quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

ANÁLISE DA IMPRENSA LOCAL E REGIONAL

Foi uma razia, titula O TEMPLÁRIO em manchete, noticiando a vaga de assaltos a marcos e caixas de correio no concelho. A crise é de tais proporções que já nem os envios postais escapam. "Em defesa das ciclovias", "Novos comandantes na PSP e GNR", "Pedreira investe em lar para idosos" e "Arranjo da estrada de Coimbra", são os outros títulos da primeira página do semanário dirigido por José Gaio.
A notícia sobre as ciclovias resulta de uma petição a circular na blogosfera tomarense, na qual se reclama a construção das ditas. Dado o número de ciclistas que se vêem por aí, bem como a situação económica do concelho e do país, a ocasião não será a melhor para obter a satisfação de uma necessidade manifestamente secundária e restrita a uma pequena minoria, por muito ecológico que seja tal meio de transporte.
O anunciado arranjo da estrada de Coimbra, entre o regimento de infantaria e o cruzamento do ic9, só pode deixar os cidadãos preocupados. Mais de um milhão de euros por quilómetro, é um custo astronómico para a nossa região, mais a mais tratando-se de uma via que nem sequer terá perfil de auto-estrada. É certo que a empreitada inclui esgotos, passeios e árvores; mas mesmo assim, parece ser fruta a mais. O facto da União Europeia atribuir um subsídio correspondente a 70% é bem capaz de ser a explicação para semelhante exagero. Provavelmente, um milhão setecentos e cinquenta mil euros, valor do referido subsídio, pagarão não só toda a obra como ainda várias alcavalas pendentes...
Outro exemplo de hábitos de ricos é-nos dado pela manchete de CIDADE DE TOMAR, sobre "A Câmara e a dispersão dos serviços". Proprietária de vários imóveis devolutos, subaproveitados ou cedidos gratuitamente a outras entidandes, a autarquia tomarense paga mensalmente muitos milhares de euros em rendas de locais privados ocupados por serviços camarários. Caricato, pensará o leitor. Tem razão. Sempre fomos assim -pobres mas com hábitos e manias de ricos. Desde o tempo da reconquista até ao da chamada miséria engravatada. Por isso estamos como estamos. E sem qualquer tendência para melhorar.
Igualmente no semanário de António Madureira, um curioso texto intitulado "O desconforto do Convento de Cristo", assinado por Maria de Lurdes Craveiro (página 10). Já o li várias vezes, sem contudo perceber onde se pretende chegar. Incapacidade minha, bem entendido. Apenas duas frases, para o leitor ter uma ideia do estilo: "O património está "armadilhado" de códigos e o Convento de Cristo inscreve-se numa faixa patrimonial de excelência. Compete aos serviços que o administram zelar pela sua defesa e salvaguarda mas também imprimir os obrigatórios níveis de rigor e ciência à informação veiculada." Pois ! Está-se mesmo a ver. Num país com uma elevadíssima percentagem de analfabetos funcionais, e onde muitos condutores nem sequer percebem o código da estrada, nada melhor que atirar-lhes com erudição para motivar os visitantes. Parafraseando um programa radiofónico de antes de 1974, "À uma há cada uma !"
Outro aspecto comportamental curioso de alguns patrícios deste país que tão generosamente me acolhe no seu seio é-nos dado pela manchete d'O MIRANTE: "Câmara de Abrantes lança suspeitas sobre a polícia no caso do protesto com o burro." Vale a pena ler, para no fim ficar alegre. É que a história não tem ponta por onde se lhe pegue. Em Agosto passado, um respeitável cidadão do concelho de Abrantes, fazendo uso do direito constitucional de manifestação e livre expressão do pensamento, resolveu protestar frente aos Paços do Concelho, prendendo um burro ao lado da porta. Os senhores autarcas, que se têm geralmente na conta de membros de uma casta superior, chamaram a polícia. Esta nada podia fazer, nem fez, uma vez que o referido cidadão estava a agir no estrito respeito da legalidade imposta pela constituição que nos rege. Pois agora os senhores edis abrantinos descobriram que, se calhar, a PSP nada fez porque um dos seus chefes locais é da família do dono do animal. Então não é mesmo para rir ?
Até agora sem zurrar em toda esta história, o asno de quatro patas (para distinguir de alguns outros...) indicou a sua posição logo aquando do protesto. Aliviou-se de sólidos e de líquidos frente à porta da respeitável edilidade. Maneira de dizer "Estou-me.... pra vocês e pra isto tudo!"
Melhor, só mesmo a última frase da notícia, a demonstrar uma vez mais que somos um país de eruditos, até entre os jornalistas, plumitivos por excelência: "O animal contribui para o descontentamento largando umas bostas mesmo à entrada dos serviços camarários." Quereria o anónimo autor do texto dizer "contribuiu" e "bonicos" ou "cagalhões", ou "excrementos", mas o seu conhecimento da língua pátria não lhe permitiu ir além de bostas, que são defecações de bovinos. Ou o asno, além de burro, também era cornudo ? Só faltava mais essa !

5 comentários:

Anónimo disse...

Bom dia António Rebelo,

São vários os assuntos sugeridos no seu post relativamente aos quais tenho motivos para intervir.

OS ASSALTOS a marcos e caixas de correio são o resultado da impunidade com que os vândalos da noite e os criminosos de pequena monta (por enquanto!!!) actuam sem que se veja as autoridades tomarem atitudes de constrangimento. Este é um fenómeno que grassa por todo o lado e Tomar não foge à regra.
Como se não bastasse as pessoas sentirem que o seu correio está em perigo, posso acrescentar que mesmo aquele que sem interferências percorre todo o circuito desde o remetente até ao destinatário pode muito bem não chegar ao destino, pelo menos em tempo útil. É o caso da área onde vivo, onde eu e mais alguns vizinhos já temos um rol de situações em que a nossa correspondência vai ter à caixa de correio errada ou mesmo ao prédio errado. Há algum tempo recebi das mãos de um vizinho uma carta de um banco com o meu extracto de conta...com 4 meses de atraso, porque esse meu vizinho se ausenta por longos períodos de tempo. Esta responsabilidade assaca-se por inteiro aos CTT, que em nome da optimização de recursos humanos, contrata pessoal a termo certo, pondo à margem a qualidade do serviço.
Uma desgraça nunca vem só!!!

Quanto às tão faladas e na moda CICLOVIAS, transformadas hoje em dia em cavalo de batalha por políticos e conexos por causas ambientais e económicas, resta-me "aplaudir" os "bons ofícios" desta câmara de Tomar que não teve a capacidade de previsão quanto se projectou e realizou o arranjo da estrada da Serra, da mesma forma que também não irá comtemplar a estrada de Coimbra com semelhante infraestrutura, pelo menos tanto quanto me foi dado a conhecer em tempos quando duma primeira abordagem ao assunto.
A Noruega tem uma forte política ambiental que não se fica pelo papel. Em muitas cidades paga-se portagem à entrada para incentivar o uso de transportes públicos ou/e sobretudo bicicletas. E em alguns países europeus parte do IVA pago na aquisição de uma bicicleta é dedutível no IRS. Na Alemanha praticamente todas as cidade têm uma boa rede de ciclovias a que os ciclistas estão obrigados sob pena de multa. Só nas áreas pedonais e residenciais distanciadas das principais vias de circulação é que o ciclista pode circular livremente, mesmo assim condicionado a regras muito rígidas quanto ao transporte de cargas. Na Holanda, como você sabe, o uso da bicicleta é quase um desígnio nacional.
As diferenças são óbvias!

A DISPERSÃO DE SERVIÇOS CAMARÁRIOS por um sem-número de locais espelha fielmente o laxismo com que a edilidade encara a despesa pública, agravado ainda pelo facto de não faltarem espaços onde se poderiam concentrar, senão todos, pelo menos grande parte deles. Refiro-me ao quartel de S.Francisco e ao recém-desocupado espaço onde funcionou a PSP cujo nome agora não me ocorre, e que não podia ser melhor escolha dada a sua proximidade com a casa-mãe.
Mas enfim, como as câmaras não têm de produzir para ganhar a vida, não importa quanto se gaste mal gasto. O "cheque" há-de vir de algum lado, quer seja de Lisboa ou de Bruxelas, o "patacão" há-de pingar...e quem vier atrás que feche a porta!

E assim vamos vivendo no reino das bananas.

Anónimo disse...

Sr. Sebastião Barros,

Os blogues servem para «facundar» e defecar. Raramente se escreve sobre o que se deve fecundar; exactamente na mesma proporção do que por aí se vê: desde bloggers a políticas do atavismo, fala-se muito bem e produz-se muito pouco. Quero com isto dizer, para simplificar o «vernáculo», que o Sr. não compreendeu a atitude cívica de quem, com conhecimento no terreno e no fundamento das belas letras, a exerce. Para simplificar ainda mais, não vá o diabo da estultícia tecê-las, o problema reside numa mera troca de vogais: neste país, que «é um poço onde se cai e um cu de onde se não sai» (se me é permitida a citação erudita autorada por César Monteiro) reside o mais simples dos problemas: uma mera troca de vogais (troca-se muito o «e» pelo «a»), para com isto os facundos, em vez de fecundos, não passarem de uma valente fraude mediática. Passa-se amiúde na blogosfera, eu pecadora me confesso, sobretudo em sites felizmente mais anónimos, como o que o Sr. Barros autora. Conheço o trabalho de campo da historiadora que assina o artigo e orgulho-me da integridade com que o assina, em nome de uma categoria de civismo aberto que em muito ultrapassa os circuitos fechados da academia. Dele há que extrair orgulho e um novo impulso, a começar pelas comunidades locais a quem Maria de Lurdes Craveiro deu pérolas com uma perna às costas.

Sandra Costa
desesperadamente blogger e de boas digestões, graças ao Santíssimo.

Sebastião Barros disse...

À cidadã Sandra Costa:

Serei breve. O seu comentário veio confirmar aquilo que anteriormente aqui se escreveu sobre níveis de língua/entendimento popular, muito bem doumentado no texto de ML Craveiro. Ou seja, critica-se que se escrevam textos, destinados ao grande público, usando uma linguagem que muito poucos entendem. Como "resposta", tanto a cidadã Craveiro como a cidadã Costa insistem com o mesmíssimo estilo e o mesmíssimo vocabulário de vítimas do estilo sebenteiro português -dizer coisas simples em em termos complicados, ao invés do que seria desejável.
Rendo-me. Eu escrevo e falo uma língua. As senhoras cidadãs outra.
Bem dizia o Pessoa, que a dado momento até ousou o singular "eu traduzo para estrangeiro, para v. exas. perceberem melhor" -"Os portugueses são um povo de dez milhões, separados pela mesma língua." Olarila !

Anónimo disse...

Vamos a ver se nos entendemos. D. Sebastião, armado de espada em riste no campo de batalha, qual messias dos nove milhões e meio de ignorantes portugueses em portugal e além fronteiras, vem dar tiros nos próprios pés citanto eruditamente um gajo que nem conheço - Pessoa? -, quem é Pessoa? Olhe, eu que sou um dos nove milhões e meio de portugueses analfabetos digo-lhe mais: a telenovela da Sic - Viver a Vida - passa na televisão pública por volta das 23h30. Seria melhor que a citasse e não a esse tal Pessoa, a mensagem bateria facilmente no melífluo coração dos portugueses a quem tanto quer fazer chegar a mensagem da salvação do mundo.

(p.s. Peço-lhe, penhoradamente, que me corrija os erros.)

Marcelino da Tasca, assim conhecido no bairro alto.
Chiça, tantos eruditos. Bota abaixo Agostinho, que rico binho.

Pensamentos soltos disse...

A fadista, porque será que temos de aprender a lingua dos outros, perda de tempo, nem a nossa conseguimos decifrar...