Ainda algumas horas para votar >>>
Aí está o primeiro anúncio da futura sangria
Até ao início do século vinte, era corrente praticar sangrias como terapêutica para numerosas maleitas. Depois veio a medicina moderna, com os seus meios de diagnóstico, os antibióticos, e a velha prática caiu em desuso. Na economia, porém, tudo continua basicamente como no século passado. Quando a doença é grave, nada melhor que uma boa sangria para tentar debelá-la. Habituados ao facilitismo, muitos leitores deste blogue ficaram descontentes, indignados até, quando nestas linhas se sustentou que terá de haver até 30% de despedimentos na função pública. Tanto a nível nacional como regional e local. Inevitavelmente. Mais cedo ou mais tarde. Mas quanto mais tarde, pior. Basta estudar o que aconteceu e está a acontecer na Grécia, obrigada a seguir a mesma receita.
Infelizmente para todos, incluindo os indignados do costume, aí está o primeiro anúncio da sangria: 120 mil funcionários públicos que terão de mudar de vida, segundo o FMI. Entre os quais cerca de 50 mil professores. É desumano? Sem dúvida. Mas se o país (= os contribuintes) não pode garantir o sustento de tanta gente, que fazer? Se há cada vez menos alunos e menos condições para ter filhos (= futuros alunos), que outra solução?
Desenganem-se tão depressa quanto possível os que obstinadamente continuam a acreditar que isto ainda lá vai com remendos, boa vontade e investimento público. Essa época já foi! (Ver ponto 2 do post anterior, com o caso do Japão, onde apesar do massivo e prolongado esforço governamental [défice público já superior a 200% do PIB], a economia não arranca de modo robusto e sustentado, ficando-se por um modesto 1%).
Desenganem-se tão depressa quanto possível os que obstinadamente continuam a acreditar que isto ainda lá vai com remendos, boa vontade e investimento público. Essa época já foi! (Ver ponto 2 do post anterior, com o caso do Japão, onde apesar do massivo e prolongado esforço governamental [défice público já superior a 200% do PIB], a economia não arranca de modo robusto e sustentado, ficando-se por um modesto 1%).
5 comentários:
Professor,
É capaz de ter razão, se a coisa for vista nesta perspectiva:
Se a malta vai ganhar muito menos, vai agravar-se o que está já a acontecer. Se se ganha menos, gasta-se menos; água, por exemplo, já que não há dinheiro sequer para a sopa; se se come menos, também se utiliza menos o WC, logo menos água de novo (quem viver no campo sempre pode ir arejar o rabo e limpar-se a um caco, ainda poupa na folha de couve) e produz-se menos resíduos, logo não são necessários tantos funcionários para a sua recolha.
Também como não há graveto, não se compram bens de primeira necessidade (quanto mais os de nenhuma necessidade), logo podem dispensar-se os inspectores sanitários e a malta toda da ASAE, que também não serão necessários nos restaurantes e tascas, que não tarda nada estão todos fechados.
E já vamos nalguns milhares de empregos reduzidos.
Mas não fica por aqui: como ninguém vai comprar casa, também ninguém constrói, logo não há necessidade de apreciar projectos, nem de fiscalizar obras; mais uma carrada deles que deixam de ser precisos.
Como o dinheiro não abunda e parece que vão começar a ser pagas propinas no secundário e aumentar as do superior, os filhos dos desgraçados que nem têm dinheiro para a sopa, deixam de ir à escola. Mais uns milhares de gajos que deixam de ser precisos, entre professores e auxiliares.
Ainda não contabilizei, mas isto já deve dar uns milhões de Euros de poupança; mas pode-se poupar ainda mais: como o pessoal vai andar subnutrido, não tarda muito começa a morrer à fome; ora, como diz o meu sogro, quem morre não adoece! logo, para quê tanto hospital e médicos e enfermeiros e auxiliares? pimba! menos mais uns milhares!
Há aqui um pequeno problema, coisa sem importância, decerto: a malta também não vai gastar electricidade, nem telefone, nem TV paga, nem pagar a casa ao banco (aí não faz mal, que o estado mete lá quantos milhões forem necessários), nem andar de transportes públicos, nem sequer comer decentemente, como já se viu; como a malta vai caindo que nem tordos, e o país deixa de ter riqueza, defender o quê? truz! mais uns milhares desnecessários; até a polícia deixa de ser necessária. Roubar o quê, se nada se produz e não há dinheiro para comprar fora? mais uns belos duns milhares prá rua!e passa a haver também gente a mais no privado, que vai ter que despedir também e esta gente vai ter os mesmos problemas que os FP´s e entramos aqui numa espiral que só termina com o definhamento total da economia e do país.
Mas isso que interessa? o professor Rebelo bem avisou que se não tivesse havido funcionários a mais, nada disto teria acontecido!
(que tal eleger-mos as putas, caro professor, já que com os filhos até agora não deu certo? e já agora prender os corruptos, acabar com o compadrio, o amiguismo, a cunha, o facilitismo, a incompetência, a burocracia, os favores a amigos, etc., etc.?)
Sentido-se inútil num país de políticos da treta,
Cumprimentos
Tem toda a razão, salvo num ponto: subentende-se do seu escrito que sou favorável ou apoio as medidas apresentadas no relatório do FMI, que de resto são praticamente sempre as mesmas desde os anos 70 do século passado. Não é o caso. Apenas me preocupa imenso não antever o tal "outro caminho" anunciado pelo Tó Zé, o que torna a "terapêutica FMI" inevitável, pelo menos em parte. Mas tenho muita pena e muito receio, lá isso tenho!
DE: Cantoneiro da Borda da Estrada
Caro Leão da Estrela, gostei muito do seu comentário. Porque concordo com ele.
É claro que isto está tudo uma caca, difícil de esconder debaixo do tapete por parte de quem a fez. Caca de lebres...
Numa de picardia...
DE: Cantoneiro da Borda da Estrada
O Dr. Rebelo, que muito estimo, escreveu que, a confirmarem-se os cabeças de lista anunciados,para as próximas autárquicas em Tomar, não irá votar. É democrático! Eu não teria dúvidas em votar na Senhora Anabela Freitas do PS; a não ser que o PCTP/MRPP apresentasse um candidato valente.
O Dr. Rebelo nunca critica este governo, que apoiou, encantado pelas qualidades do Dr. Relvas. E quase exulta com as medidas mais gravosas anunciadas.
Permita-me citar aqui o Blogue Jagular.blogues.sapo.pt, sobre uma nomeação recente deste governo:
"O estado é mau gestor
por João Pinto e Castro, em 10.01.13
Já perto dos sessenta anos, em boa idade para começar a planear a reforma, Manuel Queiró foi indigitado para o cargo de Presidente da CP.
Admito que será boa pessoa, que possuirá dotes bastantes de inteligência, que o trabalho não lhe meta medo - não faço ideia, só o conheço da televisão.
Uma coisa é certa: jamais desempenhou funções executivas, nunca geriu coisa nenhuma, nada percebe de transportes, ferroviários ou outros. Nada melhor, terá pensado o governo, do que dar-lhe uma oportunidade de estagiar numa das maiores e mais complexas empresas portuguesas - e logo como Presidente.
O estado é mau gestor, dizem eles. Com nomeações destas, percebe-se melhor que se trata de uma self-fulfilling prophecy." blogue Jugular
Só para vermos a natureza da camarilha a que estamos entregues.
Meu caro Fernando:
Há muito, muito tempo que me ensinaram algo básico em política: nunca responder a provocações. Sabes perfeitamente que uma parte do que afirmas não respeita a verdade.
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