Sabe-se que desde sempre os portugueses em geral e os tomarenses em particular demonstram ser visceralmente alérgicos à mudança e à democracia. Basta recordar as reacções às reformas mais recentes, a dos hospitais e a das freguesias. Em ambos os casos houve manifestações, sempre acompanhadas pelo mesmo chavão leninista: "Somos favoráveis às reformas, mas não a esta reforma". No caso da agregação de freguesias, até daria para rir, não fora o assunto tão sério.
Após terem recusado todos os ensejos para debater, fazer ouvir e até impor pelo voto maioritário as suas soluções, alguns presidentes de junta continuam a opor-se ao já decidido na AR e promulgado por Belém, alegando que não foram ouvidos. É preciso ter lata! Muita lata mesmo!
No fundo, lá bem no fundo, a maleita é a mesma -alergia à democracia, ao livre debate de ideias. Tenha-se em vista que mesmo a própria autarquia -que devia dar o exemplo- não publica a ordem de trabalhos das suas reuniões, nem o rol das deliberações tomadas, contrariando assim uma prática em vigor antes do 25 de Abril, apesar de vivermos então em ditadura mais ou menos mole.
Na mesma onda, as formações políticas locais também adoram o segredo. Só muito raramente anunciam os seus conclaves, ou aquilo que lá foi decidido. Com uma notável e louvável excepção -o Partido Socialista (ver ilustração supra). Com regularidade, o PS local vai actualizando o seu blogue, permitindo assim manter assaz bem informados não só os seus militantes e aderentes, mas igualmente todos os que se interessem pela vida política tomarense.
Infelizmente, até no melhor pano cai a nódoa. A convocatória socialista acima reproduzida mostra que, para uma reunião de trinta e tantos membros (semelhante em número à Assembleia Municipal), com início previsto para as 18H15, a ordem de trabalhos inclui cinco pontos: uma discussão e quatro análises, qual delas a mais complexa. Uma vez que, na melhor das hipóteses, a reunião terá começado às 18H30 e a hora normal de jantar é às 19H30, os esforçados 30 e tantos comissários terão arrumado cinco debates complexos numa hora, hora e meia quando muito. É obra! Diria até que se trata de democracia a cem à hora. Uma espécie de democracia Ferrari.
Não será já tempo de se deixarem de comédias, admitindo que o PS local é controlado por quem nós bem sabemos e que estas reuniões se destinam apenas a carimbar decisões já tomadas alhures? Os eleitores terão as suas limitações, mas já não são propriamente criancinhas políticas, quase quarenta anos após o 25 de Abril.
1 comentário:
DE: Cantoneiro da Borda da Estrada
A ordem de trabalhos é pesadinha, lá isso é.
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