houve outras versões na Figueira da Foz, na Covilhã e em Coimbra. Mas não posso garantir.
E aquela com a ParqT num dos papéis principais, não me consigo recordar onde é que foi. Se os leitores quiserem ter a amabilidade de ajudar, fico muito agradecido.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Um arboricídio anunciado









Em Julho do ano passado, denunciou-se aqui um verdadeiro escândalo: Por qualquer razão que a razão desconhece, o projecto de requalificação do parque de estacionamento da Cerrada dos Cães originou o rebaixamento do terreno na ordem do meio metro. O que implicou o corte de muitas raízes das pinheiras aí existentes, plantadas no início de 1960. As fotos supra aí estão para provar o que então afirmámos.
Apesar disso, ninguém se interessou pelo caso, pelo que as obras continuaram, como se nada fora.
Infelizmente, a partir dessa altura, a queda das árvores gravemente danificadas era uma questão de tempo...




Aconteceu no sábado, como mostram as fotos supra. E agora? Os responsáveis vão ser chamados a prestar contas? Ou vão continuar a fingir que não aconteceu nada?
Um conhecido político local sustenta que o actual executivo autárquico não passa de uma ficção.  Cada vez estou mais convencido que está cheio de razão.

Aspectos da cidade após o temporal

Tomar a dianteira aspira a que os tomarenses -dos verdadeiros, daqueles que nunca esquecem nem vendem a sua terra por um prato de lentilhas- estejam sempre bem informados sobre  terra nabantina. Nesse sentido, esta manhã fez-se um circuito com o objectivo de recolher imagens dos estragos do temporal. Eis o que se conseguiu:


 Estrada do Convento condicionada, devido à queda de uma árvore, entretanto removida.


Mata encerrada por razões de segurança. Há árvores caídas que impedem a passagem de peões.


Capela da Conceição, com uma das velhas olaias no chão.

A olaia velha, junto à capela da Conceição. Tronco em muito mau estado.

 Calçada dos Cavaleiros, com um cipreste impedindo a passagem.


Ciprestes derrubados, na Calçada dos Cavaleiros, junto à nova Cafetaria da Cerrada dos Cães.

 Adeus pinheiras da Cerrada dos Cães, rebaptizada Largo de Gualdim Pais pelos senhores da obras.

Outro aspecto da Cerrada dos Cães. Das frondosas pinheiras, plantadas em Março de 1960, resta a que menos se desenvolveu porque à sombra das outras. Agora vingou-se. Sobreviveu. Tais pessoas, tais pinheiras.
 Árvores derrubadas na Calçada de S. Tiago. No primeiro plano um cedro centenário.

A passagem pedonal para acesso ao Convento, hoje sem utilidade pois o monumento está fechado. Razões de segurança. Se vir por aí passar a voar uma janela em pedra, assim para o monumental e com muitos floreados, já sabe: é a Janela do Capítulo. Trate por isso de ver em que direcção vai, que é para depois a tentarmos recuperar.

O que resta do alambor está relativamente bem. Continua em pousio.


Jardim da Várzea Pequena. Mais uma tília que se despediu das irmãs. 

Rua de Coimbra. No primeiro plano e na estrada, restos das telhas vindas da cobertura do prédio que se vê ao fundo.

 Próximo da rotunda do Bonjardim, mais um painel no chão. Com uma sapata tão pequena, estavam à espera de quê?
Junto à Praça de Toiros. Painel publicitário derrubado e à direita a tampa do contentor de lixo do primeiro plano.


 Ecopontos arrastados pelo temporal.

Mais uma vítima do temporal económico-financeiro...

Ruinas do ex-Colégio CNA Feminino, após mais de uma década de temporal autárquico.